Uma novela original WNC

 

Autora: Megan Clarke

 

 

Capítulo 02
A Revelação


CENA 1/QUARTO RAVENA/INTERIOR/MANHÃ.

Continuação imediata da última cena do capítulo anterior. Samuca chora de raiva e tristeza ao mesmo tempo, desacreditado que sua mãe Ravena escondeu dele que o irmão tava vivo. Ravena está sem saber como reagir.

 

SAMUCA: (chorando) Me diz, mãe: Por que mentiu pra mim? Por que mentiu pra gente durante todos esses anos? (T) Por que você escondeu de mim, porque escondeu do meu pai que o Alex estava vivo?

 

RAVENA: (chorando) Por que eu precisei! Eu precisava fazer isso pelo bem de todo mundo!

 

SAMUCA: (desacreditado) Pelo bem de/... (se interrompe, socando a porta do guarda roupa e grita) Pelo bem de quem, cacete?!

 

Ravena abaixa a cabeça e fica calada. Samuca se vira e fica de costas, sente seu corpo pesado com tanta revolta e começa a chorar, ainda sem acreditar. Em seguida, passa a mão pelos cabelos e se volta para Ravena, ainda com lágrimas nos olhos.

 

SAMUCA: (em tom de revolta) Sabe o que é sentir tristeza e vontade de chorar sem parar sempre que chega essa data? (T) Sabe o que é você passar anos sofrendo, querendo e desejando que tudo isso fosse mentira? (encarando ela) Você fez com que todos nós passássemos esses anos todos sentindo essa dor, essa angústia. Eu passei anos da minha vida culpando aquele velho desgraçado por causa disso. Mas foi você, com sua mentira que acabou com as nossas vidas!

 

RAVENA: (chorando) Não diz isso, meu filho, pelo amor de Deus!

 

SAMUCA: (revoltado) Você poderia muito bem ter contado a verdade, você teve todo o tempo do mundo pra isso, mas não, preferiu esconder isso da gente, preferiu alimentar essa mentira, preferiu fazer a gente sofrer. Você é igualzinha ao seu pai, não é à toa que carrega o mesmo sangue que ele!

 

RAVENA: (marejando) Não fala isso, Samuel! Não diz isso de mim! Você não sabe os meus motivos/

 

SAMUCA: (grita) ENTÃO DIZ! (T) Fala!

 

RAVENA: Eu tive medo daquele homem fazer alguma coisa contra vocês. Quando fomos expulsos daquela casa, ele me ameaçou, disse que iria acabar com todos nós se eu me aproximasse do Alex de novo. (T) Meu filho, eu tive medo. Tudo o que eu fiz foi pra proteger a nossa família! (T) E o que ia acontecer se eu contasse pra você ou pro seu pai a verdade? Qual é a primeira coisa que vocês dois iriam fazer?

 

SAMUCA: Eu/

 

RAVENA: (interrompe) Iriam pra casa do velho, jogar toda a bosta no ventilador e sabe o que ia acontecer depois? Vocês dois iriam se estrepar! A sua irmã iria se estrepar, a sua avó, (grita) TODOS NÓS!

 

Samuca respira fundo e encara Ravena.

 

SAMUCA: Quer saber, mãe? Eu já cansei! Acabou. Não dá mais pra você continuar sustentando essa mentira, já chega. (T) Sabe o que eu vou fazer agora? Eu vou contar tudo pro meu pai. É isso o que eu vou fazer!

 

RAVENA: (desacreditada) O quê?

 

SAMUCA: Acabou pra você, sua mentira acaba aqui agora, eu já cansei!

 

Samuca sai do quarto num rompante.

 

RAVENA: (indo atrás, desesperada) Não, meu filho, espera! Não faz isso, pelo amor de Deus!

 

CENA 2/CASA RAVENA/SALA/INTERIOR/MANHÃ.

Samuca vem do quarto e sai, batendo a porta. Ravena vem desesperada do quarto e para no meio da sala, com as mãos na cabeça, chorando e sem saber o que fazer. É quando Verena vem dos fundos.

 

VERENA: O que aconteceu aqui? Deu pra ouvir os gritos lá de fora!

 

RAVENA: (desesperada) Ele descobriu...

 

VERENA: (sem entender) Descobriu? Descobriu o quê?

 

RAVENA: (em desespero) Descobriu toda a verdade, Verena! Ele descobriu tudo, agora vai contar tudo pro Miguel, eu não sei o que fazer!

 

VERENA: (em cima) Calma!

 

RAVENA: (desesperada) E agora?!

 

VERENA: Eu vou lá falar com ele e ele não vai dizer nada. (T) Fica calma, fica aqui e vê se não faz nenhuma besteira!

 

Verena atravessa a porta enquanto Ravena fica em desespero. Câmera vai se aproximando, mostrando toda a expressão dela, de nervosismo e desespero. Fade out.

 

 

“1 hora antes

 

CENA 3/MANSÃO DOS CAVALCANTI/QUARTO ALEX/INT/MANHÃ.

Fade in. Câmera foca no rosto de Alex, e vai se afastando até mostrar a cena por completo.

 

ALEX: (reclama de dor) Ai! Cuidado, garota.

 

É mostrado agora que Bruna está fazendo um curativo nele, acima da sobrancelha.

 

BRUNA: O que deu em você pra procurar briga com o Mário hein?

 

ALEX: Ele agrediu a minha mãe! (sente dor) Ai!

 

BRUNA: Você sabe que ele é melhor na briga do que você, né?

 

ALEX: E você queria que eu ficasse parado vendo aquele filho da puta bater na minha mãe?

 

BRUNA: (admirando) Sabia que eu acho bonito isso de você defender a sua mãe?

 

Bruna dá um leve sorriso pra ele, que acaba retribuindo, mesmo sem querer.

 

ALEX: (sorrindo, sem graça) Cê acha é?

 

BRUNA: (sorri de leve) Uhum! (T) Eu vou guardar essas coisas.

 

Ela se levanta.

 

ALEX: (segurando-a) Peraí.

 

BRUNA: (surpresa) O que foi?

 

ALEX: (sereno) Eu queria agradecer a você mesmo depois do que aconteceu hoje de manhã/

 

BRUNA: (dá um leve sorriso) Não tem problema!

 

De repente, Olívia entra no quarto, quebrando o clima.

 

OLÍVIA: Ah, meu filho, ainda bem que você acordou.

 

ALEX: É mãe, a Bruna me acordou... do jeitinho que ela sabe fazer (troca olhares com Bruna).  

 

OLÍVIA: (sem entender) Como assim?

 

BRUNA: (levemente nervosa) Com álcool! Eu acordei ele com álcool!

 

ALEX: (encara Bruna) É, foi com álcool!

 

Bruna dá um leve sorriso e sai do quarto. Olívia fica às sós com Alex, que se ajeita na cama.

 

OLÍVIA: Agora que cê tá bem, eu vim pedir pra você parar com essas brigas com o seu pai.

 

ALEX: Tem certeza que ele é mesmo o meu pai, mãe?

 

OLÍVIA: (acuada) Por que você tá me perguntando isso?

 

ALEX: Você ainda pergunta? Cê acha mesmo que eu devo chamar de pai uma pessoa que quase me matou?

 

OLÍVIA: (nervosa) Desculpa, filho, é por que/

 

ALEX: (interrompe) Por que o quê, mãe? Hein? (T) Vem cá, não passou um minuto pela sua cabeça que esse cara não presta não? Mãe, se livra desse homem, acaba com esse casamento!

 

OLÍVIA: (nervosa) Meu filho... eu... eu não posso/

 

ALEX: (explode) Mas que merda, mãe! O homem te agride, tenta me matar e fica por isso mesmo?

 

OLÍVIA: Mas eu te salvei, filho. Eu consegui impedir que uma desgraça maior acontecesse.

 

ALEX: (corta) É, mas depois que a poeira baixar, cê ainda vai estar casada com ele e aí? O que ele vai fazer depois? Vai colocar fogo nessa casa?! (T) Olha aqui, eu não vou mais permitir que ele encoste um dedo em você de novo, porque eu te juro que a próxima vez que ele fizer isso, eu mato aquele desgraçado!

 

Cheio de revolta, Alex sai do quarto, enquanto Olívia fica aflita, nervosa e pensativa.

 

CENA 4/MANSÃO DOS CAVALCANTI/ESCRITÓRIO/INTERIOR/MANHÃ.

Mário está sentado na cadeira de frente pra mesa. Getúlio está de pé enquanto caminha pelo escritório, sempre encarando Mário.

 

GETÚLIO: (pressiona) Agora eu quero saber tudo o que aconteceu, tintim por tintim!

 

MÁRIO: (calmo) É muito simples: o seu neto que é muito enxerido, gosta de se meter nos meus assuntos com a sua filha.

 

GETÚLIO: Claro, porque alguma merda você deve ter feito!

 

MÁRIO: (duro) Eu não fiz nada!

 

GETÚLIO: (ironiza) Você jura?

 

MÁRIO: O moleque chega me agredindo e eu sou o culpado?

 

GETÚLIO: Por que será que eu não consigo acreditar em você? (T) Olha aqui, algum motivo você deve ter tido pra fazer o que fez com o meu neto. Que é? Não gosta dele? Odeia tanto ele que tentou matar o garoto enforcado?

 

MÁRIO: (se irritando) Os motivos eu já lhe falei!

 

GETÚLIO: (mais alto) São irrelevantes!

 

MÁRIO: (irritado) Se não acredita, que se dane então!

 

Getúlio caminha até a cadeira e agarra Mário pela gola do roupão.

 

GETÚLIO: Olha aqui: se você tocar um dedo no meu neto de novo/

 

MÁRIO: (corta) Você vai fazer o quê? Me matar?

 

GETÚLIO: (por cima) Ouse me desafiar pra você ver o que te acontece!

 

MÁRIO: (sorrindo cinicamente) Não vai acontecer nada! Você não seria nem louco de fazer algo contra mim, Getúlio!

 

GETÚLIO: Olha lá, para de duvidar de mim e do que eu sou capaz de fazer, você não me conhece...

 

MÁRIO: Conheço o suficiente pra saber até das coisas que você foi capaz de fazer... (T) No seu passado, por exemplo!

 

GETÚLIO: (furioso) De que merda você tá falando?

 

MÁRIO: (ironizando) Não se faça de sonso, Getúlio! Você sabe muito bem do que eu tô falando, eu sei que sabe!

 

Getúlio fica paralisado diante dele, sem reação. Mário começa a rir do velho, sacaneando com a cara dele. Getúlio pega um revólver que está em cima da mesa e aponta para Mário, por impulso, deixando-o assustado.

 

MÁRIO: (com medo) O que você vai fazer com isso?

 

GETÚLIO: (apontando o revólver) Continua!

 

MÁRIO: (com medo) Larga essa arma!

 

GETÚLIO: (grita) Continua rindo da minha cara, seu desgraçado!

 

MÁRIO: (tremendo) Para com isso!

 

GETÚLIO: (grita) Você ouse me desafiar de novo, toca um fio de cabelo do Alex e eu meto uma bala nessa sua cara!

 

MÁRIO: Para, Dr. Getúlio!

 

GETÚLIO: (ri, debochando) Você tá com medo? Cadê o seu deboche, foi parar debaixo do tapete?

 

MÁRIO: Para...

 

Getúlio encosta a arma no rosto de Mário, enquanto ele se treme de medo. Close no dedo de Getúlio, prestes a apertar o gatilho. É nessa hora que ele recua e começa a rir da cara de Mário, que está encolhido na enorme poltrona do escritório.

 

GETÚLIO: (rindo) Mas é um frouxo mesmo! Isso é pra você aprender a não bater de frente comigo! (sério) Agora sai! E se eu souber que você me desobedeceu, já sabe!

 

Mário se levanta da cadeira, encara Getúlio e decide sair do escritório. É quando ele abre a porta e dá de cara com Alex, que começa a rir da cara dele.

 

ALEX: (debocha) Você entendeu né? Quem procura acha!

 

Mário o encara por um tempo e sai dali. Alex entra no escritório, fechando a porta em seguida. Getúlio volta sua atenção para ele, ao mesmo tempo em que põe o revólver em cima da mesa.

 

GETÚLIO: Ôh, é você!

 

ALEX: Eu vim conversar com o senhor!

 

GETÚLIO: (se aproxima) Eu é quem quero saber como você está! Aquele desgraçado machucou você?

 

ALEX: Não muito! Mas ele agrediu a minha mãe também, vô.

 

GETÚLIO: Bateu na sua mãe?

 

ALEX: O senhor precisa fazer alguma coisa!

 

GETÚLIO: (se desvencilha) Eu já dei o meu recado pra ele!

 

ALEX: (insistente) E vai deixar ele continuar morando aqui em casa?

 

GETÚLIO: (ignorando) Alex, ele é casado com a sua mãe/

 

ALEX: (por cima) E ela é a sua filha!

 

GETÚLIO: Eu não posso fazer nada pra impedir, meu neto, entenda!  

 

ALEX: Pode sim: pode expulsar esse desgraçado aqui de casa. Ele agrediu ela uma vez e pode fazer isso de novo, e de novo, e de novo. Você como pai deveria defender, cê não acha não? E fora que ele tentou me matar também!

 

GETÚLIO: (direto) Ele não vai fazer mais isso, porque eu não vou permitir!

 

Getúlio se aproxima de Alex e toca no rosto dele.

 

GETÚLIO: Você é uma das poucas coisas que mais prezo nessa vida e nada nem ninguém vai destruir isso!

 

Em seguida, abraça o neto que permanece indignado por ele não ter dado importância ao que falava sobre a mãe.

 

CENA 5/MANSÃO/QUARTO MÁRIO E OLÍVIA/INTERIOR/MANHÃ.

Olívia está maquiando o rosto, no local onde recebeu o tapa dado por Mário, quando seu celular – que está em cima do criado mudo – começa a tocar. Ela vai até lá e atende à ligação.

 

OLÍVIA: (cel) Alô?!

 

RAVENA: (off) Olívia, sou eu!

 

Olívia fica surpresa.

 

OLÍVIA: (cel) Ravena?!

 

Do outro lado da linha, na sala de sua casa, Ravena está com uma expressão de desespero.

 

RAVENA: (cel) Preciso te encontrar urgente! (T) Ele descobriu tudo!

 

Olívia rapidamente entende o que a irmã está falando e também muda sua expressão de surpresa para desespero. Closes alternados nas expressões de ambas. A cena se apaga.

 

CENA 6/JARDIM ORESTES/PRAIA/EXTERIOR/MANHÃ.

A cena clareia. Samuca anda pelas areias da praia com pressa e revoltadíssimo. Verena vem lá atrás, arfando, tentando alcançar ele.

 

VERENA: (grita) Samuel!

 

Samuca revira os olhos e continua andando com pressa. Verena consegue ser rápida e o alcança.

 

VERENA: (arfando) Para!

 

Samuca para de andar e permanece impaciente.

 

SAMUCA: (impaciente) O que foi, vó?

 

VERENA: Eu vim impedir que você faça uma besteira!

 

SAMUCA: O quê? Contar pro meu pai que o filho dele tá vivo e que a mulher dele escondeu essa informação esses anos todos? Que ela fez todo mundo sofrer à toa?

 

VERENA: Meu filho, você não pode fazer isso, já pensou na merda que vai dar?

 

SAMUCA: (revoltado) Eu quero é que tudo se exploda logo de uma vez!

 

VERENA: Você precisa ficar calmo, cê tá nervoso demais!

 

SAMUCA: Claro, você queria que eu estivesse como?

 

Samuca respira fundo e Verena volta a falar.

 

VERENA: (o pega pelos braços) Olha pra mim! (T) Se você for despejar tudo o que sabe pro seu pai eu nem sei o que ele é capaz de fazer. E eu não tô falando dele fazer algo contra a sua mãe não, mas é com ele próprio também. Se você dá pelo menos um pingo de importância a sua família, fica na sua! (T) Uma hora todo mundo vai ficar sabendo da verdade e aí tudo vai se esclarecer, mas por enquanto/ 

 

SAMUCA: (corta) Eu já entendi!

 

VERENA: (aliviada) Que bom!

 

SAMUCA: (abalado) Eu preciso ficar sozinho, será que dá pra me deixar, por favor?!

 

Ele sai, caminhando pelas areias da praia, deixando Verena pra trás, em meio a toda aquela paisagem: mar calmo, céu azul com algumas nuvens e sol brilhando.

 

CENA 7/MANSÃO/PISCINA/EXTERIOR/MANHÃ.

Bruna vem caminhando com seu celular na mão e na beira da piscina quando é abordada por Alexandra, que sorri falsamente pra ela. Bruna se assusta.

 

BRUNA: (com a mão no peito) Ai, a senhora quase me mata de susto!

 

ALEXANDRA: (ofendida) O que você quis dizer com isso?

 

BRUNA: Eu quis dizer que a senhora tem que parar de aparecer na frente dos outros assim de repente, feito um fantasma.

 

Bruna continua caminhando.

 

ALEXANDRA: (caminha atrás dela) Eu queria falar com você uma coisa bem importante/

 

BRUNA: (por cima) Se for pra pedir dinheiro nem vem que não tem!

 

ALEXANDRA: Magina se eu vou pedir dinheiro a você/

 

BRUNA: (interrompe) Fala logo o que você quer, velha!

 

ALEXANDRA: Não me chama de velha!

 

BRUNA: (para de andar e a encara) Tá bom! Então fala logo o que você quer, nova!

 

ALEXANDRA: Olha garota, você não me provoque!

 

BRUNA: (continua a caminhar, irritada) Mas que inferno, dona Alexandra. Fala logo que diabos você quer!

 

ALEXANDRA: Eu vou ser direta se você parar de andar!

 

Bruna para de andar e se vira, ficando frente a frente a Alexandra.

 

BRUNA: É bom mesmo!

 

ALEXANDRA: Eu vim pra falar sobre o meu neto!

 

BRUNA: (se irrita) De novo essa conversa, criatura, pelo amor de Deus. Esse assunto tá pior que as reprises das novelas infantis no SBT.

 

ALEXANDRA: Minha querida, você precisa me escutar/

 

BRUNA: (corta) Cê acha que eu sou ouvinte de disco arranhado? 

 

ALEXANDRA: (por cima) Você tá ficando uma mocinha.

 

BRUNA: Na verdade, eu já sou uma mulher!

 

ALEXANDRA: Você já tá na idade de se casar e o meu neto tá disponível pra você...

 

BRUNA: Tá. A senhora tá querendo me juntar com o seu neto desde o dia que eu cheguei nessa casa. O que você é? É a minha sinhazinha? Alô cupido?

 

ALEXANDRA: Eu estou preocupada com o seu futuro!

 

BRUNA: Com o meu ou o seu?

 

ALEXANDRA: Eu não sei o que cê quer dizer com isso!

 

BRUNA: Cê acha que eu sou burra, ô velha? Acha que eu não percebi que a senhora tá tendo me juntar com seu neto pra poder se aproveitar dos benefícios financeiros que esse casamento ia te trazer por eu ser sobrinha neta do Getúlio?

 

ALEXANDRA: Não, meu bem, não é isso!

 

BRUNA: Então é o quê?

 

ALEXANDRA: É só que...

 

BRUNA: (corta) É só que nada! (começa a estalar o dedo pra ela) Acorda, meu amor! Esse casamento nunca vai acontecer.

 

ALEXANDRA: (levemente irritada) Como você pode ter tanta certeza?

 

BRUNA: (em tom de deboche) Ah você não sabe não, minha linda?

 

ALEXANDRA: (levemente irritada) De quê?!

 

BRUNA: Todo mundo já percebeu, dona Alexandra! Até a mãe do Eduardo que já tá na terra dos pés juntos já percebeu!

 

ALEXANDRA: Já percebeu o quê?

 

BRUNA: Que ele não gosta da fruta! (T) O seu neto é gay, minha flor!

 

ALEXANDRA: (desacreditada) Como é que é?

 

BRUNA: (debochada) É isso mesmo e tem mais: se um dia eu realmente me casar... vai ser com o Alex! Porque eu tô batalhando por isso há anos. Tá bom, meu bem? (T) Agora eu já vou indo que eu tenho mais o que fazer.

 

Bruna vai saindo, enquanto Alexandra fica lá em choque, tentando absorver o que ela falou.

 

BRUNA: (volta) Ah, e se você não acredita, pode perguntar ao Eduardo... (rindo) Tenho certeza de que ele vai ter o maior prazer em te responder!

 

Ela sobe as escadas que levam para a mansão, enquanto Alexandra permanece possessa de raiva. Close nela.

 

CENA 8/JARDIM ORESTES/PRAIA/EXTERIOR/MANHÃ.

Nicole (21, estatura média, cabelos naturais e ondulados e magra), espera alguém encostada num barco ancorado, os pés na água e com uma expressão como se estivesse irritada. De repente Samuca aparece.

 

SAMUCA: Cheguei! O que aconteceu?

 

NICOLE: (fria) Por que demorou?  

 

SAMUCA: (abalado) Eu tive uns problemas aí...

 

NICOLE: (dura) Que problemas?

 

SAMUCA: Pessoais. Foi lá em casa!

 

NICOLE: (fala baixo, irritada) Desculpa mais esfarrapada!

 

SAMUCA: Qual?

 

NICOLE: (alto) A sua!

 

SAMUCA: (por cima) Não foi desculpa!

 

NICOLE: (irritada) Por que você tá gritando?

 

SAMUCA: (se irrita) Por que você começou com esses ataques do nada!

 

NICOLE: (grita) Você demorou de chegar!

 

SAMUCA: (grita mais alto) Eu já disse que eu tive um problema em casa, cacete!

 

NICOLE: (grita) Para de gritar comigo!

 

SAMUCA: (grita) Para você de fazer isso!

 

NICOLE: (em tom grosseiro) Você tava com alguma vagabunda não é?

 

SAMUCA: (desacreditado) O quê?!

 

NICOLE: (por cima) Estava sim!

 

SAMUCA: (irritado) Você tá duvidando de mim, tá duvidando da minha fidelidade?

 

NICOLE: Eu sei que você tá mentindo...

 

SAMUCA: (irritado) O quê? (T) Você ficou louca?

 

NICOLE: Olha aqui, Samuca eu te conheço...

 

SAMUCA: É mesmo? (T) Você acabou de provar totalmente o contrário!

 

Samuca vai saindo, quando Nicole vai atrás dele.

 

NICOLE: Peraí, você não vai sair assim sem antes me explicar/

 

SAMUCA: (grita) EU JÁ DISSE! Eu tive problemas em casa, caralho! Eu descobri que meu irmão gêmeo tá vivo, aquele que tinha morrido, lembra? Pois é, tá vivo! Eu descobri que a minha mãe mentiu pra mim e pra minha família esse tempo todo. Eu tô triste, tô me sentindo traído, tô me sentindo enganado! (T) Pronto! Foi isso! Eu não tava com nenhuma vagabunda não. (T) Tá satisfeita agora? Hein? Tá satisfeita?

 

Nicole fica estarrecida, sua expressão muda completamente, enquanto Samuca vira o rosto pro lado e cai no choro. Ela vai até ele e toca suavemente em seu rosto, virando para sua direção, limpando as lágrimas com delicadeza e o abraçando em seguida.

 

SAMUCA: (chorando) Desculpa!

 

NICOLE: (abraçando-o) Não. Eu é quem tô nervosa, eu tirei conclusões precipitadas, eu te acusei de uma coisa, eu/... 

 

Ela se interrompe quando Samuca se solta do abraço. Ainda com lágrimas nos olhos, ele se distancia. Ela vai atrás, segura em seu braço e sem seguida, toca em seu rosto e os dois se olham com profundidade, até que em seguida se beijam intensamente. Close nos dois, que param de se beijar e se olham sob a luz do Sol que está forte, iluminando seus rostos, dando contraste com os olhos castanhos dos dois. Devagar, eles juntam seus rostos novamente, dando um beijo mais demorado e lento. Close.

 

CENA 9/JARDIM ORESTES/PLANOS GERAIS/EXTERIOR/MANHÃ-TARDE.

Passagem de tempo da manhã para a tarde. Dia ensolarado, céu azul. Na praia, pessoas se banham na água. Há pescadores que desembolam suas redes. Mulheres tomam banho de sol na areia. Crianças correm, brincando. Barcos vem e vão.

 

CENA 10/MANSÃO CAVALCANTI/ESCRITÓRIO/INTERIOR/TARDE.

Getúlio está sozinho, sentado numa grande poltrona ao lado da mesa enquanto fuma um charuto. Detalhe na grande quantidade de fumaça que sai da sua boca. Ele está bastante pensativo. Ao fundo, ouve-se vozes como um eco, vindo de seu pensamento.

 

CRIANÇA: (voz – gritando) Me solta!

 

HOMEM: (voz - grita) Quieta! (T) Você vai me obedecer!

 

Close no rosto e na expressão fria de Getúlio, pensativo enquanto fuma seu charuto.

 

Flashback on:

 

Imagem em preto e branco, detalhes em contraste escuro. Um homem alto agarra uma criança pelos braços. Não é possível ver seu rosto. A criança é uma garota de aparentemente 12 anos e sua face também não é revelada.

 

CRIANÇA: (gritando) Me larga! (T) Me solta! – e dá um chute nos testículos do homem.

 

A menina sai correndo, mas o homem, que urrava de dor consegue correr atrás dela e alcançá-la, agarrando-a pelos braços e apertando mais forte do que antes.

 

HOMEM: Você vai ser boazinha comigo e vai me obedecer... senão eu mato a sua mãe. Eu transformo ela em presunto e dou pros cachorros comerem, é isso que você quer?

 

A criança começa a chorar e não responde, deixando o homem impaciente.

 

HOMEM: (grita) FALA! É ISSO QUE VOCÊ QUER?

 

CRIANÇA: (chorando desesperada) Não!

 

O homem acaricia os cabelos da garotinha que treme de medo.

 

HOMEM: Você vai fazer tudo o que o titio mandar tá bom?

 

Ele segura a menina brutalmente e a coloca sentada numa cama (não é mostrado o ambiente que os dois estão, mas por aqui, já dá a entender que é um quarto). Em seguida, detalhe nele tirando o cinto e desabotoando a calça, abaixando-a logo depois.

 

HOMEM: (para a menina) Agora você vai abrir a sua boquinha e vai obedecer o tio sem reclamar ou vai ser pior!

 

Ele abaixa a cueca e encara a menina, agarrando seus longos cabelos com força, fazendo com que ela chore. O som de choro e desespero é interrompido assim que o homem força a garota a fazer sexo oral nele.

 

HOMEM: (gemendo) Oh, isso. Alegra o titio... isso. (T) oh!

 

Câmera vai subindo, mostrando o rosto do homem, que é nada mais, nada menos que Getúlio, que sorri de prazer e satisfação. Close nele.

 

Flashback off.

 

Getúlio mantém sua expressão fria. Nesse momento a porta se abre e Palmira entra na sala carregando uma bandeja com uma garrafa térmica e uma xícara num pires.

 

PALMIRA: Dr. Getúlio, trouxe o café que o senhor pediu.

 

GETÚLIO: Ah sim, ponha em cima da mesa.

 

PALMIRA: Nada melhor do que um cafezinho para acalmar depois dessa confusão que teve aqui hoje.

 

GETÚLIO: Uma confusão que tem quase todos os dias. Eu fico pensando, que nessa casa não se tem um minuto de paz! (T) Às vezes eu me sinto sabe aonde? Nos pagodes e fuzuês que gente da sua laia faz todo domingo, com aquela musiquinha vulgar como trilha sonora.

 

Palmira termina de servir o café e repara no revólver que está em cima da mesa.

 

GETÚLIO: (com a xícara nas mãos) Tá olhando o quê, infeliz? Vai, sai daqui!

 

PALMIRA: (segurando a bandeja) Com licença!

 

Palmira vai caminhando em direção a porta do escritório sem tirar os olhos do revólver na mesa. Em seguida a mulher fecha a porta devagar, deixando entreaberta e fica observando sem que Getúlio perceba. No escritório, Getúlio larga a xícara de café em cima da mesa e pega o revólver, caminhando em direção a uma parede com um quadro com um retrato de Alex. Ele retira o objeto da parede e põe em cima da poltrona, revelando ter um cofre. Getúlio digita a senha e abre o cofre, pondo a arma lá dentro e fechando em seguida. Ele põe o quadro de volta na parede. Close no retrato de Alex, no quadro.

 

CENA 11/MANSÃO CAVALCANTI/JARDINS/EXTERIOR/TARDE.

Bruna e Palmira conversam no jardim, secretamente.

 

PALMIRA: Eu fui servir café pro velho e você nem vai acreditar.

 

BRUNA: (curiosa) O que foi?

 

PALMIRA: Ele tem um revólver.

 

BRUNA: (surpresa) Sério? (pensativa) Um revólver... isso é muito interessante.

 

PALMIRA: Pois é, o ruim é que ele deixa escondido no cofre.

 

BRUNA: E a senha, qual é?

 

PALMIRA: Eu não sei, não deu pra ver.

 

BRUNA: (se irrita) Cê é uma imprestável mesmo! – e sai andando.

 

PALMIRA: (indo atrás dela) O que você queria que eu fizesse, que ficasse lá olhando? O velho me expulsou do escritório, o mínimo que eu pude fazer foi ficar espiando de longe, da porta.

 

BRUNA: Você desse um jeito! (T) Eu preciso dessa senha, Palmira! Dentro desse cofre não só pode ter esse revólver, mas também aquilo que eu ando procurando.

 

PALMIRA: Cê acha mesmo que/

 

BRUNA: (corta) Acho! Tenho certeza de que tá lá dentro. Eu preciso dessa porcaria desse documento, com certeza tá lá, dentro do cofre, o velho nunca ia deixar em alguma daquelas gavetas. (T) Eu acho que já sei o que fazer pra conseguir essa senha.

 

PALMIRA: (temerosa) Olha lá hein, vê se não vai fazer merda!

 

BRUNA: (confiante) Pode deixar... sei muito bem o que fazer.

 

Close nela, sorridente e confiante.

 

CENA 12/CASA NICOLE/QUARTO/INTERIOR/TARDE.

(Trilha Sonora: Holding Back The Years - Simply Red)

Câmera detalha o quarto de Nicole, simples, porém aconchegante. O guarda roupa de madeira num canto e a cama embaixo da janela. Há pouca luz no ambiente, o máximo de luz que entra vem da janela. Na cama, Samuca e Nicole estão despidos e envolvidos pelo lençol branco, aos beijos. Ele recostado na cabeceira da cama e ela sentada de frente pra ele. Se beijam intensamente, enquanto vão unindo cada vez mais seus corpos. Estão ofegantes, é possível até perceber os dois com a respiração acelerada. Ela se agarra a ele e começa a arranhar de leve suas costas, enquanto Samuca vai trazendo-a cada vez para mais perto dele, beijando seu pescoço com vontade ao mesmo tempo que segura seus cabelos. Closes alternados: no rosto de Nicole que expressa satisfação e prazer, e em suas mãos que apertam com vontade as costas de Samu. Seus rostos se encontram novamente, repetindo o beijo intenso. Encerram o beijo e lentamente vão se encarando de novo. Os dois ofegantes se olham profundamente e em seguida começam a sorrir um pro outro.

 

NICOLE: (tocando no rosto dele) Você é tão lindo.

 

Samu abaixa a cabeça sorrindo. Ela levanta sua cabeça e eles voltam a se olhar.

 

NICOLE: Fica mais lindo ainda assim, sem jeito.

 

Samuca pega na mão dela e olhando pra baixo, fala devagar.

 

SAMUCA: Eu não gosto quando a gente briga. – e olha nos olhos dela – eu me sinto mal de um jeito que nem dá pra explicar.

 

Nicole o encara enquanto passa a mão pelos cabelos dele.

 

NICOLE: Eu tô me sentindo culpada. (T) Eu não sabia realmente que cê tava passando por problemas e joguei tudo que eu tava sentindo em cima de você/

 

SAMUCA: (corta) É melhor a gente tentar esquecer.

 

Ele toca delicadamente no rosto dela.

 

NICOLE: Não quer conversar sobre o que aconteceu?

 

SAMUCA: Acho melhor não.

 

Nicole dá um beijo na testa dele e o abraça em seguida. Close na expressão pensativa de Samuca.

 

CENA 13/JARDIM ORESTES/PLANOS GERAIS/EXTERIOR/TARDE-NOITE.

(Trilha Sonora: Holding Back The Years - Simply Red)

Clipe da cidade ao anoitecer, mostrando uma rápida passagem de tempo da tarde para a noite na cidade, com o movimento de veículos e de seus habitantes, e em seguida num corte, destacando o pôr do Sol no mar. Corte agora para a Lua em destaque no céu.

 

CENA 14/CASA RAVENA/SALA/INTERIOR/NOITE.

(Trilha off.)

Ravena vem andando do quarto. Está arrumada. Se depara com Verena sentada no sofá e assistindo televisão.

 

VERENA: Pra onde você vai assim?

 

RAVENA: Eu marquei com a Olívia, tô indo me encontrar com ela. (T) Eu tô preocupada com o Samuel, ele não voltou até agora. Nem pra almoçar ele veio.

 

VERENA: Ele teve aí mais cedo depois que a Cris chegou do colégio. Acho que foi na hora que cê tinha saído.

 

RAVENA: (preocupada) Será que ele contou alguma coisa pro Miguel?

 

VERENA: Que nada, fica tranquila. Eu consegui convencer ele a não falar nada. (para si) Eu acho...

 

RAVENA: (preocupada) Ai, meu Deus.

 

Nesse momento, a porta se abre e Miguel entra no cômodo.

 

MIGUEL: Boa noite gente.

 

RAVENA: (com ar de preocupada) Oh meu amor...

 

Ele vai até Ravena e dá um beijo na mulher.

 

MIGUEL: (percebendo a preocupação) O que foi, por que você tá assim?

 

RAVENA: Você e o Samuel se encontraram hoje?

 

MIGUEL: (estranha) Não, por que a pergunta?

 

RAVENA: (disfarça) Nada não, esquece!

 

MIGUEL: Tem certeza?

 

RAVENA: Tenho sim! Eu só ando muito preocupada com ele porque tem andado muito agitado e/


MIGUEL: (interrompe) Se acalma meu bem. Ele já é um rapaz, sabe o que faz da vida dele.

 

VERENA: (alto) Ih, será que sabe mesmo?

 

MIGUEL: (curioso) Como assim, mãe?

 

VERENA: (desconversa) Nada, meu filho. Sua mãe tá velha, diz qualquer coisa que vem na cabeça.

 

RAVENA: (T) Bom, eu acho que vou indo. Verena, se a Cris aparecer aí põe o jantar dela pra mim. – E vai caminhando até a porta.

 

MIGUEL: Onde é que cê vai?

 

Ravena para e se volta pra ele.

 

RAVENA: Eu vou me encontrar com uma amiga, mais tarde eu tô aí. – abre a porta e sai.

 

MIGUEL: (para Verena) Cê conhece essa amiga?

 

VERENA: (mente) Conheço sim, uma bonitinha que sempre vem aqui! (pega ele pelo braço) Agora vamos lá que a mamãe preparou uma canja deliciosa...

 

Corte no áudio. E os dois vão para a cozinha.

 

CENA 15/JARDIM ORESTES/PRAIA/EXTERIOR/NOITE.

Samuca e Cris estão sentados na areia olhando o mar. Samuca está pensativo, enquanto Cris está com um graveto na mão desenhando algo na areia.

 

CRISTINA: (olhando pra ele) Você tá calado hoje.

 

Samuca olha rapidamente pra ela e dá um sorriso canto de boca.

 

SAMUCA: (voltando a olhar o mar) Eu tava pensando no nosso irmão.

 

Cris para de desenhar na areia e volta sua atenção a Samuca.

 

CRISTINA: Ah, eu tinha esquecido que hoje é a data da morte dele.

 

SAMUCA: É.

 

CRISTINA: Vocês eram muito próximos né?

 

SAMUCA: A gente era sim. (sorri, pensativo) A gente corria por aquela casa enorme, brincava o dia todo. A gente dormia no mesmo quarto também. As vezes a gente ficava acordado a noite toda, um abusando o outro. Cê acredita que a gente fazia festa do pijama? Só a gente. A gente descia e assaltava a geladeira, depois a gente voltava pro quarto e ficava a noite inteira comendo. Era tão bom. (fica sério) Até o dia que aquele velho expulsou a nossa mãe e eu de casa e separou a gente. (T) A gente não se viu mais depois disso.

 

Eles ficam em silêncio por um tempo, deixando apenas o barulho do mar e do vento tomar conta do local.

 

CRISTINA: Se ele tivesse vivo agora... será que ele seria igual a você?! Tipo, igual em tudo: a voz, o jeito, o rosto, o cabelo, o corpo, sei lá. Por que tem irmãos gêmeos que são iguais em tudo.

 

SAMUCA: Pô, Cris, ninguém é igual a ninguém em tudo não, nem gêmeos. Sempre tem uma diferença. (T) Às vezes eu fico pensando como seria se eu reencontrasse o Alex hoje em dia, sabe? Como seria se eu tivesse a chance de ver ele de novo. Ver como ele é, como ele tá agora. A gente relembrar os tempos perdidos.

 

CRISTINA: Será que o Alex seria mais legal que você? 

 

SAMUCA: Não sei, gatinha. (olha pra ela, sorrindo) Acho que ia dar empate.

 

Eles riem.

 

SAMUCA: Ele se foi, mas pelo menos veio você né?

 

CRISTINA: É, veio eu pra você encher muito o saco, isso sim.

 

Os dois riem e Cris deita a cabeça no colo dele. Samuca volta a ficar pensativo enquanto acaricia a cabeça da irmã. Entra aqui o diálogo da cena 1 deste capítulo em efeito de eco:

 

SAMUCA: (voz) Por que mentiu pra mim? Por que mentiu pra gente durante todos esses anos? (T) Por que você escondeu de mim, porque escondeu do meu pai que o Alex estava vivo?

 

Em seguida, continua pensativo.

 

CENA 16/MANSÃO CAVALCANTI/QUARTO OLÍVIA/INTERIOR/NOITE.

Olívia está ao celular falando com alguém enquanto Palmira dobra lençóis próximo a cama.

 

OLÍVIA: (cel) Já chegou aí? (T) Eu tô indo agora! Não demoro. – E desliga.

 

Ela pega sua bolsa e sai do quarto, apressada. Close em Palmira que observava toda a movimentação.

 

CENA 17/MANSÃO CAVALCANTI/SALA/INTERIOR/NOITE.

Palmira já está na sala falando com Alex.

 

ALEX: Ela não disse onde ia?

 

PALMIRA: Não, saiu feito um furacão do quarto.

 

ALEX: E a pessoa que falou com ela?

 

PALMIRA: Como eu vou saber quem tava do outro lado? Sou vidente agora é?

 

ALEX: E quem você pensa que é pra me responder nesse tom?

 

PALMIRA: (sem jeito) Desculpe.

 

ALEX: Da próxima vez que você se dirigir a mim assim, eu dou um jeito do meu avô jogar você na rua. (T) Tô pra ver hein, nem pra passar uma informação direito você serve.

 

Alex vai em direção a porta, abre e sai. Palmira fica pensativa.

 

CENA 18/MANSÃO CAVALCANTI/PISCINA/EXTERIOR/NOITE.

(Trilha Sonora: Havana – Camila Cabello, Young Thug)

Há várias luzes acesas no gramado próximo à piscina. Close em Mário nadando embaixo d’água, onde podemos perceber que há iluminação também no interior da piscina. Bruna desce as escadas que liga a mansão à piscina. Está vestindo um robe vermelho sangue. Ela para na borda da piscina segurando uma taça com drink na mão. Mário chega ao outro lado da piscina e fica a encará-la com um sorriso safado no rosto. Bruna retribui o sorriso. É nesse momento que ele sai da piscina e vai caminhando até ela, ficando frente a frente.

 

BRUNA: (entregando a taça) Eu trouxe a bebida que você pediu.

 

MÁRIO: (tomando um gole da bebida) Alguém te viu?!

 

BRUNA: (encarando-o sensualmente) E se tivessem visto? Qual o problema?

 

Mário começa a rir descaradamente enquanto Bruna olha pra ele esboçando um sorriso safado. Mário deixa a taça em cima de uma mesa. Em seguida, volta e começa a agarrar Bruna, beijando o pescoço dela.

 

BRUNA: Eu tava na cozinha, e vi a hora que o carro da sua mulher tava saindo da garagem.

 

MÁRIO: (para de beijá-la e a encara) Eu não quero saber da Olívia! Sabe de uma? (começa a rir) Eu quero mais é que esse carro se exploda. Sabe? No meio do caminho... Quero que vá tudo pelos ares junto com aquela mulherzinha chata. (T) O que importa é que você tá aqui. Só isso já tá fazendo essa noite valer a pena.

 

Bruna o encara com um olhar penetrante. Close no olhar dela.

 

BRUNA: (sorri para ele) Tá valendo a pena mesmo. (T) Você nem imagina o quanto!

 

Em seguida, ele a agarra e os dois começam a se beijar loucamente. Mário carrega Bruna e a coloca em cima da mesa, onde ele tira seu biquíni. Volta a beijar o pescoço dela, descendo pelos seios. Em seguida ele sobe e volta a beijá-la. Bruna o prende com as pernas e passa a mão pelo peitoral e abdômen dele enquanto se beijam. Close nos dois.

(Trilha off.)

 

CENA 19/JARDIM ORESTES/BAR/EXTERIOR/NOITE.

Ravena e Olívia estão sentadas numa mesa na área externa do bar. Olívia toma cerveja enquanto o copo de Ravena permanece cheio e intacto.

 

RAVENA: Eu não sei o que fazer, eu tô entrando em desespero. A qualquer momento o Miguel pode descobrir toda a verdade. A qualquer momento ele pode descobrir que o Alex tá vivo.

 

OLÍVIA: Fica fria, ele não vai descobrir nada.


RAVENA: Acontece que o Samuel já sabe de tudo. A Verena até conseguiu convencer ele, mas e quando ele não puder mais segurar essa informação?

 

OLÍVIA: Calma, mana! A gente conseguiu esconder durante cinco anos que os meninos eram meus filhos/

 

RAVENA: (corta) Até o dia que o seu marido deu com a língua nos dentes né?! Por que foi por culpa dele que o papai me expulsou de casa com o Samuca. Foi por culpa dele que fiquei separada do Alex esses anos todos... dele e daquele velho!

 

Olívia termina de beber a cerveja e em seguida, põe mais no copo.

 

RAVENA: (observando-a colocar mais cerveja no copo) Cê não para um segundo hein? Sem limites desde sempre.


OLÍVIA: (se irrita) Mas que cacete! Não me vem com sermão uma hora dessas, pelo amor de Deus! (T) Olha só, Ravena, fica fria que nada de ruim vai acontecer.

 

Ravena olha para Olívia rapidamente e se assusta quando vê alguém parado atrás dela.

 

OLÍVIA: O nosso segredo vai ficar guardado e vai ser como sempre foi esse tempo todo.

 

ALEX: (off) Que segredo, mãe?!

 

Olívia se levanta, no susto e fica paralisada ao ver Alex ali. Ravena também se levanta.

 

ALEX: Que segredo é esse? (se referindo a Ravena) Quem é essa mulher?

 

Closes alternados em Ravena, Alex e Olívia.

 

CENA 20/CASA RAVENA/SALA/INTERIOR/NOITE.

A porta se abre e Samuca entra carregando Cristina no colo. Em seguida, fecha a porta e vai caminhando até o quarto.

 

CENA 21/QUARTO DE CRISTINA/INTERIOR/NOITE.

Samuca põe Cris na cama e em seguida, a cobre. Observa a irmã dormir serenamente enquanto acaricia seus cabelos, dando um leve sorriso. Depois, ele sai, fechando a porta. Close nela dormindo.

 

CENA 22/COZINHA-QUINTAL/INTERIOR/NOITE.

Samuca chega na cozinha e vai até a geladeira, tirando de lá uma garrafa com água. Pega um copo do armário e enche de água, bebendo em seguida. Ele faz uma expressão como se estivesse escutando algo. Samuca deixa o copo em cima da mesa da cozinha e vai em direção ao corredor que leva até o quintal, chegando na porta e escutando a conversa.

 

MIGUEL: (off) Eu não consigo tirar aquela cena da cabeça, a Ravena chorando no quarto, vendo a foto dos meninos.

 

VERENA: (off) Eu já disse que você não teve culpa de nada, Miguel!

 

MIGUEL: (off) Tive culpa sim! Eu sabia que o Alex e o Samuca eram meus filhos. Aí eu descobri que a Ravena não quis vir morar comigo por causa da mentira que ela e a Olívia inventaram dos meninos serem filhos dela e contei a verdade pro Mário Gerson. Contei que eles eram meus filhos com a Ravena.

 

VERENA: (off) Você agiu com a cabeça quente! Mas para de se martirizar por causa disso!

 

MIGUEL: (off) Eu não consigo, mãe! Eu não vou tirar essa culpa da cabeça nunca. (T) E se eles souberem que fui eu quem contou a verdade lá pro Mário Gerson? Que foi por minha culpa que o Getúlio expulsou a Ravena e o Samuca de lá?! Hein? Me diga! Se o Samuca ou a Ravena descobrir que foi por minha causa que o Mário contou ao Getúlio a verdade sobre ele e o Alex, não sei o que pode acontecer.

 

Samuca fica chocado ao ouvir aquilo e sai do seu esconderijo, encarando o pai.

 

SAMUCA: (desacreditado) Como é, pai?

 

Miguel e Verena se assustam ao vê-lo ali.

 

MIGUEL: (impactado) Filho...

 

Samuca olha para ele, revoltado e entra de volta na casa. Miguel e Verena vão atrás dele.

 

CENA 23/CASA RAVENA/SALA/INTERIOR/NOITE.

Samuca vem da cozinha, com Miguel e Verena vindo logo atrás.

 

MIGUEL: (em desespero) Meu filho, me escuta/

 

SAMUCA: (corta) Eu não quero escutar nada. Eu não acredito que foi você que foi lá encher a cabeça do Mário Gerson de minhocas.

 

MIGUEL: Samuca/

 

SAMUCA: (corta / para Verena) E você hein vó? Sabia de tudo o tempo todo, né?! (T) Como você pôde ter feito isso, pai? E eu achando esse tempo todo que tudo aconteceu por causa do Mário, quando tinha dedo seu nisso também.

 

MIGUEL: Você precisa deixar eu me explicar/

 

SAMUCA: (grita) Eu já disse que não quero saber!

 

Corte rápido para o quarto de Cris: Ela, que dormia, acorda assustada com o grito de Samuca.

 

Corte para a sala:


SAMUCA: (revoltado) Eu tô sem acreditar nisso, sério. Você mentiu pra mim, a mãe mentiu pra mim e até você vó, mentiu pra mim, mentiu duas vezes!

 

MIGUEL: (sem entender) Do que você tá falando?

 

SAMUCA: Pelo visto você ainda não sabe da novidade né? Mas não tem problema nenhum, porque eu vou te contar!

 

VERENA: Samuca...

 

SAMUCA: Chega de mentiras vó...

 

VERENA: (grita) Samuca, cala a boca/

 

SAMUCA: (grita) CHEGA DE MENTIRAS, VÓ! (T) O Alex tá vivo!

 

(Trilha Sonora: Believer – Imagine Dragons)

 

Miguel fica chocado.

 

MIGUEL: (em choque) O quê?

 

SAMUCA: O filho que a sua mulherzinha passou anos afirmando ter morrido... tá vivo!

 

Miguel senta no sofá, em choque. Verena está apreensiva. Do quarto, Cris também está terrivelmente chocada. Closes alternados em Samuca e Miguel que se encaram.

 

 

Soundtrack de Suspense sobe ao mesmo tempo em que toca a trilha sonora e num close final em Samuca, a cena dá fade out.

 

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