A OUTRA
CAPÍTULO 23
UMA NOVELA DE TAÍS GRIMALDI
CENA 1 – PALÁCIO DAS LARANJEIRAS. SALA DE JANTAR. INT. NOITE
A sala de jantar é imponente, decorada com pratarias antigas, flores brancas e candelabros reluzentes. O ambiente tem a frieza calculada de quem sabe que poder também se exerce pela estética.
Consuelo está sentada à cabeceira, impecável em um vestido marfim, joias discretas, postura rígida. Eriberto, ao lado, come em silêncio, tenso — como se estivesse sempre à beira de um ataque de nervos em torno da esposa.
O som dos talheres contra a porcelana é a trilha incômoda do silêncio.
De repente — um estrondo. A porta dupla se escancara.
PAOLA surge. Curva, sedutora, insolente. Vestido curto, salto que ecoa pelo piso. O sorriso irônico de quem voltou para desestabilizar o tabuleiro.
CONSUELO - (engolindo seco, veneno puro) Você perdeu completamente o juízo?
PAOLA - (entrando, abrindo os braços) Mãe, relaxa. Vim só brindar a paz nessa casa. (irônica)Ou o que sobrou dela.
Eriberto tenta se levantar.
ERIBERTO - Paola, isso não é hora...
PAOLA - (ignora, abre um vinho da mesa e bebe direto da garrafa) Hora? A minha hora, Eriberto. (sorri para a mãe) Eu decidi voltar. Hoje. Agora. E pretendo anunciar minha presença. A noite carioca está me esperando. Alguém precisa animar essa cidade decadente.
Consuelo fica rígida como mármore. Seus olhos escurecem.
CONSUELO - (baixa, ameaçadora) Você não vai a lugar nenhum.
PAOLA - (ri alto) Ah, vou sim. E com gosto.
E amanhã todo o Rio vai saber que Paola Almeida de Albuquerque está de volta.
Olha que delícia.
O veneno escorre como perfume no ar. Consuelo levanta-se lentamente, a elegância mascarando o descontrole iminente.
CONSUELO - (olhando nos olhos dela, sem piscar) Você só volta para trazer vergonha. Para destruir o pouco que resta dessa família.
PAOLA - (aproximando-se, provocadora) Eu volto porque a senhora me expulsou. E porque… (se inclina no ouvido da mãe, sussurra) vocês precisam mais de mim do que admitem.
Consuelo respira fundo.
E então — a bofetada. Estalada. Fria. Precisa.
Gilberto Braga puro.
Paola cambaleia, mas se mantém em pé, altiva, ferida no orgulho.
PAOLA - (voz baixa, queima como álcool) Bater em mim sempre foi sua forma de me amar, não é, mãe?
A segunda agressão vem pior: Consuelo agarra Paola pelos cabelos, puxando com violência. Eriberto tenta intervir, mas Consuelo rosna:
CONSUELO - (gritando) NINGUÉM Mexe! Ela VAI me OUVIR!
Ela arrasta Paola pelo corredor luxuoso — o contraste entre violência e sofisticação é obsceno, cinematográfico. Paola chuta, luta, mas está frágil, desorientada.
PAOLA - (gritando) VOCÊ É DOENTE! DOENTE!
CONSUELO - (furiosa, enlouquecida) Doente é você! Que destrói tudo o que toca! (puxando mais forte) Escória vestido de luxo!
A porta do antigo quarto de Paola se abre com um empurrão.
Consuelo a joga lá dentro como um animal rebelde.
Ela bate a porta com força e gira a chave.
CONSUELO - (atrás da porta, ofegante, fria como pedra) Você não vai envergonhar esta família outra vez.
Silêncio.
Por dentro, Paola cai no chão, respirando rápido, humilhada — mas no olhar dela há um brilho perigoso. Um brilho que promete retorno.
CORTE PARA:
CENA 2 – PALÁCIO DAS LARANJEIRAS. SUÍTE DE PAOLA. INT. NOITE
O quarto está quase às escuras, iluminado apenas pela luz da rua que entra pela janela. O luxo da suíte contrasta com o estado emocional de Paola.
Ela está sentada no chão, encostada na cama. Os cabelos desgrenhados, o vestido amarrotado, a respiração trêmula. Uma lágrima insiste, cai devagar — não de fragilidade, mas de humilhação.
O silêncio é quebrado por um clique metálico.
A maçaneta gira.
A porta se abre devagar… e surge SELENA.
Irradiando calma, força e desprezo calculado. Um vestido justo, preto, impecável. Perfume caro. Olhar frio.
PAOLA - (confusa, ainda trêmula) Selena? O que você está fazendo aqui?
SELENA - (sem rodeios) Mandando você sair desse buraco.
Paola tenta se recompor, enxuga as lágrimas com as costas da mão.
PAOLA - (ferida, revoltada) Minha mãe me trancou. De novo. (sussurra, desolada) Eu nunca vou ser suficiente pra ela…
SELENA - (aproxima-se, firme) Consuelo não é suficiente pra ninguém. (pausa) E está longe de ser pra você.
Paola ergue o rosto. Seus olhos brilham com surpresa.
PAOLA - (baixa) Por que você está me ajudando?
Selena respira fundo. O olhar dela é cortante, mas há algo queimada ali — talvez identificação, talvez ódio compartilhado.
SELENA - (sem piscar, voz baixa e forte) Porque eu não aguento mais assistir às injustiças dessa velha cruel. (mais intensa) E porque você… merece lutar. Não ajoelhar.
Paola engole em seco.
PAOLA - (um fio de voz) Eu… não tenho forças.
Selena se agacha diante dela, segurando o queixo de Paola com firmeza, levantando seu rosto.
SELENA - (olhos nos olhos) Então eu te empresto as minhas.
Uma tensão elétrica passa entre as duas — um erotismo sutil, sofisticado, perigoso.
SELENA - (se levantando, imperativa) Agora levanta. Hoje você vai sair desse quarto. Vai pra festa. E vai fazer exatamente o que Consuelo teme.
Paola encara Selena, ainda em choque.
PAOLA - (assustada e fascinada) Você quer que eu apareça lá?
SELENA - (com um meio sorriso venenoso) Não só apareça. Arme o maior escândalo que o Rio já viu.Consuelo merece sangrar.
Paola respira fundo, recuperando a altivez perdida. Ela se levanta devagar, como quem renasce.
PAOLA - (olhando Selena com gratidão e desejo)
Você é perigosa.
SELENA - (sussurrando, perto demais) Perigosa, mas do seu lado.
Selena abre totalmente a porta — como quem abre uma arena para o combate.
SELENA - (frase final, cortante e doce como veneno) Vai, Paola. Acenda o fósforo. E deixe o palácio pegar fogo.
Paola sorri — um sorriso que anuncia guerra.
CORTE PARA:
CENA 3 – PALÁCIO DAS LARANJEIRAS. SUÍTE DE MARISA. INT. NOITE
A suíte é moderna, iluminada por abajures de luz quente. O clima é íntimo, mas denso — como se algo estivesse prestes a ruir.
MARISA e MÁRIO estão na cama, os lençóis ainda amarrotados de um amor urgente, mas triste. Ele a observa com preocupação. Ela olha para o teto, olhos vermelhos, tentando controlar a respiração.
MÁRIO - (tocando sua mão, suave) Marisa… tenta, por favor. Eu te amo. Eu quero você inteira. Não quero te perder pra isso.
MARISA fecha os olhos. Quando fala, é como um desabafo que ela segurou por anos.
MARISA - (baixa, quebrada) Você fala como se fosse fácil. Como se… bastasse querer. (morde o lábio, tensa) Mas é mais forte do que eu, Mário. Quando eu tento parar… parece que a minha cabeça vai explodir.
Mário se aproxima mais, como se quisesse protegê-la de si mesma.
MÁRIO - (calmo, firme) Então deixa eu ser mais forte por você. Só por um tempo. (olhar apaixonado) Eu tô aqui. Eu não vou te abandonar.
Marisa abre os olhos, emocionada. Há um silêncio carregado entre eles.
MARISA - (respira fundo) Eu quero tentar. De verdade. (pausa, decidida, com medo e coragem misturados) E o primeiro passo é… sair daqui.
Mário a encara, surpreso.
MÁRIO – Sair do palácio?
MARISA - (sim, quase implorando para ser entendida) Esse lugar me destrói. (os olhos brilham de raiva contida) A Stella… o Eriberto… essa gente é tóxica. Eles sugam tudo que eu sou. Tudo que eu poderia ser. (angustiada) Eu só sobrevivo aqui. Não vivo.
Mário passa a mão pelo cabelo dela, com carinho.
MÁRIO - Então a gente vai. Amanhã. Eu te tiro daqui.
Marisa sorri — um sorriso frágil, mas cheio de esperança.
Mas algo a corrói.
MARISA - (olhar distante)
E tem a Márcia (ríspida, amarga) Essa mulher me intriga. Ela aparece, some, reaparece, sempre com aquele ar de vítima e mártir. Eu não confio.
Mário se ajeita na cama, se apoiando no cotovelo. Ele fala com convicção.
MÁRIO -(sereno, seguro) Marcia é inocente, Marisa. (pausa) Uma culpada não arriscaria tudo por vingança contra gente tão poderosa.
Marisa vira o rosto para ele, devagar, intrigada. O nome “gente poderosa” pesa no ar como uma sentença.
MARISA - (olhos semicerrados, interessada) Você fala como se soubesse mais do que diz.
MÁRIO -(desvia o olhar, sem negar) Eu falo como alguém que enxerga.
(olha nos olhos dela) E alguém que te quer longe dessa guerra.
Um silêncio cheio de tensão. Ela o observa — tentando entender onde ele se encaixa no tabuleiro mais amplo.
MARISA - (um sussurro, provocativo) Às vezes eu acho que você sabe muito. (pausa) E fala pouco.
Mário sorri — aquele sorriso misterioso, típico dos personagens masculinos ambíguos de Gilberto Braga.
MÁRIO - E isso é bom ou ruim?
Marisa desliza a mão pelo peito dele, subindo até o pescoço — sensual, mas sombria.
MARISA -(talvez brincando, talvez não) Eu ainda vou descobrir.
Ela o beija. Mas seus olhos permanecem abertos — observando, calculando, desconfiando.
CORTA PARA:
CENA 4 – BOATE EM IPANEMA. INT. NOITE
SONOPLASTIA: ALL THE LOVERS – KYLIE MINOGUE ECOA, VIBRANTE E SENSUAL, PREENCHENDO O AMBIENTE COM LUZES ESTROBOSCÓPICAS E BATIDAS PULSANTES.
A boate está lotada. Celebridades, influenciadores, drags, trans, modelos internacionais, fotógrafos. Uma fauna glamourosa e exagerada, cada qual desejando ser visto. O clima é de libertação e histeria colorida.
CORTE PARA:
ENTRADA DA BOATE.
Um clarão de luz branca abre caminho quando PAOLA surge. Roupa futurista, maquiagem impecável, segurança discreta ao redor. Ela sabe que é o centro das atenções e se move como tal. Celulares se levantam. Gritos. Beijos lançados.
Paola ergue o queixo, triunfante — a ressuscitada de si mesma.
CLOSE — Paola pega o celular e abre o Instagram.
Ela entra já gravando um story. O barulho da festa invade o microfone.
PAOLA (para a câmera, sedutora e venenosa)
— Oi, Brasil... Saudades? Pois é... estou de volta. Fugi porque eu precisava escapar de uma armação. Uma armação muito bem feita, aliás.
Ela gira a câmera para si mesma novamente. O sorriso desaparece. Um olhar gelado.
PAOLA (CONT.)
— Meu irmão… o governador do Rio de Janeiro, Eriberto… forjou a minha morte.
O público ao redor se aproxima, chocado, tentando ouvir. Algumas drags atrás dela reagem colocando a mão na boca, teatralíssimas.
Paola gira o celular de novo, agora mostrando a pista de dança lotada atrás dela, como se quisesse dizer que está viva diante do mundo.
PAOLA (CONT.) — firme, provocante
— E eu vou provar tudo. Cada detalhe.
Ela encerra o vídeo. A expressão dela endurece. Guarda o celular na bolsa, respira fundo, sentir o próprio retorno como uma vitória pessoal.
CAMERA SEGUE PAOLA PELO SALÃO.
Ela avança pela boate como se fosse sua passarela. As pessoas se abrem para deixá-la passar. Um fotógrafo estrangeiro tenta falar com ela; ela o ignora com elegância.
Paola bebe um gole de champanhe, os olhos brilhando — adrenalina, medo e vaidade misturados.
Por trás desse glamour todo, há uma sombra: a ameaça de Eriberto.
CLOSE — o rosto dela muda por um segundo. Frieza. Determinação.
Paola dança, mas sua mente gira em outro ritmo. Seus passos são quase desafiadores, como se estivesse dizendo para o mundo — e para o irmão — que ela não vai mais abaixar a cabeça.
A música explode. Luzes varrem a tela.
FADE OUT.
CENA 5 – COBERTURA DE LAURINHA. SALA DE ESTAR. INT. NOITE
A sala é silenciosa, luxuosa, mas carregada de tensão. Laurinha anda de um lado para o outro, inquieta. Um quadro moderno ilumina o ambiente com tons frios.
A campainha toca.
LAURINHA congela por um instante, respira fundo e vai atender.
ABRE A PORTA. DELEGADA YONA está ali — postura rígida, olhar penetrante, energia de quem não perde tempo.
YONA — Boa noite, senhora. Precisamos conversar. É sobre a morte da Alice.
Laurinha pisa para trás, desconcertada.
Yona entra sem esperar convite.
YONA - (CONT.) Onde a senhora estava na noite e no horário da morte da Alice?
Laurinha empalidece, tenta formular algo.
LAURINHA — Eu estava...
Uma voz invade a sala como um trovão:
ZILDA MARIA - (O.S.) Comigo.
Zilda surge do corredor com passos firmes, postura de matriarca perigosa. Ela encara Yona com desprezo.
ZILDA MARIA — A Laurinha estava comigo. A noite inteira. Quer anotar? Quer fotografar? Quer que eu desenhe?
Yona mantém a postura, mas o incômodo é visível.
YONA — Vou precisar de uma declaração formal.
Zilda dá um sorriso sarcástico.
ZILDA MARIA — Ah, minha senhora, declaração formal é o escambau. A senhora já tem o que veio buscar. Agora pode ir antes que eu perca a boa vontade.
Yona abre a boca para responder, mas Zilda dá um passo adiante, invadindo o espaço pessoal da delegada.
ZILDA - MARIA (CONT. firme, gélida) Anda. Circula.
Silêncio tenso. Yona respira, engole a réplica e se retira.
PORTA BATENDO. Imediatamente, Zilda se vira para Laurinha, os olhos faiscando.
ZILDA MARIA — Sua idiota.
Laurinha recua, assustada.
ZILDA MARIA (CONT.) — Você nunca percebe nada! A Selena armou aquilo tudo pra te deixar vulnerável e proteger a Stella. Está na cara!
LAURINHA ( frágil, tremendo) Eu só quis ajudar…
Zilda dá uma risada seca, cruel.
ZILDA MARIA — Ajudar? Você abriu a porta da sua vida pra essas cobras. E elas fizeram o quê? Morderam. Sempre mordem.
Laurinha se encolhe no sofá, lágrimas brotando. Zilda a observa com impaciência, mas há uma sombra de preocupação por trás da dureza.
ZILDA MARIA (CONT.) — Se você continuar nesse mundo de fantasia, Laurinha… vão te destruir. Vão te usar. Que nem fizeram hoje.
Laurinha abaixa a cabeça, solitária, esmagada.
Zilda respira fundo, vira o rosto, tenta recuperar a compostura — mas a tensão permanece pairando entre elas.
CORTA PARA:
CENA 6 – PALÁCIO DAS LARANJEIRAS. SUÍTE DE CONSUELO. INT. NOITE
CONSUELO está diante do celular, imóvel, o rosto transformado em fúria pura enquanto assiste ao story de PAOLA viralizando.
Os olhos dela ardem de ódio. O silêncio da suíte pesa como chumbo.
Ela arremessa o celular sobre a cama e sai em disparada pelo corredor.
A porta da SUÍTE DE ERIBERTO E STELLA é escancarada com brutalidade.
STELLA e ERIBERTO, adormecidos, se sobressaltam.
CONSUELO entra como um furacão.
CONSUELO — A desgraçada da tua irmã resolveu ressuscitar, Eriberto.
Ela exibe o celular diante deles.
ERIBERTO empalidece.
STELLA mantém o rosto imóvel — mas seus olhos brilham discretamente, um sorriso mínimo, só nos cantos, que ela esconde baixando o olhar.
O vídeo continua no celular.
Paola dançando, rodeada de flashes, gritando ao mundo que a morte dela foi forjada pelo próprio irmão, o GOVERNADOR.
CONSUELO rosna, fora de si.
CONSUELO — Isso… isso vai destruir tudo! Vocês têm noção do que ela fez?!
Ela sai da suíte batendo a porta com força.
Agora, o silêncio entre ERIBERTO e STELLA é denso.
Ele passa a mão pelos cabelos, desesperado, desmoronando.
ERIBERTO — Eu… eu errei com você, Stella. (voz trêmula, baixando a cabeça) Eu não devia ter te batido. Perdi o controle.
STELLA permanece sentada, postura impecável, olhando-o com aparente doçura — mas há cálculos por trás dos olhos.
STELLA — Você estava com ciúmes. E tinha motivo.
(uma pausa lenta) Eu e Bruno… sim, tivemos um caso.
Eriberto aperta os olhos, engolindo a dor que nunca admite sentir.
ERIBERTO — E… Marisa? (um sopro de fragilidade) Ela é minha filha, não é?
Stella levanta o queixo, firme, maternal, quase carinhosa.
STELLA — É sua, Eriberto. Só sua. Bruno nunca teve nada a ver com ela.
Ele respira fundo, a tensão derretendo dos ombros.
Por um instante, volta a ser apenas um homem assustado — não o governador, não o controlador, não o violento.
ERIBERTO — Eu não aguentaria perder mais uma criança.
Stella observa a confissão.
Os olhos dela brilham — não de emoção, mas de estratégia. Uma vitória silenciosa.
Ela se aproxima dele, toca seu rosto com suavidade quase teatral.
STELLA — Eu nunca deixaria isso acontecer.
O clima fica carregado, íntimo, perigoso.
A câmera fecha nos dois — ele frágil, ela dominante na sutileza.
O mundo pega fogo lá fora, e naquela suíte, um pacto silencioso se sela.
A tensão cresce.
CORTA PARA:
CENA 7 – APARTAMENTO DE SELENA. QUARTO. INT. NOITE
O corredor do prédio está silencioso quando SELENA surge, ainda tensa com tudo que viveu. Suas mãos tremem levemente enquanto procura as chaves.
Ela abre a porta. O apartamento está mergulhado na escuridão. A respiração dela fica pesada. Selena entra e acende a primeira luz.
A sala permanece exatamente como estava — intacta, silenciosa, imóvel.
Ela caminha devagar, o salto ecoando no piso. Selena pega o celular.
Discagem automática: 190.
Ela atravessa o corredor. O cheiro está lá, mas muito mais leve, quase imperceptível. Isso a desestabiliza.
CHEGA À PORTA DO QUARTO.
Mão na maçaneta. Ungues trêmulas. A respiração falha.
CLICK.
A luz acende. O quarto está ventilado. As janelas escancaradas.
As cortinas esvoaçam com o vento da madrugada. O gás — dissipado.
O chão — vazio. Não há corpo.
Selena deixa escapar um ruído gutural.
O celular cai no chão, mas o viva-voz continua ligado.
ATENDENTE (V.O.) — Alô? Polícia. Em que posso ajudar?
Selena dá um passo para dentro do quarto.
SELENA — Ela… (pausa sentida na voz) A Evelyn não está aqui.
O silêncio toma conta do ambiente, pesado como chumbo.
A câmera fecha no rosto de Selena. Alguém esteve ali. Alguém mexeu no corpo. Alguém a está observando.
O vento entra pela janela, balançando as cortinas como um presságio.
CORTA PARA:
FIM
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