A OUTRA

CAPÍTULO 20

UMA NOVELA DE TAÍS GRIMALDI


CENA 1 – CLIPE – SUÍÇA. DIA/NOITE. EXT./INT.


SONOPLASTIA  "Vlinder van een zomer" – Willeke Alberti

Montagem sofisticada, elegante, melancólica e quase etérea. Uma ode visual à Suíça, mas vista com olhos carregados de presságio, como se a beleza do cenário escondesse uma tragédia latente. A música embala a sequência com doçura e saudade.

EXT. VALE DOS ALPES – DIA


Imensas montanhas cobertas de neve. A câmera voa lentamente por entre picos imponentes, revelando um chalé solitário cravado em meio à natureza. O sol banha a paisagem com luz dourada. Tudo parece calmo demais.

EXT. LAGO LÉMAN – DIA


Barcos deslizam silenciosamente pela superfície espelhada. Uma gaivota plana ao fundo. O reflexo das nuvens no lago é límpido, mas a câmera mergulha sutilmente no reflexo como se algo o perturbasse. Um prenúncio.

INT. CAFÉ BOUTIQUE – DIA


Mesas com taças de vinho branco, porcelanas delicadas. Uma garçonete arruma flores num vaso. O sino da porta toca. A câmera permanece fixa nos lírios brancos, que murcham lentamente numa transição simbólica para...

EXT. VIELAS DE LAUSANNE – FIM DE TARDE


As ruas de paralelepípedos brilham com a luz oblíqua. Vitrines de antiquários e relojoarias. Um trem passa ao fundo, como se o tempo escapasse. Uma bicicleta abandonada encostada numa parede antiga. Um carrilhão toca.

EXT. ESTAÇÃO DE TREM – PÔR DO SOL


O relógio antigo marca 18h. A imagem congela por um instante. Há algo simbólico na exatidão do tempo. Uma mala esquecida num banco. A câmera se aproxima lentamente e corta.

EXT. CATEDRAL GÓTICA – NOITE


A câmera desliza pelas gárgulas, como se observassem os mortais com olhos impiedosos. O vento sopra forte. Um trovão distante. Os sinos badalam 21h.

INT. QUARTO DE HOTEL – NOITE


Um ambiente de luxo frio. A câmera percorre lentamente o interior: um copo de cristal com vinho derramado, um batom aberto sobre a bancada, uma carta rasgada.

EXT. RUA DESERTA – NOITE


A neve começa a cair. Um carro preto cruza lentamente a avenida silenciosa. Faróis acesos como olhos de predador. A cidade, antes bucólica, agora parece ameaçadora.

INT. IGREJA VAZIA – NOITE


Velas acesas. A imagem da Virgem Maria coberta por um véu escuro. O silêncio é absoluto, interrompido apenas pelo som da música. O altar vazio. Um banco arranhado.

EXT. MONTANHA – ALVORECER


A câmera retorna ao topo da montanha. O céu começa a clarear, mas o tom permanece sombrio. A neve agora cobre tudo como um manto de silêncio e segredo.

A música termina com um leve vibrato.

CORTA PARA:

CENA 2 – RUA DE GENEBRA. EXT. DIA

O dia é claro, frio, mas com sol — uma típica manhã suíça de primavera tardia. A rua de Genebra é elegante, de pedras claras e limpas, ladeada por vitrines luxuosas de relógios e boutiques discretas. O silêncio europeu é quebrado apenas pelo som distante de sinos e o passar ocasional de um bonde.

PAULA LEE caminha devagar, mas não por acaso. Usa um sobretudo branco fechado por um único cinto dourado, botas de salto e óculos escuros. É a imagem da sofisticação controlada, quase gélida. Seus olhos percorrem a rua com a segurança de quem conhece o próprio roteiro.

RODRIGO MALDONADO surge do lado oposto da calçada, distraído, folheando um jornal dobrado. Veste-se de forma europeia, discreta, mas com elegância — um brasileiro que se adaptou ao ambiente. Paula para subitamente, sorri e atravessa a rua como se tivesse acabado de ver um velho conhecido.

PAULA - (com encantadora surpresa) Mas se não é o embaixador da safadeza Maldonado. Genebra está ainda mais diplomática hoje.

Rodrigo a reconhece. Há um instante de hesitação. Um passado em comum pulsa silencioso entre eles, mas ele responde com polidez.

RODRIGO - Paula Lee, achei que você só aparecesse quando havia um jantar de Estado ou um escândalo a caminho.

PAULA - Ou os dois, meu bem.

Ela dá um passo à frente, o encara. Tira os óculos. Os olhos dela são perigosos. O rosto, indecifrável.

RODRIGO - (mais sério) O que você quer?

PAULA - (passa o dedo no casaco dele, insinuante) Por enquanto, só sua companhia. Um jantar. Um bom vinho. E, quem sabe, uma noite sem segredos.

RODRIGO - Paula...

PAULA - (interrompe, mais seca) Você ainda deve algo à minha família. Isso não é sedução, Rodrigo. É estratégia. Às vezes, elas se confundem.

Ela sorri, mas os olhos continuam frios. Ele hesita. Há culpa, há desejo, há medo.

RODRIGO - Jantar. Apenas isso?

PAULA -(sorri com ironia) Você não me conhece? Nunca é apenas isso.

Ela anota algo num guardanapo que tira da bolsa e entrega. Rodrigo a observa se afastar como uma tempestade controlada. A câmera sobe para um plano geral da rua, antes de cortar bruscamente para o próximo momento — deixando no ar a promessa de um jogo que acabou de começar.

CORTA PARA:

 

CENA 3. RUA DESERTA. EXT. NOITE

 

Plano aberto da rua sem saída, mal iluminada, com uma única lâmpada pública piscando. O silêncio é quase total, exceto pelo som ocasional de passos na água acumulada no asfalto rachado. A sirene de uma viatura ao longe. Um vento cortante sopra folhas secas. A cena é asséptica e mórbida. Nua de glamour. Fria como a morte.

Dois policiais de uniforme conversam com vozes abafadas perto da fita de isolamento. Um repórter tenta se aproximar, é barrado. Um flash de câmera explode no escuro. A luz revela brevemente o contorno do corpo caído: uma mulher de vestido escuro, pernas dobradas de forma antinatural, o rosto parcialmente encoberto por fios de cabelo molhados de sangue seco.

A DELEGADA YONA, elegante na sobriedade, tensa mas composta, observa a cena à distância, de braços cruzados, olhos atentos. Seus sapatos tocam o chão com decisão. Ela atravessa a fita, ignorando os protestos do perito.

YONA - (dura, seca) Quero a autópsia completa. Sangue, cabelo, conteúdo estomacal, toxicológico. Tudo. E quero até amanhã cedo.

POLICIAL PERITO - Mas, delegada, com essa umidade...

YONA - (interrompe) Faça. É Alice Ferraz. Isso vai feder — e lá em cima já estão ligando.

Ela se aproxima do corpo com passos firmes. A câmera acompanha em plano baixo, rente ao chão. Quando ela se agacha, sua respiração se condensa no ar frio. O reflexo da sirene azul ilumina seu rosto, que fica momentaneamente fantasmagórico.

Yona observa ALICE (30 e poucos), pálida, os olhos ainda abertos, uma expressão de terror congelada no rosto. A delegada estuda aquele rosto. Há uma melancolia escondida no olhar da delegada, como se enxergasse algo além da morte.

Ela se ajoelha lentamente ao lado do corpo. O silêncio pesa. Música incidental começa a insinuar tensão.

YONA - (baixo, para si mesma) O que você sabia, Alice? O que fizeram com você?

Ela estende a mão e fecha os olhos de Alice com delicadeza. Um momento de respeito. Depois se levanta, recuperando a frieza. Seu olhar agora é cortante. Profissional. Incisivo.

YONA - (virando-se para a equipe) Esse não é um assalto. Isso foi execução. Alguém está mandando um recado. Quero todas as câmeras de segurança dessa rua, do quarteirão, do bairro. Entenderam?

Ela dá as costas ao corpo, com o sobretudo esvoaçando. Os passos ecoam na noite molhada. A câmera sobe, em grua lenta, revelando a cidade de Genebra ao fundo, suas luzes distantes. O corpo permanece sozinho, pequeno na vastidão de concreto e silêncio.

CORTA PARA:

 

CENA 4 – PALÁCIO DAS LARANJEIRAS. SUÍTE DE MARISA. INT. NOITE

SONOPLASTIA – SUAVE VENENO – NANA CAYMMI

A câmera percorre lentamente a suíte luxuosa, com seus móveis clássicos, cortinas de veludo esvoaçando com o vento que entra pelas janelas entreabertas. A luz é baixa. Há algo de opressor no ambiente — como se o passado estivesse preso ali, espreitando nas paredes silenciosas.

MARISA surge no enquadramento com pressa. Está ofegante, visivelmente transtornada, vestindo um robe de seda vermelho por cima de uma camisola escura. Ela fecha a porta atrás de si e gira a chave, como se isso pudesse impedi-lo.

MÁRIO surge logo depois. Alto, imponente, suado. Abre a porta com força — ele tem a chave mestra, claro. Seu olhar é uma mistura de frustração e desejo contido.

MARISA - (sem encará-lo) Você me segue como um cão! Eu não sou sua prisioneira, Mário.

MÁRIO - (seco) Não sou seu cão. Sou o único homem que ainda diz a verdade na sua cara. Você só corre quando é pega.

MARISA - (elevando o tom, com os olhos cheios d’água) Você não sabe o que é viver com medo. Cada porta que eu abro pode ser uma armadilha! E você me olha como se quisesse me salvar e me destruir ao mesmo tempo!

MÁRIO - (aproximando-se lentamente) Porque é isso mesmo. Você me enlouquece, Marisa. Com sua mentira bem-vestida. Com esse orgulho de princesa decadente.

Ela tenta fugir, se esquivar dele, mas ele a segura pelo braço com firmeza — sem violência, mas com autoridade. Eles se encaram. A tensão é quase física. O silêncio se alonga. A respiração deles é a única trilha sonora. O tempo parece suspenso.

MARISA - (sussurrando) Me solta…

MÁRIO - (aproximando o rosto) Você quer isso?

Ela hesita. Os olhos se enchem de lágrimas. Ela não sabe se bate nele ou se o beija. Ele está próximo demais. Ela sente o cheiro dele. Os dois tremem.

MARISA - (por fim, num fio de voz) Eu te odeio.

MÁRIO - (sem tirar os olhos dela) Mente mal.

E então, eles se beijam. Com fúria. Com urgência. Com dor e prazer misturados. É um beijo de anos não vividos, de guerras que não foram lutadas. Ela o empurra contra a parede, ele a segura pela cintura. O robe escorrega de seus ombros.

O mundo inteiro parece ruir em volta deles — e ao mesmo tempo, nada mais importa.

Corte seco para o exterior do Palácio. As luzes da cidade ao longe. Silêncio absoluto.

CORTA PARA:

 

 

CENA 5. APARTAMENTO DOS FERRAZ DINIZ. SUÍTE DE GIUSEPPE E CAROLINA. INT. NOITE

 

A luz da suíte é suave, mas há algo de opressivo no ambiente: as cortinas pesadas fechadas, os móveis imponentes demais, o silêncio sufocante de um lar prestes a desmoronar. GIUSEPPE entra com passos firmes, determinado. Carrega uma mala, um saco de viagem e o olhar de quem já não tem volta.

CAROLINA está sentada na beira da cama, de camisola preta de seda, uma taça de vinho na mão. O batom borrado. Ela já sabia. Ela sempre soube.

GIUSEPPE - (seco, sem rodeios) Eu só vim pegar o resto das minhas coisas. Vou pro apart-hotel. Amanhã, meu advogado entra em contato.

CAROLINA levanta-se devagar, pousando a taça sobre a mesa de cabeceira. Ela anda em direção a ele com a serenidade de uma bomba prestes a explodir. Seu olhar é de desespero travestido de frieza.

CAROLINA - Você é um covarde. Um fraco. Um projeto de homem que nunca conseguiu sair da sombra da minha mãe.

GIUSEPPE - Não começa com isso, Carolina.

CAROLINA -Vai embora, Giuseppe. Mas não leva nada. NADA! Nem as meias!

Ela corre até o armário, puxa de dentro uma TESOURA de costura — longa, afiada — e começa a rasgar freneticamente as roupas dele. Camisas caras, ternos sob medida, cuecas — tudo vira tiras. GIUSEPPE tenta intervir.

GIUSEPPE -Você tá louca? Para com isso! Me dá essa tesoura!

CAROLINA - (gritando) Você acabou com a minha vida! EU ACREDITEI EM VOCÊ!

Ela gira a tesoura no ar, ameaçando. GIUSEPPE recua um passo, alerta. Por um instante, parece que ela vai enfiar a tesoura no peito dele. Os olhos dela estão tomados por um furor que flerta com o abismo.

GIUSEPPE - Você precisa de ajuda. Isso aqui é doença. É loucura.

CAROLINA grita, avança, mas a porta se escancara: ANA MARIA entra. Elegante, altiva, dona da casa e da situação. Num segundo, ela avalia tudo. Caminha até a filha com firmeza, segura seu braço com força.

ANA MARIA -Basta, Carolina. Você não vai se humilhar assim.

CAROLINA - (soluçando) Ele vai me deixar, mamãe, ele vai me deixar...

ANA MARIA - Então que vá. Mas não será você quem implora. Nunca mais.

Ela toma a tesoura da mão da filha. GIUSEPPE aproveita para pegar sua mala. Faz menção de dizer algo, mas desiste. Olha uma última vez para Carolina — destruída, aos prantos, no colo da mãe — e vai embora.

A porta bate.

Silêncio.

CAROLINA respira com dificuldade, encostada no peito da mãe. ANA MARIA a acaricia com frieza e firmeza, como quem doma um animal em pânico.

ANA MARIA - Chora o quanto quiser, minha filha. Amanhã, vamos à costureira. Você vai estar impecável no lançamento da nova coleção.

CORTA PARA:

 

CENA 6 – COBERTURA DE LAURINHA. SALA DE ESTAR. INT. NOITE

Eriberto permanece paralisado. A sala parece fechar ao redor dele. A respiração curta. Laurinha o encara, impassível.

ERIBERTO – (engolindo seco) Como você soube? Quem te contou?

LAURINHA – (fria, como se fosse óbvio) Coloquei um detetive atrás da Alice. (abre a bolsa e tira uma pequena agenda vermelha)
Ele descobriu que ela estava com tudo pronto pra ir pra imprensa. Tinha entrevistas marcadas, televisão, revista de celebridade, até um podcast desses de crimes. (entrega a agenda a ele) Tudo falso. Um teatro. Mas o suficiente pra destruir você e a mim por tabela.

Eriberto folheia a agenda, atônito. Páginas com horários, nomes, anotações forjadas. Ele a fecha com força.

ERIBERTO – (com raiva contida) Você matou o meu filho, Laurinha.

Ela hesita pela primeira vez, mas não recua.

LAURINHA – Eu te protegi. Protegi tudo o que construímos.

ERIBERTO – (a voz embargada) Você não protegeu nada. Você destruiu. Um filho que eu nunca conheci. Um filho que podia ter (ele vira de costas, olhos marejados) Nós já estamos arrastando o luto da Sibeli. E agora você me dá mais um. (pausa) Isso não dá pra perdoar.

Laurinha se aproxima devagar, silenciosa. Para atrás dele. A voz, quando vem, é baixa. Quase humana.

LAURINHA – (sincera, quebrando levemente) Você acha que eu não sofro por Sibeli também? Acha que aquela menina não era minha? (um silêncio) Mas eu vi você se desmanchar por Alice. Eu vi a esperança nos seus olhos. E eu não podia deixar que ela acabasse com tudo.

Eriberto se vira, num movimento brusco. Os dois estão frente a frente. Tão próximos, que o silêncio entre eles é quase físico.

ERIBERTO – (com ódio, mas sem conseguir se afastar) Você é um monstro.

Laurinha levanta o queixo, desafiante, mas os olhos brilham.

LAURINHA – (sussurrando) Então beija o monstro. Me odeia direito, Eriberto.

Ele a encara, o conflito evidente. Raiva, tristeza, paixão, nojo. O desejo atravessado por tudo isso.

E então ele a beija.

Forte. Violento. Cheio de dor.

Ela corresponde. O beijo é febril, intenso. Um beijo que é guerra. Um beijo que é luto.

Quando se separam, ambos ofegantes, o olhar de Eriberto é confuso, devastado.

ERIBERTO – (em voz baixa) Isso não muda nada.

LAURINHA – (calma, com um leve sorriso trágico) Não. Mas agora a gente está preso pra sempre.

CORTA PARA:

 

CENA 7 – RIO DE JANEIRO. EXT. AMANHECER

 

SONOPLASTIA: Rio 40 Graus – Fernanda Abreu

 

O céu ainda carrega as sombras da noite, mas aos poucos vai clareando, tingindo o horizonte com tons de dourado, rosa e lilás. O sol nasce preguiçoso, aquecendo devagar a imensa paisagem da cidade maravilhosa.

As ondas quebram suavemente na orla de Copacabana, enquanto as gaivotas voam em círculos, em meio ao céu que se ilumina com a promessa do dia. A praia está vazia, quase sagrada, como se guardasse segredos que só a manhã pode revelar.

A câmera desliza lentamente pela orla, captando a arquitetura dos prédios históricos que contrastam com os modernos arranha-céus. Os reflexos do sol brilham nas fachadas de vidro, iluminando fachadas amarelas, rosas e azuis desbotados pelo tempo.

O som distante de uma feira começando a montar suas barracas se mistura ao ruído dos primeiros ônibus e carros circulando pelas avenidas ainda silenciosas. O cheiro do mar se mistura à fumaça sutil dos primeiros cafés sendo preparados nos bares da Lapa.

As sombras dos morros desenham silhuetas que parecem proteger a cidade, enquanto o Cristo Redentor, majestoso, observa tudo do alto do Corcovado, com os braços abertos, como se acolhesse a todos, testemunha silenciosa dos dramas e paixões que se desenrolam abaixo.

O tempo parece suspenso — a tranquilidade da manhã no Rio é um raro intervalo antes do caos do dia que se inicia. O calor já começa a subir, anunciando que o “Rio 40 graus” é mais que uma música, é uma profecia.

No meio desse quadro vivo, a cidade pulsa, desperta, respira — e a cada raio de sol a promessa de um novo capítulo, cheio de esperança, traição, segredos e desejos, se escreve invisível no ar.

A música sobe de tom, acompanhando a aceleração do despertar do Rio, enquanto a câmera se afasta lentamente, revelando a imensidão da cidade em sua beleza e contradições.

CORTA PARA:

 

CENA 8 – DELEGACIA. ESCRITÓRIO DE YONA. INT. DIA

 

O escritório da delegada Yona é funcional, austero — paredes claras, mesa robusta, pilhas de arquivos espalhadas, uma janela grande que deixa entrar a luz crua do dia, refletindo no chão de azulejos frios. O ambiente parece pesado, impregnado do cheiro metálico típico de papel velho e café amargo.

Yona está sentada à mesa, com semblante sério e cansado, olhos fixos em papéis espalhados diante dela. A porta se abre e Evelyn entra com passos decididos, o olhar atento, carregado de urgência.

EVELYN - (com voz firme, quase sussurrando, mas carregada de tensão) Delegada, o gabinete do governador pode estar envolvido na morte de Alice.

Yona levanta o olhar lentamente, um misto de surpresa e preocupação se abrindo em seu rosto. O silêncio no ambiente se torna palpável.

EVELYN -  (continua) As informações que reuni apontam para isso. Não é só um caso isolado, é muito maior.

Yona se levanta, caminha até a janela, olhando a rua movimentada abaixo. Ela respira fundo, como se carregasse o peso do mundo nas costas.

Nesse instante, um oficial entra apressado com um envelope na mão. Yona se vira, pega o envelope com mãos firmes, o abre lentamente. Seus olhos correm pelas páginas, e seu rosto se torna ainda mais grave.

YONA - (em voz baixa, chocada) A autópsia, ela estava grávida.

O silêncio no escritório fica ainda mais denso, quase sufocante. Evelyn cruza os braços, seu olhar agora é um desafio lançado ao sistema que tenta esconder a verdade.

EVELYN -(olhos fixos em Yona) Isso confirma tudo. A chantagem, o desespero, a motivação para acabar com ela.

Yona fecha os olhos por um momento, apertando os punhos, absorvendo a gravidade do que acaba de descobrir. A câmera foca em seu rosto, mostrando as linhas de cansaço e determinação se misturando.

Ela se vira e encara Evelyn, a decisão clara no olhar.

YONA - (voz firme, autoritária) vamos atrás dessa verdade. Não importa o quão alto esteja o poder por trás disso.

A música ambiente cai em um tom sombrio e tenso, enquanto a câmera se afasta lentamente, deixando o escritório mergulhado na penumbra da suspeita e do jogo político que se desenrola.

CORTA PARA:

 

CENA 9 – GENEBRA. RESTAURANTE LUXUOSO. INT. NOITE

 

O ambiente exala sofisticação. Luzes quentes e baixas refletem em taças de cristal. Um jazz contemporâneo preenche o ar, suave e provocativo. Grandes janelas emolduram as luzes da cidade à noite, como um convite ao segredo.

Rodrigo Maldonado está à mesa, impecável no terno escuro, olhos penetrantes que parecem medir Paula a cada instante. Paula Lee senta-se diante dele, confiante, um sorriso sedutor e levemente irônico, cabelo perfeitamente alinhado, olhar que mistura curiosidade com uma pitada de desafio.

Eles brindam com taças de vinho tinto. O aroma de especiarias envolve o espaço, como o prelúdio de uma dança de palavras afiada.

PAULA - (tocando delicadamente a taça, voz baixa, provocante) Rodrigo, essa história toda sobre Sibeli e essa tal agência R2. Você realmente acha que é só uma coincidência?

Rodrigo sorri, um sorriso enigmático que não alcança os olhos. Inclina-se, como se fosse revelar um segredo perigoso.

RODRIGO -(minucioso, quase um sussurro)Sua irmã, Amanda, ela não vai gostar nada dessa investigação. Nem um pouco.

Paula arqueia a sobrancelha, curiosa, sua voz ganha uma tensão quase imperceptível.

PAULA - E por quê? O que ela tem a esconder?

Rodrigo respira fundo, os olhos ganham um brilho gélido. A voz baixa, carregada de revelação.

RODRIGO - Amanda é sócia da R2. E era a mãe do noivo assassinado de Sibeli.

O silêncio cai como um golpe. Paula engole em seco, o choque se mistura à raiva que começa a ferver em seus olhos. Quebra o silêncio, sussurrando, cortante.

PAULA -Você está dizendo que Armando do clube em São Paulo era meu sobrinho?

Rodrigo acena lentamente, confirmando a sentença com uma firmeza cruel.

RODRIGO - Sim. Essa tragédia foi o estopim. A morte dele puxou um fio que desfiou toda essa teia venenosa.

O olhar de Paula se perde na escuridão da noite, absorvendo a verdade como um veneno que arde e clareia. A música jaz diminui, dando lugar à tensão palpável.

Ela volta a encará-lo, agora com uma mistura de tristeza, fogo e determinação.

PAULA - (voz baixa, feroz) E você? Está disposto a ser o salvador dessa história ou apenas mais um fantasma nessa dança?

Rodrigo a encara, um leve sorriso de quem aceita o desafio.

RODRIGO -(sussurrando, quase um convite) Paula, eu sou o homem que sabe exatamente quando avançar e quando recuar. Vamos descobrir juntos qual será o próximo passo.

Paula ergue a taça em um brinde silencioso, olhos fixos nos dele, a faísca do jogo acesa.

PAULA - Então que venha o próximo movimento. Porque eu não vou recuar.

A câmera fecha lentamente nos rostos — dois jogadores, perigosos e magnéticos, prontos para a batalha que só começou.

CORTA PARA:

 

FIM

 

 

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