A OUTRA

CAPÍTULO 16

UMA NOVELA DE TAÍS GRIMALDI


CENA 1 – APARTAMENTO DE EVELYN E MÁRCIA. CORREDOR / ESCADA DO PRÉDIO / RUA LATERAL. INT/EXT. DIA


SONOPLASTIA – “Pelo Caminho”, Alberto Rosenblit - instrumental, tensa e contínua

Travelling lateral acompanha os sapatos pretos de verniz da inspetora Lima, firmes, calculados, pisando o chão de mármore do corredor do prédio de classe média alta. Atrás dela, dois policiais civis – táticos, atentos, silenciosos. O ruído de um rádio comunicador baixo. A porta do apartamento 703 é o foco.

A campainha toca. Nenhuma resposta.

Plano contra-plongée: a mão da inspetora faz sinal. Um dos agentes bate com força.

A câmera se desloca em grua lenta para a lateral do prédio, revelando discretamente, no fundo do corredor, uma porta de serviço semiaberta.

Corte seco.

Do outro lado, um close sutil em uma mão feminina que puxa a porta dos fundos com cuidado. Vestida exatamente com a mesma roupa que viralizou nos vídeos – o vestido vinho justo, cabelo preso com lenço preto, grandes óculos escuros e batom vermelho. A figura da mulher é sensual, decidida. Ela sai sem olhar para trás.

Plano subjetivo da mulher: um beco, escadas de emergência, muros grafitados. O som dos próprios saltos ecoando contra as paredes do vão estreito. Ela corre, mas não com desespero. Corre como quem ensaiou.

A câmera acompanha em steadycam, quase colada ao seu ombro. Um movimento limpo, tenso, cinematográfico.

Corte para os policiais percebendo a movimentação. Um grito. Eles se deslocam em bloco, descendo pelas escadas em perseguição.

A música sobe.

Ela atravessa a portaria sem ser percebida. Do outro lado da rua, um carro preto a espera, com o motor ligado. A mulher entra, joga a bolsa no banco ao lado e fecha a porta.

A polícia sai do prédio em desespero. Sirenes. Agentes se espalham, apontam, correm. Um dos carros dá ré com brutalidade.

Dentro do veículo, a mulher respira fundo. Sua mão, com unhas vermelhas perfeitas, toca o vidro. Do reflexo, vemos apenas os lábios se curvando num quase sorriso.

A câmera sobrevoa o carro que parte em disparada pela Rua Barata Ribeiro.

CORTA PARA:

 

CENA 2. RIO DE JANEIRO. RUAS. EXT. DIA


SONOPLASTIA – "PELO CAMINHO", ALBERTO ROSENBLIT - VERSÃO INSTRUMENTAL

 

PLANO ABERTO – A câmera acompanha em travelling lateral um táxi preto se esgueirando com dificuldade pelo trânsito agitado da Rua Barata Ribeiro, cruzando sinais vermelhos e desviando de buzinas e motociclistas furiosos. O carro pega a Rua República do Peru e finalmente alcança a Avenida Atlântica.

PLANO DE DETALHE – Pneus rangem no asfalto quente. O táxi tenta manter velocidade, mas já é seguido discretamente por duas viaturas descaracterizadas.

PLANO SUBJETIVO – DE DENTRO DO TÁXI.
Uma mulher loira de peruca curta e casaco bege dirige, com expressão contida. A respiração é tensa, mas o olhar é calculado. Ela checa o retrovisor. Fecha o casaco. Um celular vibra no painel. Ela não atende.

TRAVELLING LENTO – A CÂMERA AVANÇA PELA LATERAL DO TÁXI, passa pela porta traseira, reflete o mar ao fundo no vidro e pousa no rosto da mulher, que permanece um mistério. A música continua tocando, sutil.

PLANO GERAL – De repente, a viatura da frente bloqueia o táxi. Outra surge atrás. Sirenes discretas soam. Policiais à paisana cercam o carro com armas em punho.

CLOSE – UMA MÃO TREME LEVEMENTE NO VOLANTE.

VOZ (OFF) – Saia do carro! Agora!

PLANO MÉDIO – A mulher suspira, ergue as mãos lentamente e sai do carro. Seu rosto está parcialmente sombreado. Os policiais avançam com cautela.

PLANO DETALHE – Um distintivo surge entre os policiais. Uma mulher negra, imponente, emerge. É Delegada Yona. O olhar dela mistura desprezo e cálculo. Ela reconhece a mulher, mas ainda mantém a formalidade.

YONA -  (com frieza) Finalmente você resolveu sair da toca. Que coincidência você pegar logo esse táxi (irônica) Você sempre gostou de fazer cena.

PLANO PRÓXIMO – O rosto da mulher é revelado sutilmente. É Evelyn. Ela sorri, irônica. Os olhos brilhando.

EVELYN — Isso tudo por mim? Pensei que tivesse me esquecido, Yona. Você está ainda mais sexy com essa arma.

PLANO DETALHE – OS OLHARES SE ENCONTRAM.
O silêncio entre elas diz mais que as palavras. O desejo e o rancor fervem sob a superfície.

YONA - (tensa, baixinho)Cuidado com o que você fala. Você está pisando em gelo fino.

EVELYN — Gelo eu derreto. Você sabe.

PLANO LARGO – Evelyn é colocada na viatura com movimentos calculados. Sorri, mesmo algemada. A câmera acompanha seu rosto enquanto ela entra no carro.

PLANO AÉREO – O comboio policial arranca em direção ao Leme. A música segue tocando, quase como um sussurro cúmplice entre as duas.

CORTE PARA:

 

CENA 3. CARRO DE PAULA LEE. INT. DIA

PLANO MÉDIO – Paula Lee dirige em alta velocidade por um trecho arborizado da Lagoa. Ao lado dela, Márcia, tensa, observa a cidade passar rápido pela janela.

PAULA LEE -  (enquanto dirige) Antes de irmos ao aeroporto, vamos pegar os documentos falsos. Depois, Espanha.

MÁRCIA -  (ainda abalada)Espanha? Por quê?

PAULA LEE — É onde tudo começa. Ou acaba. A chave do que fizeram com Sibeli tá lá.(olha para Márcia de relance) E você, se quiser mesmo sair viva disso, vai ter que confiar em mim. Cem por cento.

MÁRCIA - (baixa) Eu confio.

PLANO DETALHE – AS MÃOS DAS DUAS, QUASE SE TOCANDO NO CÂMBIO.

PAULA LEE - (com ironia) Mas não se apaixona. Isso nunca acaba bem.

MÁRCIA - (sorri, contida)Tarde demais.

PLANO SUBJETIVO – O REFLEXO DAS DUAS NO ESPELHO INTERNO.

A CÂMERA SE AFASTA LENTAMENTE PELA JANELA DO CARRO, enquanto a música instrumental volta, e as duas somem no trânsito que leva à Zona Oeste.

CORTA PARA:

 

CENA 4. PALÁCIO DAS LARANJEIRAS. SALA DE ESTAR. INT. DIA.

A câmera acompanha num travelling lento a sofisticação silenciosa da sala de estar. Cortinas de linho branco tremulam discretamente com a brisa que entra pelas janelas semiabertas. Luz natural suave recorta o ambiente em tons dourados. Os móveis são elegantes, de época, impecáveis. O som de um piano distante ecoa, vindo de outro cômodo, quase como um sussurro.

STELLA está sentada numa poltrona Luís XV, vestindo um robe de seda azul-petróleo. Acende um cigarro com gestos lentos, enquanto observa os vídeos no tablet em seu colo. Um zoom lento revela um detalhe que só ela percebe: nos vídeos, uma mulher de cabelos tingidos de vermelho passa ao fundo. STELLA arregala levemente os olhos. Pega o controle remoto, pausa o vídeo. Entra MARISA, ainda com maquiagem borrada, o rosto cansado, mas vibrando intensidade. Veste jeans, uma camiseta velha de banda, e um sobretudo masculino, largo demais para ela. Carrega uma garrafa de água e um pacote de pastilhas.

MARISA - (chegando perto, em voz baixa) Era a Márcia, né?

STELLA demora um segundo para responder. Enquadre fechado nela, tragando o cigarro, a boca trêmula. Só depois solta a fumaça e desvia os olhos.

STELLA - Ela estava a poucos metros de mim. Talvez dez passos. Talvez menos. Eu não percebi.

MARISA - (arrepiada, sentando-se no braço da poltrona)
Eu vi também. Fiquei gelada. Me deu um troço. Eu e você, sempre brigando, mas não consigo te perdoar pelo que você fez. Mesmo querendo.

A câmera gira devagar ao redor das duas. O tempo parece suspenso. STELLA se levanta com suavidade, encara a filha — que é, na verdade, sua sobrinha — e segura seu rosto com as duas mãos.

STELLA - (com ternura firme) Não importa o que aconteça, o que digam, o que você pense que sabe. Você é a coisa mais importante da minha vida. Você é a única coisa que sobrou de bom em mim.

MARISA desvia o rosto, mas não se solta. A tensão entre elas cresce, mas agora é outra: de uma intimidade frágil, inegável, com ecos de algo mais profundo, mais doloroso.

MARISA - (sincera, baixa) Às vezes, quando eu me drogo é porque eu quero mesmo. Porque eu gosto. Foi isso que aprendi na terapia. Que a culpa não é sua. Que não é da Stella. É minha. Eu tenho vontade.

Pausa. STELLA escuta em silêncio, emocionada, os olhos marejando.

MARISA - (sincera, quase sem conseguir olhar nos olhos) Mas tem vezes que eu uso porque eu acho que você não se importa mais comigo.

A fala reverbera no ar como uma facada. STELLA se aproxima ainda mais, envolve MARISA num abraço apertado. A câmera fecha neles, colada, íntima, crua. A respiração das duas se mistura. Lágrimas deslizam discretamente. É um reencontro doloroso, quase físico, entre amor e mágoa.

STELLA - (em sussurro) Você é tudo. Tudo que me faz continuar. Não faz isso com a gente.

Travelling lento se afasta, enquanto as duas continuam abraçadas. Ao fundo, o piano parou. O silêncio do Palácio é absoluto.

Fade out suave.

CORTA PARA:

CENA 5. RIO DE JANEIRO. EXT. ANOITECER

SONOPLASTIA – RIO 40 GRAUS – FERNANDA ABREU 

A luz alaranjada do fim do dia tinge a cidade. O sol se esconde atrás dos prédios e morros, deixando as sombras se estenderem pelas ruas movimentadas. O cheiro do mar, misturado à fumaça dos carros e ao calor pegajoso, invade o ar.

Um travelling acompanha a orla, da areia fina da praia ao calçadão movimentado, onde pessoas apressadas cruzam caminhos, algumas em silêncio, outras em conversa abafada. O ritmo da cidade é pulsante, vivo — uma mistura de beleza e inquietação.

No meio desse cenário, duas mulheres caminham lado a lado, seus passos sincronizados, mas o silêncio entre elas é pesado, carregado de palavras não ditas.

Paula Lee, elegante, cabelos soltos ao vento, veste uma blusa leve que dança com a brisa. Ao seu lado, Márcia, com um olhar distante, as mãos nos bolsos do casaco que ainda carrega do dia, parece carregar o peso de um segredo.

O som eletrônico, inconfundível, de “Rio 40 Graus” começa a crescer ao fundo, os primeiros acordes entrelaçam-se ao ruído natural da cidade.

As duas trocam olhares — há tensão ali, algo que não precisa de palavras. A proximidade física se torna quase um conflito silencioso, o que deveria ser abraço, quase se torna ameaça.

Márcia fala primeiro, a voz baixa, quase arrastada.

MÁRCIA - (sem olhar para Paula) Você acha mesmo que a verdade vai nos salvar?

Paula para, respira fundo, o vento levanta seu cabelo, os olhos fixos nos da amiga.

PAULA LEE - (serena, quase um sussurro) Nem sempre. Mas esconder não é caminho. Nem aqui. Nem em lugar nenhum.

Os passos voltam a andar, o calçado batendo ritmado no chão. As luzes começam a acender no calçadão, piscando como pequenos faróis.

Um travelling lateral capta a silhueta das duas contra a vista das montanhas e do mar que se dissolve na penumbra. A música cresce e a câmera se aproxima lentamente dos rostos.

Olhos nos olhos. Desejo, medo, dor, esperança — um turbilhão de emoções que explode em silêncio.

MÁRCIA - (vulnerável) Eu só quero uma chance, Paula. uma chance pra recomeçar.

Paula estende a mão, toca o braço de Márcia. Um toque breve, mas carregado de promessa.

PAULA LEE - (sussurrando) Vamos achar essa chance. Na Espanha. No que sobrou do mundo pra gente.

O som da cidade, a música, e a respiração das duas se misturam enquanto elas seguem caminhando, pequenas contra a imensidão da cidade que nunca dorme.

Fade out enquanto “Rio 40 Graus” alcança seu refrão, vibrante, eletrizante.

CORTA PARA:

 

CENA 6 – DELEGACIA. INT. NOITE

A delegacia está mergulhada em uma atmosfera opressora. A luz branca e cruel reflete nos azulejos frios. Há um silêncio tenso, quebrado apenas por toques de telefone e passos distantes. É noite, mas ninguém foi embora. A crise exige vigília.

YONA MAGALHÃES, implacável, está sentada à mesa, com um tablet na mão. A tela exibe, congelado, o vídeo comprometedor de MÁRCIA. Ela observa a imagem com desconfiança e indignação contida.

YONA - (firme) Isso pode ser falso. Deep fake. Ou uma adulteração grosseira. Eu quero uma perícia técnica — imediata. Quero descartar qualquer hipótese de manipulação.

Ao lado dela, o POLICIAL DELEGADO ASSISTENTE — homem frio, olhar esquivo — assente com aparente respeito.

POLICIAL - (claro, prestativo demais) Pode deixar, delegada. Vou cuidar disso agora.

Yona não desconfia. Ele se afasta. Ao virar o corredor, tira o celular do bolso e disca. Fala em tom baixo, quase sussurrando, andando enquanto olha ao redor.

POLICIAL - (pelo telefone, tenso) Selena, a chefe quer perícia nos vídeos da Márcia. (pausa) Mas você sabe o que tem que fazer. A perícia precisa "confirmar" que é real. Nada de deep fake.

No final do corredor, RENATA, agente nova, ouve tudo. Ela se esconde atrás de uma divisória, olhos arregalados. Respira fundo, em choque.

O policial desliga. A câmera o enquadra em contra-luz, revelando sua sombra distorcida nas paredes brancas. Ele sorri, sutilmente — não de humor, mas de cálculo.

Corte para Yona, sozinha na sala. Ela ainda encara a imagem congelada de Márcia. Seu rosto é uma máscara de determinação. Uma guerreira solitária, prestes a ser traída por dentro do próprio sistema.

Fade out. A noite continua lá fora. Dentro, o jogo sujo começa a fermentar.

CORTA PARA:

CENA 7 – DELEGACIA. ESCRITÓRIO DE YONA. INT. NOITE

YONA está sentada atrás de sua mesa, tensa, mas atenta. RENATA entra decidida, fechando a porta atrás de si.

RENATA - (baixa) Preciso te contar uma coisa. Eu ouvi o policial que atendeu seu pedido falando no telefone com uma mulher. Ele passou tudo. Nome da perícia, laboratório, até prazos.

YONA – (firme) Ele disse o nome dela?

RENATA - Disse sim. Selena.

Yona empalidece ligeiramente. Um silêncio pesado.

YONA - Selena. Claro. Ela está ligada ao gabinete do governador.

RENATA - Você acha que ela...

YONA - (por cima) Acho que ela quer interferir, Renata. E vai fazer isso da forma mais elegante e silenciosa possível.

Yona se levanta com calma, encara Renata.

YONA - Você vai mandar o vídeo pra dois laboratórios. Um é o que ela já sabe. O outro, não.

RENATA - (entendendo) Certo. Um laboratório que não tenha qualquer ligação com o governo.

YONA - (disfarçando a preocupação) E rápido. Antes que ela tente abafar a história.

Renata assente e sai. Yona senta-se novamente, encara a tela do computador, pensativa. A tensão paira no ar. A sombra de um poder maior começa a se projetar sobre o caso.

CORTA PARA:

CENA 8 – APARTAMENTO DOS FERRAZ DINIZ. SALA DE ESTAR. INT. NOITE

A sala está em meia-luz. A televisão ligada sem som. Ana Maria, sentada com uma manta sobre os joelhos, faz crochê num ritmo lento. Camila zapeia o controle remoto, entediada. O som da porta sendo aberta as desperta.

MARCELO - (entra apressado, abre o armário do hall)
Só vim pegar umas roupas. Vou dormir na casa do Roberto hoje.

CAMILA - (desdenhosa) Vai fugir da própria família no meio da crise?

ANA MARIA - Ele está abalado, Camila. A irmã dele acabou de morrer. É bonito ver amigos se apoiando nessas horas.

Marcelo para por um segundo, olha para a avó com leve ironia e toma fôlego:

MARCELO -Não somos só amigos, vó. Roberto é meu namorado.

O silêncio corta o ar como uma navalha. Camila vira lentamente o rosto. Ana Maria deixa o crochê cair no colo. O mundo desaba em olhos boquiabertos.

CAMILA - (gaguejando, com raiva disfarçada de surpresa)
Você tá brincando.

ANA MARIA - Isso é fase. Isso passa.

CAMILA - Isso é pra nos provocar, né? Você sempre foi do contra. Mas tem coisas que são contra a natureza.

MARCELO - (sorri com desdém, veste a mochila) O que é contra a natureza é viver do ódio e chamar isso de moral. Boa noite.

Ele sai. Ana Maria abafa um “meu Deus” e Camila começa um discurso moralista, mas são interrompidas pelo som da porta do corredor abrindo novamente. Giuseppe entra, já de saída, elegante, perfume discreto, expressão fechada.

GIUSEPPE - Alguém viu minha carteira?

CAMILA - Você vai sair também? Com a cidade do jeito que tá?

ANA MARIA - Esses dois. É cada um pra um lado. Nenhum segura a barra em casa.

CAMILA - (provocando) Vai atrás da sua namoradinha do momento, né? Aquela que vive metida em escândalo?

GIUSEPPE -(na lata, seco, sem hesitar) Prefiro a companhia dela do que a de duas mulheres que confundem preconceito com princípios.

Silêncio sepulcral. Camila e Ana Maria se entreolham, humilhadas e furiosas. Giuseppe sai, batendo a porta com classe. O som ecoa. A TV segue muda. Só se ouve o tic-tac do relógio e a respiração pesada das duas.

CORTA PARA:

CENA 9 – JATINHO. INT. NOITE

Plano geral – Interior minimalista e luxuoso do jatinho em pleno voo. Tudo em branco, dourado e vidro. O silêncio é elegante. O Rio já ficou para trás. Estamos entre nuvens.

Plano médio lateral – Paula Lee serve duas taças de champanhe. O gesto é preciso, quase cerimonial. Um leve sorriso nos lábios.

Close-up – O rosto de Márcia, iluminado pela janela oval. Ela observa as luzes da cidade que se apagam ao longe. Um traço de melancolia. Ou cálculo.

Som ambiente: batida suave de " If It Makes You Happy ", Sheryl Crow – remix elegante, eletrônico e contido.

PAULA LEE - (voz baixa, contida) Às sobreviventes.

Plano detalhe – As taças se tocam. Cristal fino. O som seco do brinde ecoa com elegância.

MÁRCIA - (sem sorrir) Às oportunistas com timing perfeito.

Plano médio frontal – As duas sentadas frente a frente. Paula relaxa o corpo. Márcia mantém a coluna ereta, o olhar firme.

PAULA LEE - Você sabe o que eu mais admiro em você, Márcia? (pausa)
Não é a coragem. Corajoso é quem não tem opção. Você tem. E mesmo assim vai lá e faz.

Close-up em Paula Lee – O sorriso enviesado, olhos semicerrados. Há admiração, mas também ironia.

Close-up em Márcia – Ela não retribui o sorriso. Apenas responde, seca.

MÁRCIA - Eu não vim ao mundo pra agradar. Vim pra vencer.

Plano americano – Paula se recosta, cruza as pernas. O ambiente é íntimo, mas tenso. Duas leoas na mesma cabine.

PAULA LEE - (sarcástica, contida) Que slogan maravilhoso. Bota numa camiseta. Vende. Fica rica. Mais rica.

Elas riem – plano geral de ambas no riso contido e cúmplice. Um brinde sem afeto. É guerra fria.

Plano de reação – Paula relaxa. Márcia pega a taça com leveza calculada.

PAULA LEE – Então, mais um brinde?

MÁRCIA - (piscando, sem humor) Pelo fim da inocência.

Plano detalhe – As taças se tocam novamente. A champanhe vibra sob a luz âmbar da cabine.

Câmera se afasta lentamente – plano aberto do jatinho voando na noite estrelada. A música cresce, elegante e amarga.

CORTA PARA:

 

FIM

 

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