Uma novela original WNC
Autora: Megan Clarke
Capítulo 04
“A Troca”
CENA 1/CASEBRE DOS PESCADORES/INTERIOR/NOITE.
A porta se abre. Samuca entra, com sua mochila nas costas e Alex se
apoiando nele.
Ambos estão molhados. Samuca joga sua mochila no chão e Alex se joga num
sofá que há ali. Seus lábios tremem de frio. Samuca rapidamente se ajoelha no
chão, abre sua mochila, tirando uma toalha de lá.
Samuca começa a enxuga-lo, começando pelos cabelos e com calma. Eles
dois estão calados, sem dizer uma palavra.
SAMUCA: Porque você se jogou no mar, hein?
ALEX: (tremendo de frio) Eu não me joguei... (T) Me desequilibrei quando
você me chamou.
Samuca para de enxugar os cabelos de Alex, deixando a toalha envolvendo
o pescoço dele. Tira uma camisa, uma calça moletom e uma cueca da mochila e
entrega a ele.
SAMUCA: Toma. É melhor tirar essa roupa molhada e trocar por uma seca,
senão vai pegar um resfriado.
Em seguida, se levanta e tira a camisa. Ele pega outra toalha da mochila
e começa a se enxugar também. Alex tira os sapatos, as meias e em seguida, a
camisa e a calça.
Descamisado, Samuca vai para a cozinha. Alex se enrola com a toalha e em
seguida, tira a cueca. Rapidamente, veste as roupas que Samuca lhe deu e se
senta no sofá.
Samuca volta pra sala.
SAMUCA: Até que essas roupas ficaram bem em você.
ALEX: Ficaram um pouco largas.
SAMUCA: (sorrindo) É, eu sou maior que você... na altura é claro... e na
largura também.
Samuca logo desfaz o sorriso e se agacha, ficando frente a frente com
ele.
SAMUCA: Parece que é... (T) Parece que é um sonho. Até ontem você tava
morto e hoje, cê tá aqui na minha frente em carne e osso.
Alex estranha as palavras dele. Samuca toca no rosto dele.
SAMUCA: (se levanta) Eu vou ver a água do café.
Ele vai em direção a cozinha.
ALEX: Você ainda tem esse gosto por café?
Samuca volta.
SAMUCA: (sorri) Você ainda se lembra?
ALEX: (ri) Eu tenho uma memória péssima, mas eu lembro de algumas
coisas.
SAMUCA: (sorri) Pois eu sou viciado em café!
ALEX: Tem coisas que não mudam né?...
SAMUCA: Será?
Ele anda até Alex, dessa vez puxa um banquinho e se senta em frente a
ele.
SAMUCA: Você ainda dorme com a coberta... mesmo estando no verão?
ALEX: (rindo de leve) Pode estar fazendo quarenta graus...
Eles riem, mas logo param e ficam se encarando por um tempo.
ALEX: (sério) O que foi que aconteceu hein?
SAMUCA: (abaixa a cabeça) Muita coisa!
ALEX: (confuso) Eu não tô entendendo nada! (T) Eu descobri que eu não
sou filho de quem eu achava que era. (T) E agora eu dou de cara com você depois
de tanto tempo. (T) O que tá acontecendo, Samuel?
SAMUCA: Calma!
ALEX: (por cima) Você acabou de dizer que até ontem eu tava morto...
SAMUCA: (sério) Eu vou te explicar tudo!
Close nele.
Corta para Samuca vindo da cozinha com dois canecos de plástico nas mãos
e entrega um para Alex.
ALEX: Isso é café?
SAMUCA: Não, é chá de camomila. Cê não gosta de café né?
ALEX: Memória boa a sua!
Samuca se senta no banquinho e encara Alex.
SAMUCA: Nós dois fomos vítimas das mentiras dos nossos pais. A minha/
(se corrige) A nossa mãe mentiu dizendo que nós dois éramos filhos da irmã dela
com o Mário Gerson.
ALEX: (sem entender) Por quê?
SAMUCA: Porque o Getúlio nunca ia aceitar netos, filhos de um pescador.
O velho detesta gente pobre, de classe baixa.
Alex abaixa a cabeça, constrangido.
SAMUCA: O nosso pai queria que nós dois e a mãe fôssemos morar junto com
ele. Quando ele descobriu que ela andava mentindo pro velho sobre a nossa
paternidade, ele foi lá e contou tudo pro Mário Gerson. Ele contou pro Getúlio,
que expulsou a nossa mãe de lá e mandou me levar junto com ela.
ALEX: E porque ele não me expulsou também?
SAMUCA: Porque ele te adorava!... e me odiava. O velho nunca gostou de
mim, sempre me olhava de um jeito torto. Quando viu a oportunidade de se livrar,
me mandou embora deixou você aos cuidados da tia Olívia.
Alex põe as mãos na cabeça.
ALEX: A minha vida inteira foi uma mentira!
SAMUCA: Eu também vivi uma vida cheia de mentiras!
ALEX: (encara ele) Aquela história de que eu tava morto/
SAMUCA: (corta) Invenção da mãe! Ela inventou essa mentira e escondeu
esse tempo todo que cê tava vivo pra que o pai não fosse lá procurar por você.
O velho tinha ameaçado matar a nossa família inteira se algum de nós chegasse
perto de você ou da mansão. (T) Mas isso não justifica, ela devia ter me
contado!
ALEX: (se levanta e anda de um lado pro outro) Eu não acredito... Eu não
acredito que o meu avô teve coragem de fazer isso.
SAMUCA: Ele teve coragem de fazer isso e muito mais. Ele conseguiu
deixar todos os pescadores da cidade no prejuízo. Ele saqueou todo mundo e
quase deixou todos nós na miséria, roubando do nosso salário e forçando a gente
trabalhar feito burro de carga.
ALEX: Quanto a isso não me choco nem um pouco. (T) Meu Deus, eu não
quero voltar lá. Não quero voltar pra aquela casa, não quero!
SAMUCA: Você não vai voltar, a não ser que você queira.
ALEX: O que você quer dizer?
SAMUCA: (direto) Eu tenho uma proposta pra te fazer.
Os dois se encaram. Close.
CENA 2/CASA DE RAVENA/SALA/INTERIOR/NOITE.
Continuação da cena 14 do capítulo anterior. Miguel com uma expressão
furiosa diante de Ravena que está sem reação.
RAVENA: Você já sabe?
MIGUEL: Cê não ia conseguir esconder por muito tempo né?
RAVENA: Quem te contou? Foi o Samuel?
MIGUEL: E o que isso importa?
RAVENA: Importa que eu quero saber!
MIGUEL: Você sustentou uma mentira durante anos, dizendo que o Alex tava
morto/
RAVENA: (corta gritando) Pra proteger a nossa família! (T) Se eu
dissesse que o Alex tava vivo e morando naquela casa, cê ia correndo pra lá,
sem pensar duas vezes.
MIGUEL: Que loucura é essa agora? Eu nunca ia fazer uma maluquice
dessas.
RAVENA: Ia sim, você age por impulso, é igual ao seu filho! (T) Por
falar nisso, ele tá aí?
MIGUEL: Saiu esbaforido daqui, levando todas as coisas dele.
RAVENA: Por quê?
MIGUEL: (se faz de desentendido) Vai saber! – e vai em direção ao
quarto.
RAVENA: (vai atrás) Cê não tá escondendo nada de mim não né?
CENA 3/CASA DE RAVENA/QUARTO CASAL/INTERIOR/NOITE.
Miguel já sentado na cama. Ravena chega ao cômodo.
MIGUEL: Claro que não, mulher!
RAVENA: Olha lá hein/
MIGUEL: (corta) Que é, Ravena? Só você pode esconder coisas aqui é?
RAVENA: Então quer dizer que cê tá mesmo escondendo alguma coisa de mim?
MIGUEL: (ofendido) Claro que não!
RAVENA: Tá sim! (T) Fala logo o que é, desembucha!
MIGUEL: (nervoso) Não é nada!
Ravena respira fundo.
RAVENA: Já vi que cê não vai falar de jeito nenhum né? Bom, o sofá te
espera!
MIGUEL: (desacreditado) O quê?
RAVENA: É isso aí, vaza!
MIGUEL: Você mente pra mim durante anos que meu filho tá morto e quer
que eu durma no sofá? Não! Você é quem vai dormir lá! – e vai empurrando Ravena
para fora do quarto.
RAVENA: (desacreditada) O quê?
Ravena fica ao lado de fora e Miguel fecha a porta do quarto.
RAVENA: (batendo na porta) Abre essa porta, Miguel! (T) Abre!
Mas ela logo desiste, pondo as mãos no rosto e em seguida, na cabeça.
Revoltada, Ravena chuta a porta do quarto e fica pensativa. Close nela.
CENA 4/CASA DE NICOLE/QUARTO GUILHERME/INTERIOR/NOITE.
Guilherme está dormindo, apenas de cueca. Seu celular começa a tocar sem
parar. Ele resmunga alguma coisa e vira pra um lado, mas logo se irrita com o
barulho e acorda meio zonzo. Com os olhos cerrados, ele encara o visor do
aparelho e atende a ligação.
GUI: (cel) Tomara que tu tenha uma boa razão pra estar me ligando essa
hora.
CENA 5/CASEBRE DOS PESCADORES/INTERIOR/NOITE.
Do outro lado da linha está Samuca. Alex logo atrás, presta atenção na
conversa.
SAMUCA: (cel) Vem pra casa da pesca agora!
GUI: (off) Agora? É quase uma hora da manhã, cara! Perdeu a noção?
SAMUCA: (cel) Sai pelos fundos, vem pela praia que não tem perigo. A Lua
tá cheia!
GUI: (off) Caralho, eu tô com sono, porra!
SAMUCA: (cel) Deixa de corpo mole, se não fosse importante nem estaria
te ligando. Eu realmente preciso de você!
GUI: (off) Tá!
SAMUCA: (off) Tô esperando! – e desliga.
ALEX: (curioso) Com quem cê tava falando?
SAMUCA: Com um amigo meu. Ele vai ajudar a gente.
ALEX: Eu não sei se isso vai dar certo, Samuca.
SAMUCA: Confia em mim, cara! Eu sei o que eu tô fazendo! É um bom plano.
ALEX: Sei não...
SAMUCA: Você não quer voltar pra sua casa né? Eu também não quero voltar
pra minha! (T) Relaxa, é só a gente fazer direito que vai dar certo!
ALEX: Será que vai?!
Foco na expressão de preocupação de Alex.
CENA 6/MANSÃO CAVALCANTI/SALA/INTERIOR/NOITE.
Olívia está na sala, sentada no chão e com a maquiagem borrada de tanto
chorar.
Em cima da mesa de centro, uma garrafa de uísque e um copo cheio. Ela
olha fixamente pra garrafa.
De repente, Mário vem da direção do corredor (que leva a sala de jantar,
o escritório e a cozinha) e vai subir as escadas, porém para quando vê Olívia
ali.
MÁRIO: Não vai dormir?
Ele vai até o sofá e vê Olívia tomando o uísque.
MÁRIO: (rindo) Que descarada, voltou a tomar todas. Bem que eu tava
desconfiado do cheiro de álcool de todas as noites.
OLÍVIA: (zonza/temerosa) Não fala pro papai... não fala pra ele que
eu...
MÁRIO: (interrompe) Shiii, não vou falar nada não, relaxa!
Mário anda até Olívia e se agacha, ficando frente a frente com ela.
MÁRIO: (baixo) Deixa eu te contar um segredo. Sabe o que eu realmente
sinto em relação a tudo isso? Felicidade!
Olívia olha pra ele sem entender.
MÁRIO: (baixo) Porque com você voltando a beber, logo cê vai voltar a
ser a louca desequilibrada que sempre foi. Vai pegar o carro, dirigir chapada e
capotar com ele no meio da estrada. Se não morrer de acidente, vai morrer de
uma bela de uma cirrose. (T) E aí finalmente vou acabar me livrando de você de
uma vez e ficar com todo o seu dinheiro.
OLÍVIA: (com repulsa) Sai daqui!
MÁRIO: Cê tá achando o quê? Que cê vai ter seu filhinho aqui pra te
defender é? Não, você não vai ter ninguém pra te defender!
OLÍVIA: Sai!
MÁRIO: (sorrindo) Ninguém se importa com você! Ninguém gosta de você.
Você não passa de uma bêbada, fracassada! Um tipo de pessoa que ninguém quer
ter por perto.
OLÍVIA: (com as mãos no ouvido/perturbada) Sai... SAI!
Ela se levanta e começa a andar pela sala com as mãos no ouvido, até que
para, de costas para Mário.
MÁRIO: (duro) Incompetente! Nem pra ter me dado um filho de verdade você
serviu! No fim das contas foi um postiço de merda que só me trouxe problemas.
Filho daquela ordinária, mentirosa da tua irmã.
OLÍVIA: (grita) CALA ESSA BOCA!
Ela pega a garrafa de uísque e joga na direção dele, acertando a parede.
MÁRIO: (olhando pra garrafa no chão) Cuidado hein, cê pode acordar teu
pai e ele descobrir que você voltou a beber e aí... De volta ao passado!
Ele vai caminhando em direção a escada.
MÁRIO: Ah, e nem pense em dar as caras lá no quarto tá? Vou trancar a
porta, não tô afim de sentir esse teu cheiro de cachaça perto de mim. Se
quiser, dorme no quarto de hóspedes ou na sarjeta, como você preferir. (sorri)
Boa noite, meu amor! – e sobe.
Olívia desaba ali no chão e chora compulsivamente. Close nela.
CENA 7/CASEBRE DOS PESCADORES/INTERIOR/NOITE.
Samuca e Alex estão sentados, conversando um com o outro.
ALEX: Esse seu amigo vai demorar?
SAMUCA: Tomara que não. Eu disse pra ele vim pela praia, o burro deve
ter vindo pela estrada. Vai demorar um século pra chegar. Mas me conta sobre
sua vida. Como é lá, naquela casa?...
ALEX: Ah, é uma merda!
SAMUCA: Por que?
ALEX: Ah, aquela casa é um saco, não acontece nada lá além de brigas e
tudo mais. Desde pequeno não podia fazer festa lá em casa, meu avô não gosta.
Ele detesta barulho. Tem meu pa/(se interrompe) O Mário Gerson... Ele vive
brigando com a Olívia, até bater nela ele bate as vezes. Ele é chato pra
caralho, velho, parece um enviado pelo demônio pra me atormentar.
SAMUCA: (pensativo) Nossa, que merda hein? Ele bate na tia Olívia mesmo
assim ela continua casada com ele?
ALEX: Pois é, cara. Eu já cansei de avisar a ela. Mas com certeza meu vô
acoberta ele.
SAMUCA: (pensativo) E você disse que o Getúlio detesta festas e
barulhos? (sorri) Isso é bem interessante.
ALEX: É. Tem a Bruna também, ela é sobrinha neta do meu avô. A gente já
teve uns rolos aí, ela vive correndo atrás de mim, vive me cercando.
SAMUCA: (rindo) Ih rapaz...
ALEX: E pelo visto você vai ser o próximo né? Com esse seu plano...
SAMUCA: (rindo) Eu não, tô é fora, já tenho a minha.
ALEX: Ah é?
SAMUCA: É... Mas ó lá hein? Bora estabelecer uma regra aqui, nada de
aproximação hein.
ALEX: Pode ficar sossegado! Quem mora com você?
SAMUCA: Além de mim tem a mãe, o pai, e tem a vó também... E tem a
gatinha.
ALEX: Gatinha? Mano, sou alérgico a gatos!
SAMUCA: Que gato o quê?! Eu tô falando da Cris. É a nossa irmã caçula.
Eu chamo ela assim desde o dia que ela passou o dia inteiro enchendo a mãe pra
ela comprar uma fantasia de gata pra ela ir na festa de halloween na escola.
Era zoação, aí acabou virando um apelido carinhoso. (pensativo) Ela me chama de
pé no saco, acredita? - e ri.
ALEX: (sorrindo) Nossa, nunca ia imaginar que tivesse uma irmã.
SAMUCA: É... Depois que a mãe chegou lá em casa dizendo que você tinha
morrido eu pedi muito pra Deus me dar um irmão. De tanto eu pedir, veio a Cris.
A gente faz mil coisas juntos. Uma delas é ficar toda noite olhando o mar até
pegar no sono. (o encara) Aliás, eu quero que cê cuide bem dela pra mim. A Cris
é minha irmã, mas pra mim é como se fosse uma filha.
ALEX: Pode deixar. Eu prometo cuidar dela do mesmo jeito que você...
(baixo) pelo menos eu vou tentar... mas tem uma coisa que me preocupa: cê não
acha que vão desconfiar não?
SAMUCA: Claro que não, Alex, relaxa!
ALEX: Eu não sei... eu continuo achando que isso não vai rolar.
SAMUCA: Vai rolar sim! Tem que dar certo!
De repente, a porta se abre.
GUI: (entrando) Espero que esse problema seja algo bem importante pra
você ter me acordado e ter me feito andar nessa praia deserta a essa hora da –
se interrompe ao vê-los juntos – (cont.) madrugada... (chocado) O que tá
acontecendo aqui?
SAMUCA: Eu vou te explicar!
GUI: (em choque) O que é isso?
ALEX: Você tá cego ou o quê?
GUI: (desacreditado) E ele fala?!
SAMUCA: Quê isso cara, que maconha tu fumou antes de vim pra cá?
GUI: Deve ter sido uma bem forte, porque eu tô vendo um clone seu.
ALEX: (para Samuca) Ele tem retardo mental?
GUI: (para Samuca) Quem é esse?
ALEX: (irônico) Nabucodonosor, prazer!
SAMUCA: (por cima) É o meu irmão!
GUI: (sem entender) Mas ele não tava morto?
ALEX: Levantei do meu túmulo, ressurgi das cinzas, do pó eu vim, ao pó
eu retornei, eu vim do pó de novo!
SAMUCA: (repreende) Alex!
ALEX: O quê?
SAMUCA: (para Guilherme) Lembra daquilo que eu te falei ontem de manhã
sobre eu ter desconfiado daquela história toda?
GUI: (pensativo) Lembro!
SAMUCA: Pois é, eu descobri a verdade!
GUI: Que ele tá vivo?!
ALEX: Não, que eu tô morto! – e levanta – Vem cá Samuca, não tem um
lugar pra eu dormir aqui não? Tô morto de sono, cara!
SAMUCA: Lugar bom de dormir não tem... (T) Faz assim: dorme aqui no sofá
e depois a gente dá um jeito, beleza?!
ALEX: Fazer o quê né?
Alex deita no sofá e vai se ajeitando, pegando no sono na mesma hora.
GUI: (para Samuca) E aquele teu problema?
SAMUCA: Vem cá que eu te conto!
Corta para os dois na cozinha, já conversando.
GUI: (desacreditado) Você ficou louco?
SAMUCA: (baixo) Fala baixo que ele tá dormindo!
GUI: (baixo) Como cê vai trocar de lugar com o teu irmão, cara? Tu se
drogou?
SAMUCA: (sussurrando) É a minha chance de derrubar aquele velho!
GUI: Cara, isso não vai dar certo, vai dar merda!
SAMUCA: (decidido) Não vai! (T) É a oportunidade que eu tenho e eu não
vou jogar fora. Ele destruiu a minha vida, destruiu a vida da minha
família e prejudicou muita gente nessa cidade! Eu vou lá e vou colocar aquele
velho imundo atrás das grades, nem que eu tenha que abrir a porta da cadeia e
colocar ele lá dentro com as minhas próprias mãos.
Guilherme olha para Samuca, surpreso.
GUI: Mas cê vai se vingar?
SAMUCA: (encarando-o) Não é vingança! É justiça! E se existe justiça
nesse mundo ele vai pagar por tudo o que ele já fez! (T) E aí, você vai me
ajudar ou não?
Guilherme fica pensativo.
GUI: (respira fundo) Tá bem!
SAMUCA: Ótimo! Amanhã bem cedo a gente precisa dar um jeito nisso, não
quero perder mais tempo.
Os dois se encaram.
CENA 8/JARDIM ORESTES/PLANOS GERAIS/EXTERIOR/MANHÃ.
Imagens do Sol nascendo no horizonte, a cidade amanhecendo. Pessoas
caminham pelas ruas, pelas areias da praia. Outros, se banham nas águas. Close
nos pescadores trabalhando, uns em barcos, outros no cais. Turistas fotografam,
os bares e estabelecimentos movimentados.
Agora, entram imagens da área nobre, localizada no ponto alto da cidade.
Close nas mansões, uma mais bela que a outra.
Close na faixada da mansão dos Prates.
CENA 9/MANSÃO DOS PRATES/SALA DE ESTAR/INTERIOR/MANHÃ.
Alexandra desce as escadas carregando uma bolsa pequena na mão e dá de
cara com a empregada tirando o pó de uma escultura próxima a mesa de centro.
ALEXANDRA: Bom dia, Almerinda.
ALMERINDA: Bom dia, madame! O café já tá na mesa.
ALEXANDRA: Ótimo. O Eduardo já acordou?
ALMERINDA: Ih, madame, há muito tempo. Ele tá lá na piscina.
ALEXANDRA: Tá certo então. (T) Eu vou falar com ele!
ALMERINDA: Não vai tomar café, madame?
ALEXANDRA: Eu não tenho que te dar satisfações de nada. Cuide do seu
serviço que da minha vida eu mesma cuido. E tome cuidado com essa escultura que
você tá limpando porque me custou uma fortuna. Ela pode servir pra vender mais
tarde... Inclusive, depois quero conversar com você sobre o seu salário.
ALMERINDA: O meu salário?
ALEXANDRA: É, mas isso fica pra uma outra hora. Tenho coisas mais
importantes pra resolver.
Alexandra põe seus óculos escuros, dá as costas e sai, caminhando em
direção a cozinha.
ALMERINDA: (para si) Bruxa velha!
E continua tirando o pó dos objetos.
CENA 10/MANSÃO DOS PRATES/PISCINA/EXTERIOR/MANHÃ.
Imagens do interior da piscina, Eduardo nadando embaixo d'água ao mesmo
tempo em que solta o ar, deixando em evidência as bolhas de água. De repente
ele volta a superfície e vê Alexandra parada de pé na borda da piscina.
Eduardo sai da piscina e pega uma toalha na espreguiçadeira, se
enxugando em seguida. Ele caminha em direção a Alexandra, que o encara.
EDUARDO: Ih, eu conheço essa cara.
ALEXANDRA: A gente precisa conversar.
EDUARDO: Conversar o quê vó?
ALEXANDRA: Não me chama de vó, garoto. Finge que sou sua tia. Sou nova
demais pra ser sua vó.
EDUARDO: Vai direto ao ponto, por favor, dona Alexandra.
ALEXANDRA: Tá! Ontem eu fui na casa do Getúlio...
EDUARDO: E daí?
ALEXANDRA: Conversei com a Bruna/
EDUARDO: (corta) De novo esse papo, velha?
ALEXANDRA: (grita) Não me chama de velha!
EDUARDO: E quer que eu te chame de quê se de nova cê não tem nada?!
ALEXANDRA: Olha aqui: se você me chamar de velha de novo eu dou de cinto
na tua cara!
EDUARDO: Minha filha, cê vai falar o que é ou não vai?
ALEXANDRA: Vou! A Bruna me contou uma coisa sobre você que me deixou
terrivelmente chocada!
EDUARDO: O que ela falou?
ALEXANDRA: Eduardo de Alcântara Prates, eu quero que você me diga a
verdade, somente a verdade, nada além da verdade.
EDUARDO: Depende do que seja...
ALEXANDRA: É verdade que cê é viado?
Eduardo fica imóvel, sem dizer uma palavra.
ALEXANDRA: Resolveu brincar de estátua agora?
EDUARDO: Eu... (nervoso) Eu não! Imagine se eu vou ser gay, cê endoidou?
A Bruna enlouqueceu? Usou drogas?
ALEXANDRA: Você tem certeza?
EDUARDO: Tenho, claro.
ALEXANDRA: Olha lá hein? Se você tiver mentindo cê sabe que eu descubro
de qualquer jeito.
EDUARDO: É claro que sei!
ALEXANDRA: Então tá! Se é assim, vou sair!
EDUARDO: Vai aonde?
ALEXANDRA: Visitar uma amiga. Não vou demorar e você se comporte! (T)
Nem me venha com festas, drogas, muito menos com vagabundas. A não ser que seja
uma vagabunda rica!
EDUARDO: (dando um sorriso cínico) No dia que cê tirar essa ideia maluca
da sua cabeça, quem sabe eu não me comporte né, velha?
Em seguida, ele se joga na piscina.
ALEXANDRA: Velha... (grita olhando pra piscina) VELHA É A TUA VÓ!
Alexandra passa a mão pelos cabelos e põe seus óculos escuros, saindo em
seguida.
Close no iPhone em cima de uma toalha na espreguiçadeira, que toca sem
parar.
Eduardo sai da piscina de novo.
EDUARDO: Ahh, que saco!
Ele enxuga suas mãos, atendendo a ligação em seguida.
EDUARDO: (cel) Fala, Alex!
Do outro lado da linha, está Alex, em frente ao cais na praia e encostado
em seu carro.
ALEX: (cel) Edu, eu preciso que você venha até o cais aqui da cidade.
EDUARDO: (cel) Pra quê?
ALEX: Vem que eu te explico! Não vem com teu carro carro não, pega um
táxi. Mas vem logo, é urgente.
CENA 11/MANSÃO DOS CAVALCANTI/QUARTO ALEX/INTERIOR/MANHÃ.
Palmira tira o pó dos móveis. De repente, Bruna entra no quarto.
PALMIRA: (sarcástica) Acordou, princesa Éden?
BRUNA: (direta) Sem palhaçada agora! Por que essa casa tá com esse clima
de enterro?
PALMIRA: Você não ouviu a confusão que teve aqui de noite?
BRUNA: Como eu ia ouvir se eu tomei aquela porcaria de remédio pra
dormir?
PALMIRA: Pois senta aí que eu te conto.
BRUNA: (olha em volta) Cadê o Alex?
PALMIRA: (irônica) Cê tá vendo ele aqui?
BRUNA: (preocupada) Ele não dormiu em casa?
PALMIRA: Se você me deixar contar, quem sabe eu não responda a sua
pergunta?!...
BRUNA: Então fala logo!
PALMIRA: Parece que ele descobriu que não era filho da Olívia e do
Mário, que é filho da irmã dela e que tem um irmão gêmeo.
BRUNA: (chocada) Meu Deus... A parte do irmão eu já sabia, mas que ele
não é filho da Olívia... passada!
PALMIRA: A Olívia tá de porre, dormiu no quarto de hóspedes e nem quer
sair de lá. Fui levar o café na cama e quase levo um banho de vômito. Discutiu
com o Mário Gerson ontem e quebrou uma garrafa de uísque que sobrou pra gostosa
aqui limpar tudo, antes do Getúlio ver.
BRUNA: E o Alex?
PALMIRA: Ele ficou revoltado e saiu de casa depois da discussão.
BRUNA: (em tom de indignação) Como é que é?
PALMIRA: (por cima) Mas você não pode se preocupar com isso agora. Não
esqueça que cê tem que entrar naquela porcaria daquele escritório, tirar os
documentos e o revólver de lá.
BRUNA: Eu não sei se vou pegar o revólver ainda... O velho vai
desconfiar. Ele pode não perceber que os documentos não estão mais lá se eu
substituir por papéis em branco, mas a arma com certeza ele vai notar. Aí vai
tudo pelo ralo!
PALMIRA: Bem pensado. Agora vai logo, não perde tempo!
Bruna dá as costas e sai do quarto. Palmira fica pensativa.
CENA 12/MANSÃO DOS CAVALCANTI/ESCRITÓRIO/INTERIOR/MANHÃ.
O escritório se encontra vazio. De repente, a porta se abre e Bruna
entra no local. Ele fecha a porta e vai sorrateiramente até o quadro com o
retrato de Alex e o tira da parede revelando o cofre. Tira do bolso o papel com
a senha do cofre e começa a digitá-la. A senha é confirmada e Bruna abre o
cofre, dando de cara com um revólver e umas pastas.
Bruna vai pegar as pastas, quando se celular começa a tocar. Ela se
irrita, mas decide atender a chamada.
BRUNA: (cel) Ótima hora pra me ligar, né querido?
Do outro lado da linha está Eduardo, que está no banco de trás de um
táxi.
EDUARDO: (cel) Sua vaca! Que história é essa de cê ter contado a minha
vó que eu sou gay?
BRUNA: (cel) Ela tava enchendo meu saco com aquela história chata de
juntar nós dois. Era o único jeito de fazer ela calar a boca!
EDUARDO: (cel) Poderia ter falado outra coisa né, minha filha?
BRUNA: (cel) Poderia, mas não tava afim!
EDUARDO: (cel) Foda-se!
BRUNA: (cel) Foda-se você, Eduardo. Fica me ligando em horas
inapropriadas pra falar sobre uma idiotice dessas. Sai logo desse armário
porra, se assume logo pra aquela velha chata e para de palhaçada! – E desliga.
De repente, a maçaneta começa a girar. Bruna percebe e rapidamente fecha
o cofre e põe o quadro no lugar. Getúlio abre a porta e vê Bruna ali.
GETÚLIO: O que cê tá fazendo aqui?
Bruna fica sem reação. Close nela.
CENA 13/CASEBRE DOS PESCADORES/INTERIOR/MANHÃ.
Samuca e Gui estão de pé, andando de um lado pro outro, ansiosos.
GUI: Ele tá demorando...
SAMUCA: Qual é? Já devia ter voltado!
A porta se abre, Alex e Eduardo entram. Alex carrega uma mala consigo.
ALEX: (para Samuca e Gui) Esse aqui é Eduardo, um amigo meu.
Eduardo e Samuca se cumprimentam rapidamente.
ALEX: (para Eduardo) Esse é Samuel, meu irmão, aquele que eu te falei
uma vez.
EDUARDO: (para Samuca) Prazer!
ALEX: E esse é Guilherme, amigo dele.
Eduardo cumprimenta Guilherme e os dois trocam olhares.
EDUARDO: Bom, mas e aí? Precisam de mim pra quê?
ALEX: O Samuca não sabe dirigir, eu preciso que cê leve ele até a mansão
com meu carro. (para Samuca) Você vai pegar uma roupa nessa mala e vai vestir.
SAMUCA: Tem roupas minhas na minha mochila pra você vestir também.
GUI: Mas peraí, vão perceber que o Samuca não sabe dirigir.
ALEX: Não vão se ele usar os serviços do motorista.
SAMUCA: Se questionarem eu invento uma desculpa. (para Alex) Não esqueça
que cê tem que acordar cedo todos os dias e levar a Cris na escola. Chame ela
por Cris ou gatinha, nunca por Cristina. Ela é esperta, um deslize seu e ela
vai acabar percebendo. A mãe não vai perceber nada, o pai também não, muito
menos a vó, mas com a Cris é problema.
ALEX: Pode deixar.
SAMUCA: E não toca um dedo na Nicole.
ALEX: Nem precisa repetir isso, não vou me interessar pela sua
namoradinha não!
SAMUCA: Melhor assim!
CENA 14/MANSÃO DOS CAVALCANTI/ESCRITÓRIO/INTERIOR/MANHÃ.
Continuação da cena 12. Bruna nervosa diante de Getúlio.
BRUNA: Eu... eu vim procurar o senhor, titio.
GETÚLIO: (desconfiado) Me procurar?
BRUNA: (nervosa) Pra te dar bom dia... É que a gente geralmente não
conversa e... Sei lá, me deu vontade de falar com o senhor hoje, saber como
você está depois de toda a confusão que teve aqui ontem.
GETÚLIO: (se aproxima) Eu estou bem, meu anjo, não precisa se preocupar.
Getúlio se aproxima de Bruna e começa a tocá-la levemente nos braços.
Ela começa a estranhar e muda sua expressão.
GETÚLIO: Eu sei que você gosta muito do Alex e eu tenho certeza de que
ele vai voltar pra casa. Conheço meu neto! Sei que ele não vai me abandonar
agora.
Bruna se sente desconfortável e se afasta de Getúlio.
BRUNA: Bom, já que o senhor está bem eu já vou indo... Não queria
incomodar.
GETÚLIO: Tá tudo bem, você não incomoda em nada!
Bruna o encara com uma expressão enojada, se sente estranha e decide
sair do escritório. Getúlio vai até a mesa e se senta na cadeira, ficando
pensativo.
CENA 15/MANSÃO DOS CAVALCANTI/SALA/INTERIOR/MANHÃ.
Bruna chega na sala com a mesma expressão de nojo da cena anterior. Ela
fica pensativa e começa a se tremer e se coçar inteira.
BRUNA: (para si) Velho nojento! (T) Eu vou acabar com você, seu
desgraçado!
Close nela.
CENA 16/ CASEBRE DOS PESCADORES/INTERIOR/MANHÃ.
Alex e Samuca de frente pro outro, vestidos à caráter. Alex como Samuca
e Samuca como Alex. Samuca penteia o cabelo para trás. Alex toma o pente das
mãos dele, consertando o penteado.
ALEX: Eu penteio meu cabelo sempre pro lado! (T) Pronto, assim tá ótimo!
EDUARDO: (impressionado) Nossa, como vocês dois são parecidos. Olhando
assim ninguém vai perceber.
GUI: Vão perceber esse ferimento na sobrancelha do Alex e o Samuca não
tem nada.
SAMUCA: Droga, o curativo! (para Gui) Põe o band-aid aqui!
Guilherme pega o band-aid que tá em cima do sofá e coloca na altura da
sobrancelha de Samuca.
ALEX: E quanto a mim?
EDUARDO: É só inventar que você caiu, sei lá!
Alex e Samuca ficam de frente um pro outro.
ALEX: É bom a gente manter contato, caso algo der errado.
SAMUCA: É... é o melhor!
Eles se encaram por mais uns segundos, até que se abraçam. Ficam assim
por um longo tempo.
SAMUCA: Você não sabe o quanto fiquei feliz em te ver... depois de tanto
tempo.
Alex se emociona e deixa cair uma lágrima. Os dois se soltam. Alex limpa
a lágrima que deixou cair.
ALEX: É melhor a gente ir indo.
SAMUCA: (respira fundo) Melhor mesmo! (para Eduardo) Vamos?
EDUARDO: Vambora! O carro tá parado na rua aí de trás.
Samuca pega as malas de Alex e vai caminhando em direção a porta. Alex
permanece parado mais atrás. Samuca para de andar e olha pra Alex. Em seguida,
desvia o olhar e abre a porta, saindo.
EDUARDO: (para Alex) Depois a gente…
ALEX: (compreende) Certo!
EDUARDO: (para Gui) Tchau!
Guilherme faz um sinal com a mão e dá um leve sorriso. Eduardo sai, fechando
a porta. Alex respira fundo.
GUI: (para Alex) E aí, preparado?
Close na expressão tenda de Alex.
ALEX: Eu acho que sim!
Foco.
CENA 17/MANSÃO DOS CAVALCANTI/FRENTE/EXTERIOR/MANHÃ.
O carro de Alex para em frente aos portões automáticos que logo se abrem.
O veículo dá a partida e entra, indo em direção a garagem.
CENA 18/GARAGEM DA MANSÃO/INTERIOR/MANHÃ.
O carro já se encontra parado. Eduardo desce do banco do motorista e
Samuca do banco do carona. Ele vai em direção a parte traseira do carro ao
mesmo tempo em que Eduardo aperta um botão da chave, fazendo com que o porta
malas se abra. Samuca tira a mala de lá e o porta malas logo se fecha
novamente.
Eduardo joga a chave para Samuca, que pega no ar.
EDUARDO: Boa sorte, Samuca... ou melhor: Alex!
SAMUCA: (tenso) Obrigado! Eu vou precisar.
Close nos dois.
CENA 19/MANSÃO DOS CAVALCANTI/FRENTE/EXTERIOR/MANHÃ.
Eduardo vai caminhando rapidamente em direção ao portão principal. A
câmera vai pegar ao longe, Bruna, observando tudo por uma das janelas da casa.
Close nela.
CENA 20/MANSÃO DOS CAVALCANTI/SALA/INTERIOR/MANHÃ.
A porta se abre e Samuca entra, carregando as chaves consigo. Ele fecha
a porta e fica a olhar para o interior da mansão, admirado.
Samuca caminha pela sala, tocando nos móveis e tendo rápidos flashes
dele e Alex correndo pelo cômodo, brincando, ainda crianças. Ele sorri,
nostálgico.
Seu sorriso se desfaz quando ele escuta passos vindo logo atrás dele.
Samuca se vira e dá de cara com Getúlio. Ele fica tenso, surpreso e com os olhos
arregalados enquanto Getúlio o encara com um largo sorriso no rosto.
GETÚLIO: (sorrindo) Meu neto! Eu sabia que você iria voltar!
Trilha sonora: Believer - Imagine Dragons.
Getúlio se aproxima de Samuca e lhe abraça. Tempo.
GETÚLIO: (contente) Ah, Alex, eu sabia que você iria voltar. Eu sabia!
Câmera lenta: Samuca ergue os braços e corresponde ao abraço de Getúlio. Foco agora
em seu olhar, diabólico. Câmera volta a velocidade normal.
SAMUCA: Eu voltei vovô! Eu voltei! - dá um leve sorriso.
Ao som de Believer, com o close no olhar e no sorriso
sombrio de Samuca, a cena dá Fade out.
Postar um comentário