Uma novela original WNC

 

Autora: Megan Clarke

 

 

Capítulo 01

A Descoberta

 

“Jardim Orestes, litoral carioca.
21 de Fevereiro de 
2019

 

CENA 1/MANSÃO CAVALCANTI/QUARTO ALEX/INTERIOR/MANHÃ.

Fade in. Close no celular (Iphone 8) em cima do criado mudo, que logo começa a tocar seu som de despertador freneticamente, indicando a hora exata (6:30 da manhã). Vemos uma mão pegando o celular e desligando o despertador, fazendo o som parar de tocar. Câmera se afasta e assim vemos o rosto de Alex (21, cabelos lisos e castanhos, barba feita, olhos pretos). Ele passa as mãos nos olhos e levanta da cama, indo em direção ao banheiro.

 

CENA 2/QUARTO ALEX/BANHEIRO/INTERIOR/MANHÃ.

Alex se olha no espelho por um tempo. Corta para a água caindo do chuveiro. Ele entra no box e toma banho. Close na água escorrendo pelo seu abdômen sarado e logo depois em seu rosto, mostrando prazer em estar na água quente. Ele passa sabão por todo seu corpo e logo depois se enxagua. Pega a toalha, se enxuga e enrola a mesma na cintura. Alex escova os dentes.

 

ALEX: (narração) Aquele dia poderia ser um dia comum. A convivência com as mesmas pessoas, as mesmas brigas, as mesmas conversas fiadas, as mesmas chatices, a mesma rotina...

 

Ele termina de escovar os dentes e se olha no espelho. Foco em sua expressão, seu rosto úmido pelo banho e cabelos molhados. 

 

ALEX: (narração) Mas apesar de tudo... Não foi um dia comum.

 

Foco em seu rosto.

 

ALEX: (narração) Foi o início de uma nova era...

 

Close.

 

CENA 3/CASA RAVENA/COZINHA/INTERIOR/MANHÃ.

Close no olhar de Samuca, como se fosse uma fusão ao olhar de Alex da cena anterior. Samuca (21, cabelos lisos e castanhos, barba feita, olhos pretos) termina de coar o café. Através da janela ele vê o dia ensolarado lá fora. Ele pega um prato com pão e queijo e uma xícara de café e leva até a mesa. Em seguida, vai em direção ao corredor e para em uma das seis portas que haviam ali. Samuca bate.

 

SAMUCA: Bora, gatinha!

 

CRISTINA: (off) Tá cedo demais, cara!

 

SAMUCA: (reclama) Que cedo o quê, garota?! São seis e quarenta já. Bora logo, já tá tarde!

 

CRISTINA: (off) Ah não!

 

SAMUCA: Você vai ver o “ah não” quando a mãe souber que cê não foi pra aula hoje e dar os seus 10 por centos mais tarde. Vai sobrar até pra mim!

 

De repente, a porta se abre. Cristina aparece na porta e encara Samuca.

 

CRISTINA: Cara, vou te contar viu, como tu é chato, na moral!

 

SAMUCA: (bagunçando o cabelo dela) Para de reclamar e vai pro banho que o café já tá na mesa.

 

CRISTINA: (afastando a mão dele dos seus cabelos) Para de fazer isso, que saco!

 

SAMUCA: (incomodado) Saco... Saco é ter que aguentar todos os dias esse seu mal humor.

 

CRISTINA: E como cê quer que eu fique? Sorrindo? São seis e tanta da manhã, essa é hora de dormir nessa bosta!

 

SAMUCA: (puxando Cristina até a janela) Vem cá!

 

Eles param em frente a janela.

 

SAMUCA: (mostrando) Olha só, gatinha: Tá um dia ótimo lá fora, lindo/

 

CRISTINA: (interrompe) Dia lindo é quando eu durmo até dez horas sem ter você pra me encher.

 

SAMUCA: Pô gatinha, cê sabe que se eu pudesse também estaria dormindo né?

 

CRISTINA: É, eu sei!

 

SAMUCA: Então!

 

CRISTINA: Você só não faz isso por que é trouxa.

 

SAMUCA: Trouxa, eu?

 

CRISTINA: É, ao invés de aproveitar e ir dormir, acorda cedo pra ficar pescando com o pai... (olha pra ele) Tainha ou piranha?

 

SAMUCA: (incomodado) Ih, já deu! Vai logo pro banho!

 

Cristina vai em direção ao banheiro, fechando a porta. Corta para ela e Samuca na cozinha, tomando café.

 

SAMUCA: Eu tava olhando suas coisas/

 

CRISTINA: (interrompe) Que coisas?

 

SAMUCA: Como assim “que coisas?”, suas coisas ué...

 

CRISTINA: E quem te deu permissão pra vasculhar minhas coisas?

 

SAMUCA: Ninguém, eu é quem estava afim de olhar mesmo... E eu vi uma cartinha.

 

CRISTINA: (em desespero) Cartinha?

 

SAMUCA: (em tom de sacanagem) De amor!

 

CRISTINA: (envergonhada) Ah não!

 

SAMUCA: É a segunda vez que você fala “ah não” só hoje de manhã.

 

CRISTINA: (implorando) Por favor, não conta pra ninguém!

 

Samuca olha pra ela com deboche.

 

CRISTINA: (em tom de desespero) Eu prometo fazer massagem nos seus pés todos os dias.

 

Samuca fica em silêncio, continua sorrindo.

 

CRISTINA: Eu prometo dar beijinho de boa noite todos os dias... sei que você gosta quando eu faço isso.

 

Samuca continua sorrindo sem dizer nada.

 

CRISTINA: (incomodada) Fala alguma coisa!

 

Samuca começa a rir. Cristina começa a estapear o braço dele.

 

SAMUCA: (tentando se esquivar/rindo) Ai, ai! Peraí, gatinha!

 

CRISTINA: (desesperada) Para de fazer isso!

 

SAMUCA: (rindo) Mas eu não fiz nada!

 

Ele se levanta, ainda terminando de tomar o resto do café na xícara.

 

SAMUCA: Chega de conversa fiada, vamos logo senão você se atrasa!

 

Cristina pega sua mochila que estava pendurada na cadeira.

 

CENA 4/QUARTO ALEX/INTERIOR/MANHÃ.

Alex sai do banheiro ainda com a toalha enrolada na cintura. Ele leva um susto ao ver Bruna (21, cabelos ondulados curtos e tingidos de loiro, olhos pretos e corpo atlético) deitada na cama.

 

BRUNA: (sensualizando) Bom dia, gostoso!

 

ALEX: (grosso) O que é isso menina? O que cê tá fazendo aqui?

 

BRUNA: (sonsa) Não vai dar nem um bom dia?

 

ALEX: (ríspido) Que mané bom dia o quê, vaza do meu quarto vai!

 

BRUNA: (se levanta) É assim que você me trata depois da noite que a gente teve?

 

ALEX: (direto) Foi um erro que não vai mais se repetir!

 

BRUNA: Você não gostou?

 

Alex fica sem saber o que dizer.

 

ALEX: (nervoso) Sai daqui logo!

 

Ele se afasta.

 

BRUNA: (rindo) Ih, se tá todo nervosinho assim é porque gostou!

 

Alex não responde. Bruna vai até ele.

 

BRUNA: (se aproximando de leve) Vai dizer que você não me quer...

 

Alex respira fundo.

 

ALEX: Bruna, eu preciso me trocar, por favor/ (se interrompe)

 

Bruna se aproxima dele e o abraça por trás.

 

BRUNA: (falando com longas pausas) E você acha que eu vou perder a chance de te ver sem essa toalha?

 

Ela vai passando a mão por todos o seu corpo.

 

BRUNA: (fala delicadamente) Cê acha que eu vou perder a chance de... sentir seu corpo quente por cima do meu de novo?

 

Alex é mais alto que Bruna. Como ela o abraçava por trás, consequentemente, beija as costas dele. Alex revira os olhos sentindo prazer e sua pele se arrepiava. Rapidamente, ele cai em si e pega Bruna pelo pulso com força. Ela se assusta.

 

ALEX: (grosso) Saia agora do meu quarto, Bruna! Eu já disse que isso não vai acontecer de novo, não vou mais repetir isso! – Ele a joga na cama.

 

Bruna na cama, se levanta, incrédula.

 

BRUNA: (revoltada) O que é hein? O que tá acontecendo com você? Até ontem, a gente tava aqui nessa cama se amando e agora você me joga fora? O que eu sou pra você? Um pedaço de carne?

 

ALEX: Você se vende! Cê faz isso porque quer, não pedi pra você vim aqui fazer nada comigo. Foi você que veio aqui se jogando pra cima de mim parecendo uma lacraia, agora fica aí achando ruim.

 

BRUNA: Você não percebeu que eu tô afim de você né? Alex, eu te quero/

 

ALEX: (corta gritando) MAS EU NÃO! (T) E se você cascar fora daqui agora eu vou lhe agradecer! (T) Tá esperando o quê?! Vai, vai, vai, vai, vai! Vaza! Bora!

 

Bruna vai se afastando do quarto encarando Alex com lágrimas nos olhos. Em seguida, vai até a porta e abre. Ela olha novamente pra Alex e sai, fechando a porta. Alex vai até a porta e tranca.

 

CENA 5/MANSÃO DOS CAVALCANTI/COZINHA/INTERIOR/MANHÃ.

Bruna está encostada no balcão de mármore enquanto segura um copo de vidro com água e conversa com Palmira (30, cabelos negros na altura do ombro, olhos pretos e com roupa de serviçal), que está cortando tomates.

 

PALMIRA: (séria) Você precisa parar de ficar dando em cima do Alex.

 

BRUNA: (insiste) Mas eu gosto dele!

 

PALMIRA: (por cima) A questão não é essa!

 

BRUNA: Então me diz qual é!

 

PALMIRA: Eu já falei mil vezes pra você parar com essa palhaçada. (levemente irritada) Tá vendo? Basta você dar de cara com ele que já sai totalmente do seu foco.

 

BRUNA: (de cabeça baixa) Desculpa!

 

Palmira para de cortar os tomates e enxuga suas mãos numa toalha. 

 

PALMIRA: (se aproxima dela) Desculpa só não adianta.

 

BRUNA: (a encara) O que você quer que eu faça? Quer que eu ajoelhe diante de você e beije seus pés?

 

Palmira dá um tapa na cara de Bruna.

 

PALMIRA: (grita) Pára de ser burra!

 

Com a mão no rosto, Bruna encara Palmira e em seguida dá um tapão na cara dela.

 

PALMIRA: (com a mão no rosto) Por que você fez isso?

 

BRUNA: (revoltada) Você me bateu!

 

PALMIRA: (irritada) Claro! Só assim pra você cair na real! (T) – segura Bruna pelos braços com força – Escuta bem uma coisa: você não está aqui pra ficar dando em cima do Alex, você não veio pra essa casa pra se apaixonar. Você tem um objetivo aqui dentro e se apaixonar por ele não está nos planos!

 

BRUNA: (temerosa) Fala baixo!

 

PALMIRA: (baixo) Você me arrastou pra dentro dessa casa pra te ajudar. Eu tô aqui pra isso e o que eu puder fazer pra não deixar você sair da linha eu vou fazer!

 

Ela solta Bruna.

 

BRUNA: (irritada) Tá, você tem razão!...

 

PALMIRA: Se ele não te quer, é um atraso pra sua vida. (pressionando) Trata de se afastar do Alex ou vai se meter em problemas.

 

Palmira sai da cozinha e Bruna fica pensativa. Foco na sua expressão, séria. Fade out.

 

CENA 6/JARDIM ORESTES/PRAIA/RUA/EXTERIOR/MANHÃ.

Fade in. A rua, que fica de frente pro mar, não está muito movimentada por conta do horário. Cristina e Samuca caminham enquanto conversam.

 

SAMUCA: E então, não vai me contar?

 

CRISTINA: Eu tenho alguma coisa pra te contar?

 

SAMUCA: Tem sim, gatinha, várias coisas! Mas você pode começar falando quem é ele.

 

CRISTINA: (sem entender) Ele quem?

 

SAMUCA: Ué, seu namoradinho!

 

CRISTINA: (se chateia) Ah, mano, de novo essa conversa?

 

SAMUCA: (andando de frente pra ela, fazendo bico) Me conta, por favor.

 

CRISTINA: (sem se importar) Nem adianta fazer essa cara.

 

SAMUCA: Por favor!

 

CRISTINA: Por que eu iria te contar? Pra depois você ligar o seu lado “cachorro louco” e colocar medo nele?

 

SAMUCA: (fingindo estar ofendido) Credo, que calúnia!

 

Ele continua andando de frente pra Cris.

 

CRISTINA: Se você continuar andando assim, vai tropeçar, cair, bater a cabeça e eu vou rir muito!

 

SAMUCA: (para de andar) Nossa, cê me odeia tanto assim?

 

CRISTINA: Claro que não, cara, cê sabe que eu te amo!

 

Samuca se abaixa e fica de frente pra ela.

 

SAMUCA: Sabia que dá vontade de chorar quando cê fala essas coisas?

 

CRISTINA: (com um leve sorriso) Você não vai fazer isso aqui né?

 

Ele abaixa a cabeça. Cristina o abraça e ele retribui. Eles se soltam e ela limpa as lágrimas do rosto dele.

 

CRISTINA: Não quero que ninguém te veja assim. (T) Incrível como alguém como você pode ser um tubarão e um golfinho ao mesmo tempo. Dá uma de durão, mas é tão sensível quanto.

 

SAMUCA: (sorri de leve) Não parece, mas eu tenho coração de manteiga.

 

CRISTINA: (sorri de volta) É mesmo.

 

SAMUCA: Agora vai pra aula porque não quero ter uma irmã burra.

 

CRISTINA: (se afastando) Pode crer!

 

Ela dá as costas e vai em direção a escola.

 

SAMUCA: (chamando-a) Cris!

 

Ela se vira.

 

SAMUCA: Não vai me dizer mesmo quem é ele?

 

Cristina respira fundo, revira os olhos e aponta para um garoto (de estatura mediana, aparentando ter 14 anos, cabelo loiro e olhos verdes) que está conversando com um grupo de amigos.

 

SAMUCA: (olhando pra ele) Ah sim!

 

CRISTINA: Não vai fazer merda hein!

 

Cristina anda em direção aos portões da escola passando pelo tal menino que sorri pra ela. Ela entra na escola. Samuca olha pros lados e em seguida vai até o menino, tocando em seu ombro. O menino se vira, ficando de frente pra ele.

 

MENINO: (olha pros amigos e depois pra ele) Algum problema?

 

SAMUCA: Sim: você!

 

MENINO: (sem entender) O quê?

 

SAMUCA: (direto) Eu soube que você tá namorando com a minha irmã.

 

MENINO: Ah sim, a Cris. Não sabia que você era irmão dela.

 

SAMUCA: Pois eu sou e vou te dizer: Ela é a minha irmãzinha! Se eu souber que você fez alguma coisa com ela, se eu souber que você machucou o coração dela ou deixou ela triste, ou fez alguma maldade contra ela... (dá um sorriso irônico) Nem queria saber o que eu sou capaz de fazer.

 

O menino fica assustado.

 

SAMUCA: (cínico) Não, não precisa ficar com medo de mim não, eu não vou te jogar numa lata de lixo não. É só um aviso. Fui claro né?

 

MENINO: (amedrontado) Sim.

 

SAMUCA: (para si) Também né, mais claro que isso. (T) Como é seu nome?

 

MENINO: Gabriel!

 

SAMUCA: (estende a mão) Samuel, prazer!

 

GABRIEL: (cumprimentando) Prazer, Samuel. Olha, as minhas intenções com a sua irmã são as melhores, eu juro.

 

SAMUCA: Não precisa fazer juramento nenhum pra mim não, moleque, não sou juiz nem autoridade. E pode me chamar de Samuca, só quem me chama de Samuel é a minha mãe. (T) Bom, até mais ver!

 

Samuca dá um sorrisinho, dá as costas e vai embora. Gabriel fica a observar, pensativo. Um amigo se aproxima.

 

AMIGO: (zoando) Você ouviu né? Cuidado! AHAHAHAAHAH!

 

GABRIEL: (irritado) Cala essa boca!

 

CENA 7/CASA RAVENA/SALA/INTERIOR/MANHÃ.

Ravena abre a porta e entra, seguida por Miguel. Ambos carregam sacos de mercado nas mãos.

 

RAVENA: (chamando) Samuel, (para Miguel) Põe essas coisas na mesa da cozinha, amor.

 

MIGUEL: Tá certo!

 

Ele segue em direção a cozinha.

 

RAVENA: Samuel, cadê você, filho?

 

Ravena vai até a porta do quarto de Samuca, observa o cômodo, mas logo sai dali.

 

RAVENA: (grita para Miguel) Não tá aqui.

 

MIGUEL: (responde da cozinha) Deve ter levado a Cris pra escola.

 

RAVENA: (se recorda) Ah sim, eu tinha mandado ele levar ela hoje, que cabeça a minha. (se desespera) Ai, meu Deus, por falar nisso, acabei de me lembrar do/

 

VERENA: (interrompe) – vindo do quarto - Não precisa mais, Ravena, eu já me lembrei!

 

RAVENA: (se culpa) Me desculpa, Verena, eu esqueci de ter deixado/

 

VERENA: (corta) O meu remédio em cima do criado mudo, não precisa se desculpar minha filha, eu mesma deixei lá ontem e tomei hoje de manhã.

 

RAVENA: (aliviada) Ai, pelo menos isso. Não quero nem pensar na senhora morrendo por minha causa.

 

VERENA: (alto) Deixe de besteira que eu só vou morrer com duzentos anos, esse negócio de pico de pressão não é nada.

 

RAVENA: (nervosa) Eu vou adiantar as coisas, arrumar os quartos. Saí tão depressa hoje cedo que nem tive tempo pra arrumar a cama.

 

Ela entra no quarto. Verena vai para a cozinha.

 

CENA 8/QUARTO CASAL/INTERIOR/MANHÃ.

Ravena passa a mão pelo lençol da cama e decide tirá-lo para lavar. Ela o enrola na mão e joga no cesto de roupa suja que há no pé da cama. Em seguida, vai até o guarda roupa e o abre. Ela começa a tirar roupas de cama de lá, quando caem vários papéis e fotografias que vão parar no chão.

 

RAVENA: (reclamando) Ai, que droga.

 

Ela desiste de pegar os lençóis do armário e se abaixa para apanhar as fotografias e os demais documentos que caíram no chão. Ao fazer isso, ela começa a olhar as fotos e uma chama a sua atenção. Foco em seu olhar, fixo. Close agora na fotografia, onde há dois garotos (aproximadamente 5 anos de idade cada um e aparentando serem gêmeos). Com o foco nessa foto vêm as vozes em off (com efeito de eco), com o close no olhar de Ravena, pensativa:

 

GETÚLIO: (voz/em tom autoritário) Sua mentirosa!!

 

RAVENA: (voz - chorosa) Pai, me escuta, por favor!

 

GETÚLIO: (voz) Eu já escutei tudo o que tinha pra escutar! (T) Você mentiu pra mim, mentiu pra todos nós sobre seus dois filhos. Filhos que você teve com aquele pescador de merda.

 

Close em Ravena, pensativa, já derramando lágrimas. Cena escurece.

 

Flashback on:

 

Estamos no ano de 2003, na mansão dos Pires Cavalcanti. Na sala, Ravena (com 23 anos) discute com seu pai, Getúlio, um homem rigoroso e autoritário. Na cena está presente também seu cunhado Mário (com 26 anos), um homem sem caráter e sua irmã mais velha Olívia (com 25 anos), que está chorando. Getúlio está de frente para Ravena que chora descontroladamente.

 

GETÚLIO: (revoltado) Vocês duas foram longe demais com essa mentira! Eu quero você fora da minha casa!

 

RAVENA: (chorando) Não pai, por favor.

 

OLÍVIA: (em desespero) Olha só, pai, não foi culpa dela, por favor, vamos esquecer tudo isso/

 

GETÚLIO: (corta aos berros) Quem dá as ordens nessa casa sou eu, e eu quero essa mulherzinha fora daqui agora!

 

RAVENA: (chorando desesperadamente) Tenha piedade de mim, pelo amor de Deus.

 

GETÚLIO: (por cima, gritando) Nem mais um segundo, Ravena! FORA DA MINHA CASA!

 

Ravena se ajoelha diante de Getúlio, se humilhando, aos prantos. Getúlio a olha com desprezo.

 

RAVENA: (marejando) Pelo amor de Deus, eu peço, imploro pelo seu perdão, meu pai/

 

GETÚLIO: (corta) Eu não vou te perdoar nunca! Você passou por cima de uma ordem minha, eu disse pra você não se envolver com aquele homem e a primeira coisa que cê fez foi cair nos braços dele feito uma/

 

OLÍVIA: (interrompe) Pai, a culpa foi toda minha, eu que insisti pra que a gente fosse pro exterior, pra que ela desse à luz lá e que escondesse tudo isso do senhor.

 

MÁRIO: (por cima) Que escondesse dele e de mim né? (encarando Olívia) Por que você me enganou muito bem com essa patifaria, aliás, vocês duas me enganaram com essa conversa de que o Alex e o Samuel eram meus filhos, (aponta para Ravena) quando na verdade eram seus.

 

GETÚLIO: (completa) E com aquele homem!

 

MÁRIO: (debochando) Que coisa feia, Ravena, mentir desse jeito pro seu pai/

 

RAVENA: (encara Mário com sangue nos olhos) Foi você que contou pra ele não foi seu desgraçado?

 

MÁRIO: (na cara dura) Mas é claro!

 

RAVENA: (com raiva, mas contida) Custava ter ficado quieto?

 

MÁRIO: (na cara dura) Pra quê? Pra vocês duas continuarem me enganando com essa história da carochinha?

 

OLÍVIA: (encarando Mário) Você é um tipo de pessoa que não se deve confiar mesmo né?

 

MÁRIO: (tocando no queixo de Olívia com um sorriso no rosto) Ô meu amor, nem eu confio em mim!

 

Getúlio que dava voltas pela sala de costa pros três, volta seu olhar para Ravena.

 

GETÚLIO: (direto) Fora daqui! Não quero você nem mais um segundo aqui na minha casa.

 

OLÍVIA: Espera aí/

 

RAVENA: (interrompe) Deixa, Olívia!

 

Ravena se levanta com um pouco de coragem, mas ainda com medo de encarar o pai.

 

RAVENA: Eu vou embora... Vou arrumar minhas coisas e chamar meus filhos/

 

GETÚLIO: (por cima) Não! (T) Um deles fica, o outro cê pode levar com você!

 

RAVENA: (desacreditada) O quê?!

 

GETÚLIO: Tá surda?

 

RAVENA: (revoltada) Você não pode fazer isso, você não tem o direito/

 

GETÚLIO: (por cima) Eu posso e eu vou, estou dentro da minha casa e mesmo se estivesse fora, tenho todo o direito do mundo.

 

RAVENA: (desesperada) Não! Eu não vou deixar um filho meu aqui, se eu vou ele vai junto comigo/

 

A fala de Ravena é interrompida, pois Getúlio agarra seu braço e vai arrastando-a para fora, enquanto ela tenta se soltar, aos berros. Olívia tenta soltar a irmã dos braços de Getúlio, enquanto também vai saindo junto com eles. Mário vai atrás.

 

Cena escurece (fade out).

 

Flashback off.

 

Cena clareia. A cena volta para Ravena que chora compulsivamente e continua a olhar para a fotografia dos irmãos gêmeos. A cena escurece.

 

Flashback on.

 

Cena clareia. Ravena vem sendo arrastada pelo braço por Getúlio na parte externa da mansão, Olívia vem vindo atrás juntamente com Mário. No gramado, Alex e Samuca (5 anos) brincam juntos. Param de brincar ao ouvirem os gritos de Ravena, Getúlio e Olívia. Ambos se viram para observar e aparentam estar bastante assustados com o que está acontecendo ali.

 

RAVENA: (desesperada) Não, por favor, pai, não faz isso comigo!

 

GETÚLIO: (grita) CALA ESSA BOCA! Traidora, mentirosa! Seu castigo será ficar sem um dos seus filhos pelo resto da sua vida.

 

Getúlio e Ravena passam pelos gêmeos. Getúlio vai até Samuca e o pega pelo braço.

 

SAMUCA: (grita) Ai, me solta!

 

GETÚLIO: (para Ravena) Você vai embora e vai levar esse diabinho desse seu filho junto com você.

 

Alex se levanta e corre atrás de Ravena.

 

Ravena olha pra trás, aos prantos, seu filho correndo atrás dela. Getúlio chega aos enormes portões de ferro da mansão, abrindo e jogando Ravena pra fora, junto com Samuca.

 

GETÚLIO: Nunca mais você vai ver seu filho e nem tente chegar perto dele ou aquela gentinha vai sofrer as consequências.

 

RAVENA: (em prantos) O senhor não pode fazer isso comigo, não pode fazer isso com eles, não pode afastar dois irmãos dessa maneira, eles dois não tem culpa de nada, (grita) O SENHOR NÃO PODE ME AFASTAR DO ALEX! PELO AMOR DE DEUS!

 

Após ter gritado contra o pai, Ravena se cala. O silêncio perdura por alguns segundos.

 

GETÚLIO: (frio) Contente-se com esse daí!

 

Samuca dá língua pra Getúlio que o encara com frieza e em seguida, se afasta. Olívia chega aos portões e Ravena vai até ela.

 

OLÍVIA: (sofrendo) Ravena/

 

RAVENA: (corta) Cuida do meu filho... O Alex agora não é só meu, é nosso, sempre foi e sempre vai ser!

 

As duas dão as mãos enquanto Samuca olha para Alex que está ao longe, chorando compulsivamente. Uma lágrima escorre no rosto do menino. Closes alternados - e em câmera lenta - nos dois.

 

Flashback off.

 

Ravena chora descontroladamente olhando fixamente para a foto dos irmãos gêmeos abraçados.

 

RAVENA: (com mágoa) Homem maldito... (T) Me afastou do meu filho... (olhando para a fotografia) Eu vou te reencontrar meu filho... Eu vou te reencontrar e vocês vão se unir novamente.

 

Em câmera lenta, Ravena pega a foto e beija, abraçando-a em seguida. Close na porta, Miguel vê o sofrimento da mulher e se comove.

 

CENA 9/CASA RAVENA/COZINHA/INTERIOR/MANHÃ.

Miguel vem do quarto e senta-se na mesa da cozinha junto da mãe e pensativo.

 

VERENA: O que foi? Por que tá com essa cara?

 

MIGUEL: (preocupado) É a Ravena!

 

VERENA: (curiosa) Sim, e?

 

MIGUEL: (pra baixo) Ela tá sofrendo de novo com aquela história lá do passado. Tá no quarto chorando com uma foto dos nossos filhos na mão. Deve ter lembrado do que aconteceu e aí...

 

VERENA: Coitada, aquilo foi muito forte mesmo.

 

MIGUEL: (triste) Bota forte nisso. A morte do Alex, o pai ter expulsado ela e o Samuca de casa... de pensar que isso foi culpa minha...

 

Verena se levanta e abraça o filho por trás.

 

VERENA: Não se culpe, meu filho.

 

MIGUEL: (por cima) Eu fui naquela mansão, falei pro marido da Olívia que eu era o pai das crianças. Não sabia que ia acontecer aquilo tudo. (T) Foi tudo minha culpa, mãe.

 

VERENA: É justamente por isso que estou falando pra você não se culpar, meu filho! Você não imaginava que aquele demônio lá ia expulsar a Ravena de casa...

 

MIGUEL: (marejando) Eu só queria que a Ravena largasse aquela gente de uma vez e viesse morar aqui com a gente. Só queria que ela parasse com aquela mentira toda.

 

Miguel olha para Verena.

 

MIGUEL: A Ravena não pode saber disso nunca, mãe. Nem ela e nem o Samuca. Você sabe como ele fica em relação a essa história aí.

 

VERENA: Se depender de mim, eles nunca vão saber, filho! Nunca!

 

Ela abraça o filho, que está aflito.

 

CENA 10/MANSÃO DOS CAVALCANTI/PISCINA/EXTERIOR/MANHÃ.

A área externa da mansão, há uma escada que liga o jardim a piscina. Há uma árvore à direita e um pouco afastada da piscina, além de uma lagoa ao fundo. Sons de grilos e pássaros permeiam sob o local. Close sob a piscina: um homem nadando embaixo d'água. Esse homem chega à borda e sai da piscina se apoiando na mesma. Ele é alto, aproximadamente 40 e poucos anos e corpo atlético. Close nele, identificando seu peitoral e abdômen molhados. Ele pega uma toalha, se enxuga e veste um roupão logo depois. Na área ao lado da piscina há algumas mesas com sombreiros. Após terminar de vestir seu roupão, uma mulher trajando roupas de serviçal desce as escadas que dá acesso à piscina. É Palmira. Ela vai até o tal homem.

 

PALMIRA: Bom dia seu Mário Gerson.

 

MÁRIO: Bom dia.

 

PALMIRA: Eu vim pra a avisar que sua mãe tá aí e ela quer falar com você! 

 

CENA 11/MANSÃO CAVALCANTI/ QUARTO DE MÁRIO E OLÍVIA/ INTERIOR/ MANHÃ.

Mário abre a porta do seu quarto e vê sua mãe sentada na cama e olhando o smartphone.

 

MÁRIO: Mamãe! - vai até ela e lhe dá um beijo.

 

ALEXANDRA: (olhando pra ele) Credo, você está molhado.

 

MÁRIO: (andando até a janela) Estava na piscina. (olha para a mãe) A empregada avisou que cê tava aqui.

 

ALEXANDRA: Vim fazer uma visita de rotina.

 

MÁRIO: Ah sei, de rotina.

 

ALEXANDRA: Vim saber como andam as coisas. O seu casamento, por exemplo.

 

MÁRIO: (respira fundo e revira os olhos) Meu casamento tá a mesma coisa de sempre, mamãe.

 

ALEXANDRA: A relação com seu filho.

 

MÁRIO: (frio) Ele não é meu filho.

 

ALEXANDRA: Mas é como se fosse! Por falar nisso, meu filho, quando você e sua mulher vão me dar um neto de verdade? É, porque aquele seu... como podemos dizer, enteado, ele me odeia!

 

MÁRIO: (sorri debochado) A senhora é como as tias que perguntam sobre as namoradinhas, minha mãe! Não tem como não te odiar.

 

ALEXANDRA: Então você concorda que o seu filho - se corrige - digo, seu enteado me odeie?

 

MÁRIO: Todas as vezes que cê vem aqui me faz essa pergunta já sabendo que a resposta é sempre a mesma... (se aproxima de Alexandra) Não te dei um neto ainda, sabe porquê? Por culpa dela!

 

ALEXANDRA: Culpa de quem?

 

MÁRIO: Da Olívia, ué. A senhora acha mesmo que tem alguma coisa ali dentro dela? A mulher é seca, mamãe!

 

ALEXANDRA: (pasma) Meu Deus. (encara ele) Você não tá falando sério né?

 

MÁRIO: E acha que eu tô brincando? Não, é isso mesmo que cê ouviu, mãe. A culpa não é minha, é da Olívia. (T) Não tivemos filhos até hoje por causa disso aí.

 

Alexandra faz uma expressão de quem está em choque.

 

MÁRIO: (rindo) Por que tá com essa cara? Não era isso que a senhora queria tanto saber? Pois então! (T) Mas fazer o quê né? Quem manda ela ser seca?!

 

De repente, alguém abre a porta do quarto num rompante. É Olívia.

 

OLÍVIA: (perplexa) O que você disse?

 

MÁRIO: (irônico) Ouvindo atrás da porta? Seu Getúlio nunca te ensinou que é falta de educação fazer isso não?

 

OLÍVIA: (se aproximando dele) Você tá inventando mentiras pra sua mãe ao meu respeito?

 

MÁRIO: Pera lá, mentiras não!

 

OLÍVIA: Mentiras sim! Porque você sabe que não sou eu que tenho problemas de fertilidade aqui. (T) Você sabe que não sou eu a seca dessa história.

 

Alexandra encara Mário.

 

ALEXANDRA: (sem entender) Meu filho, do que essa mulher tá falando?

 

MÁRIO: (nervoso) Nada, mamãe, ela é louca!

 

OLÍVIA: (encarando-o) Se nós não tivemos outros filhos por todos esses anos, não foi por minha causa e sim por sua causa.

 

Mário encara Olívia com raiva, enquanto ela continua falando.

 

OLÍVIA: (para Alexandra) Eu não sou estéril, dona Alexandra. Mas o seu filho sim! (Olhando para Mário) Ele é! Seco, sem nada dentro desse saco!

 

MÁRIO: (grita) Cale essa boca!

 

Ele dá um tapa na cara dela e começa a agarrá-la e agredi-la aos berros, enquanto Alexandra, assustada, tenta impedir. De repente a porta se abre e Alex entra.

 

ALEX: O que tá acontecendo aqui? – vê a briga - (gritando) Sai de cima da minha mãe!

 

Ele tira Mário de cima de Olívia e dá um soco na cara dele, que cai na cama.

 

MÁRIO: (se levanta, com a mão no rosto e encarando Alex) O que foi que você fez?

 

ALEX: Você não pode tratar a minha mãe da forma como bem entende dentro da casa dela/

 

Mário da um soco em Alex que vai parar do outro lado do cômodo. Foco no seu rosto, escorre sangue do nariz e da sobrancelha. Ele se levanta e encara Mário.

 

ALEX: (com ódio) Eu vou te matar, seu desgraçado!

 

Ele vai dar outro soco em Mário que se esquiva e consegue prender seu braço, dando um golpe de mata leão nele. Olívia e Alexandra se assustam com o ato e tentam impedir.

 

OLÍVIA: (gritando) Pára, Mário Gerson!

 

ALEXANDRA: (gritando) Meu filho, para com isso!

 

MÁRIO: (sussurra para Alex ao mesmo tempo que sorri) Eu vou te matar!

 

As duas continuam aos berros, enquanto Alex vai perdendo as forças. A cena se apaga.

 

CENA 12/JARDIM ORESTES/PRACINHA/EXTERIOR/MANHÃ.

Letreiro: 2 horas depois. A cena clareia. Visão aérea da pracinha no centro da cidade, próxima a praia. Há uma movimentação razoável de pessoas. Samuca vem andando pela rua, até que entra num estabelecimento ali perto, mais precisamente, um bar.

 

CENA 13/BAR/INTERIOR/MANHÃ.

Samuca entra no bar e olha pra todos os lados. Ele avista alguém e vai caminhando até essa pessoa.

 

SAMUCA: (sorrindo) E aí, cunhadinho!

 

Ele vai até aonde Guilherme (21, pele clara, porte atlético, olhos castanhos claros e cabelos da mesma cor) está sentado com um copo na mão. Eles se cumprimentam.

 

SAMUCA: (se sentando ao lado dele) Tá tomando uma?

 

GUI: Claro que não, cê sabe que eu não bebo.

 

SAMUCA: Ainda bem né? Bebida mata! É... meu avô por parte de pai morreu com câncer no fígado e ele era alcóolatra!

 

GUI: Eu sei disso cara, cê já me contou essa história um milhão de vezes.

 

SAMUCA: Sempre bom lembrar caso você tenha uma crise de Alzheimer.

 

GUI: (bebendo) Relaxa, isso aqui é café.

 

SAMUCA: Sério? (para o barman) Me vê um café ai, por favor!

 

GUI: Tá fazendo o quê aqui, não devia estar no mar, lobo do mar?

 

SAMUCA: (olhando pra todos os lados) Devia, mas sabe como é né? Cansei de caçar piranhas, tô atrás de uma sereia já faz umas três horas... (encara ele) Cadê tua irmã hein?

 

GUI: Ih rapaz, nem queira saber, aquela ali tá com o cão no corpo hoje!

 

SAMUCA: Tá naqueles dias é?

 

GUI: Pode crer! Parece que sua sereia virou um tubarão – e começa a rir.

 

SAMUCA: (começa a rir) Misericórdia, nem quero chegar perto.

 

GUI: Se eu fosse você não seria nem doido de fazer isso, é capaz das coisas piorarem. Quase acabou sobrando pra mim.

 

SAMUCA: (olha no relógio) É mesmo é?

 

GUI: Claro, acha que eu tô fazendo o quê aqui?

 

SAMUCA: (rindo) Tá com medo da sua irmã, rapaz?

 

GUI: Eu não, só não quero ser morto pela tubaroa com pernas.

 

Samuca continua olhando o relógio.

 

GUI: Pelo visto quem tá com medo é você, não para de olhar esse relógio. Tá nervoso assim por que?

 

SAMUCA: Eu... (respira fundo) Tem uma coisa que não sai da minha cabeça, aquela história lá do meu irmão.

 

GUI: Outro conto é?

 

SAMUCA: (sério) Eu tô falando sério, cara! Hoje fazem 15 anos que o Alex morreu e sempre que chega essa data eu fico com isso na cabeça. Eu sempre achei essa história muito mal contada.

 

GUI: Como assim? Você acha que a sua mãe mentiu pra você?

 

SAMUCA: Eu não sei e nem quero pensar nisso, mas...

 

GUI: Você nunca parou pra investigar?

 

SAMUCA: Nunca! Porque eu nunca quis pensar nessa teoria de que a minha mãe seria capaz de mentir pra gente, inventar que o meu irmão morreu. Ela não teria motivos pra isso... Mas não sei, cara, meu sexto sentido tá me pressionando, tem uma voz gritando na minha consciência e desde segunda que eu não consigo pregar os olhos direito pensando nisso.

 

GUI: Se eu tivesse no seu lugar já teria corrido atrás disso aí hein...

 

Foco na expressão séria de Samuel.

 

SAMUCA: (pensativo) É isso mesmo que eu vou fazer!

 

CENA 14/CASA RAVENA/SALA/INTERIOR/MANHÃ.

Samuca abre a porta num rompante, deixando-a aberta e indo em direção ao quarto de Ravena.

 

CENA 15/QUARTO RAVENA/INTERIOR/MANHÃ.

Samuca abre o guarda roupa e começa a tirar as roupas de lá e jogar em cima da cama, vasculhando o interior do móvel. Ele abre as gavetas, procura algo dentre os documentos que estão empilhados por ali. Sua expressão é de nervosismo e frustração por não ter encontrado nada. Samuel põe as mãos na cabeça e respira fundo. De repente ele olha atentamente para a prateleira de cima do guarda roupa, onde há umas roupas de cama dobradas. Closes alternados ao local pra onde ele olha no guarda roupa e em sua expressão/olhar. Samuca levanta com cuidado a pilha de roupas de cama e acaba deixando cair vários papéis e fotografias, que vão parar no chão. Ele se abaixa pra pegá-los e vê uma fotografia que há ele e Alex juntos quando pequenos. Em seguida ele vê um envelope de carta que há escrito “Para: Olívia” no verso. Samuca abre o envelope e tira uma carta de lá, abrindo-a. Começa então a ler em silêncio.

 

CENA 16/CASA RAVENA/QUINTAL/EXTERIOR/MANHÃ.

Pode-se ouvir o barulho do mar e o som dos pássaros por perto. Na parte de trás da casa há um lindo jardim. Verena está trabalhando nele, usando um avental e luvas de jardineiro, regando as flores que estão crescendo. Mais afastada está Ravena que termina de pôr as roupas no varal. Ela termina o serviço e entra pela porta dos fundos. Close em Verena regando as plantas.

 

CENA 17/QUARTO RAVENA/INTERIOR/MANHÃ.

Ravena entra no quarto e se surpreende ao ver Samuca ali. Ele permanece de costas pra ela, próximo a janela.

 

RAVENA: (sorrindo) Ah, meu filho, que susto! Eu não sabia que você viria tão cedo pra casa. Eu ainda não fiz o almoço não.

 

Samuca não responde.

 

RAVENA: (séria) O que foi, aconteceu alguma coisa?

 

Samuca se vira e revela o rosto molhado de lágrimas. Ravena se assusta ao vê-lo chorando.

 

RAVENA: (indo até ele) O que é isso, meu amor, por que cê tá chorando?

 

Ele se desvencilha e se afasta dela, encarando-a em seguida.

 

SAMUCA: (marejando) Eu bem que desconfiei, bem que tinha achado estranho toda essa história.

 

RAVENA: (reage) Do que você tá falando, Samuel? O quê você achou estranho? Que história é essa, eu não tô entendendo nada/

 

SAMUCA: (corta) Eu tô falando do meu irmão, mãe!

 

Ravena o encara, assustada.

 

SAMUCA: (mostra a carta) Eu descobri! (T) Eu já sei que ele tá vivo! A sua farsa acabou mamãe! (T) Acabou! (T) Sua mentirosa!

 

Ravena encara Samuca desacreditada. Closes alternados nos dois, em câmera lenta.

 

ALEX: (narração) É como eu disse: É o início... de uma nova era!...

 

 

Soundtrack de Suspense sobe enquanto a câmera desce, indo de encontro a fotografia dos gêmeos que está caída no chão. Com o foco na fotografia, fade out.

 

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