Uma novela original WNC
Autora: Megan Clarke
Capítulo 23
“O
Dono do Anel”
CENA 1/ ESTACIONAMENTO/ INTERIOR/ NOITE.
Continuação imediata da última cena do capítulo anterior. G2 desacordado no
chão, enquanto Bruna e Nicole permanecem desesperadas.
De longe, Mário olha pra eles, com um sorriso de satisfação no rosto.
Ele entra no carro e dá a partida, fugindo dali. O carro passa por eles em alta
velocidade.
BRUNA: (grita para Mário) Seu filho da puta!
NICOLE: Liga pra emergência.
BRUNA: (desesperada) Não vai dar tempo de ambulância vir aqui. Me ajuda,
vamos levar ele pro carro.
NICOLE: (tirando o casaco) Pera.
Ela pressiona o casaco no local onde G2 levou o tiro. Em seguida, Bruna
destrava a porta com o controle automático e Nicole abre a porta de trás. Elas
o carregam com dificuldade e o põem no banco de trás. Nicole fecha a porta e
corre pro outro lado, entrando também. Bruna entra no carro e dá a partida.
CENA 2/CARRO DE MÁRIO/ INTERIOR/ NOITE.
Mário dirige, enquanto mexe no celular, sempre dividindo olhares entre o
trânsito e o aparelho. Ele leva o celular ao ouvido.
MÁRIO: (cel) Me encontra agora no porto que eu preciso daquela lancha.
(T) Agora, porra! Não posso esperar mais. Leva a chave daquela casa também.
Rápido!
Ele desliga e joga o celular no banco do carona.
CENA 3/ HOSPITAL/ CORREDOR/ INTERIOR/ NOITE.
Os médicos empurram a maca que G2 se encontra deitado e desacordado.
Bruna e Nicole acompanham, aflitas. Os médicos entram numa área restrita. Elas
vão entrar junto, mas uma enfermeira sai de lá.
ENFERMEIRA: Desculpem, mas vocês não podem entrar.
BRUNA: (desesperada) Deixa a gente acompanhar essa cirurgia, pelo amor
de Deus.
ENFERMEIRA: Me desculpem, mas infelizmente não vai ser possível.
NICOLE: (nervosa) Moça, por favor!
A mulher respira fundo.
ENFERMEIRA: Tá certo! – (T) – Mas só uma de vocês poderão entrar.
Bruna olha pra Nicole.
NICOLE: Pode ir! Eu fico aqui esperando.
BRUNA: (sorri fracamente) Obrigada.
Bruna abraça Nicole que retribui, mas logo as duas se soltam.
NICOLE: Vai lá.
Bruna entra na área restrita junto com a enfermeira. Nicole fica aflita.
CENA 4/ CASA DE CAMPO/ SALA DE ESTAR/ INTERIOR/ NOITE.
Miguel ao celular, fala com alguém.
MIGUEL: (cel) Meu filho levou um tiro?
Olívia, ao lado dele, começa a ficar nervosa. Cristina e Palmira, que
estavam no sofá, voltam suas atenções pra ele.
OLÍVIA: (para Miguel) Quem é?
MIGUEL: (cel) Eu tô indo praí! – e desliga.
OLÍVIA: (nervosa) O que aconteceu com o senhor X?
MIGUEL: A Nicole ligou dizendo um monte de coisa, não entendi bem, mas
parece que ele levou um tiro. (T) Eu tô indo pro hospital.
Ele vai caminhando até a porta.
CRISTINA: (quase em desespero) Meu irmão levou um tiro?
MIGUEL: (para Cristina) Não se desespera, filha. (para Palmira) Fica
aqui e passa o olho nela.
PALMIRA: Claro.
OLÍVIA: (indo junto com ele) Espera, eu vou também.
Os dois saem de casa. Cristina começa a ficar nervosa.
CRISTINA: Meu irmão não pode morrer, Palmira. (T) Eu já perdi um, não
quero perder o outro.
Ela cai no choro.
PALMIRA: (abraçando-a) Fica calma, meu bem. (T) Vai dar tudo certo.
Palmira abraça a menina. Close em Cris, que chora copiosamente.
CENA 5/ JARDIM ORESTES/ PORTO/ CAIS/ EXTERIOR/ NOITE.
Mário estaciona seu carro no porto e sai correndo até o cais, apressado.
Ele se encontra com um homem na beira do cais, próximo a um barco.
MÁRIO: Tá com a porcaria da chave aí?
HOMEM: Boa noite primeiramente.
MÁRIO: (estressado) Boa noite o cacete! Não tem nada de bom nessa porra.
Tá ou não tá com a droga da chave?
HOMEM: (entregando a chave) Tá aqui.
MÁRIO: Vambora que não quero perder mais tempo.
Mário olha pros lados pra ver se alguém estão vendo os dois e ambos
entram no barco.
CENA 6/ ALTO MAR/ LANCHA/ EXTERIOR/ NOITE.
Mário está na beira da popa observando a cidade, ao longe, enquanto o
vento balança seus cabelos. Ele caminha até a proa e se dirige ao homem, que
pilota a lancha.
MÁRIO: (impaciente) Adianta isso aí que eu quero chegar naquela ilha o
mais rápido possível.
HOMEM: Posso saber o porquê de tanta pressa?
MÁRIO: Não é da sua conta!
HOMEM: Tá com cara de que aprontou. (T) Que foi? Matou alguém?
Mário olha fixamente pro homem, até que fala friamente para ele.
MÁRIO: A chave do barco, onde é que está?
HOMEM: (estranha) Por que eu te daria a chave?
MÁRIO: Não preciso te dar explicações de nada. (estende a mão) Eu quero
a chave desse barco. – (T) – Agora!
O homem não o leva a sério e ri, debochado, enquanto vira o rosto pra
frente. Continua a pilotar. Mário tira o revólver da cintura e aponta na
direção dele, que olha pra trás e se assusta.
HOMEM: (com medo) O que você vai fazer, cara?
MÁRIO: Eu quero a chave!
HOMEM: (nervoso) Larga essa arma!
MÁRIO: (pressiona) A chave!
HOMEM: (tremendo de medo) Solta esse revólver... por favor.
MÁRIO: (impaciente) Eu quero a porcaria da chave PORRA! Me dá a chave do
barco! (T) Me dá, senão eu atiro!
O homem desliga o motor da lancha e entrega a Mário, que continua
apontando a arma pra ele.
MÁRIO: (estende a mão) A chave da casa também! (T) BORA!
O homem tira do bolso mais um molho de chaves e entrega a Mário que
sorri com satisfação.
HOMEM: Pronto. Já fiz o que você mandou, agora abaixa a arma.
MÁRIO: E te deixar vivo pra contar pra polícia tudo o que eu mandei você
fazer e tudo o que eu fiz você passar? – ri – Não!
Em seguida, ele dispara cinco vezes no homem, que cai no chão, já morto.
Close no rosto de Mário, sujo com o sangue do homem. Em seguida, ele deixa a
arma no chão e pega o corpo do homem, arrastando até a beirada da lancha e
atirando ao mar.
CORTA para Mário, que está só de cueca e limpando o chão
sujo de sangue da lancha com um esfregão. Ele pega um balde com água e atira no
chão. Em seguida, caminha até a beirada da proa e acende um cigarro, fumando.
Close na fumaça que sai da sua boca. Do seu ponto de vista, vemos um ponto de
luz ao longe. Close no olhar de Mário, que reflete o ponto de luz.
CENA 7/ ILHA/ PRAIA/ EXTERIOR/ NOITE.
A lancha consegue chegar à ilha, parando num cais exclusivo de uma casa
que há ali. A casa é cercada por um muro. Mário sai da lancha de roupão.
CENA 8/ ILHA/ CASA SIMPLES/ INTERIOR/ NOITE.
Close em G1, que está na janela da casa e observa Mário, ao longe,
saindo do barco e caminhando até a casa.
G1: (estranha) O que será que esse desgraçado tá fazendo aqui?
Close em Mário, abrindo a porta do muro da casa. Foco no olhar de G1
observando toda a movimentação dele.
CENA 9/ JARDIM ORESTES/ PLANOS GERAIS/ EXTERIOR/ MANHÃ.
Amanhece na cidade.
CENA 10/ HOSPITAL/ SALA DE ESPERA/ INTERIOR/ MANHÃ.
Miguel está sentado no sofá com as mãos na cabeça, inquieto. Olívia
cochila num outro ponto do sofá e Nicole está em pé andando de um lado pro
outro.
NICOLE: Nossa, tá demorando muito.
De repente, Bruna aparece no local, chamando a atenção de todos. Acabara
de vir do centro cirúrgico. Eles se dirigem a ela.
NICOLE: E então?
MIGUEL: Como tá meu filho?
BRUNA: (marejando) Ele tá bem.
OLÍVIA: (sorri) Graças a Deus...
Porém, Bruna começa a chorar compulsivamente.
NICOLE: (estranha) O que foi?
Ela se afasta e senta-se no sofá, com as mãos no rosto. O médico que o
operou aparece no local.
MIGUEL: E então, doutor? Meu filho tá bem né?
MÉDICO: Ele sobreviveu a cirurgia sim.
OLÍVIA: Ai, que bom! E corre algum risco de vida?
MÉDICO: Do jeito que ele tá reagindo, não corre risco algum. – (T) – Mas
aconteceu algo...
NICOLE: O quê? (T) Fala, doutor.
MÉDICO: A bala atingiu a coluna cervical... (T) Isso significa que ele
não vai voltar a andar. (T) Nunca mais.
Bruna chora no sofá e Nicole caminha até lá, sentando-se com as mãos no
rosto.
Miguel desacreditado, deixa lágrimas rolarem pelo rosto, enquanto Olívia
o abraça, também chorando.
MÉDICO: Eu sinto muito. – se afasta.
Close cada um deles, chorando compulsivamente. Fade out.
“Alguns dias depois”
CENA 11/ ILHA/ PLANO GERAL/ EXTERIOR/ MANHÃ.
Fade in. Close geral na ilha.
CENA 12/ CASA DE MÁRIO/ INTERIOR/ MANHÃ.
Mário come um sanduíche enquanto vê um noticiário na televisão.
Close na tevê:
APRESENTADORA: E hoje, houve um deslizamento de terra na rua do Caramelo
que vitimou trinta pessoas.
De repente Mário se irrita e desliga a tevê.
MÁRIO: Porcaria de jornal. Eu lá quero saber de desgraça nenhuma.
Ele se levanta e coloca o prato no rack.
MÁRIO: (para si) Tenho que voltar pra buscar o resto das minhas
coisas...
CENA 13/ CASA SIMPLES/ INTERIOR/ MANHÃ.
Da janela, G1 vê Mário sair da casa e se dirigir até a lancha.
G1: Olha lá, é ele!
A mulher olha pra G1 e vai até a janela.
MULHER: Ele quem?
G1: O cara que eu te falei. O que tentou me matar.
Os dois olham Mário atentamente pela janela.
G1 olha pra mulher.
G1: Foi ele, moça. Eu tenho certeza que foi ele quem mandou colocar
aquela bomba na lancha.
Eles se encaram.
CENA 14/ HOSPITAL/ QUARTO DE G2/ INTERIOR/ MANHÃ.
G2 está deitado na cama com o rosto virado pro lado, sem esboçar nenhum
tipo de reação. Está parado, imóvel. Nicole e Bruna entram no local com uma
bandeja de comida. Bruna vai até G2, tocando-o.
BRUNA: A gente trouxe seu almoço.
G2: Não quero comer nada.
NICOLE: Ah, mas vai comer sim. (T) Vai comer porque você precisa ficar
bem pra sair desse hospital logo.
Ele olha pra ela com os olhos cheios de lágrimas.
G2: (revoltado) Sair daqui pra quê hein? (T) Eu vou passar a vida
inteira numa cadeira de rodas. (T) Não vou mais poder correr... (T) Vou ficar
sem andar e ser dependente dos outros pelo resto da vida. – T – (chora) Eu
prefiro morrer.
BRUNA: (se aproxima, marejando) Para de falar essas coisas. (T) Você tá
vivo. Tá bem. Sua saúde tá ótima. (T) E você tem uma família que te ama. (T)
Tem a mim que te ama.
Close nele, chorando compulsivamente. Bruna deixa lágrimas rolarem pelo
rosto.
BRUNA: (olha pra Nicole) E tem a Nicole... – Nicole se aproxima – que
também te ama... (T) Nada nessa vida é impossível. (T) Ficar numa cadeira de
rodas não te impede de continuar vivendo.
Ela limpa as lágrimas do rosto dele. Nicole pega nas mãos dele.
NICOLE: A gente vai vencer isso juntos. (olha pra Bruna) Nós três. –
olha pra ele - (T) E todos os outros.
Silêncio por uns segundos.
G2: Eu quero falar com o meu pai.
Nicole e Bruna limpam as lágrimas do rosto e se levantam. Miguel entra
no quarto no exato momento.
MIGUEL: Filho.
G2: A gente precisa conversar. (T) Eu preciso te contar uma coisa. (T) E
tem a ver com a morte do velho.
Miguel pego de surpresa, assim como Bruna e Nicole que o encaram. Close
em G2, que os encaram.
CENA 15/ CONSULTÓRIO DE PSICOLOGIA/ SALA DE ESPERA/ INTERIOR/ MANHÃ.
Olívia sentada no sofá, lê uma revista. De repente, a porta de uma das
salas se abre. Uma mulher de mais ou menos 37 anos, magra, cabelos pretos e
óculos de grau sai de lá.
DOUTORA: Olívia Cavalcanti?
CENA 16/ CONSULTÓRIO DE PSICOLOGIA/ SALA/ INTERIOR/ MANHÃ.
Olívia se senta numa poltrona. A doutora se senta numa outra poltrona de
frente pra Olívia.
Tempo. Olívia olha pra ela.
OLÍVIA: Tem certeza que é mesmo preciso continuar com isso? Eu tô bem,
tô me sentindo ótima.
DOUTORA: Muita gente que faz consulta comigo me diz a mesma coisa,
sabia? (T) Basta algumas sessões de terapia e afirmam que não querem mais
voltar porque já estão se sentindo melhor. (T) Mas o tratamento ocorre com o
tempo. Nada acontece da noite pro dia.
OLÍVIA: Eu... Já tem dias que não tomo uma gota de álcool sequer.
DOUTORA: Já é um progresso.
As duas ficam em silêncio por um tempo.
DOUTORA: O que você sente quando bebe?
OLÍVIA: Eu sinto paz. (T) Eu me sinto em outro lugar. (T) Em outro
universo, sabe? (T) Me sinto... como se todos os problemas sumissem. (T) –
sorri - Eu sinto prazer, eu sinto felicidade, eu me sinto bem... – fica séria –
Mas ao mesmo tempo eu percebo que... o resto dos problemas acontecem por minha
causa. (T) Pode ser loucura isso, mas é o que eu penso. (T) Eu me sinto um
fracasso... a vida inteira meu pai fez eu me sentir assim.
Close em Olívia, que deixa derramar uma lágrima, mas logo a limpa.
OLÍVIA: Meu filho levou um tiro. (T) Vai ficar sem andar. (T) A primeira
vontade que eu tive foi de beber, sabe? De encher a cara! (T) Problemas
surgiram. – (respira fundo) – Foi bem difícil, doutora. (T) Foi difícil me
segurar. Mas eu consegui. Depois daquele dia eu só pensei no meu filho e em
mim. (T) Eu preciso estar bem. (T) Eu preciso ficar bem, pra que ele fique bem.
(T) Eu não quero ser mais um problema. (T) Ele precisa de mim!
Close nela, pensativa.
CENA 17/ JARDIM ORESTES/ EXTERIOR/ NOITE.
Planos gerais da cidade ao anoitecer.
CENA 18/ MANSÃO DOS PRATES/ SALA DE ESTAR/ INTERIOR/ NOITE.
Almerinda abre a porta e entra cinco mulheres: Uma de aparentemente 20
anos (Catarina), outras três com mais ou menos 17 (Leandra, Ana e Samanta) e
uma mais velha, aparentando ter 45 (Luísa).
Alexandra desce as escadas e se dirige a elas. Almerinda vai pra
cozinha.
ALEXANDRA: (sorrindo) Ah, vocês chegaram.
Ela cumprimenta Luísa com beijinhos no rosto.
LUÍSA: Não posso deixar de agradecer o convite, querida.
ALEXANDRA: Ah, imagina.
LUÍSA: Essa aqui é minha filha, Catarina.
ALEXANDRA: Ah, mas que linda a sua filha. (a cumprimenta) Prazer,
querida.
CATARINA: O prazer é todo meu.
LUÍSA: Aquelas são minhas sobrinhas e amigas da Catarina: Leandra, Ana e
Samanta.
ALEXANDRA: (sorri falsamente) Que bonitinhas... (T) Mas venham. Vamos
nos sentar...
Elas se sentam no sofá.
LUÍSA: Me fale sobre você, querida. Como vai a vida?
ALEXANDRA: Não tão boa como aparenta, mas eu estou sobrevivendo meu bem.
LUÍSA: (sorri) Ah... (T) E o seu neto, onde é que tá? (T) A minha filha
tá louca para conhecer ele.
CATARINA: Mãe!
ALEXANDRA: (ri falsamente) Ele teve um imprevisto, mas já está chegando.
(para si) Espero que não demore...
O silêncio se instaura no local.
ALEXANDRA: Vocês não aceitam alguma coisa? Uma água, um café, um suco...
CATARINA: Aceito um copo d’água.
ANA: Eu aceito um suco.
SAMANTA: Eu também.
LEANDRA: Eu também.
LUÍSA: Aceito um café.
Alexandra sorri falsamente pra elas.
ALEXANDRA: (grita) ALMERINDA!
Elas põem as mãos no ouvido.
ALEXANDRA: (olhando pra trás) Cadê essa incompetente dos infernos?
Alexandra se levanta.
ALEXANDRA: (grita) ALMERINDA.
Almerinda vem da cozinha.
ALMERINDA: Sim, dona madame.
ALEXANDRA: Posso saber o motivo da demora?
ALMERINDA: Eu tava terminando de preparar o jantar.
ALEXANDRA: Ah, claro. Só uma incompetente como você pra deixar o jantar
atrasar desse jeito e me obrigar a passar vergonha na frente das visitas. (T)
Traga um café, um copo d’água e três copos de suco. (T) E seja rápida, sua
morta de fome.
CATARINA: Nossa.
ALMERINDA: (encarando-a) Sim senhora.
ALEXANDRA: (corrigindo-a) É senhorita.
ALMERINDA: Sim senhorita! – e volta pra cozinha.
CATARINA: Você costuma tratar os empregados sempre dessa forma?
ALEXANDRA: É o que devemos fazer com pessoas incompetentes, minha
querida.
CATARINA: É... se eu fosse essa mulher já teria me demitido há muito
tempo. Preferia trabalhar catando latinhas no lixo do que aqui.
Alexandra arregala os olhos, chocada. Ana, Samanta e Leandra prendem o
riso.
LUÍSA: (olhando-a seriamente) Filha! Que modos são esses?
CATARINA: Cala a boca, mamãe. – (T) – Vem cá, esse seu neto não vai
chegar nunca?
ALEXANDRA: (sem graça) Vai, querida.
A campainha toca. Almerinda vem da cozinha e abre a porta.
Alexandra e todas as outras se levantam.
ALEXANDRA: (sorri) Ele chegou!
Eduardo entra e em seguida, ajuda Guilherme a entrar também.
Alexandra, que sorria, desfaz o sorriso, ficando séria na mesma hora.
Guilherme está de muletas, bota ortopédica e o rosto completamente
machucado.
ALEXANDRA: (se aproxima/ grosseira) O que esse morto de fome tá fazendo
aqui?
LUÍSA: Quem é esse?
CATARINA: (chocada) Meu Deus, ele tá muito machucado, o que houve?
EDUARDO: (aponta para Alexandra) Tudo culpa dessa mulher! – (T) – Essa
desgraçada. (T) Você não tem vergonha na cara não, sua maldita?
CATARINA: (se aproxima) Eu não tô entendendo nada.
LUÍSA: Muito menos eu. (para Alexandra) Alexandra, você não nos convidou
para apresentar a minha filha ao seu neto?
EDUARDO: (para Alexandra/ indignado) Como é que você tem coragem de
armar um jantar pra me apresentar a uma garota depois de tudo o que você fez
sua desgraçada?
ANA: O que ela fez?
ALEXANDRA: (grossa) Fora daqui! (grita) Fora daqui com esse morto de
fome! (T) Saia! (vai partir pra cima de Guilherme) Saia ou eu mesma termino de
matar ele de porrada.
Eduardo entra na frente e segura o braço de Alexandra com força. Os dois
se encaram.
EDUARDO: Você não vai fazer mais nada contra ele, porque se fizer eu te
mato!
Alexandra solta-se dele.
GUI: (para Alexandra) Parece que nem mandando aqueles homens me darem
uma surra você conseguiu fazer com que eu me afastasse do Edu, sua velha.
LUÍSA: (horrorizada) Meu Deus, você... você fez isso, Alexandra?
EDUARDO: Não só mandou fazer isso, com também o demitiu por injusta
causa. Tudo só porque ele é gay e pobre. (olha pra Catarina) Por isso tá
forçando esse jantar aqui pra poder juntar nós dois. O que essa velha
desgraçada quer mesmo é o dinheiro de vocês. Tá falida e sem um tostão no
bolso, aí quer montar nas costas dos outros.
Elas ficam chocadas.
LEANDRA: (ri) Passada com esse babado.
SAMANTA: A empregada bem que poderia trazer um balde de pipoca né?
EDUARDO: Eu vim aqui pra poder alertar vocês... sobre quem a dona
Alexandra é de verdade.
ALEXANDRA: (o olha com frieza) Eu nunca vou aceitar um neto viado dentro
da minha casa! (T) Nunca!
EDUARDO: (a encara) E eu voltei por isso também. Pra buscar minhas
coisas. (T) Eu vou me embora daqui. E vai ser agora.
Ele vai se dirigir até as escadas, mas Alexandra corre atrás e entra na
sua frente, impedindo-o de subir.
EDUARDO: Sai da minha frente!
ALEXANDRA: Você não vai buscar nada. (T) Tudo o que eu comprei, todas as
suas roupas... foram com o meu dinheiro. Com o dinheiro que tanto sacrifício eu
tive pra conseguir, mesmo estando praticamente atolada na lama. Mas eu
consegui! (T) Dinheiro que você usufruiu por muito tempo. (T) Você vai sair
dessa casa com a mão na frente e outra atrás. (T) O seu carro você pode levar
com você, não estou interessada nele. (T) Porém, mais nada vai sair de dentro
dessa casa.
EDUARDO: (a encara) É mesmo?
ALEXANDRA: É! É mesmo!
Eduardo consente com a cabeça e caminha lentamente até o centro da sala,
ficando de frente para todos, que o olham atentos.
Eduardo então tira a camisa, jogando-a no chão. Ele tira os sapatos, as
meias. Em seguida, tira a bermuda.
Luísa e Catarina surpresas e em choque. Ana, Leandra e Samanta olham pra
ele maliciosamente.
Guilherme e Almerinda abismados.
ALEXANDRA: (chocada) O que você tá fazendo?
EDUARDO: Você faz tanta questão assim das coisas que comprou com o seu
dinheiro que eu tô te devolvendo essas roupas aqui. (T) Eu não preciso da
senhora pra nada!
GUI: Eduardo...
Almerinda se afasta, indo até a cozinha. Eduardo se abaixa e tira a
cueca, fazendo com que todas fiquem chocadas. Ele caminha pelado pela sala e
com a cueca nas mãos. Vai até Alexandra e a encara.
EDUARDO: Toma aqui a cueca que você comprou com o seu dinheiro sujo!
Ele joga a cueca na cara dela. Almerinda vem da cozinha com um roupão
nas mãos e vai até Eduardo.
Ana sussurra com Catarina.
ANA: Nossa, você tinha um grande partido nas mãos... e bota grande
nisso.
CATARINA: (a olha com reprovação) Cala a boca!
Almerinda ajuda Eduardo a se vestir. Ele está visivelmente abalado.
ALEXANDRA: (grita) Pare! (pega Almerinda pelo braço, com força) Pare de
ajudar esse ingrato.
ALMERINDA: (se solta) Me larga, sua bruxa velha! (grita) Eu tô cansada
da senhora, tô cansada de ser tratada feito lixo nessa casa! (T) Me paga uma
merreca e me obriga a trabalhar aqui feito uma escrava. (T) Eu cansei! Cansei
da senhora! A senhora é um lixo, é brega, essa casa é horrorosa, a senhora é
horrorosa, seu cabelo é horroroso. Eu te odeio, velha maldita.
ALEXANDRA: Ah, é mesmo? (T) Pois não vai ter que se preocupar mais com
isso. (T) Você tá demitida.
ALMERINDA: (comemora) Uhu, adorooooooooo.
Ela começa a sambar no meio da sala.
ALEXANDRA: (provoca) Quero ver se você vai reagir assim quando tiver
passando fome e frio na rua.
EDUARDO: Não vai passar fome na rua porcaria nenhuma, porque ela vai
embora comigo.
Alexandra fica sem reação.
ALMERINDA: Viu só, velha?
ALEXANDRA: (se corroendo de ódio) Fora daqui! Fora da minha casa agora!
(T) Eu quero todos vocês fora daqui! Agora!
ALMERINDA: Vou ter o maior prazer de sair da sua casa, mas antes, se me
permite.
Ela dá um tapão na cara de Alexandra, que cai na escada.
ALMERINDA: Isso é por todos esses anos de humilhação e trabalho escravo.
Sua velha nojenta!
Em seguida, ela se afasta, caminhando até a porta, saindo em seguida.
EDUARDO: (encarando-a) Até nunca mais!
Ele vai até a porta e ajuda Guilherme. Luísa se aproxima de Alexandra.
LUÍSA: Que horror... Que horror!
Ela sai também, acompanhada de Ana, Samanta e Leandra. Catarina olha
Alexandra com desprezo, em seguida, sai da casa, fechando a porta.
A mulher fica sozinha na sala, caída na escada. Levanta-se com
dificuldade. Vai até uma bancada com vários vasos e objetos de vidro e passa o
braço ali, atirando tudo ao chão com muita fúria. Alexandra respira ofegante,
passando a mão pelos cabelos. De repente, ouve passos e olha pra trás. Vê Mário
Gerson caminhando até ela com um gato nos braços, uma mochila nas costas e
batendo palmas enquanto ri.
ALEXANDRA: Ah, era só o que faltava.
MÁRIO: Belo show, mamãe. Eu adorei, sabia?
ALEXANDRA: Há quanto tempo você estava aqui?
MÁRIO: Tempo suficiente pra ver tudo o que aconteceu aqui... escondido,
claro. Queria fazer uma surpresinha pra senhora. Tá sendo até bom te ver aí,
nessa situação, sabia?
ALEXANDRA: O que você quer aqui? Veio me humilhar?
MÁRIO: A senhora já está humilhada, minha mãe.
Alexandra olha atentamente pro gato que está nas mãos de Mário e começa
a rir.
MÁRIO: O que foi? Tá rindo do quê?
ALEXANDRA: Esse gato que você tá segurando me faz lembrar daquela gata
imunda que você tinha quando era pequeno.
Mário muda sua expressão. Estava rindo, agora fica sério.
ALEXANDRA: Sabe, meu filho, você deveria me agradecer por eu ter feito
coisas que te salvassem, porque, eu fiz você se casar com a Olívia, fiz com que
você tivesse uma boa vida naquela casa. Sempre me preocupei com a sua saúde...
é tanto que tirei aquela gata nojenta da sua vida. Ela poderia ter te deixado
doente sabia? Sei lá, ela poderia arranhar seu rosto, você poderia pegar alguma
infecção...
Mário a encara com desprezo.
MÁRIO: Como é que você pode ser tão baixa em tocar num assunto como
esse?
ALEXANDRA: Você tá rindo da minha desgraça. Tenho todo direito de rir da
sua. É justo, você não acha?
MÁRIO: Você acabou com a minha vida. Tirou da minha vida as duas únicas
coisas que eu amei nessa vida: o meu pai e a Gracinha.
ALEXANDRA: (ri) Gracinha... Até o nome é podre. Tão podre quanto aquela
gata. Você deveria agradecer mais e reclamar menos...
Close na expressão pensativa de Alexandra.
ALEXANDRA: Olhando pra esse gato, me lembro muito bem... como se fosse
hoje, o dia em que acabei com aquela desgraça da sua gata nojenta.
FLASHBACK ON:
Lembrança
de um acontecimento que ocorreu muitos anos atrás. Alexandra no quintal da casa
com uma gata nos braços (a mesma gata siamesa que aparece para Mário) e uma
faca nas mãos. Ela põe a gata em cima de um bloco de cimento. Mário (com 6 anos
de idade) observa escondido (atrás de uma árvore e chorando bastante) o momento
em que Alexandra passa a faca no pescoço da gata. Close na expressão de prazer
estampada no rosto de Alexandra e no sangue da gata escorrendo pelo bloco de
cimento. Mário fecha o olho, ao mesmo tempo em que chora bastante. Alexandra
expressa prazer ao olhar a faca suja se sangue. Close final em Mário chorando
compulsivamente atrás da árvore.
FLASHBACK OFF.
Mário chora desesperadamente.
MÁRIO: Você matou o meu pai e matou a Gracinha. Seu monstro.
ALEXANDRA: Eu não matei o seu pai porcaria nenhuma, ele morreu sozinho!
Morte natural, já ouviu falar?
MÁRIO: (chora) Você acabou com a minha vida, sua infeliz.
ALEXANDRA: (dura) Infeliz... Infeliz é você que não sabe fazer nada na
vida. Perdedor! Incompetente! Tudo o que você é e tudo o que você tem hoje é
graças a mim. Se não fosse por mim estaríamos na sarjeta lambendo beira de
calçada.
MÁRIO: (remoendo) Você matou a minha gata...
ALEXANDRA: Matei. E mataria de novo com o maior prazer.
MÁRIO: (revoltado) Aquela gata foi um presente do meu pai! (grita) DO
MEU PAI. Você tirou de mim umas das únicas lembranças que eu poderia ter dele.
ALEXANDRA: (grita) Dane-se! Dane-se você e dane-se o seu pai!
Mário tira o revólver da cintura e aponta para Alexandra, que se
assusta.
MÁRIO: Agora acabou!
Alexandra fica sem reação.
MÁRIO: Eu já tô no fundo do poço... Por sua causa.
ALEXANDRA: Solta esse revólver!
MÁRIO: No início dessa nossa conversa, você falou que eu ri da sua
desgraça e que era muito justo que você risse da minha também. (T) – engatilha
o revólver – Você acabou a minha vida. (em tom de ironia) É muito justo que eu
acabe com a sua vida também. (debocha) Você não acha?
Em seguida, ele dispara quatro vezes no peito de Alexandra, que cai
morta de bruços no chão. Close no sangue escorrendo pelo chão, formando uma
poça em volta do corpo.
MÁRIO: (sorri) Boa sentada no colo do capeta, mamãe!
Ele começa a rir maquiavelicamente e sobe as escadas. Close em Alexandra
no chão, morta.
CENA 19/ QUARTO DE ALEXANDRA/ INTERIOR/ NOITE.
Mário entra no quarto. Ele põe o gato no chão e tira a mochila das
costas, colocando-a na cama. Vai até o closet e o abre, jogando as gavetas no
chão, vasculhando tudo. Vê um envelope com dinheiro dentro de uma das gavetas e
em seguida, vai até a mochila, colocando-o lá. Ele vê uma caixa em cima da
cômoda e vai até lá. Abre a caixa, encontrando várias joias lá. Close na expressão
de Mário que sorri ao ver as joias. Ele põe a caixa dentro da mochila, coloca-a
nas costas, pega o gato e sai.
CENA 20/ HOSPITAL/ QUARTO DE G2/ INTERIOR/ NOITE.
G2 acordado com Bruna e Nicole ali por perto. Miguel ao
celular, fala com Palmira.
MIGUEL: (cel) Eu quero que você telefone pra aquele cara, o que é
responsável por guardar o jatinho particular da família... A Olívia me passou
as informações sobre ele.
PALMIRA: (cel) Sei bem.
MIGUEL: (cel) Diga a ele pra preparar tudo, deixar tudo esquematizado.
Fala pra Cris arrumar as malas dela também.
PALMIRA: (cel) Pode deixar!
Em seguida, Miguel encerra a chamada.
G2: Pai, cê não acha que vai dar merda não?
MIGUEL: Vai dar tudo certo, meu filho. Não precisa temer nada.
Eles trocam olhares, tensos.
CENA 21/ ILHA/ CASA DE MÁRIO/ CAIS/ EXTERIOR/ MANHÃ.
Mário vem caminhando da lancha e está prestes a entrar na casa.
CENA 22/ CASA DE MÁRIO/ SALA/ INTERIOR/ MANHÃ.
Mário termina de fechar a porta e leva um susto ao ver G1 parado ali,
sentado em seu sofá e com uma xícara nas mãos.
G1: (em tom de deboche) Acabou o seu café!
Mário permanece paralisado. G1 põe a xícara na mesa de centro, se
levanta e vai caminhando até ele.
G1: O que foi? Tá chocado? (ri) Achou que eu tinha morrido né,
desgraçado? (T) Mas eu tô vivíssimo. E pronto pra fazer aquilo que já devia ter
acontecido há muito tempo.
Nesse momento, ele pega o rifle que estava escondido atrás das almofadas
no sofá e aponta para Mário, que continua imóvel, com os olhos arregalados em
estado de choque. Close na mão dele, que lentamente, vai pegar o revólver que
está encaixado na parte de trás da sua calça.
G1: Você tentou me matar uma vez, lembra?
Mário pega a arma e aponta para G1, disparando. Mas percebe que não há
balas.
Trilha Sonora: “Uptown Funk – Mark Ronson, Bruno Mars”
G1: (rindo enquanto aponta o rifle) Que pena... (T) Agora chegou a minha
vez.
Close no seu dedo (na qual ele usa o anel) apertando
o gatilho. Ele então dispara contra Mário, que é atingido na cabeça. Close no
sangue jorrando. Mário cai morto no chão. G1 ri descontroladamente. Close em
Mário no chão, morto.
Fade out na trilha.
CENA 23/ ILHA/ CASA SIMPLES/ INTERIOR/ MANHÃ.
G1 está terminando de arrumar uma mochila que pegara na casa de Mário e
veste uma das roupas dele enquanto conversa com a mulher, dona da casa.
G1: Eu tô voltando pra casa. – Entrega o rifle – Agradeço muito a senhora
por ter me ajudado. (T) Eu nunca vou esquecer o que fez por mim!
MULHER: Eu fiz o que faria com qualquer outro, garoto!
G1 pega as mãos da mulher e beija, num sinal de agradecimento. A mulher
sorri pra ele.
CENA 24/ ALTO MAR/ LANCHA/ INTERIOR/ MANHÃ.
G1 dirige a lancha, enquanto o vento balança seus cabelos. Ele está de
óculos escuros e do barco, observa a cidade.
CENA 25/ CASA DE MÁRIO/ SALA/ INTERIOR/ MANHÃ.
Close em Mário caído no chão com o sangue escorrendo da cabeça.
Trilha Sonora: “Natural – Imagine Dragons”
De repente, um gato vem caminhando pela sala, seguido por outro gato, e
outro, e outro. São ao todo cerca de 25 gatos que cercam o corpo de Mário,
morto no chão. Alguns gatos passeiam por cima do corpo dele, uns deitam. Outros
lambem sua mão, outros miam. Câmera vai subindo e revelando a sala infestada de
gatos, que miam sem parar. O som chega a ser ensurdecedor. Fade out.
CENA 26/ JARDIM ORESTES/ CAIS/ EXTERIOR/ MANHÃ.
Fade in. G1 caminha pelo cais com uma mochila nas costas e digitando algo no
celular (que pertencia a Mário).
CENA 27/ CASA DE CAMPO/ SALA DE ESTAR/ INTERIOR/ MANHÃ.
G2 está na cadeira de rodas penteando os cabelos molhados e conversando
com Bruna.
G2: Eu acho uma loucura tudo isso. Esse plano do meu pai.
BRUNA: É o único jeito que a gente tem de tirar sua mãe da cadeia. É um
bom plano. A Palmira e a Cris já foram embora pra não correrem riscos. Falta a
gente.
G2: E a empresa?
Olívia desce as escadas.
OLÍVIA: Eu vou ficar pra cuidar dela!
Eles olham pra ela.
OLÍVIA: O comando da empresa de pescados agora será inteiramente meu.
(T) É o império da família que está em jogo, eu não posso largar tudo e partir
assim, do nada.
Nicole vem caminhando com o celular nas mãos.
NICOLE: Gente.
BRUNA: O que foi?
G2: Aconteceu alguma coisa?
NICOLE: Aconteceu! (T) Ele tá de volta!
G2: Ele? Ele quem?
Nicole vai falar, mas é interrompida pelas batidas da porta. Ela vai
abrir e dá de cara com G1 que adentra o local. Olívia fica surpresa/chocada.
Bruna levanta-se e também fica boquiaberta.
OLÍVIA: (em choque) Meu filho...
G1 entra e tira os óculos.
G1: (sorri) Vocês não acharam que eu tinha morrido né? Ou acharam?
Bruna e Olívia correm até ele e o abraçam, felizes. Elas se afastam. Em
seguida, Nicole o abraça também. Os dois se soltam e G1 vai caminhando até G2,
que está na cadeira de rodas. Ele senta-se no sofá, ficando frente a frente com
o irmão.
G1: (com lágrima nos olhos) O que fizeram contigo, mano?
G2: Eu tô sobrevivendo. – sorri fracamente – Como você tá?
G1: (sorri) Eu tô bem! (T) Melhor agora!
G2: (sorri timidamente) Você não imagina o quanto eu tô feliz por ver
que cê tá bem.
G1: (ri) Parece que as aulas de natação serviram pra alguma coisa né.
Eles riem. Em seguida, os dois se abraçam. Close nos dois que se abraçam
ao mesmo tempo em que choram bastante. De repente, Miguel entra na casa. G1 e
G2 soltam-se, enxugando suas lágrimas e o encaram. Close na expressão de
Miguel, surpreso. Fade out.
CENA 28/ HANGAR/ EXTERIOR/ NOITE.
Fade in. Bruna acompanha G2, empurrando sua cadeira de rodas na direção de
um jatinho que está aguardando-os. Miguel, Olívia, G1 e Nicole os acompanham
mais atrás.
G1: (falando baixo para Miguel) Tem certeza que essa merda vai dar mesmo
certo né, pai?
Trilha Sonora: “Believer – Imagine Dragons”
MIGUEL: (fala baixo) Absoluta! E você voltou numa boa hora, filho. Assim
a gente poupa seu irmão. (olha pra ele) Você já sabe o que fazer né?
G1: (retribui) Já sim!
Eles olham pra frente. Veem G2 sendo colocado dentro do jatinho com a
ajuda de alguns homens. Bruna dá uma última olhada pra todos eles e acena de
longe, entrando no jatinho em seguida. O avião começa a dar partida, até que
decola.
Miguel e G1 trocam olhares.
CENA 29/ CASA DE CAMPO/ BANHEIRO/ INTERIOR/ MANHÃ.
Trilha continua.
Close em G1, que está só de toalha e olha-se no espelho, se barbeando.
CORTA para ele que termina de enxaguar o rosto e logo o enxuga com outra
toalha.
CENA 30/ CASA DE CAMPO/ QUARTO/ INTERIOR/ MANHÃ.
Trilha continua.
G1 termina de se vestir e de pentear os cabelos, olhando-se no espelho.
CORTE: ele terminando de arrumar algumas malas com a ajuda de Nicole e
saindo do local, carregando-as.
CENA 31/ DELEGACIA/ CELA/ INTERIOR/ MANHÃ.
Trilha continua.
Ravena está sentada no chão sujo da cela. Um policial se aproxima e abre
a cela. Ela se levanta.
POLICIAL: Vem comigo, dona!
Ela fica sem entender.
RAVENA: O que tá acontecendo?
POLICIAL: Não faz pergunta. Vem!
Ela fica desconfiada, mas resolve obedecê-lo.
CENA 32/ DELEGACIA/ FUNDOS/ EXTERIOR/ MANHÃ.
Trilha continua.
Ravena sai pelos fundos acompanhada do policial, que a segura pelo
braço, levando-a em direção a um carro preto. O policial abre a porta e Ravena
entra.
CORTA PARA o interior do carro. Ravena olha pro lado e percebe que está
sentada ao lado de Nicole, que sorri pra ela.
NICOLE: Tudo bom, sogrinha?
RAVENA: (sem entender) O quê?
Miguel (que está no banco do carona) olha pra ela.
CORTA para o exterior do carro. O policial se dirige até a janela do motorista.
O vidro da janela é abaixado. G1, de óculos escuros e no volante, entrega a
ele a caixa de joias de Alexandra, que ele surrupiou de Mário Gerson
depois que o matou e fugiu com suas coisas.
G1: (sorrindo para o policial) Joias legítimas, meu amigo. Ótimo
pagamento pela ajuda que você nos deu em tirar minha mãezinha da cadeia. Presa
por um crime que nem cometeu, cê vê né?!
POLICIAL: Foi ótimo fazer negócios com o sr.
G1: Digo o mesmo!
Ele levanta o vidro da janela e dá a partida no carro.
Trilha off.
CENA 33/ CARRO/ INTERIOR/ MANHÃ.
Dentro do carro, Ravena ainda sem entender o que aconteceu exatamente.
RAVENA: (sem entender) O que foi isso aqui?
G1: (dirigindo) Ué, mãe, a gente tirou você da cadeia. Não tá feliz?
MIGUEL: Agora nós vamos nos mandar desse país.
RAVENA: O quê? Como assim?
NICOLE: Relaxa que tá tudo sob controle.
Fade out.
CENA 34/ PORTUGAL/ SETÚBAL/ PLANOS GERAIS/ EXTERIOR/ NOITE.
Fade in. Planos gerais da cidade ao anoitecer.
“Sete meses depois”
CENA 35/ CONDOMÍNIO/ CASARÃO/ PISCINA/ EXTERIOR/ NOITE.
G1 está numa mesa ao lado de Nicole, Bruna, Eduardo, Guilherme,
Almerinda, Ravena, Cristina e Miguel. Eles conversam, aos risos. Palmira chega
com uma travessa de carne assada e põe em cima da mesa. Todos comemoram.
NICOLE: Que delícia.
PALMIRA: É bom vocês aproveitarem enquanto é tempo, porque logo logo tô
voltando pro Brasil.
BRUNA: Ué, por que Palmira? Ficou doida?
PALMIRA: Gente, eu prometi a Olívia que iria acompanhar ela nas
consultas com o psicólogo né?!
RAVENA: Como ela tá, Palmira? Tá bem? Já tem um tempão que não falo com
a Olívia.
PALMIRA: Até que tá reagindo bem. Graças a Deus nunca mais bebeu... tá
tudo ótimo.
NICOLE: (para Guilherme) Eu falei com o nosso advogado e ele já tá
ajeitando toda a papelada pra gente poder resolver aquele problema.
MIGUEL: Que problema?
GUI: Do restaurante que eu trabalhava. A gente processou o dono, meu ex
patrão.
NICOLE: Por mim eu colocaria fogo naquele lugar, isso sim.
Eles riem do comentário dela (por mais absurdo que seja).
G2 está distante, na sua cadeira de rodas, com um olhar pensativo. Close
no olhar dele.
GETÚLIO: (voz) Meu neto... A gente devia brindar, sabia?
Ele fica pensativo.
FLASHBACK ON DA CENA 16 DO CAPÍTULO 21:
Getúlio
vai até o cofre, fechando-o e colocando o quadro com o retrato de Alex na
frente, como sempre.
G2:
Brindar a quê?
Getúlio
se afasta do quadro e caminha até uma mesa com várias bebidas.
GETÚLIO:
Que nós dois nos reencontramos!
G2
olha atentamente pro retrato. Close no quadro. Em seguida, ele fica pensativo.
É
nesse momento que entra vários flashes de cenas de Alex e Samuca desde
o momento em que se reencontraram lá no início, até o momento da explosão da
lancha.
Fim
do flash.
Close
na expressão de G2, como se tivesse levado um choque.
A
câmera fica lenta. Ele olha para Getúlio (que está enchendo os copos com
uísques), em choque. G2 olha pro quadro. Close no retrato de Alex, na parede. A
câmera volta na velocidade normal.
G2:
(fala baixo, para si) Lembrei...
CLOSE
EM GETÚLIO, que tira do bolso do casaco um vidro com veneno e
despeja em um dos copos.
Getúlio
volta com os copos cheios e entrega um dos para G2, que disfarça.
GETÚLIO:
(ergue o copo) Ao nosso reencontro.
G2
ergue o copo também. Depois, os dois brindam. G2 o encara.
G2:
Bonito esse quadro, não?
Getúlio
se vira e olha pro retrato de Alex.
Nesse
momento, G2 troca os copos sem que Getúlio perceba.
GETÚLIO:
(olhando o quadro) Você gostou é?
Ele
olha novamente para G2, que está encarando-o com o copo na mão.
G2:
(sorrindo) Achei uma maravilha de obra de arte.
Ele
bebe o uísque, fazendo uma cara feia. Getúlio solta uma gargalhada e em
seguida, bebe o uísque também. G2 se levanta.
G2:
Eu vou... Vou voltar pra cama. (T) Eu preciso descansar. Com licença.
G2
caminha em direção a porta do escritório e sai.
Getúlio
ri.
GETÚLIO:
Ah, que idiota...
Em
seguida, ele para de rir, quando passa se sentir mal. Getúlio põe a mão no
peito. Ele olha pro copo de uísque vazio. Getúlio cai no chão e agoniza.
FLASHBACK OFF.
Close no olhar pensativo de G2, iluminado por uma lâmpada fixada no
gramado do jardim.
G2: (para si) Nunca gostei de cachaça.
Câmera fica lenta.
CORTA PARA Palmira, que está de pé, servindo todos ali na mesa. G2 olha
pra ela, que retribui o olhar. Em seguida, ela olha pra Miguel, que dá um
sorriso.
FLASHBACK ON:
Palmira
vem da cozinha da mansão, entrando pelo corredor que leva para a sala de Jantar
e vê o exato momento em que G2 sai do escritório. Ela caminha até lá. Close na
faca que segura nas mãos. Ela abre a porta do escritório e vê Getúlio
agonizando no chão após ter tomado o uísque envenenado. Ela abaixa-se no chão e
em seguida, crava a faca no peito dele. Close no sangue se esvaindo do peito de
Getúlio.
PALMIRA:
Isso foi pela minha irmã, velho desgraçado!
Ela
se levanta e vai sair do escritório, mas dá de cara com Miguel ao abrir a
porta. Ele vê Getúlio caído no chão com a faca cravada no peito.
MIGUEL:
(assustado) O que você fez?
PALMIRA:
(fria) Fiz o que tinha que ser feito!
Os
dois trocam olhares. (Depois disto, vem a cena que Ravena recebe uma
cacetada na cabeça e acaba sendo acusada pelo crime. Fica aqui a pergunta
no ar, sobre quem teria feito isso: Miguel ou Palmira).
FLASHBACK OFF.
Close em G2, pensativo. G1 sai de perto dos outros e caminha até ele.
G1: Tá pensativo, irmão. (T) Que foi? No que cê tá pensando hein?
G2: (olha pra ele e sorri) Em nada.
Em seguida, volta a ficar pensativo. G1 pega uma cadeira que estava ali
perto e senta-se ao lado dele.
G1: Eu preciso te devolver uma coisa.
G2 olha pra ele.
G2: O quê?
G1 tira um anel do bolso e mostra a G2. Em seguida, põe o anel no dedo
dele.
ALEX: O anel que a Bruna te deu de presente antes da gente sofrer aquele
atentado na lancha. (T) Eu acabei encontrando e guardei ele pra você... Samuca!
Samuca olha o anel em seu dedo. Em seguida, deixa lágrimas rolarem em
seu rosto.
Alex sorri pra ele. Em seguida, o abraça. Câmera foca nos dois e vai se
afastando. Fade out.
CENA 36/ CONDOMÍNIO/ CASARÃO/ SALA/ INTERIOR/ NOITE.
Fade in.
Câmera vem passeando pela casa e mostra diversos porta retratos da
família, que estão ali. Em seguida, foca num retrato de Alex e Samuca, juntos,
sorrindo.
NARRADOR: “Todos temos o bem e o mal dentro de si, mas o que realmente
importa não são as semelhanças e sim as diferenças.
— Harry Potter e a Ordem da Fênix.
Com o foco na fotografia de Alex e Samuca, a cena vai dando fade
out aos poucos.
.
.
.
.
.
Esta foi uma obra de ficção sem compromisso com a realidade.
Postar um comentário