Uma novela original WNC
Autora: Megan Clarke
Capítulo 08
“Flagra”
CENA 1/MANSÃO DOS CAVALCANTI/QUARTO DE BRUNA/INT/NOITE.
Continuação imediata da última cena do capítulo anterior. Bruna revelou
seu segredo a Samuca.
SAMUCA: (desacreditado) Você... Andréa?
Bruna se solta de Palmira e limpa as lágrimas.
BRUNA: Difícil de acreditar né?
Samuca se senta na cama, em choque.
SAMUCA: Essa história tá confusa demais. Tô... (T) Tô com minha cabeça
girando aqui...
Silêncio.
Bruna caminha pelo cômodo, ficando de costas pra ele, até que se vira e
o encara.
BRUNA: Qualquer um que ouvisse iria dizer a mesma coisa que você!
SAMUCA: É uma lógica que não tá batendo! Você é a Andréa, a garota que
tá com o nome registrado na queixa contra o Getúlio... Só que nos jornais dizem
que a Bruna sobreviveu e a Andréa não.
BRUNA: Na verdade, o corpo da Bruna nunca foi encontrado. Eu fui
confundida com a Bruna e aí acabei me passando por ela. Nós duas éramos muito
parecidas, muita gente dizia que nós deveríamos ser irmãs. (T) Eu morei muitos
anos na casa da avó da Bruna... Depois que ela morreu, vim morar aqui e trouxe
a Palmira comigo. Não tem nem muito tempo isso. O Getúlio não me reconheceu.
SAMUCA: Se o corpo da verdadeira Bruna nunca foi encontrado então quer
dizer que ela possa estar viva?
BRUNA: Eu não sei... Já se passaram oito anos e ela nunca apareceu...
SAMUCA: Essa história tá muito louca.
PALMIRA: Samuca, é a mais pura verdade!
SAMUCA: Em nenhum momento disse que não tava acreditando nessa história,
eu só acho tudo isso surreal demais.
BRUNA: A Palmira é minha irmã mais velha por parte de pai. Depois que
ele morreu, eu convenci ela a trabalhar como empregada na casa da minha vó...
(se interrompe) digo, a avó da Bruna... depois que ela faleceu eu trouxe a
Palmira junto comigo.
Samuca fica pensativo, tentando absorver tudo o que acabou de escutar.
Bruna se aproxima de Samuca e se ajoelha na frente dele com lágrimas nos olhos.
BRUNA: Samuca, você precisa acreditar em mim! Tudo o que eu acabei de
falar é verdade, eu nunca iria inventar uma história dessas... Nunca iria
inventar essa história de estupro.
SAMUCA: (encarando-a) Eu acredito em você!
Bruna desvia o olhar.
BRUNA: (pensativa) Aquele homem me tocando... falando aquelas coisas
nojentas pra mim... (marejando) Me ameaçando... (T) Essa semana ele me pegou no
escritório e quando ele me tocou... (ofegante) eu senti um nojo tão grande...
eu senti um arrepio... (T/séria) Eu tenho nojo daquele velho. Nojo! A vontade
que eu tenho é de matar aquele desgraçado, mas seria muito pouco... seria muito
pouco pra ele... Eu quero mais! Quero ele sofrendo, comendo o pão que o diabo
amassou... eu faço questão de acompanhar cada momento da derrocada dele.
Samuca pega Bruna pelos ombros e a ajuda a se levantar. Toca no rosto
dela, fazendo-a olhar pra ele.
SAMUCA: (encarando-a) Nós dois... vamos acabar com esse desgraçado! (T)
O que depender de mim ele nunca mais vai encostar um dedo em você e cê pode ter
certeza de mais uma coisa: ele vai pagar!... por cada sofrimento, por cada
crime que ele cometeu... a justiça será feita!
Eles ficam se olhando por mais um tempo. Samuca solta o rosto de Bruna e
ela o abraça, sendo correspondida. Palmira caminha em direção à porta.
PALMIRA: Eu acho que vou... Eu... Eu já vou indo! – e sai, fechando a
porta.
Close nos dois, abraçados. Bruna chora silenciosamente, enquanto Samuca
acaricia os cabelos dela.
CENA 2/CASA DE RAVENA/QUARTO CASAL/INTERIOR/NOITE.
Continuação da cena 10 do capítulo anterior. Ravena e Miguel.
MIGUEL: (ri) Peraí, cê não pode estar falando sério...
RAVENA: (séria) Parece maluquice, mas eu tenho certeza Miguel! É o Alex
sim! A não ser que a Nicole esteja ficando louca, ou que eu esteja louca, só
pode.
Miguel fica parado, calado, pensativo. Ravena percebe.
RAVENA: Você não vai falar nada?
Miguel continua pensativo.
RAVENA: (encarando-o) Eu não sei porque toda vez que cê fica desse
jeito, fico achando que tu tá escondendo alguma coisa...
MIGUEL: (cai em si) Como?
RAVENA: (direta) Fala logo! E dessa vez eu quero saber a verdade.
MIGUEL: Não tem verdade alguma, mulher!
RAVENA: Tem sim. Não adianta esconder as coisas de mim, Miguel, eu sei
que você deve saber de alguma coisa. Fala logo o que é.
Miguel fica calado.
RAVENA: (aflita) Miguel, pelo amor de Deus... eu estou em estado de
nervos aqui, suspeitando que o Alex esteja deitado naquela cama... se você sabe
de alguma coisa, me conta logo! (pressiona) Fala!
Miguel olha pra cima e em seguida fecha os olhos, respira fundo.
MIGUEL: (fala pausadamente) Eu prometi que não ia contar...
RAVENA: Contar o quê? O que você tá escondendo?
Miguel olha pra ela.
MIGUEL: As suas suspeitas... elas são mesmo reais...
Ravena fica em choque.
MIGUEL: Não é o Samuca que tá aqui em casa... É o Alex mesmo.
Ravena começa a acelerar sua respiração, em choque, ao mesmo tempo que
deixa cair lágrimas dos olhos.
MIGUEL: Eu menti!
Ravena olha pra ele, desacreditada.
MIGUEL: Eu não encontrei o Alex perto de uma farmácia porcaria nenhuma.
(T) Eu encontrei ele na casa da pesca, e sabe com quem ele tava? Com o Samuca!
Ravena põe a mão na boca, chocada.
MIGUEL: Os dois trocaram de lugar! É isso, Ravena! O próprio Samuca me
contou e disse que não era pra eu contar a ninguém. Ele tá fazendo tudo isso
pra poder se vingar do Getúlio. (T) Eu juro pra você que a vontade que eu tive
era de arrastar ele de volta pra casa.
RAVENA: (aos prantos) E porque você não fez isso?
MIGUEL: Porque eu não podia!
RAVENA: (pressiona) Por que?
MIGUEL: (mente) Porque não deu!... (se aproxima dela) Amor, o nosso
filho voltou pra gente!
RAVENA: (chora) O Alex tá doente!
MIGUEL: Uma febre corriqueira... imunidade baixa, coisa que se cura com
remédio, repouso.
Ravena se afasta e fica pensativa.
RAVENA: (séria) O Samuel não podia ter feito isso comigo... (se revolta)
Por que diabos ele insiste nessa história com o Getúlio? (T) Ele não podia
desistir de tudo isso e voltar pra casa? Pra quê mexer nessa história que
morreu no passado?
Ravena volta a chorar.
MIGUEL: Um dia isso vai acabar e ele vai cair em si.
RAVENA: (para se chorar) Um dia... (marejando) Um dia sou eu que não vou
mais suportar isso... (séria) E eu mesma, pessoalmente, vou acabar com essa
palhaçada...
Close nela.
RAVENA: Um dia!
CENA 3/MANSÃO DOS CAVALCANTI/QUARTO MÁRIO E OLÍVIA/INT/NOITE.
Mário está sentado na cama, pensativo, olhando pra fotografia da criança
carregando um gato nos braços. Seu rosto molhado, demonstra que ele estava
chorando.
De repente, ouve-se fortes batidas na porta. Ele se levanta, enxugando o
rosto com as mãos rapidamente. Põe a foto no bolso e vai atender, abrindo a
porta. Dá de cara com Olívia.
MÁRIO: Tá fazendo o quê aqui?
OLÍVIA: Eu vim dormir no meu quarto! – e vai entrando...
... mas Mário impede sua entrada.
MÁRIO: Qual a parte que cê vai dormir no quarto de hóspedes, que você
não entendeu?
OLÍVIA: Eu não sou hóspede pra dormir em quarto de hóspedes! Sou a dona
dessa casa. Esse quarto é meu e é nele que eu vou dormir. (empurra a porta)
Sai, sai!
Olívia põe força e consegue empurrar a porta, entrando no quarto. Mário
bate a porta com força e a encara.
MÁRIO: Sai desse quarto agora!
OLÍVIA: (enfrentando) Eu não vou sair!
MÁRIO: (grita) SAIA!
E dá um tapa na cara dela, que cai na cama. Olívia se levanta com a mão
no rosto e olha pra ele.
OLÍVIA: (com raiva) Eu já aguentei demais. Quem vai sair desse quarto é
você!
Em seguida, ela dá um tapão na cara dele, que começa a gargalhar. Mário
olha pra ela.
MÁRIO: (sorrindo) Cê quer brincar de apanhar né? Masoquista do inferno!
Ele dá um tapa ainda mais forte no rosto dela, que cai no chão.
MÁRIO: (grita) E aí? Vai me mandar sair desse quarto ainda?
Olívia no chão, chorando e com a mão no rosto. De repente, a porta se
abre e Samuca entra no cômodo com Bruna.
SAMUCA: O que tá acontecendo aqui?
Bruna corre e vai ajudar Olívia a se levantar. Olívia caminha aos
prantos até Samuca e ele a abraça.
MÁRIO: (debochado) Que bonitinho... O filhinho protegendo a mamãe.
Samuca solta Olívia, que é amparada por Bruna, e se aproxima de Mário.
SAMUCA: (sorrindo) Você se acha muito valente... É fácil levantar a mão
pra uma mulher, não é? (T) Pois eu quero te dar um aviso, Mário Gerson, e eu
espero que cê não se esqueça... (o encara) Se você encostar um dedo na minha
mãe de novo... (ri) Você sabe o que é que vai acontecer? (grita) ISSO! – dá um
soco na cara dele – ISSO! – dá outro soco.
Mário cai no chão, zonzo, e Samuca pega ele pela gola da camisa,
levantando-o.
SAMUCA: (transtornando) OLHA PRA MIM!
Mário arregala os olhos, tentando encarar Samuca, ao mesmo tempo em que
os fecha, tonto.
SAMUCA: (grita) Você vai arrumar as suas coisas e vai sair desse quarto!
Você vai pro quarto de hóspedes e se eu descobrir que você humilhou a minha
mãe, que você maltratou ela... se eu sonhar que você andou batendo nela de
novo... eu te mato! E não é modo de falar não... Porque se eu descobrir que cê
voltou a fazer uma dessas coisas aqui... eu juro que vou na cozinha e pego uma
faca pra lhe matar!
MÁRIO: (ofegante) Me solta!
Samuca solta Mário, que cambaleia e cai na cama. Samuca respira
ofegante. Bruna abraçando Olívia. Getúlio entra no quarto.
GETÚLIO: Posso saber o motivo dessa baixaria?
SAMUCA: (irônico/alterado) Tá curioso é? Pergunta pra ele!
Getúlio caminha até Mário.
GETÚLIO: O que tá havendo, Mário Gerson?
MÁRIO: (rindo/se levanta) A sua filha não se conforma com o fracasso que
é a vida dela e por isso se achou no direito de vir me perturbar.
SAMUCA: (indignado) Peraí... É isso mesmo que eu tô ouvindo? (se
aproxima) Cê ainda vai querer pagar de vítima é? (o encara) Você ainda não
aprendeu?
Samuca parte pra cima de Mário e o empurra na cama, distribuindo vários
socos na cara dele. Bruna e Olívia gritam.
GETÚLIO: (grita) Para! (tirando Samuca de cima de Mário) Para com isso!
Samuca se solta de Getúlio e o encara.
SAMUCA: (grita) Para você de defender esse desgraçado! (T) Depois de
tudo o que ele fez, cê ainda vai defender ele, é isso? Ele bateu na sua filha!
Você não vai fazer nada?
Getúlio se cala.
GETÚLIO: Eles dois são casados e vão resolver isso entre eles!
SAMUCA: (indignado) O quê? Resolver isso entre... (T) Claro! (T) Claro,
eu já entendi! Você não se importa com sua filha, não é? Ou melhor: Você não se
importa com as suas filhas.
BRUNA: Alex...
SAMUCA: (para Getúlio) Você não se importa nem com a Olívia e nem com a
Ravena... Porque se você se importasse não teria expulsado a própria filha de
casa com uma criança de cinco anos de idade!
Bruna e Olívia espantadas. Samuca de frente para Getúlio, encarando-o.
GETÚLIO: Para! Para de falar essas coisas, chega!
SAMUCA: Você não se importa com as suas filhas. Você não se importa
comigo. Você não se importa com ninguém!... É isso! Aliás, eu acho que você não
deve se importar nem consigo mesmo.
GETÚLIO: Para!
SAMUCA: Você é uma porcaria de pai! É uma porcaria de avô! E é uma
porcaria como pessoa. Nenhum pai deixaria um homem levantar a mão pra própria
filha. Nenhum pai expulsaria a própria filha e o próprio neto de casa. Você é
nojento. Você é uma criatura desprezível e asquerosa. Defende o Mário Gerson ao
invés de defender a sua filha porque junto com ele é capaz de ultrapassar todos
os limites de baixezas que existem na face desse planeta.
GETÚLIO: (grita) JÁ CHEGA!
SAMUCA: (continua) Eu tenho nojo de você! Eu tenho nojo de carregar o
teu sangue, nojo de carregar na minha identidade o teu sobrenome sujo!
Bruna se aproxima de Samuca.
BRUNA: Chega! Acabou! Para! Já deu! Acabou!
Samuca olha confuso pra todos os lados e põe a mão na cabeça. Cai em si.
BRUNA: (para Getúlio) Tio, o Alex tá de cabeça quente. Releva tudo o que
ele disse. Cê sabe como ele fica quando tá com raiva. (para Samuca) Vem.
Samuca está visivelmente abalado. Bruna, Olívia e Samuca saem do quarto.
Getúlio permanece com sua expressão de choque, porém, frio.
Corta para o corredor: Palmira se aproxima dos três.
BRUNA: Palmira, fica com a Olívia.
PALMIRA: O que aconteceu?
BRUNA: Depois! (para Samuca) Vem...
CENA 4/PISCINA/EXTERIOR/NOITE.
Samuca andando de um lado pro outro, agitado, revoltado, com a
respiração ofegante. Bruna mais atrás, observando.
SAMUCA: (indignado) Como é que pode, uma pessoa ser tão fria? (T) Como é
que pode uma pessoa ser tão baixa? Tão...
Ele se revolta e soca uma mesa que há ali. Abaixa a cabeça.
Bruna vai até ele e o abraça.
BRUNA: Você já falou tudo o que tinha pra falar, agora chega, calma!
Tenta se acalmar.
Samuca ergue a cabeça e olha pra ela.
SAMUCA: (chorando) Você viu o jeito que ela tava? Com o rosto todo
machucado. (aos prantos e ao mesmo tempo, com raiva) Como que ele pôde fazer
uma crueldade dessas com ela? – e volta a cair no choro – Eu tenho nojo desse
cara. Tenho nojo dessa família. Desse velho desgraçado e desse homem.
BRUNA: (abraçando-o) Calma! (solta e pega nas mãos dele) Vem, senta
aqui.
Samuca se senta numa cadeira, perto de uma mesa.
BRUNA: Respira fundo e se acalma.
De repente, Palmira vem trazendo um copo d’água.
PALMIRA: Toma, Samuca! Tenta ficar calmo, por favor! Daqui a pouco cê dá
um treco aí...
Samuca bebe a água.
SAMUCA: (com o rosto molhado) Onde é que ela tá?
PALMIRA: Tá no quarto! O Mário Gerson foi mesmo pro quarto de hóspedes.
A Olívia entrou no quarto, agora tá lá.
Samuca respira fundo, enquanto Bruna o abraça. Close nele.
CENA 5/CASA DE RAVENA/QUARTO DE ALEX/INTERIOR/NOITE.
A cena clareia. Alex está dormindo, todo coberto. Ravena com o termômetro nas mãos,
checa a temperatura. Ela se preocupa.
RAVENA: (grita) Miguel!
Miguel chega na porta.
MIGUEL: O que foi?
RAVENA: (preocupada) A temperatura não baixou! A gente vai ter que levar
ele na emergência!
Miguel se preocupa. Ravena aflita. Close em Alex, dormindo.
CENA 6/CASA DE NICOLE/SALA/INTERIOR/NOITE.
Nicole fala com alguém por ligação. Expressa preocupação.
NICOLE: (Cel) Piorou? (T) Pra onde levaram ele? (T) Tá certo! Eu tô indo
pra lá agora. (T) Valeu por avisar, beijo. - e desliga.
Com o celular na mão, ela caminha pela sala, agitada. Guilherme vem da
cozinha.
GUI: O que houve? Quem era no telefone?
NICOLE: Era Verena. Disse que o Samuca piorou e foi pra emergência. Eu
tô indo pra lá agora.
GUI: Meu Deus, mas disseram pelo menos o hospital?
NICOLE: São Luís! (procurando por algo) Onde tá minha carteira?
Rapidamente, Gui pega uma carteira que estava em cima de uma bancada
telefônica.
GUI: (entregando) Aqui!
NICOLE: (pegando-a) Valeu!
Ela vai saindo.
GUI: Manda notícias!
NICOLE: Tá certo! - abre a porta e sai.
Guilherme tira seu celular do bolso e começa a discar, levando ao ouvido
imediatamente.
CENA 7/MANSÃO DOS CAVALCANTI/QUARTO DE SAMUCA/INTERIOR/NOITE.
Samuca no celular. Bruna atrás, atenta.
SAMUCA: (cel) Piorou? E onde ele tá? (T) Tô indo pra lá. (T) Não, você
fez muito bem em me avisar… eu tomo cuidado, pode deixar! Obrigado.
Ele desliga.
BRUNA: Quem era?
SAMUCA: (aflito) Guilherme! Disse que o Alex piorou e foi pra
emergência. Eu tenho que ir lá.
BRUNA: Não, Samuca! Cê vai tar correndo muito risco. Seus pais devem
estar lá.
SAMUCA: Bruna, quando a saúde do meu irmão está em jogo, não têm plano
nenhum que me impeça de ir vê-lo.
BRUNA: Então deixa eu ir com você! Caso dê alguma merda, eu posso te
ajudar. (se aproxima) Samuca, eu preciso de você!
SAMUCA: (a encara) Pelo visto, eu acho que preciso de você também! (T)
Vambora.
Os dois saem do quarto.
CENA 8/QUARTO DE OLÍVIA/INTERIOR/NOITE.
Olívia sai do banheiro vestida com um robe vermelho e leva um susto ao
ver Getúlio sentado numa poltrona que há no quarto.
OLÍVIA: Que susto! Achei que o senhor já estivesse dormindo
GETÚLIO: Não. Tive uma conversa com o seu marido... e agora cá estou eu!
OLÍVIA: (caminhando pelo quarto e indo em direção a cama) Acabei de sair
do banho, o que o senhor tá fazendo aqui?
GETÚLIO: Eu vim conversar com você.
OLÍVIA: Se for pra falar sobre o que aconteceu aqui hoje, eu não quero
não.
GETÚLIO: Você não tem querer, Olívia!
OLÍVIA: Pelo visto, eu não tenho mesmo. Se depender do senhor, eu
continuo casada com aquele canalha.
GETÚLIO: Se depender de mim, porquê? Por um acaso sou eu que estou
casado com o Mário Gerson?
OLÍVIA: (respira fundo) Papai… eu tô com meu corpo dolorido, estou
cansada. Eu só queria dormir e fingir que esse dia de hoje não aconteceu. Será
que o senhor poderia ir direto ao assunto?
GETÚLIO: (se levanta) Eu não gosto de receber ordens! Ainda mais vindo
de você, que é minha filha. (T) Uma filha que por sinal, não se parece nem um
pouco comigo.
OLÍVIA: O que o sr. quer dizer com isso?
GETÚLIO: Você, filha, carrega o meu sobrenome… O meu sangue corre pelas
suas veias… mas não tem nada da personalidade raiz dos Cavalcanti. É uma pessoa
murcha, sem atitude. Você deixa o seu marido pisar em cima de você muito
facilmente! Até o seu filho foi capaz de bater de frente comigo, foi capaz de
brigar com o seu marido pra te proteger! Mas e você? Como é capaz de deixar um
homem que veio de fora te aniquilar? (ri) As vezes, eu tenho até que concordar
com o seu marido quando ele diz que você é uma fracassada!
OLÍVIA: Já não basta o Mário, o senhor vai me rebaixar também?
GETÚLIO: Eu não preciso fazer isso, porque você já se rebaixa por si só.
(T) O Mário Gerson me contou que você voltou a beber!
OLÍVIA: (abalada) O quê?
GETÚLIO: (frio) Por isso vou te dar um aviso prévio: Eu não quero mais
saber desses tipos de baixarias dentro da minha casa! Você para de beber e se
separa desse homem, ou então procura viver em paz aqui dentro… Caso contrário
eu vou te internar num hospício e vou dar um jeito de você nunca mais sair de
lá.
Olívia se choca e seus olhos enchem de lágrimas.
GETÚLIO: (duro) Você entendeu? (T) Eu não vou avisar de novo!
Em seguida, ele sai do quarto. Olívia fica assustada e chora, nervosa,
com a mão na boca. Close nela.
CENA 9/QUARTO DE MÁRIO/INTERIOR/NOITE.
Este é o antigo quarto de hóspedes. Close na visão geral do quarto, que
está escuro. Lâmpadas apagadas. Apenas uma luz ilumina o local: É a luz de uma
vela que está em cima de uma mesa. Desta visão geral vemos que há alguém
sentado de frente pra mesa. Uma porta que dá pra uma varanda no quarto está
aberta. O vento balança as cortinas da porta. Close no fogo que arde a ponta da
vela. Agora, foco no rosto de Mário, iluminado pela luz do fogo. Ele sorri
enquanto olha pra foto da criança carregando um gato.
MÁRIO: (sorrindo) Gracinha… (suspira) Que saudades de você! (T) Eu tô me
sentindo tão só… queria você aqui, perto de mim…
Close no olhar dele, descendo pelo rosto, até que vemos ele esboçar um
sorriso. Som de miado de gato. (Efeito de eco no miado)
Mario olha na direção da porta da varanda. Vemos um gato siamês
parado ali, olhando diretamente pra ele, enquanto o vento balança as cortinas.
Mário sorri, ao mesmo tempo em que começa a derramar lágrimas.
MÁRIO: (emocionado) Gracinha! (T) Você veio visitar o papai?
O gato mia. Mário gargalha.
MÁRIO: (emocionado) Vem! Vem pro papai!
O gato caminha lentamente até ele, se roçando na sua perna. Mário pega o
animal e o abraça, ao mesmo tempo em que chora, emocionado. O gato lambe seu
rosto, limpando as lágrimas que caíram e em seguida olha fixamente pra Mário.
MÁRIO: (sorrindo) Você voltou pra mim! (T) Agora eu sei que não vou mais
ficar sozinho. (ri) Eu nem acredito que você voltou pra mim, Gracinha.
O gato solta um miado e em seguida, salta pro chão, caminhando
lentamente de volta pra porta.
Trilha Sonora: “Natural – Imagine Dragons”
Ele se vira e dá mais uma olhada para Mário e em seguida, some.
MÁRIO: (desesperado) Não! Não! (grita) NÃOOOOOO!
Ele corre até a porta da varanda, mas assim que chega até lá, as portas
se fecham violentamente. Mário se desespera e começa a bater na porta e puxa a
maçaneta, tentando abrir, sem sucesso.
MÁRIO: (grita) NÃO! NÃO ME DEIXA GRACINHA! VOLTA AQUI! NÃO ME DEIXA
SOZINHO DE NOVO! (desesperado) POR FAVOR! (chorando) Volta pra mim! (T) Volta!
Ele se joga na cama aos prantos. Em seguida, se agarra aos lençóis
enquanto chora violentamente. Close agora na porta da varanda que já
está aberta novamente, com o vento balançando as cortinas. O som do choro
desesperador unido à trilha sonora toma conta do local.
CENA 10/HOSPITAL SÃO LUÍS/SALA DE ESPERA/INTERIOR/NOITE.
(Trilha off).
Ravena e Miguel esperam sentados em um dos bancos. De repente, Nicole
chega ao local e vai diretamente na recepção.
NICOLE: O meu namorado, moça, por favor.
Ravena e Miguel vão até ela.
RAVENA: Nicole!
NICOLE: Onde ele tá? Como é que ele tá?
MIGUEL: Tá na enfermaria, tomando soro.
NICOLE: Eu preciso ir lá ver ele!
RECEPCIONISTA: (para Nicole) Documento com RG, por favor!
Nicole vai até ela e entrega seu documento de identidade.
CENA 11/ENFERMARIA/INTERIOR/NOITE.
Alex está deitado em uma das camas da enfermaria. Local vazio. Apenas um
paciente numa outra cama, com um acompanhante sentado numa poltrona do lado.
Nicole chega até Alex e toca em sua mão. Close na mão dela tocando a dele,
detalhando o tubo do soro. Alex acorda subitamente e a vê.
ALEX: (sorri) Nicole!
NICOLE: (sorri pra ele) Eu vim correndo te ver quando soube que cê veio
pra cá.
ALEX: (sorri fracamente) Eu tô me sentindo um pouco melhor...
Alex acaricia a mão de Nicole, lentamente.
Corta para o corredor: Samuca e Bruna andam pelo local.
SAMUCA: Onde a mulher disse que era mesmo?
BRUNA: Enfermaria 305.
Samuca vê uma porta com uma placa dizendo: “Enfermaria 305”.
SAMUCA: Aqui, Bruna!
Os dois se dirigem até a porta. Samuca põe a mão na maçaneta e abre a
porta lentamente. Ao abrir, vemos Alex e Nicole se beijando.
Trilha Sonora: “Needed Me – Rihanna”
Samuca fica espantado ao presenciar aquela cena.
Bruna olha pra cena e em seguida, pra ele.
Closes em câmera lenta:
- Em Nicole e Alex, se beijando... com foco na mão de Alex segurando os
cabelos dela.
- No olhar de Samuca...
- Novamente nos dois se beijando.
- Agora se aproximando lentamente no rosto de Samuca em choque.
Fade out.
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