Uma novela original WNC
Autora: Megan Clarke
Capítulo 12
“A
Real”
CENA 1/JARDIM ORESTES/RUA/EXTERIOR/NOITE.
A casa de Ravena pega fogo. Vários curiosos em frente, olhando. Ravena
ajoelhada no chão, chorando compulsivamente e de cabeça baixa.
Não se ouve o som da casa pegando fogo, muito menos dos comentários das
pessoas, apenas da respiração dela e do seu choro quase silencioso, tudo isto,
em câmera lenta.
Close no carro de Mário Gerson ainda parado do outro lado da rua.
Corte rápido para o interior de uma casa que fica
de frente à casa de Ravena, do outro lado da rua. Na janela, coberta pelas
cortinas, é possível notar que há um homem ali,
observando tudo.
Corte para o carro de Mário, que permanece fumando seu charuto enquanto
observa friamente todo o movimento lá fora.
Corte para Ravena, que ainda chora de cabeça baixa. Close se alterna para a
casa pegando fogo, mas logo volta o foco para Ravena.
A cena volta em sua velocidade normal e Ravena levanta a cabeça,
mostrando seu rosto molhado por lágrimas.
RAVENA: (com a voz embargada/para si) Minha casa... (se levanta e corre)
Minha casa! (grita) Minha casa! (T) Minha casa!
Ela corre em direção ao imóvel, desesperada. Empurra os curiosos que
estão ali, mas uma moradora a impede de chegar até o local, segurando-a.
RAVENA: (desesperada) Me solta!
VIZINHA: Eu não vou te soltar!
RAVENA: (desesperada) É a minha casa! Tá pegando fogo! A minha sogra...
(cai em si) Verena! (olha para todos os lados, em desespero) Cadê ela? Onde ela
tá?
VIZINHA: Ninguém saiu daí de dentro! (T) Tenta ficar calma, os bombeiros
já foram acionados, o socorro também...
Ravena se solta dela e anda confusa, com as mãos na cabeça, nervosa,
chorando sem parar, desesperada.
RAVENA: Meu Deus... (chora) Meu Deus...
Close nela, no meio das pessoas, sem saber o que fazer.
CENA 2/BAR/INTERIOR/NOITE.
Miguel está sentado num bar tomando cerveja, quando um conhecido vem
correndo até ele.
CONHECIDO: Miguel, Miguel!
Miguel deixa o copo de lado e olha pra ele.
MIGUEL: O que foi?
CONHECIDO: A sua casa, Miguel...
Close em Miguel, encarando o homem.
CENA 3/JARDIM ORESTES/RUA/EXTERIOR/NOITE.
Ravena confusa. De repente, Alex e Cristina chegam ao local e correm até
ela.
ALEX: Mãe, o que aconteceu com a casa?
RAVENA: (desesperada) Meu filho...
CRISTINA: (assustada) Cadê a minha vó?
RAVENA: (desesperada) A sua vó...
Ela se vira, nervosa. Alex fica de frente pra Ravena.
ALEX: (nervoso) Mãe, cadê a vovó?
RAVENA: (nervosa) Eu não sei... eu não sei... Eu saí pra comprar café no
mercado e deixei ela lá dentro. Ela tava assistindo televisão. Tem 20 minutos
que isso aconteceu... Eu não sei se ela tá lá dentro, se saiu, não sei o que
aconteceu, eu não sei de nada.
ALEX: (nervoso) Meu Deus e o socorro? Alguém tem que chamar a
ambulância, os bombeiros.
RAVENA: (nervosa) Já chamaram, eles estão vindo. (aflita) Meu Deus...
Cristina chora, nervosa.
CRISTINA: (chorando) Minha vó tá lá dentro...
De repente, Miguel aparece no local e vai até Ravena, Alex e Cristina,
em desespero.
MIGUEL: Cadê a minha mãe?
RAVENA: (chorando) Ela tá/
MIGUEL: (interrompe gritando) Mãe...
Ele corre em direção a casa, empurrando os curiosos que estão ali. Alex
vai atrás dele e impede que ele chegue perto do fogo.
ALEX: Pára, pai!
MIGUEL: (desesperado) Sua vó tá lá dentro! Minha mãe...
ALEX: (em prantos) Não adianta! (T) Não adianta mais nada...
Miguel cai num choro desesperador e Alex o abraça. Close nos dois,
chorando juntos.
Cortes rápidos:
1- Os bombeiros apagando
o fogo da casa.
2- O corpo de Verena num
saco preto, sendo retirado da casa, que está completamente destruída.
3- Nos policiais
colhendo depoimentos da família. / Miguel se recusando falar com os mesmos. /
Alex chorando compulsivamente, enquanto abraça Ravena e Cristina.
Close aéreo do local. Fade out lento.
CENA 4/MANSÃO DOS CAVALCANTI/SALA/INTERIOR/NOITE.
A televisão ligada. Palmira parada em frente a tevê assistindo a
reportagem, em choque.
Close no noticiário sendo exibido na televisão.
REPÓRTER: Um incêndio misterioso ocorreu hoje, nesta casa
aqui no porto de Jardim Orestes. Segundo as informações da polícia, uma senhora
chamada Verena da Silva, de setenta anos, foi encontrada morta com o corpo
carbonizado...
O som da Repórter falando é abafado. Close em Palmira, horrorizada.
PALMIRA: Que horror...
OLÍVIA: (off) MEU DEUS!
PALMIRA: (se vira, assustada) Ai, dona Olívia, que susto!
OLÍVIA: (aflita) Gente, mas é a casa da Ravena?!
PALMIRA: Ravena, sua irmã?
OLÍVIA: (nervosa) Claro, Palmira! Quem mais seria?
PALMIRA: Olha, eu acho que é dela mesmo.
OLÍVIA: (preocupada) Meu Deus do céu...
PALMIRA: Mas fica tranquila, que pelo que eu vi aqui no jornal, só uma
pessoa se feriu...
OLÍVIA: (nervosa) Eu preciso me acalmar... (T) Eu tô muito nervosa...
preciso me acalmar.
Ela caminha até uma bandeja com as mais variadas bebidas, uísques, etc,
e começa a se servir.
PALMIRA: (fala baixo, para si mesma) Eu preciso avisar ao Samuca...
CENA 5/QUARTO DE SAMUCA/INTERIOR/NOITE.
Foco em Palmira, já no quarto de Samuel.
PALMIRA: Samuca... a notícia que eu tenho pra dar não é nada boa.
Foco em Samuca. Bruna atrás.
SAMUCA: O que foi? O Mário Gerson já voltou?!
PALMIRA: Não... É melhor você se sentar!
BRUNA: (impaciente) Fala logo, Palmira!
PALMIRA: Passou no jornal que uma casa foi incendiada lá no porto da
cidade. E parece que é a sua antiga casa, Samuca.
SAMUCA: (chocado) O quê?!
Logo, os olhos deles enchem-se de lágrimas e Samuca se afasta, ficando
de costas para as duas. Foco no olhar dele, preocupado, enquanto deixa as lágrimas
caírem.
PALMIRA: O pior não é isto... Saiu no jornal que esse incêndio vitimou
uma pessoa.
Samuca arregala os olhos, entrando num quase desespero. Ele fecha os
olhos por uns segundos, mas logo em seguida, os abrem novamente. Passa a
respirar ofegante.
SAMUCA: (firme) E quem foi?
Tempo.
PALMIRA: A sua vó!
Foco em sua expressão de choque. Ele se vira, com os olhos arregalados,
enquanto lágrimas caem pelo rosto. Encara Palmira. Respiração ofegante e
descontrolada.
PALMIRA: A sua vó... tá morta!
Close nele, que agora passa a chorar compulsivamente.
CENA 6/QUARTO DE SAMUCA/INTERIOR/NOITE.
Continuação da cena anterior. Samuca chorando compulsivamente.
SAMUCA: (chorando) Minha avó... (T) Minha avó morreu... (T) Não pode
ser... não... (grita) Não...
Ele cai de joelhos no chão, socando-o várias vezes enquanto chora
desesperadamente.
SAMUCA: (chorando) Não, não, não, não, não...
Bruna se abaixa até ele e o abraça.
BRUNA: (para Palmira) Vai pegar água, rápido...
Palmira sai do quarto. Samuca chora desesperadamente, nos braços dela,
que passa as mãos pelos cabelos dele, tentando acalmar.
BRUNA: Vai ficar tudo bem... Shiii, calma... eu tô aqui!
Samuca para de chorar aos poucos e vai se acalmando.
BRUNA: Respira fundo...
Ele respira, devagar. Bruna continua abraçando-o. Samuca de olhos
fechados.
SAMUCA: (marejando) Como isso foi acontecer?
BRUNA: Eu tenho uma teoria... (levanta o rosto dele e limpa suas
lágrimas) Mas não pensa nisso agora... (olhando pra ele) Sua família precisa de
você!
SAMUCA: (volta à si) Minha família... (agitado) Meu pai...
Ele se levanta, juntamente com Bruna. Anda agitado pelo cômodo.
SAMUCA: Cadê?... (T) Meu telefone... cadê meu celular?
BRUNA: (entrega) Aqui!
SAMUCA: (pegando o aparelho) Eu preciso falar com o Alex... (e começa a
digitar).
Ele leva o celular ao ouvido.
SAMUCA: (cel/com a voz embargada) Alex, sou eu! (T) Eu já tô sabendo de
tudo!... (T) Traz todo mundo pra cá!
CENA 7/ESTRADA DESERTA/LITORAL/EXTERIOR/NOITE.
Estrada de frente pro mar e sem iluminação. É possível escutar o barulho
do mar.
Um carro para ali perto. Close mais próximo do veículo. Mário desce do
carro e vai até a porta traseira, abrindo-a. Tira de lá os galões de gasolina
vazios e caminha até o outro lado do veículo, onde joga os galões no chão. Em
seguida, pega um fósforo, risca e ateia fogo aos galões que começam a queimar.
Ele tira a arma da cintura e vai jogar longe, mas desiste e fica a olhar
para o revólver.
MÁRIO: Você não, Katrina!
Ele sorri ao olhar para a arma. Em seguida, olha pra frente e entra no
carro, dando a partida.
CENA 8/JARDIM ORESTES/PLANOS GERAIS/EXTERIOR/MANHÃ.
Takes dos planos gerais da cidade, com destaque para o litoral.
Alguns dias depois
CENA 9/MANSÃO DOS CAVALCANTI/FAIXADA/EXTERIOR/MANHÃ.
Close da entrada da mansão.
CENA 10/SALA DE ESTAR/INTERIOR/MANHÃ.
Alex e Samuca conversam num ponto da sala.
ALEX: Ele tá assim já tem uma semana!
SAMUCA: Eu não sei mais o que fazer... Não tá comendo direito... Não
dorme...
ALEX: Vou lá falar com ele.
Alex se afasta e vai até o sofá. Miguel tá sentado, pensativo, olhando
pro chão. Alex se senta ao lado dele.
ALEX: Pai... (T) Cê precisa reagir. Precisa comer.
MIGUEL: Não quero... (T) Eu só quero descobrir como se deu aquele
incêndio. (T) A polícia falou que foi incêndio criminoso. (T) A autópsia
revelou que a mãe levou um tiro no peito. (olha para Alex) Alguém matou sua vó!
(T) Tudo que eu quero agora é descobrir quem foi!
Alex o abraça.
De longe, Palmira observando tudo.
CENA 11/EMPRESA DE PESCADOS/SALA DE MÁRIO/INTERIOR/MANHÃ.
Mário conversa com o advogado em sua sala.
ADVOGADO: O seu sogro foi transferido para o presídio da cidade...
Infelizmente não consegui tirá-lo da delegacia.
MÁRIO: Não me importo nem um pouco com isto. É bom que ele fique por lá
mesmo, inclusive, preciso falar com o velho urgentemente.
ADVOGADO: Posso saber do que se trata?
MÁRIO: Claro que não! (T) Não é da sua conta!
ADVOGADO: Me desculpe, mas é que sou o advogado do sr. Getúlio e/
MÁRIO: (corta) Não me interessa! Eu não quero saber de nada. Ser
advogado do velho não significa nada, você poderia ser o papa! Eu não lhe devo satisfações
dos nossos assuntos.
ADVOGADO: Mas no caso do Getúlio, que por sinal, é bem delicado,
qualquer assunto/
MÁRIO: (interrompe) O senhor já falou o que tinha pra me dizer, agora se
me der licença, tenho muito trabalho por aqui!
Mário caminha em direção a porta e abre. O advogado o encara.
ADVOGADO: Bom... Acho que já disse tudo o que tinha pra dizer mesmo! Eu
vou indo! Com licença!
O advogado caminha até a porta e sai da sala. Mário fecha a porta e
caminha em direção a mesa com uísques, se servindo.
MÁRIO: (para si) Basta só eu colocar as mãos naqueles trinta milhões de
dólares e pronto... Tô numa nice!... Ah... (T) Tomara que o velho morra naquela
prisão!
Close nele, pensativo, enquanto toma a bebida.
CENA 12/MANSÃO DOS CAVALCANTI/QUARTO DE SAMUCA/INTERIOR/MANHÃ.
Samuca e Palmira conversam.
PALMIRA: Eu ouvi o seu pai conversando com o Alex, dizendo que a
autópsia no corpo da sua vó confirma que ela morreu com um tiro no peito e não
no incêndio.
SAMUCA: O meu pai tinha me falado também.
PALMIRA: Você não acha muito estranho não? Lembra que o Mário Gerson
saiu daqui levando um revólver com ele, justamente no dia em que tudo
aconteceu?
SAMUCA: Você desconfia que o Mário Gerson tenha matado a minha vó?
PALMIRA: Só desconfianças... precisamos da certeza!
Close em Samuca, pensativo.
CENA 13/JARDIM ORESTES/RUA/EXTERIOR/MANHÃ.
O homem, vizinho de Ravena, da cena 1, sai de sua residência e vai
caminhando em direção a outro vizinho que varre a calçada. Daqui, vemos a casa
de Ravena destruída pelo incêncio.
HOMEM 1: Bom dia.
HOMEM 2: Bom dia!
HOMEM 1: Essa família que morava aqui em frente... Você conhecia eles?
HOMEM 2: Conheço há muitos anos... uma barbaridade o que aconteceu.
HOMEM 1: O homem que morava aí, o filho da mulher que morreu no
incêndio...
HOMEM 2: Sei, o Miguel.
HOMEM 1: Você tem o contato dele?
HOMEM 2: Eu tenho sim!
O homem tira o celular do bolso e começa a procurar o contato.
CENA 14/MANSÃO DOS CAVALCANTI/PISCINA/EXTERIOR/MANHÃ.
Samuca e Alex conversam enquanto caminham pela piscina.
ALEX: Com toda essa confusão eu nem tive tempo de falar com você...
SAMUCA: Sobre o quê?!
ALEX: Sobre a Nicole... (T) Eu sei que você pediu pra que eu não me
aproximasse dela... só que foi inevitável.
SAMUCA: Eu sei!... Olha, Alex, não precisa se preocupar com isso não.
(sorri) Eu tô numa boa. Tô feliz... A Bruna tá me fazendo feliz.
ALEX: (sorri fracamente) E eu fico contente em saber disso. De verdade.
(T) Eu acabei aprendendo a gostar da Nicole... eu me apaixonei por ela. (T) Só
que ela pensa que... eu sou você.
SAMUCA: (sério) Você precisa contar a verdade pra ela! E tem que ser
logo.
ALEX: (temeroso) Não sei... eu tenho medo! Tenho medo dela não me querer
mais...
SAMUCA: Se você quer ter algo sério com a Nicole, tem que falar a
verdade pra ela. (T) Essa história de um se passar pelo outro acabou no dia que
a nossa avó morreu. (T) Você precisa falar a verdade pra Nicole!
Alex pensativo, tenso.
SAMUCA: (se aproxima) Não precisa de medo... Eu vou com você!
Alex encara Samuca, se sente mais confiante. Close nos dois.
CENA 15/JARDIM ORESTES/PRAIA/EXTERIOR/TARDE.
Nicole parada, na areia, pensativa. De repente, avista Alex e vai até
ele.
NICOLE: Meu amor, você demorou!
Ela o beija. Alex sério.
NICOLE: (estranha) O que foi? Aconteceu alguma coisa?
ALEX: (nervoso) Nicole... eu te amo... eu aprendi a te amar... – respira
fundo – (firme) E por isso, eu preciso te contar uma coisa.
NICOLE: (tensa) O que foi, Samuca? Cê tá me deixando preocupada!
ALEX: (direto) É justamente por isso! (T) Eu não sou Samuca!
Close na expressão de Nicole. Fundo desfocado, mostra que há alguém se
aproximando por trás dela.
NICOLE: (ri) O quê?! Como assim? (T) É alguma brincadeira?
SAMUCA: (off) Não é brincadeira nenhuma!
Nicole desfaz o riso, em choque ao ouvir o som da voz. Ela se vira,
vendo Samuca se aproximando. Expressão de assustada de Nicole, que divide
olhares entre Samuca e Alex ao mesmo tempo.
SAMUCA: (se aproximando) Ele tá falando a verdade! (T) Esse daí é o
Alex... meu irmão!
Nicole em choque, encara Samuca. Alex, atrás, tenso. Fade out.
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