Uma novela original WNC

 

Autora: Megan Clarke

 

 

Capítulo 05

Vidas Cruzadas 


CENA 1/MANSÃO DOS CAVALCANTI/SALA/INTERIOR/MANHÃ.

Continuação imediata da última cena do capítulo anterior. Samuca e Getúlio frente a frente depois de anos. Os dois abraçados.

 

GETÚLIO: (contente) Eu sabia que você ia voltar!

 

SAMUCA: (com um olhar sombrio) Eu voltei vovô! Eu voltei!

 

Eles se soltam.

 

SAMUCA: (olha em volta) Onde estão todos?

 

GETÚLIO: Não sei, dormindo talvez...

 

SAMUCA: Até uma hora dessas?

 

GETÚLIO: Ué, tá cedo, Alex!

 

SAMUCA: Cedo? São quase oito da manhã! E vem cá, tem o quê pra comer hein?

 

GETÚLIO: Você deve estar com fome... Eu vou pedir pra empregada pôr a mesa.

 

SAMUCA: E por que ainda não fez isso? Eu passei a noite inteira fora, estou cansado, com sono e faminto! Era a sua obrigação como patrão dar ordens pra colocarem essa droga de café na mesa.

 

GETÚLIO: (em choque) Por que você tá falando nesse tom comigo? O que deu em você?

 

SAMUCA: (frio) Ué, não foi o senhor que me ensinou a ser assim? Frio e direto? Eu tô apenas praticando, vovô! Nada mais justo do que pôr em praticas esses ensinamentos com o senhor que foi meu professor. O senhor não disse que é dessa forma que temos que tratar essa gentinha? Não que o senhor seja gentinha... mas cê entendeu né?

 

GETÚLIO: Sim, mas/

 

SAMUCA: (corta) Mas nada! (irritado) Vai, chama a empregada e manda ela pôr essa mesa, vou morrer de fome aqui!

 

De repente, Mário desce as escadas.

 

MÁRIO: O que tá acontecendo aqui?! (vê Samuca) Ah, você voltou é?

 

SAMUCA: Não, morri e virei um fantasma!

 

MÁRIO: (baixo, para si) Até que não seria má ideia se tivesse acontecido isso.

 

GETÚLIO: (para ele) O que você disse aí?

 

MÁRIO: (sério) Nada!

 

Samuca se mostra impaciente.

 

SAMUCA: Vocês vão ficar parados aí sem fazer nada? (anda de um lado pro outro) Cadê a empregada dessa casa?

 

Palmira vem da sala de jantar.

 

PALMIRA: Bom dia doutor Getúlio e seu Mário. (vê Samuca) Ah, Alex, que bom que você voltou. Eu fiz ovos mexidos.

 

GETÚLIO: Veio fazer o quê aqui, Palmira?

 

PALMIRA: Vim dizer que a mesa já está posta.

 

MÁRIO: Que demora, hein Palmira?

 

Mário, que estava parado na escada termina de descer os degraus e vai pra sala de jantar. Getúlio o segue. Samuca vai até Palmira.

 

SAMUCA: Então você é a empregada?!

 

PALMIRA: (o encara, estranhando) Que pergunta é essa, Alex?... Eu vou levar essas malas lá pra cima.

 

SAMUCA: Você não quer ajuda?

 

PALMIRA: (surpresa) Não, imagina! Eu levo sozinha!

 

SAMUCA: Então tá!... Você disse que fez ovos mexidos?

 

PALMIRA: (sorri, sem jeito) É... eu fiz... Eu sei que você gosta e... É melhor você ir, eu já volto pra terminar de servir vocês.

 

Palmira pega as malas e sobe com elas. Samuca dá um sorriso e vai para a sala de jantar.

 

CENA 2/CORREDOR/INTERIOR/MANHÃ.

Palmira fecha a porta do quarto de Alex e dá de cara com Bruna, que saíra do seu quarto.

 

BRUNA: (vai até ela) Menina, tem uma coisa estranha acontecendo aqui.

 

PALMIRA: O quê?

 

BRUNA: Eu vi o Eduardo saindo daqui agora.

 

PALMIRA: (sem entender) Como assim, saindo aqui?

 

BRUNA: Saindo aqui da mansão, Palmira! Que pergunta idiota.

 

PALMIRA: O quê?! Mas eu não vi ele hora nenhuma. Há quanto tempo isso aconteceu?

 

BRUNA: Tem uns 10 minutos.

 

PALMIRA: (não leva a sério) Você deve estar delirando!

 

BRUNA: Não estou! E o que você estava fazendo no quarto do Alex?

 

PALMIRA: Fui levar as malas dele pra lá. Ele tá aí.

 

BRUNA: (atônita) O Alex voltou?!

 

Bruna anda rapidamente pelo corredor até chegar as escadas, descendo-a. Palmira respira fundo e vai atrás.

 

CENA 3/SALA DE JANTAR/INTERIOR/MANHÃ.

Samuca, Mário e Getúlio tomam o café da manhã. Mesa cheia e bem posta. Samuca fica a olhar para os talheres, sem saber como usá-los. É encarado por Mário que esboça um sorriso debochado no rosto.

 

MÁRIO: O que foi, Alex? Passar a noite fora de casa levou a sua memória embora?

 

SAMUCA: (disfarça) Não sei do que você tá falando.

 

MÁRIO: Ué, esqueceu como se usa esses talheres! Tava fazendo um escândalo porque estava com fome não tem nem cinco minutos e até agora nem tocou na comida. Ontem de noite falou que tinha nojo da gente, nos chamou de mentirosos e disse que nunca mais iria voltar. Você voltou e agora nos trata como se nada tivesse acontecido.

 

GETÚLIO: Chega! O que importa é que ele voltou e está aqui. O que aconteceu, o que foi falado ficou no passado! Acabou!

 

MÁRIO: Tem certas coisas que nem sempre ficam no passado, não é Getúlio?

 

GETÚLIO: O que você está querendo insinuar?

 

MÁRIO: (sorri ironicamente) Não se faça de idiota! Você sabe muito bem do que eu tô falando!

 

GETÚLIO: (duro) Olha aqui: se você começar com palhaçadas sabe muito bem o que pode acontecer.

 

MÁRIO: Nada vai acontecer. Não esqueça daquilo que eu falei ontem, melhor me ter como aliado do que como inimigo!

 

Samuca observa toda discussão com um leve sorriso no rosto. Getúlio e Mário percebem e começam a disfarçar, voltando a comer. Bruna chega a sala de jantar.

 

BRUNA: (olhando para Samuca) Bom dia!  

 

MÁRIO: Ótimo, chegou quem estava faltando!

 

Bruna se senta à mesa sempre a olhar para Samuca com um leve sorriso no rosto. Ele nota e retribui. Getúlio se levanta.

 

GETÚLIO: Eu tenho que sair. Vou até a empresa resolver umas coisas.

 

Bruna desvia seu olhar para Getúlio.

 

GETÚLIO: (para Mário) Você não vem?

 

MÁRIO: (sorrindo) Não, vou tirar minha roupa e nadar pelado na piscina o dia todo hoje. Trabalhar pra quê né?

 

Getúlio o olha seriamente.

 

MÁRIO: Que foi? Cara feia pra mim é fome. A mesa tá posta. Senta, sogrinho, vem terminar de tomar café vem!

 

Palmira chega ao local.

 

GETÚLIO: (para Palmira) Você arrumou minha maleta como eu mandei?

 

PALMIRA: Arrumei! Tá no escritório!

 

GETÚLIO: Ótimo! – e sai.

 

PALMIRA: E vocês, desejam mais alguma coisa?

 

MÁRIO: Não quero nada!

 

SAMUCA: Ah, Palmira, eu quero que cê faça um café pra mim, por favor. É que aqui na mesa só tem suco, eu prefiro café.

 

BRUNA: Prefere café? Mas você odeia café!

 

SAMUCA: (nervoso) Ué, eu... agora gosto, ué. Qual o problema? Tô aprendendo a gostar.

 

Bruna o olha, estranhando-o.

 

PALMIRA: Não tem problema, eu vou preparar!

 

Palmira dá as costas.

 

SAMUCA: Obrigado!

 

Palmira para de andar e olha pra trás, impressionada. Mário para de comer e o encara, assim como Bruna. Samuca percebe os olhares e fica sem jeito.

 

PALMIRA: (sorrindo, surpresa) De nada! – e vai pra cozinha.

 

MÁRIO: (em tom de ironia) É... passar a noite fora fez um bem danado a você. Cê tá até mais alto.

 

BRUNA: (olhando para Samuca) E mais forte.

 

SAMUCA: (disfarça) O que deu em vocês hein? Eu sou o mesmo de sempre! Eu hein?!

 

MÁRIO: Não sei não...

 

Samuca fica temeroso, enquanto Mário o encara com um olhar maquiavélico.

 

BRUNA: (sorri) Eu fico feliz que tenha voltado.

 

Ela toca discretamente na mão dele, que rapidamente a tira. Palmira vem da cozinha com uma garrafa térmica e enche uma xícara de café. Os olhos de Samuca brilham ao ver o líquido caindo na xícara e Bruna observa atentamente.

 

BRUNA: Cê passou a gostar mesmo de café né?

 

SAMUCA: (encarando a xícara) Eu adoro café.

 

Em seguida, ele bebe avidamente. Mário estranha e se levanta.

 

MÁRIO: Eu vou trabalhar! (para Pamira) Você fez o que eu te pedi? Levou o café na cama pra Olívia?

 

PALMIRA: Levei, mas ela não quis comer nada.

 

MÁRIO: Ah que ótimo! Vai acabar morrendo de fome. Mas isso não me importa! Se ela quiser morrer, o problema é dela! 

 

Mário vai saindo da sala, deixando Palmira, Bruna e Samuca sozinhos.

 

SAMUCA: (para Palmira) Onde a ti/ (se corrige) Onde a minha mãe tá?

 

PALMIRA: Tá dormindo no quarto de hóspedes!

 

Samuca se levanta e vai saindo, mas para de repente.

 

SAMUCA: Onde é que fica?

 

Bruna e Palmira se entreolham. Bruna volta a olhar pro copo de suco e Palmira olha para Samuca.

 

PALMIRA: No final do corredor!

 

SAMUCA: (dá um sorriso) Valeu!

 

Samuca sai. Palmira se senta na mesa, junto a Bruna.

 

BRUNA: Viu só? Tá estranho isso aqui! Tem alguma coisa acontecendo nessa casa.

 

PALMIRA: É... tá muito estranho mesmo. Mas e aí, conseguiu abrir o cofre naquela hora?

 

BRUNA: Consegui!

 

PALMIRA: Pegou os documentos?

 

BRUNA: Não! O imbecil do Eduardo me ligou bem na hora. Aliás, o velho chegou depois e quase me pegou no flagra. Ainda bem que ele não desconfiou. Você também foi muito burra de me mandar pra aquela porcaria daquele escritório e nem ter se dado ao luxo de ficar olhando.

 

PALMIRA: Ele poderia desconfiar de tudo se eu fosse, ficou louca?

 

BRUNA: Tô, eu tô louca! Louca de vontade de dar nessa sua cara de idiota! Impressionante como você consegue ser incompetente sempre.

 

PALMIRA: Incompetente é? Então vai lá agora no escritório, aproveita que o Alex tá lá em cima e que o velho saiu. Sou tão incompetente que peguei as chaves sem que o velho visse. Como ele sempre tranca aquela merda, (entrega as chaves) Está aqui! 

 

Bruna pega as chaves e fica olhando-as.

 

BRUNA: É isso mesmo que eu vou fazer!

 

Close no olhar dela, decidido. 

 

CENA 4/QUARTO DE HÓSPEDES/INTERIOR/MANHÃ.

A porta se abre. Samuca entra sorrateiramente no quarto e vê Olívia deitada na cama, coberta, dormindo. Samuca fecha a porta e vai até ela, sentando na cama, devagar. De repente, Olívia acorda.

 

OLÍVIA: (zonza) Ah, meu filho. (Sorri) Você voltou!

 

Samuca dá um leve sorriso. Olívia põe a mão na cabeça, sentindo dor, mas logo volta sua atenção para ele. 

 

OLÍVIA: Filho, me perdoa por ontem. Eu preciso do seu perdão.

 

SAMUCA: (sem palavras) Eu…

 

OLÍVIA: Me perdoa, por favor.

 

SAMUCA: Olha, mãe, eu… Você precisa... Você precisa descansar agora. Eu sei que você bebeu e tá se sentindo mal. Não faz muito esforço, tá? (toca na mão dela) Eu tô aqui com você!

 

Olívia olha pra mãos de Samuca tocando as suas e em seguida o encara com lágrimas nos olhos.

 

OLÍVIA: (marejando) Não faz mais isso comigo. Não diz que vai embora de novo. (começa a chorar) Não me deixa sozinha nessa casa, filho! (desesperada) Eu não quero ficar sozinha aqui! Eu não quero ficar sozinha nessa casa.

 

Num impulso, Samuca a abraça.

 

OLÍVIA: (chora desesperada) Eu não quero! Eu não quero ficar sozinha aqui!

 

SAMUCA: Fica calma que você não tá sozinha! Eu já falei que tô aqui com você, não já falei? Fica calma! Eu não vou mais embora daqui!

 

OLÍVIA: (chorando) Eu fiquei com tanto medo de você me abandonar aqui com aquele homem.

 

SAMUCA: Ele te fez alguma coisa?

 

OLÍVIA: Me disse coisas horríveis. Falou que você não se importa comigo...

 

Samuca para de abraçá-la e começa a acariciar seus cabelos.

 

SAMUCA: Quem falou? Foi o meu avô?

 

OLÍVIA: (marejando) O seu pai!

 

SAMUCA: Ele fez mais alguma coisa pra você?

 

OLÍVIA: (chora) Não!

 

Samuca a abraça novamente e respira fundo.

 

SAMUCA: Ele não vai fazer mais nada. Eu não vou deixar ele fazer nada contra você de novo!

 

Os dois se soltam. Ele seca as lágrimas dela e em seguida a faz recostar a cabeça no travesseiro de novo. Olívia segura as mãos dele.

 

OLÍVIA: Eu tô mais aliviada com você aqui comigo. (T) Eu sei que não sou sua mãe de verdade… (marejando) Mas eu te amo, filho. (chora) Eu te amo!

 

Samuca olhando pra ela, não consegue segurar as lágrimas. Ele as enxuga rapidamente e levanta da cama num rompante.

 

SAMUCA: Eu vou pedir pra Palmira fazer um chá pra você. (sorri) Você vai ficar bem!

 

Em seguida deixa o quarto. Olívia dá um leve sorriso, ainda com o rosto molhado de lágrimas e fica pensativa.

 

CENA 5/CORREDOR/INTERIOR/MANHÃ.

Samuca sai do quarto e dá de cara com Palmira, que acabara de sair de um outro cômodo.

 

SAMUCA: Palmira, a minha mãe não tá nada bem.

 

PALMIRA: Sim, ela bebeu além da conta ontem depois que você saiu.

 

SAMUCA: Me faz um favor: faz um chá de camomila pra ela. Ela vai se sentir mais calma, vai se sentir melhor.

 

PALMIRA: Na verdade, eu tava indo levar um café bem forte.

 

SAMUCA: Não, café não, ela pode piorar e colocar tudo pra fora. Vai ser pior.

 

PALMIRA: Tá bem então. Vou preparar o chá.

 

SAMUCA: (sorri) Obrigado!

 

Samuca sai e Palmira fica a observá-lo.

 

CENA 6/ESCRITÓRIO/INTERIOR/MANHÃ.

Bruna tira o quadro com o retrato de Alex da parede e digita a senha do cofre, abrindo em seguida.

 

Ela vê as pastas com os documentos que tanto deseja e o tal revólver. Bruna retira as pastas de lá, deixando o cofre aberto.

 

BRUNA: (satisfeita) Finalmente!

 

Ela abre uma das pastas, retirando um papel. Em seguida, põe a pasta na mesa e começa a ler o documento.

 

BRUNA: (lendo) Mandato de prisão revogado para o senhor Getúlio Pires Cavalcanti pelo estupro da garota Andréa Menezes de Oliveira no dia 18 de Novembro de 2010.

 

Rapidamente pega outro documento (que é uma manchete de jornal) e começa a lê-lo também.

 

BRUNA: (lendo) Incêndio criminoso na mansão da Serra dos Casaes em 2 de dezembro de 2010 com apenas uma sobrevivente: Bruna Maria Novaes de Sousa Cavalcanti, sobrinha neta do empresário Getúlio Pires Cavalcanti, acusado por ter estuprado uma garota de 12 anos. Segundo as investigações, o crime vitimou a garota Andréa Menezes de Oliveira, a sua mãe Rita de Cássia Menezes de Oliveira, que trabalhava como empregada e os patrões Maria Clara Novaes de Sousa Cavalcanti e Rodrigo Ribeiro Cavalcanti. A polícia ainda não identificou nenhum suspeito...

 

De repente, a porta se abre e Samuca entra no escritório. Bruna esconde os documentos atrás dela e o olha, assustada.

 

SAMUCA: Desculpa, eu não sabia que você tava aqui... (percebe que ela esconde algo) O que cê tá escondendo aí?

 

Bruna o olha, temerosa.

 

BRUNA: (nervosa) Não é nada!  

 

Samuca se aproxima dela.

 

SAMUCA: Deixa eu ver o que é.

 

BRUNA: (se afastando) Não! Melhor não. É coisa minha, você não precisa esquentar a sua cabeça com isso.

 

Samuca então toma os papéis das mãos dela e começa a ler. Bruna rapidamente, os toma das mãos dele.

 

BRUNA: É meu! Isso me pertence!

 

SAMUCA: Se te pertence, então o que você tá fazendo aqui?

 

BRUNA: E você? O que você tá fazendo aqui?

 

SAMUCA: Como assim?!

 

BRUNA: Você pensa que sou idiota? Acha que não percebi? (T) Acha que eu não notei você todo diferentão lá no café da manhã? Agindo como se fosse outra pessoa... Nem sabia onde ficava o quarto de hóspedes. Acha que sou burra?

 

SAMUCA: Quê? Você só pode estar ficando louca!

 

BRUNA: Nunca estive tão lúcida em toda minha vida. Eu sei que uma coisa estranha tá acontecendo nessa casa. Eu vi o Eduardo saindo daqui hoje de manhã, bem na hora que você chegou, provavelmente. O que ele tava fazendo aqui tão cedo hein? Se ele veio até essa casa, porque não entrou? Eu percebo as coisas, não sou nenhuma toupeira.

 

SAMUCA: O Eduardo veio me acompanhar por que eu não estava em condições de dirigir! Foi isso!

 

BRUNA: (o encara) Tem certeza que é só isso?

 

SAMUCA: (se irrita) Absoluta! Quer saber de uma? Fica com seus papéis! Engole eles se quiser! Tá? Bom apetite!

 

Em seguida, Samuca sai do escritório, batendo a porta.

 

BRUNA: (para si) Muito estranho... Esse linguajar... Alex está muito estranho!  

 

Ela guarda os documentos nas pastas e os deixa em cima da mesa. Vai fechar o cofre, porém para ao ver o revólver e fica a observá-lo por um tempo. Close.

 

CENA 7/SALA DE ESTAR/INTERIOR/MANHÃ.

Samuca vem vindo do escritório.

 

SAMUCA: (para si) Bem que o Alex falou que essa casa é chata pra caralho. Eu hein. Bando de gente estranha.

 

Ele pega o controle e liga a televisão.

 

SAMUCA: Nunca imaginei que me passar por ele seria tão difícil. (vendo a tevê) Que esteja passando pelo menos algo que preste né.

 

Em seguida, vemos o desenho do pica pau passando na tevê. Samuca se senta no sofá pra assistir. Bruna vem do escritório com as pastas na mão e dá de cara com Palmira que acabara de descer as escadas.

 

PALMIRA: (falando baixo) E aí, conseguiu?

 

BRUNA: Sim, estão aqui! Só tem um problema, o Alex me pegou lá no escritório.

 

PALMIRA: O quê? Isso não podia ter acontecido, e se ele contar o que viu pro Getúlio?

 

BRUNA: Ele não vai falar nada. Aliás, eu nem tenho certeza se esse daí é mesmo o Alex.

 

PALMIRA: Do que você tá falando? Tá ficando maluca é?

 

BRUNA: Olha pra ele!

 

Vemos Samuca assistindo o desenho do pica pau e se divertindo.

 

PALMIRA: Ué. Nada demais, ver desenho do pica pau e cair na risada. Super natural.

 

BRUNA: (falando baixo) O Alex não gosta de desenho, ô sua burra! Será que você ainda não percebeu isso?

 

PALMIRA: Eu lá tenho culpa que você conhece o Alex melhor do que eu?

 

BRUNA: E hoje mais cedo? Ele pedindo café? Ele odeia café, mas de repente inventou que começou a gostar e ficou olhando pra xícara como se tivesse hipnotizado. O que foi aquilo? Fora ele perguntando onde ficava o quarto de hóspedes. (encara Palmira) Esse daí pode ser qualquer um. (T) Mas o Alex não é assim!

 

Bruna sobe as escadas. Close em Samuca, assistindo o desenho e dando risada. 

 

CENA 8/EMPRESA DE PESCADOS/SALA DE MÁRIO/INTERIOR/MANHÃ.

Mário está em sua mesa, checando alguns papéis, quando a secretária entra no local.

 

SECRETÁRIA: Bom dia, senhor!

 

MÁRIO: Bom dia o cacete! Já não falei pra você bater antes de entrar?

 

SECRETÁRIA: Já, senhor, mas/

 

MÁRIO: (interrompe) Então volta e bate na porta!

 

A secretária fica a encará-lo.

 

MÁRIO: (impaciente) Vai logo!

 

Ela sai e fecha a porta. Do lado de fora, Alexandra a encara.

 

ALEXANDRA: (sem entender) O quê que foi?

 

SECRETÁRIA: A senhora já sabe como seu filho é né?!

 

ALEXANDRA: (impaciente) Pelo amor de Deus... Sai da frente!

 

A secretária dá espaço e volta pra sua mesa. Alexandra abre a porta e entra na sala.

 

MÁRIO: (irritado) Eu não já falei pra você – se interrompe – Mamãe?!

 

ALEXANDRA: (irônica) Não, é a mulher maravilha!

 

MÁRIO: O que a senhora faz aqui?

 

Alexandra se senta numa cadeira de frente pra Mário.

 

ALEXANDRA: Vinha vindo da casa de uma amiga e aproveitei pra vim aqui conversar com você! Eu soube que seu filho saiu de casa.

 

MÁRIO: Como a senhora ficou sabendo?

 

ALEXANDRA: As notícias correm, bebê! Ainda mais nessa empresa na qual os funcionários não sabem fazer outra coisa que não seja fumar cigarro e sair espalhando fofocas pelo corredor. Mas vem cá, é verdade mesmo isso?

 

MÁRIO: É... Ele saiu, mas infelizmente voltou pra casa. Tá lá! E como sempre, aquele velho desgraçado do Getúlio acobertando as coisas que ele fala e faz. Consegue colocar ordem em tudo, menos no próprio neto. Se o Alex cagar na mesa, acho que ele vai lá e come.

 

ALEXANDRA: Que nojo, que coisa horrorosa! Aliás, por falar em neto, estou preocupada com o Eduardo. Cê acredita que a Bruna me falou que ele era viado?

 

MÁRIO: (ri) O quê? A Bruna ficou maluca?

 

ALEXANDRA: Não sei, mas ela falou com tanta certeza que eu até acreditei.

 

MÁRIO: (ri) Se for verdade, então coloca o Eduardo numa escola pra retardados mentais ué. Não é a senhora que diz que não gosta de viado? Então!

 

ALEXANDRA: Estou falando sério!

 

MÁRIO: (impaciente) Ah, mãe, vai acreditar nas merdas que a Bruna fala agora? (olhando pros papéis) Ali, o que tem de gostosa, tem de maluca.

 

ALEXANDRA: (em choque) Que modo de falar é esse?

 

Mário se sente intimidado e desvia o olhar pra Alexandra.

 

MÁRIO: (frio) É o meu modo de falar! Cê acha o quê, mãe? Que eu falo as coisas sem ter certeza daquilo que eu falo?

 

Alexandra se levanta devagar, em choque.

 

ALEXANDRA: Você não está querendo dizer que/

 

MÁRIO: (sorrindo) Tô! (T) E eu posso afirmar com toda certeza de que a Bruna é mesmo tudo isso que eu acabei de dizer!

 

ALEXANDRA: (desacreditada) Você... você foi pra cama com ela?

 

Mário se levanta e a encara com um sorriso debochado no rosto.

 

MÁRIO: Pra cama não, pra piscina!

 

ALEXANDRA: (chocada) O QUÊ?

 

MÁRIO: É isso mesmo!

 

ALEXANDRA: (grita) Você é um homem casado!

 

MÁRIO: (grita) Com uma mulher que só me traz problemas! (T) Você acha o quê? Que vou passar a vida inteira dormindo ao lado daquela desgraçada da Olívia que só vive pra se empanturrar de cachaça e ficar chorando o dia inteiro? Eu cansei! Eu transei com a Bruna sim! E eu vou transar com todas as mulheres que eu quiser. Se eu tiver afim de contratar uma prostituta pra dormir comigo na mesma cama que a Olívia eu vou contratar, porque eu não vou passar a vida inteira ao lado de uma mulher que não tem capacidade nem pra me satisfazer. E eu quero que saiba que a culpa disso é toda sua!

 

Alexandra dá um tapa na cara dele.

 

ALEXANDRA: (grita) Se você não tivesse se casado com ela, nós todos estaríamos na miséria! Eu fiz o que fiz pensando na nossa família! Pensando em nós dois!

 

MÁRIO: Você fez tudo pensando em você mesma, na sua mordomia. Não quis perder a vida de madame e por isso me jogou pra cima daquela mulherzinha. Da mesma forma como você me usou, você tá usando o Eduardo tentando juntar ele com a Bruna. Agora eu quero mesmo é que ele vire viado de verdade, só pra ter o gostinho de te ver quebrar a cara! Porque você, mamãe, é mil vezes mais podre do que eu!

 

Alexandra pega sua bolsa e vai saindo, sempre a olhar para ele.

 

ALEXANDRA: Não se esqueça que por culpa do Getúlio você está casado em separação total de bens. Se a Olívia descobrir a sua pulada de cerca, ela vai querer anular o casamento e aí, meu filho, nós dois vamos parar na sarjeta. E eu não vou poder fazer nada pra reverter a situação!

 

Em seguida, ela abre a porta e sai da sala.  

 

MÁRIO: (para si) Não tem problema. (T) Se a Olívia quiser divórcio... eu mato ela!  

 

Close nele. Fade out.

 

7 horas depois

 

CENA 9/MANSÃO DOS CAVALCANTI/FAIXADA/EXTERIOR/TARDE.

Fade in. Já é fim de tarde. Close na faixada da mansão.

 

CENA 10/QUARTO DE ALEX/INTERIOR/TARDE.

Samuca observa detalhadamente as coisas de Alex, tocando em cada uma delas. Em seguida, vê um retrato dos dois, quando pequenos. Samuca pega o objeto e fica observando, dando um leve sorriso.

 

Close na porta que estava entreaberta. Bruna se preparava para entrar. O celular de Samuca começa a tocar no bolso da calça dele. Ele atende e leva o celular ao ouvido. Bruna volta e fica atrás da porta escutando a conversa.

 

SAMUCA: (cel) Alô! (T) Alex?! (T) Até agora tá tudo dando certo... Eles desconfiaram um pouco, mas nada de muito grave. Acho que tenho que disfarçar mais... de pensar que eu dei a ideia e tô dando esse mole... (T) – faz uma expressão de preocupado - O quê? Como assim? Você tá bem? (T) Tá certo! Eu vou pegar aqui e... onde é que fica?

 

Em seguida, Samuca vai até o guarda roupa e abre. Abre uma das gavetas internas e tira três caixas de remédios e comprimidos de lá.

 

SAMUCA: (cel) Achei! Olha, anota o endereço que eu vou te dar. Não fica muito longe de casa não... (T) Fica na ladeira da Quebra-Mar. (T) Na curva. (T) Anotou? Certo, estou indo até aí.

 

Ele encerra a chamada e caminha em direção a porta. Do outro lado, Bruna sai correndo e rapidamente entra em um dos quartos. Samuca abre a porta do quarto e vai em disparada em direção a escada. Bruna sai do quarto, chocada. Ela respira fundo e segue em frente.

 

CENA 11/FAIXADA DA MANSÃO/EXTERIOR/TARDE.

Tomada aérea de um carro saindo da garagem e indo em direção aos portões, que se abrem. Outro carro sai da garagem e passa pelo portão.

 

CENA 12/JARDIM ORESTES/ESTRADA DESERTA/EXTERIOR/TARDE.

Estrada com visão para o mar. Diversos carros estacionados nos acostamentos. Alex está parado, encostado em um dos carros, respirando fundo com bastante frequência e suando um pouco, além de estar tossindo muito. Está pálido também.

 

Mais longe, um carro preto para. Samuca desce do carro carregando com ele uma sacola plástica com caixas de remédios e comprimidos. Vai até a janela do motorista e fala algo com o mesmo, em off. O carro faz manobra e retorna pelo mesmo caminho de onde veio.

 

CENA 13/CARRO DE BRUNA/INTERIOR/TARDE.

Bruna está no volante, com os vidros fechados e com o carro parado e vê o carro em que Samuca estava passando por ela.

 

Ela faz uma expressão de quem está estranhando tudo. Do seu ponto de vista, ela vê Samuca caminhando em direção a alguém que é Alex (mas daqui, ela não consegue vê-lo).

 

Bruna faz um esforço pra tentar ver, mas um outro veículo está estacionado na frente do dela. Sendo assim, ela sai do carro...

 

CENA 14/ESTRADA DESERTA/EXTERIOR/TARDE.

... e vai caminhando sorrateiramente na direção dos dois, com calma. Do ponto de vista dela finalmente vemos os dois juntos. Bruna fica ainda mais chocada do que quando escutou a conversa de Samuca na cena 11.

 

Corte para os dois:

 

SAMUCA: Eu trouxe os remédios que cê pediu.

 

ALEX: (pegando a sacola plástica) Valeu! – Em seguida começa a tossir.

 

SAMUCA: (preocupado) Agora cê me explica porque você pediu pra eu trazer esses remédios... o que aconteceu?

 

ALEX: (se sentindo mal) Eu me afoguei... – respira – Me afoguei quando fui tentar salvar a – tosse – a Crist/ (e tosse)

 

Ele tosse compulsivamente. Samuca se preocupa.

 

SAMUCA: (preocupado) Como assim você se afogou?

 

ALEX: (zonzo) A Cris entrou na água e começou a se afogar, eu fui salvar e acabei me afogando... Eu... Eu não sei nadar... – ele tem uma tontura.

 

Samuca o segura pelo braço.

 

SAMUCA: Cê tá branco, cara.

 

ALEX: (tonto) Eu não tô me sentindo bem. (T) Eu vim pra cá escondido...

 

Em seguida, ele espirra.

 

Samuca põe a mão na testa dele.

 

SAMUCA: (preocupado) Cara, cê tá queimando em febre. Se cê tivesse falado, eu dava um jeito de te dar esses remédios sem você precisar vir aqui. Cê tá longe lá de casa.

 

Em seguida, ouvem passos vindo por trás deles.

 

BRUNA: Agora eu entendi tudo...

 

Os dois se viram e a veem.

 

ALEX: Bruna...

 

BRUNA: (sorri) Vocês dois... (T) Eu bem que desconfiei.

 

Eles olham para ela, assustados, enquanto Bruna sorri de leve.

 

Close final na expressão de Alex e Samuca. Fade out.

 


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