A OUTRA

CAPÍTULO 22

UMA NOVELA DE TAÍS GRIMALDI


CENA 1 – APARTAMENTO DE SELENA. QUARTO. INT. DIA 

A tensão entre Selena e Evelyn paira no ar, densa como fumaça.

Giuseppe respira com dificuldade, trancado no armário, celular em punho. Grava.

Selena percebe algo estranho. Um som. Um leve estalo. Ela lança um olhar para a porta entreaberta do closet. Franze a testa, desconfiada, mas volta os olhos para Evelyn — que continua firme, sem demonstrar temor.

SELENA - (duro, gélido) O que exatamente você está fazendo aqui, Evelyn?

EVELYN - (sem pestanejar) Buscando provas. Fios soltos. Um vacilo. Alguma coisa que me permita acabar com você de uma vez.

Selena ri com escárnio. Um riso amargo e perigoso.

SELENA - (inclinando-se para frente) Você sempre foi tão previsível. Corajosa, mas burra.

EVELYN - (acusando) Você mandou Laurinha matar Alice, não foi? Aquela menina cega, obcecada por Eriberto.

SELENA - (agora séria, com voz baixa e veneno escorrendo pelas palavras) Eu não mandei. Eu apenas criei as condições perfeitas. Laurinha só precisava de um empurrãozinho.

Giuseppe, atrás da porta, quase deixa escapar um suspiro. O celular segue gravando.

EVELYN - (áspera, se aproximando) Você vai pagar por isso, Selena.

SELENA - (olhando nos olhos dela, desafiadora) Vai? Vai mesmo? Está aqui, na minha casa, sem mandado, sem nada. Só com a sua arrogância e essa pose de heroína de quinta.

Selena, num movimento sutil, caminha até o aparador. Serve um drink. Coloca algumas gotas discretas de um frasco âmbar.

SELENA - (serena, entregando o copo) Aceita um último brinde à sua dignidade?

EVELYN - (irônica) Acha mesmo que eu sou idiota?

Mas antes que possa impedir, Selena já empurra o copo em sua mão.

EVELYN - (relutante) Vai me matar agora?

SELENA - (sussurrando, quase sensual) Só vou deixar as coisas mais fáceis.

Evelyn hesita, mas bebe um gole, sem saber o que está ingerindo. A ousadia vence a desconfiança. A arrogância vence o instinto.

Em poucos segundos, seus olhos piscam mais devagar. Ela cambaleia. Tenta falar. Fracassa.

SELENA - (suave, quase maternal) Vai dar um soninho. Um cochilo eterno. Silencioso.

Giuseppe, em pânico, observa tudo por uma fresta do armário. Não ousa sair.

Evelyn tenta alcançar a porta. Cai. Os joelhos falham. A cabeça bate no chão.

Selena caminha até a cozinha. Tranquila. Gira o botão do gás. Um clique seco. Depois outro. O som do gás escapando. Lento, contínuo.

SELENA - (sozinha, enquanto caminha em direção à saída) Adeus, Evelyn. Que sua justiça arda no céu ou no inferno. Não me importa.

Ela sai. Tranca a porta por fora. O silêncio domina o apartamento, que começa a se encher do gás letal.

CORTA PARA:

DENTRO DO ARMÁRIO – INT. CONTÍNUO

Giuseppe, em choque, começa a tossir silenciosamente. Sabe que tem pouco tempo. Segura o celular com força. Olha para Evelyn desacordada. Faz uma prece muda.

CORTA PARA:

CENA 2 – CLIPE. SÃO PAULO. EXT. DIA

SONOPLASTIA: “If It Makes You Happy” – Sheryl Crow

Um plano sequência aéreo percorre São Paulo. O céu está opaco, coberto por nuvens baixas. A cidade pulsa com seu caos elegante: buzinas abafadas, hélices de helicópteros, ronco abafado de caminhões e ônibus. A câmera sobrevoa a metrópole como um olhar perdido, sem rumo fixo, quase contemplativo.

Cortes rápidos invadem a tela com imagens cruas e poéticas da vida urbana.

Um homem de terno e mochila atravessa a passarela da Avenida 23 de Maio sem olhar para os lados, imerso em seus próprios pensamentos.

Na Avenida Paulista, uma mulher com crachá da Secretaria da Fazenda chora discretamente em um ponto de ônibus, olhando fixamente para o chão como se ele pudesse oferecer respostas.

No centro velho, um entregador de aplicativo, encostado entre dois carros, fuma escondido e ouve música alta em fones estourados. Seu olhar está cansado, mas ainda alerta.

Em Higienópolis, senhoras de cabelos bem-feitos saem de uma padaria com baguetes debaixo do braço e olhares de superioridade, como se flutuassem acima da realidade comum.

Na Consolação, um gari varre a calçada com movimentos lentos e determinados. Ele para por um instante e encara um outdoor onde um político sorri com a frase estampada: “Trabalho e Verdade.”

Em Pinheiros, jovens empresários — todos vestindo camisas brancas e relógios reluzentes — riem alto na fila de um café. Acima deles, o letreiro pisca “Aberto – Só Até As 18h”, como um aviso cínico.

A música segue, melancólica e irônica. A cidade revela seus contrastes em cada quadro. Violência e beleza. Tristeza e farsa.

A montagem se mistura com trechos granulados de imagens de arquivo, tratadas em preto e branco. O som da guitarra acompanha o ritmo dos flashes que invadem a tela.

Protestos em frente à ALESP.

Repressão policial contra estudantes.

Um almoço beneficente de socialites no Jockey Club.

Um político em campanha, abraçando moradores de rua sob flashes estrategicamente posicionados.

A montagem se intensifica. A guitarra de Sheryl Crow rasga o ar como um grito abafado. O caos se transforma em colagem visual de angústia e ironia.

CORTE PARA:

EXT. PALÁCIO DOS BANDEIRANTES. PORTÃO PRINCIPAL. DIA.

A música atinge seu refrão final. A câmera agora está distante, acompanhando uma figura solitária que sobe lentamente a calçada que leva ao portão do palácio.

É PAULA LEE. Está vestida de preto. Cabelos soltos, um pouco bagunçados, como se o vento da cidade tivesse passado por dentro dela. Nas mãos, carrega uma pasta de couro. Para diante da imponente entrada. Fica ali, imóvel por um momento.

Seu olhar é fixo. Carregado. Há firmeza, mas também um cansaço ancestral.

Ela respira fundo. Um fôlego longo e incerto, como se estivesse prestes a mergulhar num mar escuro.

CORTE PARA PLANO DETALHE.

Os dedos de Paula tocam a grade do portão. Tremem levemente. Um gesto pequeno, quase infantil, cheio de lembranças. Há algo de frágil naquele toque. Algo que revela tudo o que não se diz.

O último acorde da música ecoa.

CORTA RAPIDAMENTE PARA:

 

CENA 3 – PALÁCIO DOS BANDEIRANTES. ESCRITÓRIO DA GOVERNADORA AMANDA BONFIM. INT. DIA

 

Um gabinete de poder: amplo, elegante, silencioso, dominado por móveis de linhas sóbrias, arte contemporânea nas paredes e o brasão do Estado atrás da mesa de trabalho. Amanda Bonfim está de costas para a porta, em pé diante da janela envidraçada, observando os jardins do palácio.

A porta se abre. Paula Lee entra sem ser anunciada, usando um trench coat bege claro, óculos escuros que retira lentamente. Seu rosto está tenso. Amanda vira-se, serena, mas o olhar diz tudo: desprezo.

PAULA LEE - (cortante) A gente precisa conversar. Agora.

AMANDA - (acidulada, sem se mexer) Você não perde o hábito de invadir os espaços que não te pertencem.

PAULA LEE – (acusadora) Como o nosso pai fez com a sua vida?

Amanda não responde. Apenas caminha até sua mesa e se senta com autoridade.

PAULA LEE - Eu sei que a morte da Sibeli está ligada à do Vinícius.

Amanda fecha os olhos por um segundo, como se fosse atingida por uma flecha invisível.

AMANDA - (calmamente) Não há ligação alguma entre aquelas duas tragédias.

PAULA LEE - A Sibeli levou um tiro no Jockey Club do Rio. Durante o Aberto de Tênis. Cercada de segurança. Em público. Uma execução. E você quer que eu acredite que foi só acaso?

AMANDA - Ela era aluna do Arthur. É pessoal.

PAULA LEE - É verdade. E é por isso que eu vou até o fim.

AMANDA - (frontal) Paula, pela memória do meu filho, e pelo pouco de dignidade que você ainda tem, pare com isso. Enterra isso com a Sibeli. E com o Vinícius.

PAULA LEE - Eu não enterro verdades, Amanda. Não sou você.

AMANDA - (ferina) Você não tem valores. Nem caráter. Você só tem um nome — que herdou — e uma coleção de escândalos. Há anos brinca de justiceira enquanto lava dinheiro em patrocínio de evento alternativo. Faz política com likes, não com votos.

PAULA LEE - E você faz política com sangue.

AMANDA - (com frieza) Talvez. Mas pelo menos eu não durmo com as minhas vítimas.

PAULA LEE - (cínica) Cuidado, Amanda. Você está perdendo a compostura. Vai ser difícil sustentar seu discurso de mulher racional, mãe exemplar, governadora modelo.

AMANDA - (levanta-se, violenta) Você vai acabar morta. E eu vou fazer questão de discursar no seu funeral. E vou dizer a todos que você foi uma idealista idiota, que trocou o futuro por uma obsessão sem saída.

PAULA LEE - A verdade sobre a Sibeli é mais importante que a minha carreira. E muito mais do que a sua.

AMANDA - (ameaçadora) Então estamos em guerra.

PAULA LEE - Desde que você nasceu.

As duas se encaram. Um silêncio denso toma o ar. Amanda se recompõe, respira fundo. Paula dá as costas e caminha com elegância até a porta.

AMANDA - (seco, sem encará-la) O nome do meu filho era Vinícius.

Paula para. Sem se virar, responde com voz trêmula:

PAULA LEE -E ele sabia quem era a mãe dele? Do que ela é capaz de fazer?

Sai. A porta se fecha com um leve clique. Amanda permanece imóvel, olhando para frente, mas seus olhos se enchem de lágrimas — que não caem.

CORTA PARA:

 

 

CENA 4. RIO DE JANEIRO. ANOITECER. EXT.

SONOPLASTIA: “Rio 40 Graus” – Fernanda Abreu

O céu do Rio começa a mudar de cor. Do azul tropical para uma colcha de retalhos: laranja, vinho, lilás, cinza. As luzes da cidade se acendem uma a uma como se fossem confissões sussurradas. A câmera percorre Copacabana — da areia suja à fachada neoclássica dos prédios, das coberturas envidraçadas onde a elite se isola às sacadas deterioradas dos edifícios de classe média.

No Vidigal, um garoto empina pipa com uma mão e segura um celular com a outra. Na calçada do Leme, prostitutas se ajeitam nos espelhos de bolsa. No Aterro, corredores e ciclistas tentam escapar da tensão suspensa no ar — como se todos soubessem que alguma coisa está prestes a acontecer, mas ninguém ouse nomear.

O som do mar se mistura com buzinas, tiros ao longe e o funk de um carro parado na calçada.
A cidade é um corpo que sua, que sangra, que finge que está vivo.

DISSOLVE PARA:

Lapa. Um grupo de jovens brancos bebe chope artesanal sob os arcos iluminados, rindo alto. Mais adiante, um homem dorme com o corpo encolhido, embrulhado num cobertor térmico do SUS.

DISSOLVE PARA:

Vista aérea do Palácio das Laranjeiras. Imponente, gélido, com suas luzes brancas destacando sua autoridade decadente. O lugar onde decisões sujas são tomadas com taças de cristal.

DISSOLVE PARA:

Uma pichação nova em um muro de Botafogo:
"O BRASIL NÃO AGUENTA MAIS UMA MENTIRA BONITA."

 

CORTA PARA:

CENA 5 – RUA RESIDENCIAL NO LEME. FACHADA DA CASA DE MERCEDES. EXT. NOITE

A rua é silenciosa, iluminada por postes antigos. Carros de luxo passam ao longe, mas ali, diante da casa de fachada simples e bem cuidada, reina um silêncio quase ameaçador. Um portão de ferro branco. Uma luz fraca acesa no segundo andar. O som abafado do mar ao fundo.

Arthur para o carro. Desce com calma, observando os arredores. Toca a campainha. Uma, duas vezes. A porta se abre. MERCEDES surge — uma mulher nos seus sessenta e poucos anos, elegante, mas com traços endurecidos pela vida. Ela reconhece Arthur imediatamente.

MERCEDES - (irritada, contida) Você está perdido?

ARTHUR - Só quero conversar, Mercedes. Cinco minutos.

Ela hesita. Abre a porta só o bastante para que ele entre com o olhar.

MERCEDES - (STOICAMENTE) Se for sobre o Stu, vai perder seu tempo.

ARTHUR -É sobre o Marcinho, na verdade. E o que ele tinha a ver com aquele homem.

Mercedes gela. O nome do filho a atinge como um tapa.

MERCEDES -(STERNA) Marcinho era um bom menino. Se meteu com gente errada por culpa do primo. O Klauber, aquele carrancudo...

ARTHUR - Mas estavam juntos quando morreram. Morro da Babilônia. Troca de tiros. Depois de um jantar no Jockey Club, onde mataram o Vinícius.

Um silêncio pesado. Mercedes recua um passo.

MERCEDES - (nervosa, mas contida) Meu filho era inocente. Sempre foi. Pagou pelos erros dos outros. Klauber arrastou ele pra aquilo. Ele não sabia o que estava acontecendo. Acha que isso me dá algum consolo?

ARTHUR - Mas o Stu...

MERCEDES - (interrompe, ríspida) Era só um conhecido. Vivia cercando meu filho, puxando assunto. Eu nunca gostei daquele homem. Sempre muito calado, sabe?

Ela se cala. Fecha a porta um pouco mais.

MERCEDES - Já falei demais. Vai embora, Arthur.

ARTHUR - Mercedes, se você sabe de alguma coisa...

MERCEDES - (numa firmeza cruel) O que eu sei é que meu filho está morto. E você não vai mudar isso.

Ela fecha a porta. Arthur fica diante do portão, pensativo. A câmera recua lentamente, revelando a solidão daquele homem na calçada. Um gato atravessa a rua, um carro passa. A cidade continua.

CORTE PARA PRETO.

 

CENA 6 – APARTAMENTO DE SELENA. QUARTO / CORREDOR / PORTA. INT. DIA 

O silêncio é pesado. O apartamento parece respirar devagar, envolto pelo gás invisível e mortal.

Por uma fresta entreaberta do armário, Giuseppe observa Evelyn cair no chão, imóvel, a respiração cada vez mais fraca. O desespero cresce em seu rosto. Ele engole seco, o coração acelerado.

Com cuidado, ele abre a porta, a madeira rangendo baixinho. Aproxima-se dela. Sem perder tempo, ajoelha-se e a segura com firmeza.

GIUSEPPE - (sussurrando, tenso) Evelyn! Acorda! Você vai sair daqui comigo.

Ele segura o braço dela, que está frio e flácido, e com esforço a ergue, apoiando seu peso.

O gás continua a escapar, um perigo silencioso que preenche o ambiente.

Giuseppe caminha rápido, cada passo uma corrida contra o tempo, carregando Evelyn quase sem forças. A cada movimento, seu rosto revela um misto de medo e determinação.

Ao chegar à porta do apartamento, ele para. Olha para trás, para o local onde Selena armou tudo. Um olhar de ódio misturado com impotência.

Com um impulso final, Giuseppe abre a porta e sai para o corredor. O ar fresco invade o ambiente, um contraste brutal com o veneno que ficou para trás.

Ele coloca Evelyn com cuidado no chão do corredor, olhando para ela, incerto se ainda está viva.

O gás continua a escapar atrás dele, implacável, como uma sentença já assinada.

Giuseppe puxa o celular do bolso e liga para um número.

GIUSEPPE - (voz rouca, urgente) Preciso de ajuda. Agora. Selena tentou matar Evelyn. O gás está ligado. Eu tirei ela de lá, mas precisamos agir rápido.

Ele desliga, encara Evelyn, como se pedisse desculpas pelo que não pôde impedir.

A câmera sobe lentamente, mostrando a porta do apartamento ainda entreaberta, o gás invisível que continua a se espalhar, a sombra de Selena que desapareceu como um espectro.

CORTA PARA:

 

CENA 7 – APARTAMENTO DE EVELYN E MÁRCIA. SALA DE ESTAR. INT. NOITE

A sala está pouco iluminada, com um jogo de sombras que recobre os móveis sofisticados. Um silêncio pesado domina o ambiente, quebrado apenas pelo som abafado da respiração irregular de Evelyn, desacordada no sofá, coberta por uma manta fina.

Giuseppe entra pela porta, seus passos ecoando no chão de madeira. O rosto tenso, olhos arregalados pela urgência e pelo medo que carrega.

Márcia está de pé, encarando a cena com uma mistura de preocupação e raiva contida. Ela se aproxima devagar, evitando qualquer ruído que possa perturbar o frágil momento.

GIUSEPPE - (voz baixa, quase um sussurro, mas firme) Ela tentou matar Evelyn. Droga, droga, droga. Entramos no apartamento dela e encontramos tudo: o gás ligado, a bebida de Evelyn adulterada.

Márcia fecha os olhos por um instante, segurando a respiração como se tentasse expulsar a imagem do que foi contado.

MÁRCIA - (frígida, decidida) Isso é uma guerra suja demais, Giuseppe. Selena cruzou todos os limites. Mas não vamos deixá-la ganhar. Vou pedir para Paula cuidar disso. Se tem alguém que sabe manejar esse fogo, é ela.

Giuseppe passa a mão pelos cabelos, exausto, enquanto os olhos ainda percorrem o rosto imóvel de Evelyn.

GIUSEPPE = (suspirando) Tem mais. Precisamos apagar as câmeras do prédio, o sistema de segurança. Não podemos deixar pistas que ela conseguiu entrar, que tentou (PAUSA) que quase matou Evelyn.

Márcia cruza os braços, a expressão endurecida pela decisão que precisam tomar.

MÁRCIA - (impassível) Vou mandar a mensagem agora. Paula vai querer isso nas mãos dela. Selena precisa sentir que perdeu o controle.

Giuseppe olha para o teto, a mente correndo. A tensão, quase palpável, como se o ar tivesse ficado mais denso no ambiente.

GIUSEPPE - (murmurando, para si mesmo) Ela achou que podia jogar com a vida das pessoas e sair impune. Mas nós não vamos deixar.

Márcia se aproxima do sofá, toca levemente a testa de Evelyn, um gesto que mistura cuidado e desespero.

MÁRCIA - (baixinho, quase um pedido) Aguenta firme, Evelyn. Estamos aqui. Não vai acabar assim.

A câmera se afasta lentamente, capturando o trio – Giuseppe, Márcia e Evelyn – como peças de um tabuleiro complexo, em uma luta silenciosa e implacável.

A música aumenta suavemente, uma trilha tensa e soturna que embala o drama.

CORTE PARA:

 

CENA 8 – DELEGACIA. ESCRITÓRIO DE YONA. INT. NOITE

O gabinete da delegada Yona é austero, minimalista, iluminado por uma luz fria que acentua as sombras nos cantos da sala. O silêncio é interrompido apenas pelo som do relógio na parede, marcando cada segundo com uma precisão quase cruel.

Selena está sentada à frente da mesa, impecável em sua postura, o rosto envolto numa máscara de controle absoluto. Os olhos, frios e calculistas, não vacilam. Ela sabe que o jogo está nas suas mãos.

Yona levanta-se lentamente, o olhar firme e acusatório, aproximando-se sem pressa, como uma predadora que já conhece sua presa.

YONA - (com voz grave, carregada de desafio) Selena, quero que me explique — e rápido — o seu envolvimento na morte de alICE

Selena sorri, um sorriso seco, quase debochado, como quem está alguns passos à frente no tabuleiro.

SELENA - (voz calma, como se recitasse uma peça) Alice é apenas uma peça pequena demais para a grande jogada. Eriberto tem uma amante possessiva, Yona. E essa amante é Laurinha.

Yona franze a testa, surpresa pela frieza com que Selena fala da mulher que todos acreditavam ser vítima.

YONA - (incrédula) E você? Qual o seu papel nessa história? Alice trabalhava no gabinete, era próxima a Eriberto. Existe a possibilidade de ele ser o pai da criança que ela esperava.

Selena arregala os olhos num falso espanto, o tom sarcástico chegando à voz.

SELENA - (negando, ríspida) Pai da criança? Não me faça rir. Eriberto é um homem de posses, poder, mas não um idiota de correr esse risco. 

Yona cruza os braços, a tensão aumentando, o jogo de gato e rato entre as duas fica mais evidente.

YONA - (impaciente) Então me diga, Selena, quem ganha com a morte de Alice? Por que alguém com tanto controle permitiria uma amante morrer assim?

Selena levanta-se com elegância, caminhando até a janela, olhando para a cidade que se estende em silêncio.

SELENA - (com voz baixa, cortante) Porque na vida, delegada, o poder se mantém no silêncio dos que sabem calar. Laurinha passou dos limites. E pagar por isso, bem, é o preço da ambição.

O olhar dela se volta lentamente para Yona, intensa, quase desafiadora.

SELENA - (concluindo) Você está mexendo em um jogo que não entende, Yona. Continue, e pode ser a próxima a descobrir o quanto o silêncio pode ser letal.

Yona permanece imóvel, encarando Selena, sentindo o peso da ameaça velada.

A câmera se afasta lentamente, deixando a sala impregnada de uma atmosfera opressiva e carregada de segredos.

CORTE PARA:

 

CENA 9 – PALÁCIO DAS LARANJEIRAS. SUÍTE DE STELLA. INT. DIA

A suíte é ampla, luxuosa, mas o silêncio ali pesa como chumbo. A luz que entra pelas janelas cria sombras duras, refletindo a tensão no ar.

Stella está encostada na cabeceira da cama, o rosto marcado por hematomas frescos, os olhos fundos e marejados. Seu corpo frágil parece carregar o peso de uma tormenta interna — as costelas inchadas, o lábio cortado, cada detalhe grita a brutalidade que sofreu.

Selena está ao seu lado, imóvel por um momento, encarando aquela visão com um misto de horror e uma estranha reverência. Seus dedos acariciam lentamente o rosto machucado de Stella, um gesto doce e, ao mesmo tempo, carregado de desejo e posse.

SELENA - (sussurrando, voz rouca, quase um cântico)
Minha cobra charmosa, quanto ainda vão te machucar?

Stella ergue o olhar, um lampejo de desafio atravessa a dor.

STELLA - (cansada, mas com um fio de ironia) Ele descobriu. Meu caso com Bruno. Me chamou de cachorra. E me chutou, igual chutamos lixo.

Selena aperta a mão de Stella, firme, determinada.

SELENA - (com voz firme, carregada de promessa) Ele vai pagar. Cada golpe que te deu será devolvido em dobro. Essa traição, essa violência, vai ser o início do fim para ele.

Stella deixa escapar um sorriso fraco, meio desafiador, meio rendido.

STELLA - (baixinho, quase um segredo erótico) Veneno doce, você sabe, que nem todo veneno mata. Alguns encantam, outros aprisionam.

Selena inclina-se, toca os lábios dela com um beijo rápido, intenso.

SELENA - (sussurrando) E eu sou mestre em prender e em destruir.

A respiração das duas se mistura no silêncio pesado, carregado de segredos, dor e uma promessa congelada no tempo.

A câmera fecha lentamente nos rostos marcados de ambas — fragilidade e força, ódio e desejo — até que a imagem desaparece no preto.

 CORTA PARA: 

FIM

 

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