A OUTRA

CAPÍTULO 24

UMA NOVELA DE TAÍS GRIMALDI


CENA 1 – RIO DE JANEIRO. EXT. AMANHECER

 

SONOPLASTIA – MY OH MY – BEBE REXHA, KYLIE MINOGUE E TOVE LO.
O POP ELETRÔNICO TOMA A CENA COM PULSAÇÃO SENSUAL E MALICIOSA, EMBALANDO O RIO QUE DESPERTA COMO UMA PERSONAGEM PRÓPRIA.

 

A CÂMERA sobrevoa a cidade ainda úmida da noite, revelando um amanhecer dourado que escorre pelos prédios, pelos morros e pela orla. O céu mistura tons de rosa, laranja e azul profundo, enquanto a luz nasce carregada de promessas — e ameaças.

O MAR avança em ondas largas contra a praia de Copacabana, os primeiros corredores cruzam a calçada, os quiosques abrem suas portas metálicas com barulho seco. Um vendedor de mate ajeita o carrinho, o vapor sobe misturado à brisa salgada.

O TRÂNSITO começa a ganhar vida. Os ônibus passam como monstros sonolentos, táxis piscam faróis amarelados, motos cortam o silêncio com violência mecânica. A cidade se espreguiça, mas nunca realmente dorme.

A CÂMERA desliza pelo Aterro, pelas avenidas largas, pelos prédios modernistas que se erguem em sombras longas. O sol finalmente rasga o horizonte e ilumina o CRISTO, sereno, como se observasse de longe os segredos que vão explodir naquele dia.

O FUNK distante misturado ao pop internacional cria a trilha exata de um Rio sedutor, caótico, indecifrável.

CORTES RÁPIDOS mostram:

— as janelas acendendo aos poucos nos prédios do Leblon;
— a Lapa ainda com copos vazios espalhados pelo chão;
— o mar batendo nas pedras do Arpoador;
— o reflexo do sol nas vidraças do Palácio das Laranjeiras, ainda silencioso, mas carregado de tensões invisíveis.

A cidade respira beleza e perigo, luxo e decadência, glamour e tragédia — tudo ao mesmo tempo.

O amanhecer termina como uma promessa cruel:
hoje, o Rio vai ferver.

CORTA PARA:

 

CENA 2 – COBERTURA DE LAURINHA. SALA DE ESTAR. INT. DIA

SONOPLASTIA – O silêncio elegante de um apartamento caro. Apenas o ar-condicionado central respirando.

A SALA — branca, moderna, fria. Tudo caro, tudo calculado.
LAURINHA, impecável, porém abatida, observa a vista do Leblon.
A campainha toca.

LAURINHA - (sem virar o rosto) Pode entrar, Paula.

PAULA LEE entra com discrição e firmeza. Elegante, contida. Fecha a porta.

PAULA - Laurinha… a gente precisa conversar.

Laurinha finalmente se vira. Um sorriso pequeno, sem calor.

LAURINHA - Eu imaginei. (pausa sutil) É sobre Sibeli, não é?

Paula se aproxima devagar. Fala com cuidado, como quem sabe que pisa em cristal.

PAULA - É sobre ela… e sobre o Vinícius.

O nome paira no ar como veneno.

Laurinha respira fundo, tenta manter a elegância, mas a voz sai trincada.

LAURINHA - O casamento dos dois era… estratégico. (um sorriso triste) Uma forma de unir São Paulo e Rio. Eriberto… legitimado pelo dinheiro da minha família. E Vinícius, o filho da governadora.
Um arranjo perfeito, se o mundo colaborasse.

Ela serve água para si mesma. Para Paula, não — típico Braga.

LAURINHA - Mas aquele dia no Clube Paulista… (pausa; o controle quase falha) Dois marginais. Dois. Atacaram o Vinícius na quadra de tênis. E foi a Sibeli quem encontrou o corpo.

Paula observa Laurinha com empatia verdadeira — mas sem sentimentalismo.

PAULA - Ver o noivo morto… daquele jeito… explicaria a crise de nervos dela.

Laurinha desvia o olhar, vulnerável.

LAURINHA - Ela gritava meu nome. (baixa os olhos) E eu não consegui fazer nada.

Silêncio curto. Elegante. Carregado.

PAULA - Laurinha, eu vim até aqui porque acredito que a morte do Vinícius é o motivo da Sibeli ter morrido agora.

Laurinha encara Paula pela primeira vez com real impacto.

LAURINHA - (baixa, incisiva) Por que você está fazendo tudo isso, Paula?

Paula respira, como quem luta contra lembranças antigas.

PAULA - Porque em 98 eu aprendi que não dá pra assistir injustiças… (olha nos olhos de Laurinha) sem tentar resolvê-las.

Silêncio. 

CORTA PARA:

 

CENA 3 – PALÁCIO DAS LARANJEIRAS. HALL. INT. DIA

 

SONOPLASTIA — Eco leve de passos em mármore. O som distante de motores na rua.


HALL é imenso, clássico, imponente. Uma vitrine de poder.

PAOLA desce as escadas com uma mala pequena e um casaco jogado sobre o braço — não é fuga: é libertação elegante.

CONSUELo surge no alto da escadaria, rígida, impecável, com seu veneno habitual.

CONSUELo - (voz glacial) Então é isso? Vai sair de casa… como uma adolescente malcriada?

Paola não olha para trás.

PAOLA - (adulta, firme) Eu estou saindo porque acabou.
Acabou entre nós. Acabou essa família de fachada.

Consuelo desce alguns degraus, a postura perfeita, a voz carregada de desprezo.

CONSUELo - Que drama. Você sempre teve vocação pra teatro barato.

Paola deixa escapar um riso seco. Só vira quando já está longe o bastante para não parecer súplica.

PAOLA - Você não entendeu, mãe. Eu não estou indo morar na esquina. Eu estou rompendo. Rompendo com você, com essa casa, com o seu nome, com os seus jogos. E se quiser chamar isso de guerra… (pausa curta, venenosa) Eu aceito.

ConsuelO empalidece, depois se recompõe, com o tipo de crueldade que só gente poderosa e frustrada sabe usar.

CONSUELo - (ferina) Guerra? Minha querida, você não sobreviveria a um café da manhã meu. (pausa; olha Paola de cima a baixo) Você sempre foi uma odalisca. Decorativa. Útil só enquanto enfeita.

A palavra cai como tapa.

Paola sente — mas ergue o queixo.

PAOLA - Você me chama de odalisca…(aproxima-se, sem medo)…porque não suporta a ideia de eu não ser mais sua serva.

Consuelo aperta os dedos, quase perdendo o controle.

CONSUELo - Eu fiz tudo por você. Tudo. E assim você me retribui?

PAOLA - Você fez tudo para você. Eu só fui o seu espelho social. (perigosa, firme) E agora eu me recuso a refletir você.

Silêncio. Tenso, mortal, luxuoso.

Consuelo dá um passo, mas Paola recua com autoridade.

PAOLA - É isso. Eu estou fora. E, se você quiser guerra… (sorri com a elegância de quem cansou de sofrer) Então prepare-se.
Eu não nasci pra perder.

Paola abre a porta dupla. A luz do dia invade o hall.
Ela sai.

Consuelo fica sozinha no mármore, respirando pesado — e pela primeira vez parece… vulnerável. Quase humana.

CORTA PARA:

 

CENA 4 – COBERTURA DE PAOLA. SALA DE ESTAR. INT. DIA

 

SONOPLASTIA — Ela É Minha Cara, Mart’nália.

A COBERTURA NO LEBLON é absurda: pé-direito duplo, janelas imensas abertas para o mar, móveis caros, arte contemporânea.
Tudo perfeito — e frio. Uma casa esperando alma.

PAOLA entra arrastando as malas, exausta e eufórica ao mesmo tempo.
Ela respira fundo, saboreando o ar de independência.

Larga a bolsa no sofá como quem exorciza o passado.
Larga as malas como quem se livra de correntes.

A luz bate nela de um jeito quase cinematográfico:
liberdade, insolência, poder recém-descoberto.

Paola pega o celular.
O sorriso nasce lento, cheio de veneno e charme.

Ela vira a câmera para si — a voz muda, vira personagem pública.

PAOLA - (grava o Story; debochada, sedutora) Meus amores. A mamãe voltou. E hoje à noite tem orgia — uma orgia de organização da casa nova.
(gargalha) Mas do jeito que eu gosto: luxo, caos e muito… muito barulho. Fiquem ligados.

Ela finaliza o vídeo e joga o celular no sofá com elegância displicente.

Depois gira pelo espaço como uma diva que acabou de conquistar o próprio império.
Toca nas paredes, nos móveis, abre as janelas — como se marcasse território.

PAOLA - (baixo, para si mesma; mas com força) Agora começa a minha vida.

A música cresce. A câmera se afasta enquanto Paola, finalmente leve, dança um passo improvisado — mistura de triunfo, sarcasmo e perigo.

CORTA PARA:

 

CENA 5 – PALÁCIO DAS LARANJEIRAS. HALL. INT. DIA

HALL DO PALÁCIO é solene, imponente, quase opressor.
Luz natural atravessa os vitrais, refletindo poder, tradição e silêncio institucional.

ERIBERTO, governador do Rio de Janeiro, atravessa o espaço com passos firmes, cercado por assessores.
O rosto tenso, o sorriso político ensaiado.

A atmosfera muda quando a DELEGADA YONA surge ao fundo, sóbria, olhar afiado, postura irredutível. Ela avança sem pedir licença. Os assessores congelam.

YONA — Bom dia, governador.

Eriberto para. O sorriso cai como uma máscara quebrada.

ERIBERTO — Delegada, a que devo essa visita inesperada?

Yona abre a pasta lentamente. Cada gesto é calculado. Ela estende um documento.

YONA — Intimação para prestar depoimento sobre as acusações de falsa morte de Paola.

O ar pesa.

YONA — Acusações feitas por ela mesma nas redes sociais, governador.

Eriberto arregala os olhos. O sangue ferve.

ERIBERTO — Isso é um absurdo! Uma encenação dessa garota desequilibrada!

Yona não reage. Entrega outro papel.

YONA — E esta é uma segunda intimação. Para esclarecimentos sobre a morte de Alice.

O nome ecoa no hall como um tiro.

Eriberto perde o controle.

ERIBERTO — CHEGA! Isso é perseguição política!

Ele amassa a primeira intimação com violência.

ERIBERTO — Vocês querem me destruir! Estão usando uma morta e uma farsante pra me atingir!

Yona sustenta o olhar. Fria. Inabalável.

YONA — Meu trabalho não é político, governador. É criminal.

Um silêncio brutal. Os assessores trocam olhares nervosos.

YONA — O senhor tem data e hora marcadas. Recomendo não faltar.

Yona fecha a pasta. Vira-se e sai sem olhar para trás.

Eriberto fica parado no centro do hall. Respiração pesada.
Os olhos queimam de ódio. Ele arremessa os papéis contra o chão.

ERIBERTO — Essa gente vai pagar caro (T) Muito caro.

A câmera se afasta lentamente, deixando Eriberto pequeno diante da grandiosidade do palácio — um homem poderoso, acuado, à beira da implosão.

CORTA PARA:

 

CENA 6 – APARTAMENTO DE EVELYN E MÁRCIA. SALA. INT. DIA

A SALA é elegante, organizada demais para quem vive no limite do caos.
Uma mesa posta para o café da manhã.

MÁRCIA e GIUSEPPE tomam café com aparente tranquilidade, mas há tensão nos olhares.
Xícaras tilintam. O silêncio é frágil.

De repente, a porta é aberta com violência.

CAROLINA invade o apartamento completamente descompensada.
Olhos arregalados, respiração descontrolada, cabelo desgrenhado.

CAROLINA — Então é aqui! O ninho da loucura!

Giuseppe se levanta, alarmado.

GIUSEPPE — Carolina, se acalma…

Carolina ignora. Aponta o dedo para Márcia.

CAROLINA — SUA LOUCA! ASSASSINA! DESVAIRADA!

Márcia permanece sentada. Fria. Provocadora.

MÁRCIA — A única desvairada aqui é você. Sempre foi.

Isso é o estopim.

Carolina solta um grito animalesco.
Vasculha a mesa e agarra uma
 TESOURA.

GIUSEPPE — Carolina, larga isso!

Carolina avança. Rápida. Violenta. Fora de si.

CAROLINA — EU VOU ACABAR COM VOCÊS!

Márcia se levanta num pulo. Giuseppe tenta conter Carolina, mas ela é imprevisível. Carolina tenta golpear Márcia. Erra por pouco.

A cena vira um caos. Gritos. Móveis sendo empurrados.

Nesse instante, a porta do quarto se abre.

EVELYN surge, firme, decidida, segurando uma CADEIRA.

Sem pensar duas vezes, Evelyn levanta a cadeira e acerta Carolina com força.

O impacto é seco.

Carolina cai no chão, atordoada, a tesoura escapa da mão.

Evelyn encara Carolina com ódio contido.

EVELYN — Aqui você não encosta em ninguém.

Carolina se levanta cambaleando.
Humilhada. Furiosa. Perdida.

Sem dizer mais nada, ela corre para fora do apartamento, batendo a porta com violência.

Silêncio.

Os três se entreolham.

Giuseppe respira fundo, ainda em choque.

GIUSEPPE — Isso foi surreal.

Márcia ajeita a roupa, recuperando o controle.
Um sorriso torto surge.

MÁRCIA — Admitam (RI) Parecia cena de novela ruim.

Evelyn solta uma risada nervosa.

EVELYN — Ou muito boa.

Eles riem, ainda tensos, tentando transformar o terror em piada.

A câmera se afasta lentamente, deixando a sensação de que aquela loucura foi apenas um aviso do que ainda está por vir.

CORTA PARA:

 

CENA 7 – PALÁCIO DAS LARANJEIRAS. SUÍTE DE STELLA. INT. DIA

A SUÍTE é ampla, luxuosa, impecável. Cortinas abertas deixam entrar a luz dura da manhã.

STELLA está diante do espelho, vestida com elegância casual.
Seu semblante é controlado, calculado.

ERIBERTO caminha de um lado para o outro, inquieto, suando sob o peso do poder e da culpa.

Ele para, encara Stella.

ERIBERTO — Eu decidi. O baile está cancelado.

Stella não se vira de imediato.
Continua se observando no espelho.

Um segundo de silêncio.

Então, lentamente, Stella se vira.

O olhar é frio. Mortal.

STELLA — Se você cancelar esse baile. Vai ter que lidar com o nosso divórcio também.

Eriberto fica imóvel. A palavra ecoa no quarto como um tiro.

ERIBERTO — Você está me chantageando?

Stella caminha até ele. Sem pressa. Sem elevar a voz.

STELLA — Não. Estou te avisando.

Ela se aproxima ainda mais, invadindo o espaço dele.

STELLA — O baile não é só uma festa. É um recado. Para os aliados, para os inimigos e para quem acha que você perdeu o controle.

Eriberto engole seco. O governador poderoso agora parece um homem pequeno.

ERIBERTO — Você sabe que tudo isso pode explodir.

STELLA — Já está explodindo. Cancelar seria admitir culpa.

Ela se afasta, pega uma taça de água, bebe com tranquilidade.

Eriberto abaixa a cabeça. Derrotado.

ERIBERTO — Está bem. O baile vai acontecer. Normalmente.

Stella sorri. Um sorriso discreto, vitorioso.

STELLA — Ótimo. Então escolha o terno certo. E sorria para as câmeras.

Eriberto observa Stella se afastar, consciente de que acaba de perder mais uma batalha — talvez a mais importante.

A câmera permanece nele, sozinho, cercado de luxo e fragilidade.

CORTA PARA:

 

CENA 8 – APARTAMENTO DE EVELYN E MÁRCIA. SALA. INT. DIA

A SALA é elegante, organizada demais, quase asséptica.
A luz do dia entra pelas janelas amplas, revelando cada detalhe.

A porta se abre com violência.

SELENA invade o apartamento, tensa, olhos atentos, respirando fundo.

Ela olha ao redor, caminha pela sala, observa o sofá, a mesa, os objetos pessoais.

SELENA — Evelyn?

Silêncio.

Do fundo da sala surge MÁRCIA, calma demais para a situação.

SELENA — Onde ela está?

Márcia cruza os braços, firme.

MÁRCIA — Não vejo a Evelyn desde ontem à noite.

Selena se aproxima, ameaçadora.

SELENA — Você está mentindo.

MÁRCIA — Se estivesse, estaria mais nervosa.

Selena perde a paciência.

SELENA — Se alguma coisa tiver acontecido com ela, você vai pagar caro.

Márcia sorri de canto, sem medo.

MÁRCIA — Eu já disse que vou dar queixa na polícia. E não tenho medo do seu blá-blá-blá.

Selena se inclina, voz baixa, venenosa.

SELENA — Denúncia nenhuma vai te salvar.

MÁRCIA — Vai sim. Principalmente de você.

O clima é cortante.

Selena recua um passo. O olhar agora é de preocupação real.

Ela pega a bolsa, segue em direção à porta.

Antes de sair, encara Márcia uma última vez.

SELENA — Isso ainda não acabou.

Selena sai apressada.

A porta se fecha.

Silêncio absoluto.

Por alguns segundos, nada acontece.

Então, lentamente, a porta do QUARTO se abre.

EVELYN surge, impecável, divertida.

Ela observa a porta por onde Selena saiu…
e começa a rir.

Uma gargalhada livre, debochada, quase infantil.

EVELYN — Você viu a cara dela?

Márcia olha para Evelyn, cúmplice.

MÁRCIA — Viu. E acreditou.

Evelyn ri ainda mais alto.

A câmera se aproxima do rosto dela.
O riso vai diminuindo, se transformando em algo mais sombrio.

CORTA PARA:

CENA 9 – PALÁCIO DAS LARANJEIRAS. CORREDOR. INT. DIA

O CORREDOR é longo, silencioso, adornado por quadros antigos e uma iluminação elegante que contrasta com a tensão no ar.

A porta da SUÍTE se abre.

MARISA surge de mãos dadas com MARIO.
Ela parece decidida, altiva, como se aquele gesto fosse um manifesto.
Mario, mais contido, observa o ambiente com cautela.

Eles caminham alguns passos.

De repente, CONSUELO aparece à frente deles, imóvel, bloqueando a passagem.

O olhar de Consuelo vai das mãos entrelaçadas aos rostos dos dois.
Um sorriso cruel se forma lentamente.

CONSUELO — Que cena mais edificante.

Silêncio.

Marisa sustenta o olhar da mãe, sem soltar a mão de Mario.

CONSUELO — Então é isso? Vocês são um casal?

Marisa ergue o queixo, afrontosa.

MARISA — Somos.

A palavra ecoa no corredor como um tapa.

Consuelo ri, um riso curto, ácido.

CONSUELO — Além de drogadinha de merda, agora virou mulher de miliciano?

Marisa não recua.

Consuelo então se volta para Mario, o examina de cima a baixo.

CONSUELO — E você? Não contou pra ela que é envolvido com milícia?

O silêncio pesa.

Marisa lentamente vira o rosto para Mario.
O aperto das mãos diminui, quase imperceptível.

Mario engole em seco.

Consuelo observa a reação da filha com prazer calculado.

CONSUELO — Ou você achou melhor esconder essa parte do currículo?

Marisa encara Mario, agora com desconfiança misturada à raiva.

MARISA — Mario?

Consuelo dá um passo para trás, satisfeita.
A bomba está lançada.

O corredor parece ainda mais estreito.

O olhar de Marisa alterna entre Mario e Consuelo, dividida, ferida, em alerta.

CORTE PARA:

FIM

 

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