Uma novela original WNC
Autora: Megan Clarke
Capítulo 03
“O
Reflexo”
CENA 1/CASA DE
RAVENA/SALA/INTERIOR/NOITE.
Continuação imediata
da última cena do capítulo anterior. Samuca revelou a verdade para Miguel, que
ficou estarrecido ao saber que Alex, seu outro filho que ele acreditava estar
morto, na verdade está vivo.
MIGUEL:
(desacreditado) Meu filho... vivo?
SAMUCA: (sério) Sim, pai!
Verena põe a mão na cabeça, tensa.
SAMUCA: Agora o senhor vê? Tá vendo que a mãe mentiu? Mentiu uma vez,
mentiu de novo!
MIGUEL: (em choque e com lágrimas nos olhos) Meu Deus... como a Ravena
pôde ter inventado isso... como ela foi capaz de ter escondido de mim que o meu
filho tava vivo?
VERENA: A Ravena teve seus motivos, ela teve medo!
MIGUEL: Medo porquê?
VERENA: Porque foi ameaçada pelo próprio pai! Se ela chegasse perto do
Alex ou da mansão, ele mandaria matar todos nós. Ela queria proteger a gente e proteger
o Alex também. Aquele homem é um demônio, capaz de tudo!
MIGUEL: (confuso) Não, isso não faz sentido.
SAMUCA: O que não faz sentido é vocês terem escondido isso esses anos
todos. Já se passaram dezesseis anos desde a última vez que eu vi o meu irmão,
essa história de mentira já deveria ter terminado faz tempo! E vocês acham
mesmo que aquele velho imundo ia se preocupar com a gente? (T) E não foi só a
mãe que mentiu não! Você pai, mentiu pra gente. Você, vó, mentiu pro pai,
mentiu pra minha mãe e mentiu pra mim! Essa casa e essa família são formadas na
base da mentira! (T) Vocês são ridículos! Querem saber? Eu já cansei dessa
palhaçada!
Samuca vai em direção ao seu quarto. Miguel e Verena vão atrás.
CENA 2/QUARTO DE CRIS/INTERIOR/NOITE.
Cristina fica estarrecida com o que acabara de ouvir e abre lentamente a
porta do seu quarto, observando todo o movimento pela greta.
CENA 3/QUARTO DE SAMUCA/INTERIOR/NOITE.
O guarda-roupa de Samuca tá aberto e ele, revoltadíssimo, começa a tirar
várias roupas de lá e pondo em uma mochila que está em cima da cama. Miguel e
Verena estão lá apreensivos com a atitude dele.
MIGUEL: Filho, para de fazer isso!
VERENA: Samu, vamos conversar numa boa, esclarecer tudo isso sem alarde.
SAMUCA: Eu tô fazendo o que há muito tempo deveria ter feito.
MIGUEL: Se sua mãe chega aí e te vê com essa picuinha meu filho, já
pensou?
SAMUCA: Eu não tô nem aí se ela vai achar bom ou ruim, eu tô é cansado
de tanta mentira! Eu vou embora dessa casa de uma vez por todas!
Miguel agarra Samuca pelo braço e fixa seus olhos nele.
MIGUEL: Filho, presta atenção: você tá de cabeça quente. Quando você
fica de cabeça quente, cê só faz merda, então se acalma, larga essa porcaria
dessa mochila aí e vamos conversar como duas pessoas adultas!
SAMUCA: Conversar pra quê? Pra você me falar mais mentiras? Qual vai ser
a próxima? Que eu sou o filho perdido do Michael Jackson?
VERENA: Seu pai tem razão, meu filho. Vamos conversar feito... (finge
passar mal) Ai, minhas pontadas.
MIGUEL: (se preocupa com ela) Ah, mãe, não tomou seus remédios de novo?
SAMUCA: Aí ó! Tô dizendo! Mais uma mentira! Não adianta, vó, eu já
conheço seus truques de araque. A mim você não engana não!
Samuca pega sua mochila e sai do quarto. Verena rapidamente volta ao
normal.
VERENA: (reclama) Mas que moleque malcriado!
CENA 4/CASA DE RAVENA/SALA/INTERIOR/NOITE.
Samuca vem do quarto com sua mochila nas costas e caminha em direção a
porta. É nesse momento que Miguel e Verena vêm e param no meio da sala. Samuca
está prestes a abrir a porta.
MIGUEL: Para agora, Samuca!
SAMUCA: (volta) O senhor não vai me impedir de ir embora!
MIGUEL: Você não ouse passar por essa porta, ou...
SAMUCA: Ou o quê? (T) O que você vai fazer? Vai me bater? Vai me
espancar?
MIGUEL: Se você passar por essa porta, não precisa mais voltar pra casa/
VERENA: (repreende) Miguel!
Miguel faz um sinal para Verena, de quem sabe o que está fazendo.
SAMUCA: (sorri ironicamente) Ótimo! Por que é isso mesmo que vai
acontecer: Eu não vou voltar pra essa casa nunca mais!
Ele abre a porta e sai.
MIGUEL: (indo atrás) SAMUCA!
VERENA: (impedindo-o) Não, deixa ele ir! Deixa!
MIGUEL: (nervoso) Ele vai fazer merda, ELE VAI FAZER MERDA!
VERENA: Ele já não é mais nenhuma criança, sabe o que faz da vida. Deixa
lá, depois ele volta.
MIGUEL: Será que volta mesmo, mãe? (T) Será que volta?!
Ele encara Verena com ar de preocupação. Close na porta do quarto de
Cris, que observava toda a ação pela greta da porta.
CENA 5/JARDIM ORESTES/BAR/EXTERIOR/NOITE.
Continuação da cena 19 do capítulo anterior: Alex confronta Olívia ao
flagrá-la conversando com Ravena.
ALEX: E então, não vai me contar que segredo é esse?
OLÍVIA: E por que eu teria que te dizer, meu filho?
ALEX: Não sei, mas cê tá com uma cara de que tem culpa no cartório...
(se referindo a Ravena) e quem é essa mulher?
RAVENA: (estende a mão) Luísa, prazer!
ALEX: (frio) Dispenso as apresentações!
Ravena recua, sem graça.
OLÍVIA: (para Alex) Mas e aí, veio fazer o quê aqui? Me seguiu por que?
ALEX: Você anda tão misteriosa, mãe. Eu só tava afim de ver até onde
você ia com seus segredinhos. (olha o copo de cerveja na mesa) Voltou a beber?
Que maravilha! O doutor Getúlio vai adorar quando souber.
OLÍVIA: (por cima) Você não vai falar nada pra ele!
ALEX: Eu faço isso porque eu me preocupo com você e sei o quanto foi
difícil aquele tempo que cê ficou na casa de reabilitação.
RAVENA: (para Olívia) Do que ele tá falando?
ALEX: Não é da sua conta!
Ravena fica estarrecida pela forma como é tratada por ele.
ALEX: (a Olívia) O vovô sabe que você anda de conchavo com essa
gentinha?
OLÍVIA: Não e nem precisa saber!
RAVENA: (ofendida) Espera aí, gentinha não!
ALEX: Como você ousa me dirigir a palavra nesse tom?
RAVENA: (para Olívia) Vejo que ele já foi influenciado pelo preconceito
imundo daquele velho né?
ALEX: Você fala do meu avô assim de novo e vai se arrepender!
OLÍVIA: (levemente irritada) Vocês dois não vão brigar aqui né?
RAVENA: (encarando Alex) Eu tô me sentindo decepcionada. (para Olívia)
Você criou muito mal o meu filho!
ALEX: (desacreditado) O que você disse?
Close em Ravena, que percebe que falou demais.
CENA 6/PRAIA/EXTERIOR/NOITE.
(Trilha Sonora Instrumental: The Scientist - Coldplay)
Samuca vem andando pelas areias da praia com sua mochila nas costas.
Close em seu rosto cansado, que aparenta tristeza profunda. A lua no céu
ilumina o local, enquanto o barulho do mar invade a cena.
CRISTINA: (off) Samuca!
Samuca para de andar. Ele olha pra trás e fica surpreso ao ver Cris
correndo na sua direção.
SAMUCA: (surpreso) Cris?!
Ela consegue chegar até ele.
(Trilha Sonora off.)
Samuca se abaixa, ficando na mesma altura que ela.
SAMUCA: (preocupado) O que cê tá fazendo aqui, Cris? Cê devia estar
dormindo!
CRISTINA: (marejando) Não vai embora, por favor! (começa a chorar) Não
me deixa sozinha naquela casa.
Num impulso, Samuca abraça a irmã, que chora compulsivamente.
Automaticamente, ele acaba deixando derramar algumas lágrimas também.
CENA 7/JARDIM ORESTES/BAR/EXTERIOR/NOITE.
Continuação da cena 5: Alex, incrédulo com o que Ravena disse, encara
ela e Olívia.
ALEX: (para Ravena) O que você disse?
OLÍVIA: (nervosa) Ela não disse nada!
ALEX: (irônico) Então eu tô tendo alucinações. (para Olívia) Ela acabou
de dizer que você criou mal seu filho!
OLÍVIA: (nervosa) É, mas ela não tava falando de você não.
ALEX: (irônico) Então tava falando de quem? Do presidente desse país?
OLÍVIA: (ri, nervosa) Se um dia você se tornar presidente/
RAVENA: (corta) Olívia, você tá piorando as coisas, fica quieta!
ALEX: Eu quero saber que história é essa!
OLÍVIA: (nervosa) Nada, meu filho... (para Ravena) Você tá sendo
incoerente, Ravena. Tu me disse que a gente ia resolver aquele outro problema e
olha só o problemão que a gente tá agora.
ALEX: (para Ravena) Ravena? Mas você não se chamava Luísa há três
minutos?
RAVENA: (para Olívia, levemente irritada) Se você não calar essa boca
agora eu enfio essa garrafa de cerveja no seu gargalo!
ALEX: (para Olívia) Peraí. (pensativo) Ravena não é aquela sua irmã que
o vovô expulsou de casa?
Olívia e Ravena se entreolham. Alex encara as duas.
ALEX: Agora eu já saquei tudo! É ela mesma pelo visto, né?
RAVENA: (baixo, para Olívia) Não dá mais!
OLÍVIA: (para Alex) É ela sim!
ALEX: (por cima) E que história é essa de filho?
RAVENA: Cês não acham melhor a gente resolver isso num outro lugar?
OLÍVIA: (nervosa) Eu apoio!
ALEX: Eu quero resolver isso agora!
OLÍVIA: Mas aqui, com todo mundo olhando?
ALEX: Eu quero que todo mundo se dane!
Alex olha a sua volta e só agora percebemos curiosos observando a
discussão dos três.
ALEX: (para os curiosos) Que é? Tão gostando da treta?
OLÍVIA: (com vergonha) Alex, deixa de escândalos! (T) É melhor a gente
ir pra casa e resolver isso lá, por favor.
ALEX: Eu quero a verdade! Eu quero saber o que você tá escondendo de
mim.
OLÍVIA: Eu prometo te falar tudo se a gente for pra casa agora!
Alex respira fundo, mexe no cabelo descontroladamente, nervoso.
ALEX: (direto) Eu vou dirigindo! Vim com o motorista, ele te leva no
caso de você querer fugir e desviar a rota.
Alex encara Ravena por um tempo, que fita os olhos nele e em seguida se
afasta.
Olívia olha para Ravena rapidamente, mas logo depois se afasta.
Close em Ravena que fica aflita, respirando fundo. Ela não se contém e
começa a chorar, despencando na cadeira do bar. Tempo. Foco nela, que respira
fundo e para de chorar.
CENA 8/PRAIA/EXTERIOR/NOITE.
Continuação da cena 6: Samuca termina de abraçar Cris, ambos choram
compulsivamente.
CRISTINA: (chorando) Não vai embora.
SAMUCA: (limpando as lágrimas) Não dá mais pra eu ficar lá, gatinha/
CRISTINA: (chorando) É por causa dele né?
SAMUCA: De quem?
CRISTINA: (marejando) Do Alex. Eu ouvi tudo! Eu ouvi você dizendo que
ele tá vivo. (T) Você tá saindo de casa por causa dele né?!
SAMUCA: Eu não aguento mais tanta inverdade!
CRISTINA: (marejando) Você não pode me deixar, Samu. Quem é que vai me
fazer companhia todo dia antes de ir pro colégio? Quem vai olhar o mar comigo
toda noite antes de dormir? Eu não vou ter mais ninguém pra chamar de pé no
saco, pô.
Samuca a encara com lágrima nos olhos.
SAMUCA: Olha só: Eu não vou embora pra longe, tá? Eu prometo que todos
os dias eu vou te levar pro colégio e que todos os dias a gente vai olhar o mar
de noite antes de dormir. (puxando-a) Vem cá.
Eles se abraçam de novo, desta vez, um abraço mais demorado.
Depois de um tempo, se soltam.
SAMUCA: (se levanta) Agora vai! Volta pra casa... eu vou ficar daqui olhando
você. Vai!
Ela vai andando, se afastando, sempre olhando pra trás. Close em Samuca,
vendo-a ir embora, inconsolável.
CENA 9/CASA DE NICOLE/SALA/INTERIOR/NOITE.
Casa simples, bem estilo aqueles casebres praianos à beira mar. A
televisão está ligada. Tevê simples, de 14 polegadas e com conversor digital. A
porta se abre e Guilherme entra na casa. Nicole logo vem da cozinha.
NICOLE: Ah, finalmente apareceu.
GUI: (sem entender) Que foi? Aconteceu alguma coisa?
NICOLE: Não, era só preocupação mesmo.
Nicole vai até ele e o abraça.
NICOLE: Eu fiz o jantar!
GUI: (desanimado) Eu não tô com fome.
NICOLE: (curiosa) Posso saber o porquê?
GUI: (desanimado) Nada, só tô cansado!
NICOLE: Tem certeza?
GUI: Tenho!
NICOLE: (se afasta) Ó lá hein! (e se senta no sofá) Se tiver com algum
problema nem adianta esconder de mim que eu acabo descobrindo de qualquer
jeito, você sabe como eu sou.
GUI: Eu nem perco meu tempo tentando esconder alguma coisa de você.
NICOLE: (fazendo bico) Não foi alguma coisa que eu falei né?
GUI: Não, não foi! Não precisa se preocupar comigo.
Guilherme vai andando em direção ao seu quarto, quando volta.
GUI: Ah, eu encontrei o Samuca mais cedo!
NICOLE: É, a gente se viu... ele não tava nada bem, a gente teve uma
discussão... Mas a gente se resolveu.
GUI: Ainda bem né?! (T) Eu vou dormir, tô morto!
NICOLE: Vai lá, dorme com Deus!
Ele entra no quarto. Nicole volta sua atenção para a tevê, na qual está
sendo exibida uma coletiva de imprensa: jornalistas entrevistando Getúlio em
frente à empresa de pescados. Não é possível ouvir claramente as palavras dele,
apenas a voz embaralhada ao fundo. Close na expressão de raiva de Nicole.
NICOLE: Velho desgraçado!
Foco agora na tevê, em Getúlio dando a entrevista.
NICOLE: O que é seu tá guardado, Getúlio. Você vai devolver tudo o que
tirou de mim! Tudo!
Close nela.
CENA 10/MANSÃO CAVALCANTI/QUARTO DE BRUNA/INTERIOR/NOITE.
Suíte aconchegante, parede em tons claros, cama de casal no centro e uma
passagem atrás que leva em direção ao banheiro.
Mário está sentado numa cadeira e escrevendo num papel em cima da mesa,
enquanto Bruna está mais atrás, observando. De repente, ele se levanta e
caminha em direção a ela.
MÁRIO: (entregando o papel) Aqui está!
BRUNA: (pegando o papel) Eu sabia que podia contar com a sua ajuda.
Ela se afasta, porém, Mário a intercepta.
MÁRIO: E o nosso trato?
BRUNA: (fria) A gente não tem trato nenhum!
MÁRIO: É claro que a gente tem. Ou você acha que essa informação vai
sair assim, de graça?!
BRUNA: (sarcástica) Eu te dei aquilo que a sua mulher não te dá há muito
tempo. Foi uma troca justa, você não acha?
MÁRIO: Eu não sou um homem de me contentar com pouco!
BRUNA: Então a gente faz assim: Eu te dou cinquenta por cento de todos
os meus bens incluindo a minha parte na herança do velho.
MÁRIO: Ué, só isso?
BRUNA: Só isso?! Cinquenta por cento da minha parte na herança de
Getúlio Pires Cavalcanti. Você acha mesmo que é pouca coisa?
MÁRIO: Você pensa que eu sou idiota, Bruna?
BRUNA: (sorrindo ironicamente) É pegar ou largar!
Mário respira fundo e a encara.
MÁRIO: É melhor que nada né? (T) Fechado!
Bruna caminha em direção a porta e abre. Mário se vira e anda até lá,
ficando frente a frente com Bruna. Eles se encaram. Mário tenta beijá-la, mas
ela desvia o rosto. Ele dá um sorriso sacana e sai do quarto.
Bruna fecha a porta e caminha pelo cômodo, olhando fixamente para o
papel. De repente, a porta se abre e Palmira entra no local.
PALMIRA: O que esse homem tava fazendo aqui? O que/... (vê um papel nas
mãos de Bruna) O que é isso?
BRUNA: (sorrindo) Advinha... É a senha, meu bem!
PALMIRA: (impressionada) Você conseguiu?
BRUNA: (sorrindo) Pois é!
Bruna se joga na cama, rindo de felicidade. Palmira caminha pelo cômodo
e para aos pés da cama, encarando Bruna.
PALMIRA: (interessada) Como foi que você conseguiu a senha?
BRUNA: Ué, cê não perguntou o que o Mário estava fazendo aqui no quarto?
Então...
PALMIRA: (desacreditada) Não, você não fez isso...
Bruna respira fundo e revira os olhos.
PALMIRA: (desacreditada) Você transou com esse homem por causa dessa
porcaria?
BRUNA: (irritada) Porcaria que vai me levar aos documentos que eu
preciso. (T) E eu transei mesmo, qual o problema?
PALMIRA: (alterada) Você! Você é o problema, ficou louca de vez!
BRUNA: (irônica) Confesso que fiquei... Fiquei bem louca quando ele me
pegou de jeito. (T) Vou te contar viu?! O que tem de mau caráter, tem de
gostoso!
PALMIRA: Você sabe que isso é perigoso né? Que agindo assim você pode
acabar com tudo?!
BRUNA: (irritada) Deixa de ser ridícula, se você não fosse tão incompetente
eu nem precisaria ter transado com o cara.
PALMIRA: Tinha outras formas de você conseguir essa senha/
BRUNA: (corta) Ouvindo conversa através da parede? Vigiando pelo buraco
da fechadura? Deixe de ser idiota, Palmira! (T) O que importa é que eu consegui
o que eu queria.
PALMIRA: E o Alex?
BRUNA: Às vezes temos que sacrificar algumas coisas para conseguir
outras, já dizia um velho sábio!
PALMIRA: Você às vezes é tão contraditória...
BRUNA: Igual a você que vive metendo o pau em mim por gostar do Alex e
tá aí perguntando (imita) “e o Alex?”.
PALMIRA: Eu tô realmente sem acreditar até agora que o Mário te deu essa
senha assim, de mão beijada.
BRUNA: Você tem que entender o psicológico das pessoas, Pal! (T) O Mário
quando vê uma mulher como eu só pensa com a cabeça de baixo. É claro que eu ia
acabar conseguindo a senha desse cofre de qualquer jeito. (se levanta) Agora
sai! Sai, sai, sai, sai que eu vou tomar meus comprimidos e ir dormir porque
amanhã eu tenho que estar linda e maravilhosa... para abrir o cofre, é claro!
Ela vai até a porta, rindo debochada, e abre. Palmira caminha em direção
a saída do quarto e para diante de Bruna.
PALMIRA: Você não vai me ouvir nunca né?
BRUNA: (sorri) Boa noite pra você também, Palmira!
Bruna faz sinal para que ela saia.
Palmira sai do quarto e Bruna fecha a porta em seguida, ficando
pensativa.
CENA 11/MANSÃO CAVALCANTI/SALA/INTERIOR/NOITE.
Alex adentra na mansão como um furacão, seguido por Olívia, que bate a
porta. Alex para no meio da sala, mexendo nos cabelos sem parar, nervoso,
inquieto.
ALEX: (nervoso) Pronto, a gente já tá em casa.
OLÍVIA: Filho/
ALEX: (estressado) Começa a falar sem enrolação! Eu quero que você me
explique porque aquela mulher disse que você criou muito mal o filho dela. Esse
filho sou eu né? (T) Olha aqui, mãe, eu quero a verdade de uma vez por todas.
Eu exijo saber o que tá acontecendo.
Olívia respira fundo e anda pela sala. O olhar de Alex a acompanha.
OLÍVIA: (nervosa) Calma, Alex. Eu vou te contar a verdade.
Olívia olha para Alex profundamente.
OLÍVIA: (marejando) Eu não sei como te dizer isso.
MÁRIO: (off) Ela não sabe...
Olívia olha pra trás e vê Mário vindo da direção da cozinha, vestindo o
mesmo roupão da cena anterior e com uma maçã na mão.
MÁRIO: (cont.) Mas eu sei! – e morde a maçã.
ALEX: (para Olívia) Do que ele tá falando?
MÁRIO: Ué, do mesmo assunto que vocês, aliás... (para Olívia) Você foi
muito burra de ter deixado ele descobrir assim tão fácil.
Olívia abaixa a cabeça.
OLÍVIA: Sai daqui! Sai e deixa eu conversar com meu filho em paz.
MÁRIO: Seu filho não, filho dela!
OLÍVIA: (grita) Cala a boca! Cala essa boca!
Mário começa a gargalhar diante dos gritos de Olívia.
MÁRIO: (para Alex) Pelo visto você já sabe né filhinho, que você não é
nosso filhinho?!
Alex olha para Olívia com lágrimas nos olhos, ela desvia o olhar.
MÁRIO: (sorrindo enquanto come a maçã) Ainda bem que cê descobriu a
tempo, porque eu não aguentava mais fingir que era teu pai! (T) Aliás, pai
mesmo eu nunca fui né? Vai ver é porque eu nunca quis ser.
Olívia começa a chorar compulsivamente, em silêncio.
Alex vai respirando ofegante.
ALEX: (desacreditado) Você... mentiu pra mim, mãe? (T) Você me enganou?
Olívia continua intacta, em silêncio.
ALEX: (desacreditado) Sua desgraçada!... (grita) SUA DESGRAÇADA! (T)
VOCÊ ME ENGANOU! (vai até ela e a agarra pelos braços) POR QUE? POR QUE VOCÊ ME
ENGANOU? Por que você mentiu pra mim? Hein? FALA! ABRE ESSA SUA BOCA E ME DIZ A
VERDADE PELO MENOS UMA VEZ NA SUA VIDA. FALA! Eu sou filho daquela mulher, não
é? (a solta e joga um vaso contra a parede) FALA! (T) Eu sou filho daquela
mulher?! Fala, desgraçada! (começa a chorar) Eu sou filho dela?!
Ao invés de responder, Olívia apenas chora, numa atitude que dá a
entender muito mais que qualquer palavra. Alex têm a mesma reação que ela,
porém, um choro mais desesperador. Mário continua mordendo a maçã e assistindo
tudo com um sorriso de canto de boca.
De repente, Getúlio aparece na sala, veio do escritório.
GETÚLIO: Alex!...
Alex volta sua atenção para ele.
ALEX: (chora, sem acreditar) É verdade? – olha pros três ao mesmo tempo
– vocês me enganaram?
MÁRIO: Eu não enganei ninguém. Nunca escondi de você que não era seu
pai, até você mesmo chegou a afirmar isso pra mim uma vez. Bom, eu deixei todas
as pistas pra você durante esses anos todos, a culpa não é minha se você não
conseguiu ser um bom observador.
Olívia respira fundo, levanta a cabeça e encara o filho com os olhos
cheios de lágrimas, enquanto Alex olha pros três ao mesmo tempo.
ALEX: A minha vida inteira foi uma mentira!
OLÍVIA: Não, não foi!
ALEX: (grita) FOI SIM! Foi uma mentira, uma ficção que vocês três
criaram juntos. (T) Eu tenho nojo de vocês! Eu tenho nojo de vocês, vocês três
são nojentos, eu é que não fico um minuto a mais nessa casa!
Alex sobe em direção ao quarto, enquanto Olívia volta a chorar
desesperadamente.
GETÚLIO: Vai atrás dele, Olívia!
Olívia fica paralisada no meio da sala, sem reagir.
GETÚLIO: (grita) VAI ATRÁS DELE OLÍVIA!
Rapidamente, Olívia sai correndo da sala, em desespero e sobe as
escadas.
Getúlio vai até Mário e o agarra pelos braços.
GETÚLIO: (furioso) E você? Como você pôde contar a ele a verdade, seu
filho da puta?!
MÁRIO: O que é isso, doutor Getúlio? (T) Não tô entendendo sua revolta,
eu achei que o senhor ia ficar contente... Oh, não, esqueci que o senhor adora
inventar mentiras né?.
GETÚLIO: (com ódio) Cale essa boca maldita!
E dá um tapão na cara dele. Volta a agarrá-lo pelo braço.
GETÚLIO: (com raiva) Olha aqui: Se o Alex passar por aquela porta e não
voltar, você vai se arrepender pelo resto da sua vida.
MÁRIO: O senhor é quem vai se arrepender se ousar fazer alguma coisa
contra mim, porque ao contrário das retardadas das suas filhas eu não sou
nenhuma mosca morta. E eu te aviso que é melhor me ter como seu aliado do que
como seu inimigo! Um dia o senhor vai me agradecer por eu ter feito o que fiz
hoje.
E solta-se dele, indo para a cozinha. Getúlio fica pensativo.
CENA 12/MANSÃO CAVALCANTI/QUARTO DE ALEX/INTERIOR/NOITE.
Alex termina de pôr suas coisas numa mala e vai saindo do quarto, quando
Olívia aparece e fica em sua frente.
ALEX: Sai da minha frente!
OLÍVIA: Eu não vou sair sem a gente ter uma conversa antes.
ALEX: Eu não quero conversar, tudo o que a gente tinha pra falar já foi
dito!
OLÍVIA: Filho, escuta a mamãe/
ALEX: (grita) VOCÊ NÃO É A MINHA MÃE! (revoltado) Sai da minha frente
agora! Sai! Me deixa ir embora!
OLÍVIA: (marejando) Mas/
ALEX: (grita) SAI!
Alex tira Olívia da sua frente e sai, arrastando sua mala. Olívia sai do
quarto e vai atrás dele.
CENA 13/MANSÃO CAVALCANTI/FRENTE/EXTERIOR/NOITE.
Faixada da mansão, iluminada por lâmpadas fixadas no gramado. Alex abre
a porta e vai em direção ao seu carro, abrindo a porta, pondo sua mala no banco
do carona e em seguida, entrando no carro.
Olívia sai pela porta.
OLÍVIA: (grita enquanto corre atrás do carro) ALEX! Volta aqui!
Ele dá a partida e dirige o carro em direção aos portões da mansão, que
logo se abrem. Olívia continua correndo atrás dele, aos prantos, até que
desiste e para no meio do caminho. Close nela, chorando.
CENA 14/CASA DE RAVENA/SALA/INTERIOR/NOITE.
A porta se abre e Ravena entra, dando de cara com Miguel, que está
sentado no sofá esperando por ela e com um olhar de quem está furioso.
MIGUEL: Onde você estava?
RAVENA: Eu fui encontrar uma amiga, eu tinha dito pra você.
MIGUEL: (encarando-a) Não adianta mentir Ravena, eu sei que você não tá
falando a verdade.
RAVENA: (assustada) Como assim? (T) Meu amor, eu fui me encontrar com
uma amiga, pra quê essa desconfiança toda?
MIGUEL: Quem muito mente, chega uma hora que não consegue mais esconder
que está mentindo e isso tá estampado no teu rosto.
RAVENA: (sem entender) Como... (pausa) o que você quer dizer?
MIGUEL: Quer dizer que eu já sei da verdade! (T) Eu já sei que o meu
filho tá vivo!
Ravena entra em estado de choque e olha para Miguel, assustada. Close
nela.
CENA 15/JARDIM ORESTES/PRAIA/CAIS/EXTERIOR/NOITE.
Samuca está sentado na área exterior ao bar em frente à praia, com sua
enorme caneca de café na mão e sua mochila nas costas. Apesar de já ser muito
tarde, a rua continua movimentada.
Câmera vai pegar o outro ponto do local, onde um carro é estacionado.
No interior do carro, vemos Alex, que está bastante abalado por todas as
emoções que viveu naquela noite. Ele fica pensativo e em seguida, cai num choro
profundo, seguido de vários socos no volante. Ele se cansa de bater no volante
e se debruça sob o mesmo.
Chora desesperadamente como se não tivesse mais saída para continuar
vivendo. É possível sentir a sua respiração ofegante. Ele olha pra todos os
lados e sai do carro.
No bar, Samuca continua tomando seu café. Olha pros lados de uma forma
aleatória e em seguida, pra frente. Seu olhar se torna fixo. Câmera vai se
aproximando lentamente do olhar de Samuca, até que seu foco muda, dando close
em Alex, que caminha rumo a beira do cais. Closes alternados entre ele e
Samuca.
Num rompante, Samuca se levanta e corre na direção do cais. Corte para
Alex que está como se estivesse em transe, caminhando em direção a beira do
cais.
Samuca continua correndo em direção a Alex o mais rápido que pode. Alex
chega na beira do cais.
SAMUCA: (grito em eco) ALEX!
Em câmera lenta, Alex se vira e se surpreende ao avistar Samuca. No
susto, ele se desequilibra e despenca do cais, caindo na água.
Corta rápido para debaixo d'água, Alex tenta submergir várias vezes, mas
não consegue e vai se afogando. Samuca corre em direção a beirada do cais e
salta, mergulhando em seguida.
Corta para: Alex desesperado, se debate embaixo d'água, ao mesmo tempo
que engole o líquido. Ele perde a respiração e os sentidos, ficando
desacordado. Samuca consegue pegá-lo e volta para a superfície.
Ele vai nadando em direção a beirada da areia. Ao chegar em terra firme,
ele se levanta e vai arrastando o corpo de Alex, que está desacordado. Samuca
faz massagem cardíaca nele e em seguida, respiração boca a boca... E vai
alternando até que Alex começa a tossir, cuspindo toda a água que ingeriu. Ele
se vira pro lado, tossindo sem parar. Samuca o encara, desacreditado. Alex para
de tossir e olha pro nada, aleatório. Close nele, mostrando Samuca logo atrás,
imagem desfocada. Alex se vira, olhando para ele, surpreso.
ALEX: (surpreso) Samuel?
Nesse momento, Samuca não consegue segurar e chora compulsivamente, se
aproximando do irmão. Alex deixa suas lágrimas caírem sem parar, com uma
expressão de quem está em choque. Está sentado na areia, parado, intacto.
Samuca se aproxima dele, chorando sem parar, ficando de joelhos diante dele.
Ficam frente a frente, se encarando.
Flash rápido do flashback da cena 8 do capítulo 01:
Após
Getúlio ter colocado Ravena e Samuca para fora da mansão, Samuca, ainda
criança, olha para Alex que está ao longe, chorando compulsivamente. Uma
lágrima escorre no rosto do menino. Closes alternados - e em câmera lenta - nos
dois.
Corta agora para os dois. Emocionado, Samuca toca no rosto de Alex, que
desacreditado, faz o mesmo. Samuca volta a chorar, assim como Alex e
finalmente, os dois se abraçam.
SAMUCA: (narrador) Duas pessoas iguais. (T) Mesmo cabelo, mesmo corpo,
mesmo rosto. (T) Personalidades opostas. E uma diferença de cinco minutos... ou
uma diferença... (T) de 16 anos!
Close nos dois, abraçados. Fade out.
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