Uma novela original WNC

 

Autora: Megan Clarke

 

Capítulo 14

Cai a Máscara

 

CENA 1/MANSÃO DOS CAVALCANTI/SALA DE ESTAR/INTERIOR/NOITE.

Continuação imediata da última cena do capítulo anterior.

 

MIGUEL: Vai, confessa desgraçado! Fala que matou minha mãe!

 

MÁRIO: Não vou confessar uma coisa que eu não fiz.

 

MIGUEL: (grita) PÁRA DE MENTIR!

 

MÁRIO: Não tô mentindo, me solta!

 

Mário se solta de Miguel.

 

MÁRIO: (provoca) Eu poderia te processar por agressão, sabia?

 

MIGUEL: Então processa! Vamos ver quem aqui vai ter que cumprir penitência. 

 

MÁRIO: Não vou cumprir nada, não fiz porra nenhuma!         

 

Alex e Samuca descem, acompanhados de Bruna e Ravena.

 

SAMUCA: Que gritaria é essa aqui?

 

ALEX: (para Mário) O que você tá fazendo aqui? A gente não já tinha colocado você pra fora?

 

MÁRIO: Vim buscar minhas coisas, eu não fico nem um minuto a mais morando nessa casa, aguentando essa ralé.

 

ALEX: (indo pra cima) Olha aqui/

 

Samuca o impede.

 

SAMUCA: Não cai no jogo desse cara.

 

Alex respira fundo.

 

MÁRIO: (debocha) Vai bater no papai, filho? Não faz isso não. Lembra do que aconteceu da última vez que você tentou arrumar briga comigo?

 

RAVENA: Você não ouse encostar um dedo no meu filho!

 

MÁRIO: Cala essa boca, Ravena, a conversa ainda não chegou no país das maravilhas, mentirosa do caralho!

 

Miguel se aproxima e o encara.

 

MIGUEL: Olha aqui: eu vou dar um jeito de arranjar quantas provas forem necessárias para te colocar na cadeia, e eu vou fazer de tudo pra você nunca mais sair de lá, me ouviu?

 

MÁRIO: (ironiza) Típico juramento de uma pessoa sedenta por justiça que jura fazer o diabo, mas no fundo não consegue nada. Não adianta me acusar de nada, pescador de merda. Não tem provas!

 

SAMUCA: Do que você tá falando?

 

MÁRIO: Seu papai agora deu pra me acusar de uma coisa que eu não fiz, vê se pode?

 

Palmira desce, carregando umas malas. Mário vai até ela e as toma de sua mão.

 

MÁRIO: (para Palmira) Já não era sem tempo hein? Agora eu vou embora. (para Bruna) E você, bonitinha, tá aí caladinha, mas não esquece daquele trato nosso hein?

 

SAMUCA: (baixo para Bruna) Que trato?

 

Bruna não responde.

 

MÁRIO: (expressão de nojo) Vou é tomar um banho de álcool pra ver se me livro desse cheiro de peixe. (para Miguel) Você largou o mar, mas o mar não saiu de você. Lamentável!

 

Ele então pega as malas e vai embora. Miguel tenta ir atrás, mas Alex o impede, parando na sua frente.

 

MIGUEL: (com raiva) Desgraçado!

 

ALEX: (para Miguel) Do que vocês estavam falando?

 

MIGUEL: Hoje me encontrei com um homem.

 

RAVENA: Que homem?

 

MIGUEL: Nosso antigo vizinho.

 

SAMUCA: E o que ele queria?

 

MIGUEL: Disse que tinha visto toda a movimentação na hora que ocorreu o incêndio. Falou que viu um cara entrando lá.

 

SAMUCA: Esse cara era o Mário Gerson?

 

MIGUEL: Era!

 

ALEX: Como cê pode ter tanta certeza, pai?

 

MIGUEL: Pela descrição que o vizinho fez, mandei uma foto desse desgraçado e ele confirmou.

 

SAMUCA: Filho da mãe!

 

ALEX: Desgraçado.

 

RAVENA: Gente, por mais que ele seja mesmo o responsável pelo incêndio, ninguém aqui tem provas!

 

SAMUCA: Mas nós temos uma testemunha, esse tal desse homem aí.

 

BRUNA: Mesmo assim! Ele tem registro da hora que o Mário entrou na casa? Alguma foto?

 

MIGUEL: Não!

 

PALMIRA: Sendo assim, não teria como entregar as provas pra polícia, já que não têm nenhuma. A palavra desse tal homem aí não vale de nada.

 

ALEX: Esse safado vai continuar impune então!

 

RAVENA: Era isso que eu queria dizer.

 

Miguel anda pela sala, com as mãos na cabeça.

 

MIGUEL: (tenso) Meu Deus, isso não pode estar acontecendo.

 

SAMUCA: Sei que é loucura, pai, mas se estressar agora não vai resolver nada. Uma hora a gente cata esse desgraçado do Mário Gerson e acabamos com isso de uma vez.

 

MIGUEL: (indignado) Ele não pode continuar impune gente, não pode!

 

PALMIRA: Gente, porque vocês não esquecem isso por um tempo, respiram e vão jantar?

 

MIGUEL: Tô sem fome!

 

ALEX: Ficar sem comer não pode, pai!

 

BRUNA: É isso aí!

 

SAMUCA: Onde tá a gatinha?

 

ALEX: Quando ouvi a gritaria, não deixei ela descer, tá lá no quarto.

 

SAMUCA: Vou lá chamar ela pra jantar então. (para Bruna) Você vem comigo!

 

BRUNA: Claro!

 

Eles sobem. Alex conduz Miguel até a sala de jantar. Palmira fica às sós com Ravena.

 

RAVENA: A Olívia não chegou ainda?

 

PALMIRA: Nem sinal dela, até estranhei, disse que chegava a tempo pra jantar.

 

RAVENA: Ela falou que iria resolver o negócio dela lá com o Mário Gerson e até agora nada.

 

PALMIRA: Será que aconteceu alguma coisa?

 

CENA 2/OPEN-BAR/INTERIOR/NOITE.

Foco em Olívia bebendo no bar.

 

OLÍVIA: (gritando) UHUUUUUU! Livreeeeeeeeeee. Sou uma mulher livreeeeeeee!

 

O barman se aproxima.

 

BARMAN: Moça, a senhora já bebeu demais! Já chega, né?

 

OLÍVIA: Chega nada! – e toma mais um gole da bebida.

 

O celular dela começa a tocar.

 

OLÍVIA: Olhaaaaaa, tá tocandoooo. (rindo) AHAHAHA.

 

Ela tira o celular da bolsa e atende.

 

OLÍVIA: (cel) Maria Catarina de Fragoso Duarte, quem deseja?

 

Ravena do outro lado da linha.

 

RAVENA: (cel) Onde é que você tá, Olívia? Que voz é essa?

 

OLÍVIA: (cel) E aí, mana, quê que cê manda?

 

RAVENA: (cel) Você bebeu?

 

OLÍVIA: (cel) Nãoooo, eu? Nãoooo cara. Não bebi não. Tá louca? AHAHAHAHA. (olha pro barman) Tô com um amigo aqui. Cê quer falar com ele? (para o barman) Ela quer falar com você, olha.

 

Ela entrega o telefone pro barman. Ele hesita em pegar, mas acaba cedendo.

 

BARMAN: (cel) Alô?! (T) Ela bebeu sim, moça. Tá aqui dando um show. (T) Claro, eu te passo o endereço sim!

 

Close em Olívia, que tá jogada em cima do balcão, com a mão na cabeça.

 

CENA 3/MANSÃO DOS CAVALCANTI/QUARTO DE ALEX/INTERIOR/NOITE.

Cris assistindo a televisão. Samuca entra no quarto.

 

Ele vai até a cama e se joga ao lado dela, fazendo o móvel se balançar.

 

SAMUCA: (sorri) E aí, Cris?!

 

CRISTINA: Ai, cara, eu odeio quando você faz isso.

 

SAMUCA: (rindo) É, eu sei! (T) Tá com fome?

 

CRISTINA: Muita! Já não aguento mais esperar. Alex me deixou aqui e disse pra não sair, acho isso um saco!

 

SAMUCA: Eu sei disso... (passa a mão pelos cabelos dela) Mas agora tá tudo numa boa. (T) Por que cê não desce hein? O jantar tá na mesa.

 

CRISTINA: Eu já vou.

 

SAMUCA: Se demorar, vai dormir com fome.

 

CRISTINA: Duvido!

 

SAMUCA: (ri) É brincadeira! – dá um beijo na bochecha dela - (T) Vai lá, vai!

 

Ela sai da cama e vai em direção a porta.

 

SAMUCA: Mas é pra comer tudo hein?

 

CRISTINA: Querido, cê tá falando com a vencedora do campeonato de quem come mais. Você já quis competir comigo e se ferrou. Ainda foi corado rei, depois ficado tanto tempo sentado no trono.

 

Samuca joga um travesseiro nela.

 

SAMUCA: (rindo) Safada! Para de me expor!

 

Crisitna ri, joga o travesseiro de volta pra ele e sai do quarto.

 

Bruna entra e vai até Samuca.

 

SAMUCA: Agora que só tá nós dois aqui, cê vai me explicar aquilo que o Mário Gerson disse lá embaixo! (T) Que trato é esse de vocês dois?

 

Bruna encara Samuca.

 

CENA 4/CASA DE NICOLE/SALA/INTERIOR/NOITE.

Nicole pensativa, sentada no sofá.

 

Guilherme adentra o local.

 

GUI: Cheguei!

 

NICOLE: É, tô vendo!

 

Guilherme percebe a seriedade estampada no olhar de Nicole e estranha.

 

GUI: Por que cê tá com essa cara?

 

NICOLE: Vou perguntar só uma vez e eu quero que cê me responda com a maior sinceridade do mundo: Você sabia desse plano do Samuca de trocar de lugar com o irmão dele?

 

Close em Guilherme.

 

CENA 5/MANSÃO DOS CAVALCANTI/QUARTO DE ALEX/INTERIOR/NOITE.

Continuação da cena 3. Bruna e Samuca (este, já de pé, frente a frente com ela).

 

SAMUCA: Me explica Bruna! Fala sobre esse seu trato com o Mário!

 

BRUNA: Eu precisava da senha do cofre do velho.

 

SAMUCA: Sei, pra poder pegar os documentos.

 

BRUNA: Só quem tinha ela, além dele, era o Mário Gerson. E eu acabei conseguindo isso de um jeito.

 

SAMUCA: Que jeito?

 

BRUNA: Eu... transei com ele!

 

SAMUCA: (reage) O quê?

 

BRUNA: (por cima) Mas a gente nem se conhecia ainda, Samuca!

 

Samuca olha pro lado, respira fundo.

 

BRUNA: Em troca da senha, eu ofereci 20 por cento da minha parte na herança do Getúlio. Foi a única forma que eu tive do Mário me deixar em paz, senão ele ia querer transar comigo outras vezes!

 

Bruna vai até Samuca.

 

BRUNA: Não fica achando que eu/

 

SAMUCA: (corta) Eu não tô achando nada, Bruna!

 

Bruna abaixa a cabeça.

 

BRUNA: Não quero que você fique chateado comigo.

 

Samuca olha pra ela, sentido.

 

SAMUCA: (levanta o rosto dela) Claro que não vou ficar chateado com você por causa disso, Bruna. (T) Cê não já disse que a gente não se conhecia ainda? Então!

 

Bruna olha pra ele e dá um sorriso. Pega na mão dele.

 

BRUNA: Você não vai ficar chateado comigo mesmo, né?

 

SAMUCA: Não!

 

BRUNA: Mas é mesmo, mesmo!

 

SAMUCA: Eu sei!

 

BRUNA: Mas é mesmo, mesmo, mesmo!

 

SAMUCA: Só vou ficar chateado de verdade se você repetir a palavra “mesmo” de novo.

 

Os dois riem. Samuca puxa Bruna pela cintura e a beija. Close nos dois.

 

CENA 6/CASA DE NICOLE/SALA/INTERIOR/NOITE.

Continuação da cena 4. Nicole e Guilherme.

 

GUI: (desmente) Eu não sei do que cê tá falando!

 

Ele vai desviar, mas ela entra na sua frente.

 

NICOLE: Não adianta mentir pra mim! Fala!

 

GUI: Nicole/

 

NICOLE: (corta/pressiona) Fala!

 

GUI: Tá! (T) Eu sabia sim!

 

Nicole começa a distribuir tapas nele, que sai se esquivando.

 

NICOLE: (revoltada) Por que você não me contou?

 

GUI: Porque você não me perguntou!

 

NICOLE: (dando tapas nele) Seu traíra!

 

GUI: (se esquivando) Ai, ai, para (T) Você queria que eu fizesse o quê?

 

NICOLE: (grita) Queria que me contasse! Seu safado, cachorro, sem vergonha!

 

GUI: O Alex garantiu pro Samuca que não tocaria em você.

 

NICOLE: (dando tapas nele, revoltada) Garantiu, garantiu, garantiu, garantiu!

 

GUI: (se esquiva) PARA!

 

Nicole para de bater nele.

 

NICOLE: Que raiva! Todo mundo me enganando! Até meu irmão me enganando!

 

Nicole senta-se no sofá, com as mãos na cabeça.

 

NICOLE: (pensativa) Eu não posso ficar aqui parada sem fazer nada.

 

GUI: (passando a mão pelo braço) O que você tá pretendendo?

 

NICOLE: (olha pra ele) Eu acho que já chegou a hora deu ir pra aquela casa buscar o que é meu... E o Samuca tá incluso nisso!

 

GUI: Nicole, olha lá/

 

NICOLE: (corta) Se você vai me dizer pra não fazer besteira, pode esquecer! Vou pra lá de qualquer jeito, e vai ser amanhã!

 

Close nela, decidida.

 

CENA 7/JARDIM ORESTES/PLANOS GERAIS/EXTERIOR/MANHÃ.

Stock-shots da cidade ao amanhecer, destacando a praia, o porto, o cais e as ruas.

 

Dia meio nublado.

 

CENA 8/MANSÃO DOS PRATES/FAIXADA/EXTERIOR/MANHÃ.

Faixada da casa, para ambientar.

 

CENA 9/MANSÃO DOS PRATES/SALA/INTERIOR/MANHÃ.

Almerinda está polindo uma estatueta, sendo observada por Alexandra.

 

ALEXANDRA: Cuidado!

 

ALMERINDA: Tô tendo cuidado aqui, ô!

 

Almerinda continua polindo.

 

ALEXANDRA: (grita) Cuidado, estrupício!

 

ALMERINDA: (grita) Já disse que tô tendo cuidado!

 

ALEXANDRA: (pega a estatueta da mão dela) Vai acabar quebrando minha estatueta de milhões de dólares. (T) E não grite comigo, a patroa aqui sou eu!

 

ALMERINDA: (fala baixo) Patroa canguinha!

 

ALEXANDRA: O que disse?

 

ALMERINDA: Que a senhora é boazinha! – e sorri.

 

De repente, Guilherme vêm pela direção dos fundos.

 

ALEXANDRA: (para Guilherme) Tá atrasado, garoto!

 

GUI: Eu sei!

 

ALEXANDRA: Outro empregado debochado?

 

GUI: Eu só vim me justificar, senhora!

 

ALEXANDRA: Se justificar ou dar uma desculpa?

 

GUI: Opção número um.

 

ALEXANDRA: Vai dizer o quê? Que a mãe morreu?

 

GUI: Minha mãe já é falecida.

 

ALEXANDRA: O pai?

 

GUI: Também!

 

ALEXANDRA: Então o que é?

 

GUI: É que/

 

ALEXANDRA: (interrompe) Ah, já sei. Vai dizer que o carro quebrou na estrada né?

 

GUI: Mas eu não tenho carro nenhum!

 

ALEXANDRA: Com essa cara de morto de fome, também pudera né? (T) Olha aqui: Já é a segunda vez que você chega atrasado pro serviço. Que não haja uma terceira vez, ou então eu juro que te coloco no olho da rua. Agora vai! Dá meia volta! Xispa! Vaza!

 

GUI: Sim senhora!

 

ALEXANDRA: É senhorita!

 

GUI: Sim senhorita!

 

Ele volta pelo mesmo caminho de onde veio. Eduardo desce as escadas.

 

EDUARDO: Quê isso, vó?

 

ALEXANDRA: Quê isso, digo eu, garoto! Quantas vezes tenho que dizer pra não me chamar de vó? Tenho idade pra ser sua tia.

 

EDUARDO: A senhora destratou ele, por quê?

 

ALEXANDRA: Pelo fato dele ter se atrasado!

 

EDUARDO: Mas a senhora nem deixou ele explicar o motivo!

 

ALEXANDRA: Senhorita!

 

EDUARDO: (ríspido) Não interessa!

 

ALMERINDA: Xi menina, que bafulê.

 

Alexandra olha para Almerinda.

 

ALEXANDRA: E você tá olhando o quê, criatura? (grita) Sai daqui!

 

ALMERINDA: (saindo da sala) Sim senhorita, madame!

 

Eduardo fica às sós com Alexandra.

 

EDUARDO: Não precisava ter tratado ele daquele jeito.

 

ALEXANDRA: Quem você pensa que é pra me dar ordens?

 

EDUARDO: Quem você pensa que é pra tratar os outros desse jeito hein?

 

ALEXANDRA: A dona desta casa!

 

EDUARDO: Esta casa era da minha mãe!

 

ALEXANDRA: Isso não me interessa! A sua mãe morreu, a dona desta casa sou eu! E você tem que me respeitar, como esses subalternos aí. Seu moleque!

 

EDUARDO: (a olha com desprezo) Você é uma criatura horrível!

 

Em seguida, ele sai, em direção aos fundos. Alexandra pensativa.

 

ALEXANDRA: Horrível... Era só o que faltava. (tocando o rosto) Até parece que ponho essa máscara de lama do Havaí no rosto pra nada. (T) Horrível... Eu hein.

 

CENA 10/JARDIM/EXTERIOR/MANHÃ.

Guilherme está podando algumas plantas com uma tesoura de jardinagem pequena. Eduardo vem andando por trás.

 

EDUARDO: Foi mal aí, pela minha vó.

 

GUI: Não tem importância.

 

EDUARDO: Ela não devia tratar os empregados desse jeito.

 

GUI: Já tô acostumado. Aliás, sua vó não chega nem perto do meu antigo patrão.

 

EDUARDO: É... eu imagino. Fiquei sabendo do motivo da sua demissão. Eu sinto muito.

 

GUI: Não sente não. Não sabe o que é ser humilhado por ser você mesmo.

 

EDUARDO: Na verdade, eu sei sim.

 

Guilherme para de podar as plantas e se vira, levantando-se.

 

GUI: (curioso) Como assim?

 

EDUARDO: Eu já sofri o mesmo que você. Na época da escola.

 

GUI: Você é...

 

EDUARDO: Gay!

 

Guilherme surpreso.

 

EDUARDO: (ri) Não levanto bandeira né?

 

GUI: (sem graça) Se você não falasse, nunca que eu iria imaginar.

 

EDUARDO: (ri) Pois é.

 

GUI: Como foi isso?

 

EDUARDO: Ah, sabe como é né? (T) Um dia acabei ficando com um amigo na escola. Uma ficada aqui, outra ali. Um dia no banheiro, outro no pátio, na quadra. Até o dia que os outros viram e aí começaram a rir de mim. Me chamaram de bicha, de viadinho e outras coisas lá. Uns garotos mais grandões me bateram pra caralho...

 

GUI: (chocado) Nossa!...

 

EDUARDO: Pois é... Minha vida nunca mais foi a mesma. (T) Muita gente que se dizia amigo meu, se afastou de mim e a sessão de humilhação continuou, até que eu não aguentei mais, e minha mãe me tirou do colégio. Um tempo depois, nos mudamos pra cá.

 

GUI: Não imaginava que você tivesse passado por tudo isso.

 

EDUARDO: Ninguém imagina, até que cê começa a mandar a real.

 

GUI: Eu tive isso no trabalho também... Mas foi só no dia que eu fui demitido. Meu chefe descobriu e aí... Me humilhou na frente de todos os outros funcionários. (T) Foi horrível.

 

EDUARDO: Você percebe que ser você mesmo é difícil, quando passa a sofrer as consequências disso.

 

Guilherme concorda com a cabeça, meio pra baixo.

 

EDUARDO: Bom... mais uma vez, foi mal aí. Não liga pro que a velha disse não, tá? (T) Se precisar de alguma coisa, só falar comigo.

 

GUI: Eu digo o mesmo! (T) De verdade!

 

Eduardo dá um sorriso e sai dali, sempre a olhar pra ele. Guilherme retribui.

 

Eduardo entra na casa.

 

Guilherme continua o serviço, até que olha pro nada, pensativo. Dá um sorriso e volta a trabalhar.

 

CENA 11/COZINHA/INTERIOR/MANHÃ.

Eduardo vem dos fundos e passa pela cozinha. Almerinda atrás da porta da cozinha.

 

ALMERINDA: (falando alto) Ah, eu vi!

 

EDUARDO: (se vira) Que susto, Almerinda!

 

ALMERINDA: (rindo) Safadinho!

 

EDUARDO: (ri) O quê?

 

ALMERINDA: Acha que eu não vi né? Você se jogando pra cima do loirinho lá fora.

 

EDUARDO: Tá dando pra me espiar?

 

ALMERINDA: (se aproxima) Me conta aqui... Ele é bonitinho né?

 

EDUARDO: (sussurrando) Fala baixo!

 

ALMERINDA: (sussurra) Ah, quê isso? Tá com medo da velha da tua vó é? (T) Assume logo isso, Eduardo.

 

EDUARDO: Não, tá cedo!

 

ALMERINDA: Que cedo o quê, garoto? Deu pra ver a tua cara, você olhando o jardineiro loirinho lá fora... Você defendendo ele da tua vó lá na sala. (T) Tá afim dele sim!

 

EDUARDO: Que nada! Você anda imaginando demais.

 

ALMERINDA: Imaginando... Se eu fosse você já teria era arrastado ele pro meu quarto e/

 

EDUARDO: (repreende) Almerinda, para! (saindo) Vou pro quarto.

 

Ele sai da cozinha.

 

ALMERINDA: (para si) Tá afim do garoto sim... Vai querer enganar outro! A mim não!

 

CENA 12/MANSÃO DOS CAVALCANTI/QUARTO DE OLÍVIA/INTERIOR/MANHÃ.

Olívia na cama, enjoada. Ravena ao lado, com uma xícara de café. Samuca em pé, mais atrás.

 

RAVENA: Toma, Olívia.

 

OLÍVIA: Ai, não!

 

SAMUCA: É melhor não dar café pra ela não, hein? Pode piorar.

 

OLÍVIA: (enjoada) Me dá o balde!

 

Ravena entrega o balde pra ela e se levanta. Ela vai falar com Samuca. Os dois falam baixo, quase sussurrando.

 

RAVENA: Tô preocupada com ela!

 

SAMUCA: Ela vai ficar bem.

 

RAVENA: Olívia tem que parar de beber! Se ela continuar desse jeito, vai acabar tendo problemas.

 

SAMUCA: Fiquei sabendo que ela já foi pra uma clínica de reabilitação, ficou lá internada durante um tempo.

 

RAVENA: É... Eu lembro de uma vez que o Alex falou. Aliás, cadê ele hein?

 

CENA 13/PRESÍDIO/CELA/INTERIOR/MANHÃ.

Foco na porta de ferro da cela, que é aberta por um carcereiro.

 

Close no carcereiro.

 

CARCEREIRO: Visita pra você, velho!

 

Close em Getúlio que se levanta do chão. Caminha em direção à porta e sai da cela.

 

O carcereiro fecha a porta da cela, fazendo um grande estrondo.

 

CENA 14/PRESÍDIO/VISITA/INTERIOR/MANHÃ.

Alex sentado numa cadeira, de frente para a mesa.

 

A porta da sala de visitas se abre e Getúlio entra no local.

 

O carcereiro fecha a porta.

 

Getúlio e Alex se encaram. Getúlio se senta na cadeira, do outro lado da mesa.

 

ALEX: Eu tive que vir aqui pessoalmente olhar pra sua cara, porque é inacreditável! 

 

GETÚLIO: Aposto como você deve estar indignado.

 

ALEX: Eu tô é com nojo de você!

 

GETÚLIO: (ri) Quem mandou mexer comigo hein?

 

Alex fica sem entender o que ele está falando.

 

GETÚLIO: Eu avisei pra você que isso não ficaria assim. Eu falei que iria dar o troco.

 

Alex estranha.

 

GETÚLIO: Ninguém mandou você mexer comigo, diabinho.

 

O homem começa a gargalhar.

 

GETÚLIO: (grita) Quem mandou se meter no meu caminho hein? (T) Por sua culpa, por culpa da sua ousadia, a sua família de ratos virou pó!

 

ALEX: (desacreditado) Como é que é?

 

GETÚLIO: (sorrindo maleficamente) É! Você acha o quê? Que é só pelo fato de eu estar preso, que não posso fazer as coisas é? (T) A casinha da sua mamãe virou pó porque eu quis assim! E eu não me importo nem um pouco em jogar isso na sua cara, já estou preso mesmo!

 

Alex olha pra ele, sem acreditar, horrorizado.

 

ALEX: Então foi você que mandou incendiar a casa da minha mãe?

 

Getúlio gargalha e em seguida, o encara.

 

GETÚLIO: Eu avisei, Samuel! Eu avisei que não deixaria você passar por cima de mim assim tão fácil! (T) Eu avisei!

 

Soundtrack de suspense sobe e toma conta da cena.

 

Alex se levanta e o encara, olho no olho.

 

ALEX: E quem disse que eu sou o Samuel?

 

Getúlio arregala os olhos.

 

GETÚLIO: (em choque) Alex?!

 

Alex o encara, furioso.

 

Getúlio retribui, assustado. Fade out.

Post a Comment

Tradutor